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O Narrativas é um programa que aborda os principais temas da atualidade sobre o aspecto do fato, das narrativas da direita e da esquerda e da opinião da colunista Madeleine Lacsko.
O programa vai ao ar de segunda a sexta às 17h. Leia a coluna de Madeleine Lacsko no Antagonista.

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00:00Olá, sejam muito bem-vindos ao Narrativas Antagonistas. Eu sou Madeleine Lasco, sou sua companhia de segunda a sexta-feira aqui no YouTube do Antagonista às cinco da tarde.
00:27E você também lê a minha coluna no site do Antagonista sem paywall. Fato do dia da Atena fala em legítima defesa da honra. Cadê as feministas?
00:44Você sabe do que eu estou falando? Você sabe o que significa a expressão legítima defesa da honra?
00:55Ah, é que ele defendeu a honra dele. Não, não, meu bem. Hoje você vai entender o que isso significa.
01:02E porque é uma expressão maldita que não deveria nunca mais ser aceita e que já foi banida 200 anos atrás e volta como uma maldição que nós estamos ressuscitando um ano depois de sepultar de vez.
01:23Nossa, o que é isso? Sim, esse assunto para mim é importantíssimo, mas você sabe que aqui a gente vai tratar desse tema do jeito que a gente trata sempre,
01:36treinando mentalmente para a gente elevar o nível do debate político.
01:41Fato do dia da Atena fala em legítima defesa da honra. Cadê as feministas?
02:11Aliás, essa é uma pergunta que eu estou me fazendo, porque, vou confessar, vou abrir meu coração para vocês, eu não achei que nunca mais eu fosse ver essa expressão no debate público brasileiro.
02:29Eu achei que isso tinha sido definitivamente sepultado no ano passado, mas como uma maldição, isso volta, volta e volta e volta nessa energia, arrisco dizer até um pouco demoníaca, do lodaçal da política brasileira.
02:50Aí foi minha opinião. Aí foi minha opinião. Mas vamos aqui para os fatos. Quais são os fatos? José Luiz da Atena, no episódio da cadeirada, está falando isso aqui.
03:01Eu agi em legítima defesa da minha honra.
03:05Esse trechinho, ele tira de um raciocínio maior, obviamente, que a gente vai reproduzir aqui para você.
03:14Quem levou cadeirada naquele debate da cultura foi eu. Você analisar a coluna do magistrado Mairovic, do UOL, me prova ali que eu agi em legítima defesa da minha honra.
03:31E desde pequenininho, o meu pai me ensinou a defender a minha honra e a da minha família. E assim eu faria como tenho feito, defendendo a honra dos paulistãos há curto tempo.
03:44São 50 anos aí de carreira. Aquela ação foi uma reação a uma agressão em que primeiro veja como o sujeito que é condenado e conhece de leis e tem advogados bons é treinado.
04:01Em nenhum momento ele me chamou de estuprador dessa vez. Lá ele me chamou de estuprador, que é um crime hediondo, nojento, que eu reprimo e combato todos os dias na televisão.
04:11Ele cita o jurista Walter Mairovic, que é uma pessoa de quem eu gosto muito, mas tenham o cuidado de ir ler a coluna dele no UOL e de ver os vídeos em que ele falou do caso da Atena.
04:26Em nenhum ele usa a expressão maldita, legítima defesa da honra.
04:35É uma expressão que ninguém na área do direito, principalmente do direito criminal, da reportagem policial, usa.
04:44Legítima defesa da honra.
04:48Ele fala em honra e ele fala numa retorção imediata, que seria uma defesa legítima, que tem ali um problema porque uma é verbal e a outra é física.
05:03É uma coluna com um raciocínio bastante profundo, bastante cuidadoso, que em nenhum momento fala a expressão legítima defesa da honra.
05:14Agora vamos lá.
05:15Por que que essa expressão é maldita?
05:19Depois eu conto por que é maldita.
05:21Eu vou te contar por que ela é inconstitucional.
05:27Já teve mais de um julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.
05:30Eu vou te trazer agora um resumo da TV Brasil do julgamento de junho do ano passado.
05:37Vamos ver.
05:37Olha, em decisão unânime, o Supremo Tribunal Federal julgou a tese da legítima defesa da honra inconstitucional.
05:45Os ministros entenderam que ela contraria os princípios da dignidade humana, da proteção à vida e da igualdade de gênero.
05:53O STF decidiu, nesta terça-feira, proibir o uso da tese de legítima defesa da honra para justificar a absolvição de condenados por agressões contra mulher ou feminicídio.
06:09Com a decisão, não será mais possível pedir a absolvição pelo tribunal de júri com base na tese.
06:16E ainda, resultados de julgamentos que se basearam no argumento poderão ser anulados.
06:22A Suprema Corte julgou uma ação protocolada pelo PDT em 2021 para impedir a absolvição de acusados de crime contra a mulher
06:32com base no argumento de que ele teria sido cometido por razões emocionais, como, por exemplo, uma traição conjugal.
06:40A maioria de votos contra a tese foi formada na sessão de 30 de junho.
06:46Na plenária de ontem, que deu início às atividades do segundo semestre na Corte,
06:51as ministras Carmen Lúcia e Rosa Weber deram os votos finais sobre a questão.
06:57Nós estamos falando de dignidade humana no sentido próprio, subjetivo e concreto.
07:03de uma sociedade que ainda hoje é machista, sexista, misógina e mata mulheres apenas porque elas querem ser o que elas são.
07:13Simplesmente não há espaço para a restauração dos costumes medievais e desumanos do passado,
07:21pelos quais tantas mulheres foram vítimas da violência e do abuso em defesa da ideologia patriarcal e a proteção daquilo que os homens,
07:35em uma visão de mundo permeada pelo preconceito e a ignorância, consideravam e alguns talvez ainda consideram ser a sua honra.
07:48O relator desse julgamento foi o ministro Dias Toffoli e faz questão de ler o que ele disse sobre legítima defesa da honra.
07:56A chamada legítima defesa da honra corresponde, na realidade, a um recurso argumentativo, retórico, odioso, desumano e cruel
08:08utilizado pelas defesas de acusados de feminicídio ou agressões contra a mulher
08:14para imputar às vítimas a causa de suas próprias mortes ou lesões, contribuindo imensamente para a naturalização e a perpetuação da cultura de violência contra as mulheres no Brasil.
08:30Ministra Rosa Weber anunciou a decisão final. Ela não está mais no STF, estava e anunciou essa decisão final.
08:38E nos termos do brilhante voto preferido pelo ministro Dias Toffoli, com um adequado reajuste sofrido
08:47e nos limites do recorte que efetuou, eu o acompanho na íntegra.
08:54E proclamo o resultado. Decisão unânime nos termos do juízo de procedência dos pedidos
09:04enunciados pelo ministro Dias Toffoli no voto que hoje nos trouxe e que eu tive a honra e o privilégio
09:15de fazer a leitura para vossas excelências no início.
09:19Esse julgamento está encerrado.
09:25Vocês veem que a ministra comemora bastante?
09:30Por quê? A legítima defesa da honra estava na lei?
09:35Nunca esteve na lei brasileira.
09:40Isso é uma tradição medieval
09:42que foi vigente no Brasil até a Constituição do Império de 1830.
09:51E esse instituto se chama legítima defesa da honra.
09:57Existe uma coisa chamada legítima defesa da honra.
10:02E todo mundo que é da área sabe, e sabe muito bem do que está falando
10:06quando usa a expressão legítima defesa da honra.
10:10Por quê? Essa expressão, ela some.
10:15Era algo que inclusive a igreja uma época teve de proibir duelos,
10:19porque era sempre relacionado à briga por mulher ou a ciúme de mulher
10:25e tinha o direito de matar a mulher.
10:29Sumiu.
10:30Ninguém falava em legítima defesa da honra.
10:34Até que em 1976, em Búzios, o empresário Raul Fernandes do Amaral Street,
10:42o Doca Street, matou a socialite Ângela Diniz, com quem ele tinha um caso.
10:49Ângela Diniz deixou o marido para ter um relacionamento com o Doca Street
10:57e ele, em Búzios, no Rio de Janeiro, cometeu um homicídio a tiros contra ela.
11:07É aí que ressurge a história da legítima defesa da honra.
11:12Por quê?
11:13Um dos maiores criminalistas da história do Brasil pegou a defesa desse caso.
11:20Doutor Evandro Lins e Silva.
11:23É um homem histórico no direito, com uma biografia preciosa,
11:28é um dos autores do impeachment contra Fernando Collor de Mello.
11:34Tem uma vasta produção acadêmica na área do direito penal.
11:41Esse seria o último julgamento de tribunal do júri dele.
11:46Ele pegou para fazer o seu canto do cisne.
11:50E nesse canto do cisne, ele defendendo o Doca Street,
11:53que matou o que se diria hoje namorada, mas que é, na verdade, amante,
11:58ele ressuscita a tese de legítima defesa da honra.
12:07Como ela o traía, como ela saía com outros homens,
12:15ele acabou perdendo a cabeça e a tirou.
12:19Esse caso é um caso que foi contado com todos os detalhes,
12:26muito recentemente.
12:28num podcast chamado Praia dos Ossos.
12:33Aqui tem o trailer desse podcast para você que se interessar por isso.
12:37Você já deve ter ouvido falar do caso Doca Street.
12:41Mas você conhece a Ângela Diniz, a mulher que o Doca matou?
12:46As pessoas não gostam de uma mulher bonita demais,
12:49sedutora demais, livre demais.
12:52A vida acidentada de Ângela, criada para ser Cinderela, mas sempre às voltas com a polícia.
12:59O que dá para dizer é que o Brasil não seria o mesmo depois desse crime.
13:04Isso nos indignou, que você não pode imaginar.
13:08Quem foi julgado foi as mulheres.
13:10Aquele julgamento era para dizer, olha, se comportem.
13:14Às vezes, uma revolução começa onde a gente menos espera.
13:18Parece que nós estávamos num país, num julgamento.
13:20No segundo julgamento, estava em outro país.
13:28Praia dos Ossos.
13:30Um podcast original da Rádio Novelo.
13:32Como recordar é viver, eu estou te trazendo aqui coisa de quando eu nem era nascida.
13:45Outra era geológica.
13:48É histórico o narrativo de hoje.
13:51Você vai ver o doutor Evandro Linze Silva
13:55explicando o que é legítima defesa da honra, essa tese que ele iria utilizar.
14:03Nós devemos considerar que nos dramas passionais
14:07não se pode nunca dissociar a conduta do acusado da conduta da vítima.
14:14O fato delituoso, a violência, decorreu de um processo longo
14:22em que um homem dominado por uma obsessiva paixão amorosa
14:28depois de divergências, de sofrer toda sorte de afrontas, de insultos, de humilhações
14:36pode ter chegado ao desespero.
14:41E o julgamento desses casos, feito pelos jurados em todos os tempos
14:49é um julgamento de compreensão das desgraças
14:57que envolvem sempre essas tragédias.
15:01E aqui, vamos a um ponto específico
15:06que também já foi vencido em julgamento.
15:11Hoje, quando uma mulher é vítima de um estupro ou de um assassinato,
15:16não pode ficar pegando a vida íntima dela
15:20e espetacularizando para tentar justificar com aquilo.
15:25É uma lei que já existia nos países civilizados
15:28desde a década de 1990
15:30e chegou no Brasil ano passado.
15:35Mas, enfim, era o que foi feito nesse julgamento.
15:38Porque o conceito de legítima defesa da honra
15:42diz que a mulher viver a vida dela enxovalha a honra do homem.
15:50Não existe no ordenamento jurídico
15:53nenhum outro conceito de legítima defesa da honra, ok?
15:58O único que existe é esse, que é isso aqui no tribunal.
16:03Era uma mulher que não tinha, senhores jurados,
16:06os princípios que nós conservamos
16:09preferiu abandoná-los.
16:12Preferiu abandoná-los.
16:14Foi uma opção.
16:15Infeliz.
16:16Depois, sim,
16:19ele tinha o direito de matar.
16:21Não, não sustentamos o direito de matar.
16:24Não sou muito ninguém
16:25que eu venha sustentar o direito que tem alguém de matar.
16:28Não, nem.
16:28Eu tenho o direito de explicar,
16:34de compreender um gesto de desespero,
16:39uma explosão incontida
16:42de um homem ofendido na sua dignidade masculina.
16:47Veja bem, da honra masculina.
16:52Isso aí que nós estamos vendo é 1976.
16:54Qual é a mudança de mentalidade
16:58disso aí que você viu
17:00para isso aqui
17:01que a gente viu na semana passada?
17:04Você não é homem nem para fazer isso.
17:06Você não é homem.
17:07Não, Datena.
17:08Vai.
17:09Não.
17:13Novas imagens divulgadas
17:15com exclusividade pela TV Cultura
17:16mostram um ângulo aberto
17:18no momento da cadeirada
17:19de Datena em Pablo Massal.
17:21É possível ver que o prefeito,
17:22Ricardo Nunes,
17:23ainda impede
17:24que Datena pegue uma segunda cadeira
17:26e jogue na direção de Marçal,
17:28que já parece cercado
17:29pelos seguranças.
17:34Repara na coisa do
17:36você não é homem,
17:38você é homem,
17:39eu sou muito homem,
17:41você não é homem,
17:43a honra masculina
17:44é uma briga de soco e cadeirada?
17:49Uma pergunta que eu deixo aqui
17:50para a gente prosseguir.
17:51Eu vou trazer aqui
17:52a reprodução
17:54que foi postada
17:56pelo portal Migalhas,
17:58documento preciosíssimo
17:59de 1976,
18:02a reportagem da Glória Maria
18:03ao final deste julgamento
18:06do Doca Street.
18:08O Doca Street
18:09não foi inocentado,
18:11mas ele foi condenado
18:13sabe a quanto?
18:14Um ano e meio de prisão
18:15já tinha cumprido.
18:16praticamente,
18:21ele saiu praticamente
18:23livre.
18:25E, na época,
18:27as opiniões
18:28se dividiam.
18:30Tinha gente achando certo.
18:32Vamos ver.
18:33Durou quase 20 horas
18:34o julgamento
18:35de Doca Street.
18:36Hoje, às 10 da manhã,
18:37foi dada a sentença.
18:39Condenado a um ano e meio,
18:41Doca
18:41já está em liberdade.
18:43A repórter Glória Maria
18:45dá os detalhes.
18:47Foram mais de 20 horas
18:48de tensão,
18:49tumulto
18:50e muita dúvida.
18:51Mas terminou de manhã,
18:52aqui no Fórum de Cabo Frio,
18:54o julgamento
18:55de Raul Fernando
18:56do Amaral Street,
18:57que começou ontem
18:58às 2 da tarde.
18:59Doca já está em liberdade.
19:02A parte mais importante
19:03e decisiva
19:04do julgamento
19:05de Doca Street
19:06começou às 2 e 20 da manhã,
19:08com os debates
19:09entre a acusação
19:10e a defesa.
19:11A acusação
19:12procurou provar
19:13que Doca
19:13havia matado
19:14Ângela Diniz
19:15por motivo torpe
19:16e cruel
19:17e mostrou aos jurados
19:19várias fotos
19:20de Ângela morta.
19:21Doca evitou
19:22olhar as fotos.
19:23O assistente
19:24Evaristo de Moraes Filho,
19:25principal acusador,
19:27pediu a condenação
19:28de Doca
19:28e encerrou a acusação
19:30com uma frase
19:31sobre Ângela Diniz
19:32do poeta
19:33Carlos Drummond de Andrade.
19:35Ele foi aplaudido
19:36no final.
19:37Atuando na defesa
19:38de Doca,
19:39o ex-ministro
19:39Evandro Lins e Silva,
19:41Apesar dos 67 anos,
19:43ele falou com vigor
19:44e emoção
19:45durante duas horas.
19:47O julgamento de Doca
19:48foi para ele
19:48o último,
19:49ou melhor,
19:50como ele mesmo
19:51definiu,
19:52o canto do cisne.
19:53Depois dos debates,
19:54o juiz
19:55Mota Macedo
19:56formulou os quesitos
19:57para os sete jurados,
19:59que logo depois
19:59foram para a sala secreta
20:01do tribunal
20:02decidir o destino
20:03de Doca Street.
20:05Foi quase uma hora
20:06de expectativa,
20:07depois o resultado.
20:09Doca Street
20:09foi condenado
20:10a dois anos
20:11de prisão.
20:12Mas como já
20:13obteve sursis,
20:14ele vai cumprir
20:15a pena em liberdade.
20:17Logo que o juiz
20:17leu a sentença,
20:19que Doca
20:19ouviu emocionado,
20:21o tumulto começou.
20:22Todo mundo
20:23queria falar
20:23com Doca Street.
20:26Durante quase uma semana,
20:28a vida de Cabo Frio
20:29viveu em função
20:30do julgamento
20:31de Doca.
20:32mas hoje
20:33tudo terminou
20:34e os moradores
20:35daqui só pensam
20:36uma coisa,
20:36que a vida da cidade
20:37volte ao normal.
20:39Jornal Hoje,
20:40Cabo Frio.
20:41Qual é a sua opinião?
21:02Você sabe aquela história
21:03que a mulher não se mata nem,
21:05não se toca nem com uma flor.
21:06Entendeu?
21:07Então eu acho que o Doca
21:08deveria pegar uma pena
21:09bem maior do que ele pegou.
21:10Amigo,
21:11qual a sua opinião
21:11sobre a sentença
21:12do Doca Street?
21:13Olha,
21:13eu achava que
21:14você é solto mesmo.
21:16Gostei desse avessozico.
21:18Gostou?
21:19Gostei.
21:20Por quê?
21:20Porque eu acho que ele
21:21tem tantas pessoas
21:22piores na cidade
21:23que devia ser preso.
21:24Não é.
21:24Ele não.
21:25Ele cometeu uma coisa
21:26por um simple médico.
21:28A senhora ficou satisfeita
21:29com a sentença?
21:29Fiquei sim, fiquei.
21:31Por quê?
21:31Por quê?
21:31Eu queria isso.
21:33Eu queria que ele fosse
21:33absolvido.
21:34Não sei por quê.
21:35O que você achou
21:36da sentença?
21:37Legal.
21:38Gostei.
21:39Mas eu não gostei.
21:41Eu não gostei.
21:42Para mim deveria
21:43no mínimo 10 anos
21:44de cadeia.
21:45É o seguinte,
21:46eu sou estudante
21:47de Direito.
21:47Então eu vim aqui
21:48especialmente para isso
21:49e eu achei...
21:50Foi válido, sabe?
21:51Porque, olha,
21:52ele foi julgado.
21:54Tantos aí como o Michel
21:55se mandou,
21:56ninguém, sabe,
21:57fez nada.
21:58Então ele foi julgado.
21:59Está certo que ele não deveria...
22:00Ninguém deve tirar
22:01a vida de ninguém, né?
22:03Mas, pô,
22:03ele foi julgado.
22:04Então, está aí.
22:05O que é que aconteceu
22:06com o Doc Street?
22:07Ele ficou impone?
22:09Não.
22:10As mulheres mineiras,
22:13mulheres comuns, tá?
22:14Não é?
22:15Não existia feministe.
22:17As mulheres organizaram
22:18um movimento chamado
22:19Quem Ama Não Mata.
22:22E isso incendiou o Brasil.
22:26Até apareceu aqui, olha,
22:27no meu Twitter,
22:28a Tereza Salum Kayate.
22:30Olha que depoimento bonito.
22:32Oi, Madá.
22:33Em BH,
22:34vários assassinos de mulheres
22:36foram beneficiados
22:37por essa tese nojenta,
22:40que é legítima defesa da honra.
22:42Participei de vários protestos
22:44em frente ao fórum
22:45durante os júris.
22:47Foram muitos crimes em sequência,
22:49inclusive de pessoas
22:51muito conhecidas na sociedade.
22:54Demorou para acabar.
22:55Por isso que é maldita a tese.
22:58Porque quando você lança,
23:00você lança com ela
23:02a chama da justificativa
23:03da violência.
23:05Mas vamos voltar aqui
23:06ao Doc Street.
23:07Voltando para o Doc Street,
23:09o clima no país começou a mudar.
23:12Porque quando você
23:14começa a justificar
23:16violência física,
23:18ou seja, a barbárie,
23:20ela começa a acontecer.
23:22E foi o que aconteceu
23:23após o julgamento do Doc Street.
23:26Outros casos foram surgindo
23:29de pessoas,
23:32até, como disse aqui a Tereza,
23:34da alta sociedade,
23:35você pode pesquisar,
23:36tem um monte.
23:37E todo mundo já ia,
23:38porque é legítima defesa da honra.
23:41Falou uma coisa que eu não gostei,
23:43fez uma coisa que eu não gostei,
23:45e foi para cima.
23:46Essa ideia de justificar
23:48violência física
23:50com provocação,
23:52ela gerou
23:54esse clima no Brasil.
23:56Só que, pelo outro lado,
23:58tinha o movimento
23:58Quem Ama Não Mata,
24:00com muitas mulheres
24:01muito sérias
24:02que começaram
24:03a se engajar.
24:05E também o slogan,
24:06é um slogan que apela
24:07a todas as pessoas,
24:09não é uma coisa
24:09de movimento,
24:10de política,
24:11de direita e de esquerda.
24:12Quem ama,
24:13não mata.
24:15É simplesmente isso.
24:17Bom,
24:18incendiou o país.
24:19teve outro julgamento.
24:22E o Dock Street
24:23foi condenado
24:24a 15 anos de cadeia,
24:27que cumpriu
24:28na íntegra.
24:31E
24:32eu entrevistei
24:34o Dock Street.
24:36Eu conheci o Dock Street
24:37no dia 1º de setembro
24:39de 2006.
24:41Sim,
24:43eu já era repórter
24:45experiente
24:46na área de polícia
24:47nessa época.
24:48Tá aqui,
24:49eu tinha,
24:50não era tão experiente,
24:51eu tinha uns 10 anos,
24:52tinha 10 anos de carreira.
24:55Aqui a foto
24:56que foi recuperada,
24:59eu não achava
24:59essa foto,
25:00tava desesperada,
25:01meu amigo
25:02Alessandro Alvarenga,
25:03que é de Minas Gerais,
25:05viveu
25:05toda essa história,
25:07todo mundo
25:08que tem mãe
25:09em Minas Gerais
25:10e tem a nossa cidade,
25:10a mãe se envolveu
25:12no Quem Ama Não Mata.
25:13Ele recuperou
25:14essa foto minha
25:15com o Dock Street,
25:17que era uma entrevista
25:18por quê?
25:19Porque ele saiu
25:19da cadeia
25:20e lançou
25:22este livro aqui,
25:23olha,
25:23Mea Culpa
25:24por Dock Street.
25:25Aqui eu tô marcando
25:26um trecho
25:26que eu vou ler
25:26pra vocês.
25:28Esse livro,
25:29olha,
25:30que ele deixou
25:31com a dedicatória
25:32e a data
25:33para mim,
25:34ó,
25:351º de setembro
25:37de 2006.
25:39E aí eu vou ler
25:40a parte
25:41da legítima
25:44defesa
25:45da honra.
25:47Ele diz
25:48a decisão
25:50dos jurados
25:51aplicar
25:52ao acusado
25:53a sanção
25:54por excesso
25:55culposo
25:56de legítima
25:58defesa.
26:01E aí ele diz
26:02eu estava
26:03envergonhado,
26:04sentia que tinha
26:05sido covarde,
26:07que devia ter impedido
26:08que me defendessem,
26:09remexendo o passado
26:10de Ângela.
26:12Afinal,
26:12eu a amara
26:13muito.
26:15Dias depois,
26:15já em São Paulo,
26:16lia envergonhado
26:17e com tristeza
26:18uma declaração
26:20do Carlos Drummond
26:21de Andrade
26:21da qual jamais
26:22me esqueceria.
26:24Aquela moça
26:25continua sendo
26:26assassinada
26:27todos os dias
26:28e de diferentes
26:30maneiras.
26:33Enfim,
26:33o assassino
26:36que foi
26:37defendido
26:38com a tese
26:39da legítima
26:41defesa
26:41da honra
26:42tem vergonha
26:44dela.
26:46Compreende?
26:49E o que aconteceu?
26:50No Brasil,
26:52como que chega
26:54a legítima
26:54defesa
26:55da honra
26:55se ela não
26:55estava na lei?
26:57Na época
26:58da colônia,
27:00as leis
27:00que valiam
27:01no Brasil
27:02eram as leis
27:03portuguesas.
27:04A gente não
27:05tinha uma lei
27:05brasileira.
27:07A lei
27:07portuguesa
27:09ela herdava
27:10vamos dizer,
27:11ela tinha
27:12as ordenações
27:13alfonsinas,
27:14ordenações
27:15manuelinas
27:16e ordenações
27:17filipinas,
27:18que eram as ordens
27:19do senhor
27:20rei.
27:22Então,
27:22elas traziam
27:23muitas coisas
27:23que eram
27:24dos costumes
27:26antigos
27:26e tinha
27:27esse costume
27:27medieval
27:28de você
27:29poder matar
27:30a mulher.
27:32A figura
27:33masculina
27:34era autoridade
27:35no ambiente
27:36familiar
27:36de Portugal
27:38e a mulher
27:40não era só
27:41submissa ao marido,
27:42ela era uma espécie
27:43de propriedade
27:44do marido.
27:46Nas ordenações
27:47filipinas,
27:49livro 5,
27:50título
27:5138,
27:54diz o seguinte,
27:55achando o homem
27:56casado,
27:57sua mulher
27:58em adultério,
27:59licitamente
28:00poderá matar
28:01assim a ela
28:02como o
28:04adúltero.
28:04Isso se chamava
28:06legítima defesa
28:07da honra.
28:08Ok?
28:10O ofendido
28:11ainda podia
28:12levar outras pessoas
28:13para ajudar
28:14a matar,
28:16contanto que
28:16não fossem inimigos
28:18nem da
28:18adúltera,
28:19nem do
28:19adúltero.
28:21E quem
28:22ajudasse ele
28:23a matar
28:23seria também
28:25absolvido
28:27junto com ele,
28:28comprovados
28:29o matrimônio
28:30e a relação
28:31de infidelidade.
28:35Aí,
28:36tem aqui
28:36uma nuance.
28:38Nessa lei
28:38portuguesa,
28:39o homem não tinha
28:40só o direito
28:40de matar
28:41para preservar
28:42a honra,
28:42ele tinha o dever.
28:44Por quê?
28:45Se ele não
28:46reagisse
28:47de forma
28:47violenta
28:48ao que
28:49era considerado
28:51um vilipêndio
28:53à sua honra,
28:55se ele
28:55não executasse
28:56a legítima
28:57defesa
28:58da honra
28:58utilizando
29:00de violência
29:01física,
29:02então se presumia
29:03que ele não
29:04tem honra.
29:07E aí,
29:08ele,
29:09vamos dizer,
29:10ficava ridicularizado
29:11na sua condição
29:12de macho.
29:14Mas olha
29:14que coisa
29:15também interessante.
29:17Homens
29:18nobres
29:19sempre podiam
29:20fazer isso,
29:21mas homens
29:21plebeus
29:22só podiam
29:24executar
29:25legítima
29:25defesa
29:26da honra
29:26caso
29:27casados
29:27com uma
29:28plebeia.
29:29Se fossem
29:30casados
29:30um plebeu
29:31e uma mulher
29:32da nobreza,
29:33ele não
29:34podia fazer
29:35legítima
29:35defesa
29:36da honra,
29:36não.
29:37Se matasse,
29:38ele ia preso.
29:40A primeira
29:41lei que a gente
29:42vai ter
29:42no Brasil,
29:44depois da
29:44independência
29:45em 1822,
29:47a gente vai
29:47vir com a
29:48Constituição
29:48de 1830.
29:51A Constituição
29:52de 1830
29:53proibia
29:54a legítima
29:55defesa
29:55da honra.
29:56Isso nunca
29:57existiu
29:57no Brasil.
29:58E ele
29:58diz que
29:59tanto o
30:00homem casado
30:00quanto a
30:01mulher casada
30:02que praticassem
30:02adultério
30:03seriam punidos
30:04com prisão
30:05temporária,
30:05coisa que persistiu
30:06meus amigos
30:08até o século
30:0820.
30:09Ao longo
30:10do século
30:1020,
30:11várias coisas
30:12foram sumindo
30:13da legislação.
30:15Então a gente
30:16teve essa
30:16coisa de
30:17prender
30:18adúltero.
30:19Acabou,
30:20isso se resolve
30:20com o direito
30:21de família.
30:22a pena
30:24para estuprador
30:26ser eliminada
30:27caso ele
30:27casasse
30:28com a
30:29vítima
30:29também
30:30acabou.
30:31O conceito
30:33de
30:34mulher
30:34honesta
30:35porque
30:36só era
30:37estupro
30:37se fosse
30:38considerada
30:39mulher
30:40honesta,
30:40que é uma outra
30:41expressão
30:41maldita.
30:43A mulher
30:43honesta
30:43tinha que ser
30:44ou a virgem
30:45ou a casada
30:45ou a freira.
30:48Compreende?
30:49Eles queriam
30:49a desonesta
30:50era quem?
30:51Inicialmente
30:52o legislador
30:53mirou na figura
30:54da prostituta
30:55mas acabavam
30:57abrangendo
30:57mulheres
30:58separadas
30:59e mulheres
30:59solteiras
31:00que não
31:00fossem
31:01virgens.
31:02A figura
31:03mulher
31:03honesta
31:04era uma figura
31:05muito pesada
31:07também
31:07no cenário
31:09jurídico
31:10brasileiro.
31:12Isso tudo
31:12caiu.
31:13E o que
31:14permanecia
31:15vira e mexe
31:16aparecendo
31:17nos tribunais
31:18embora
31:19tenha sido
31:20banido
31:20por ser
31:21arcaico
31:22em 1830
31:24a tal
31:25da legítima
31:26defesa
31:26da honra
31:26que é uma
31:27das expressões
31:27mais malditas
31:29da história
31:30judicial
31:31do Brasil.
31:33Aparecia,
31:33aparecia,
31:34aparecia
31:34até que
31:35ela aparecia
31:37mas ela não
31:38existe formalmente.
31:40Ela é só
31:40uma ideia
31:41de que
31:42você tendo
31:43a sua honra
31:43aviltada
31:44você pode utilizar
31:45a violência
31:45física
31:46e até
31:46matar.
31:49Então
31:49isso aparecia
31:50aparecia
31:51aparecia
31:52aparecia
31:52aparecia
31:53até que
31:55entraram
31:55com ações
31:55no Supremo
31:56e
31:56o Supremo
31:58sepultou
31:59isso.
32:00E pra vocês
32:01verem que é uma coisa
32:01que não tem
32:02esquerda e direita
32:03nisso, tá?
32:04Sabe quem
32:05fez um vídeo
32:05comemorando?
32:07A então
32:08ministra
32:08Damares Alves
32:09atual senadora
32:10Damares.
32:11Vamos ver esse vídeo.
32:12Oi gente,
32:13estamos passando por aqui
32:14para celebrar
32:14com todos vocês
32:15uma grande notícia.
32:17Uma notícia
32:17que nos leva
32:19no rumo certo
32:19da garantia
32:20dos direitos
32:21no Brasil.
32:22Nessa semana
32:23em que comemoramos
32:24o Dia Internacional
32:25da Mulher,
32:25o Supremo Tribunal
32:26Federal,
32:27o STF,
32:28decidiu por unanimidade
32:29que agora no Brasil
32:31está afastada
32:32qualquer possibilidade
32:33do advogado
32:35ou dos defensores
32:36usarem em processo
32:37de assassinatos
32:38de mulheres
32:39o argumento
32:40da legítima
32:41defesa
32:41da honra.
32:42O que é isso?
32:43No passado,
32:44assassinos
32:45de mulheres
32:46alegavam
32:47que tinham
32:47matado
32:48suas companheiras,
32:49suas esposas,
32:50suas namoradas
32:51em legítima
32:52defesa da honra
32:53porque sentiram
32:54suas honras
32:55ofendidas
32:56porque elas
32:57o deixaram
32:58por uma outra pessoa,
32:59alegavam
33:00que elas tinham
33:00mentido
33:01ou traído.
33:02Isso agora
33:03não vai mais
33:04ser usado
33:05no Brasil.
33:06Acabou.
33:07Isso agora
33:07é coisa do passado.
33:09Vocês sabiam
33:10que assassinos
33:11no Brasil
33:12foram absorvidos
33:13com esse argumento
33:14que sentiram
33:15suas honras
33:16ofendidas?
33:17Acabou, gente.
33:19A violência
33:19contra a mulher
33:20não se explica.
33:21O assassinato
33:22de mulher
33:23não se minimiza,
33:24não se relativiza.
33:27Acabou.
33:28Bora, gente.
33:29Vamos celebrar
33:29essa grande notícia.
33:31E se você sabe
33:32de alguma mulher
33:32que está vivendo
33:33um ciclo de violência,
33:35denuncie.
33:36Vamos todos,
33:38juntos,
33:38proteger as mulheres
33:39no Brasil.
33:40E aí,
33:41tudo isso dito,
33:43eu vou trazer aqui
33:44um combo
33:45de três vídeos
33:46para vocês.
33:47Nós chegamos
33:48a um ponto
33:49em que,
33:50numa coisa
33:50que não tem nada
33:51a ver com isso,
33:51que é uma eleição
33:52municipal,
33:53a gente é obrigado
33:55a ouvir
33:55a expressão maldita,
33:57legítima defesa
33:58da honra
33:59e isso ser relacionado
34:02com ser homem
34:03ou não ser homem,
34:05que é um conceito
34:06que já tinha
34:08sido sepultado
34:09duzentos anos atrás.
34:12É isso aqui
34:12que nós estamos vendo.
34:13Eu agi
34:14e legítima defesa
34:16da minha honra.
34:18... do seu direito
34:19agora,
34:19por favor,
34:20Datena.
34:20Vem cá, ué.
34:20Datena, por favor.
34:21Datena, por favor.
34:23Vem cá, ué.
34:23Vem, fica aqui do lado.
34:24Fica aqui, ó.
34:25Entra a segurança.
34:26Fica bem aqui, ó.
34:27Segurança, por favor,
34:28aqui no palco.
34:29Ah, que isso?
34:30Ele está desequilibrado.
34:32Datena, por favor,
34:33não pode sair do público.
34:35Datena, retorne,
34:36por favor.
34:36O pato é você, cara.
34:38Retorne, por favor.
34:40Antiético, vagabelo.
34:42Você está formalmente
34:44advertido,
34:44porque uma das regras
34:45mais claras...
34:46Pablo, por favor,
34:47deixa eu terminar de falar.
34:50Foi avisado
34:51que teria uma advertência
34:52formal no caso
34:52de sair do púlpito,
34:53que isso não se repita.
34:55Certo?
34:56vocês não me deram
34:56o direito de resposta.
34:58E por causa dessa bagunça
34:59foi retirado
35:00o seu direito de resposta.
35:01Acabou.
35:02Foi retirado
35:03o direito de resposta.
35:04Eu pedi respeito
35:05antes.
35:06Mas você estava
35:07provocando ele.
35:10Nós vamos
35:10concluir esse bloco.
35:11Só para a gente
35:13arrematar o assunto,
35:16você pode estar falando,
35:19se colocando
35:20nessa situação.
35:21Eu quero trazer aqui
35:22uma outra situação
35:23que aconteceu em agosto
35:24de 2014,
35:25envolvendo o candidato
35:26José Luiz Daterno,
35:28meu querido colega
35:29de profissão.
35:29estavam conversando
35:33no estúdio,
35:34dentro do estúdio
35:35da Rádio Bandeirantes
35:36estavam,
35:37meu queridíssimo amigo
35:39Milton Neves,
35:41porque eu tenho
35:41uma gratidão enorme,
35:43e o Cláudio Zaidan,
35:45que é um grande
35:46jornalista esportivo
35:47e que foi a primeira pessoa
35:49a me colocar no ar,
35:51dizer que eu tinha
35:52condições de falar
35:53na rádio,
35:53na Rádio Trianon
35:54de São Paulo,
35:55em maio de 1996.
35:58Estavam esses meus
35:59dois amigos
35:59queridos no estúdio,
36:01conversando por telefone
36:02com o craque Neto.
36:04E eles estavam falando
36:05sobre o ex-jogador
36:06do Curitiba,
36:07José Hidalgo Neto,
36:09conhecido como
36:10Capitão Hidalgo.
36:11E mencionaram o nome
36:13do José Luiz Daterno.
36:15E José Luiz Daterno
36:17entrou no estúdio
36:19enfurecido
36:20e deu um soco
36:21no Milton Neves,
36:22que foi parar no IML
36:24fazer exame de corpo
36:25de delito.
36:27Não tinha câmera
36:28nessa época
36:29nas rádios,
36:30mas eu vou te trazer
36:31o áudio aqui.
36:32Ô Neto,
36:33sabe quem morou
36:33na casa do Hidalgo
36:34em Curitiba,
36:35que estava desempregado
36:36na vida?
36:36Da Tena.
36:37Zé Luiz Daterno,
36:38morou na casa do Hidalgo,
36:39filou boia lá
36:40e até hoje
36:41ele é grato.
36:42Porque tem muita ingrata
36:43por aí,
36:43muito ingrato
36:44por aí,
36:44que não olha pra trás.
36:46Mas o Daterno
36:46agradece o Hidalgo.
36:48Não é que tem
36:48muito ingrato
36:49e muito ingrato,
36:50é que você
36:51deu asa
36:52pra muita cobra
36:53e essas cobras
36:54picam a gente hoje.
36:56É,
36:56mas são
36:57cobras boas.
36:59Mas...
36:59Cobra boa?
37:01Tem cobra
37:02que não tem veneno.
37:03Mas você
37:04tá de brincadeira,
37:06cara.
37:06Você também
37:07eu criei,
37:07viu, Cascavé?
37:08Mas eu nunca
37:09te fiz mal,
37:10muito pelo contrário.
37:11Muito pelo contrário.
37:11Eu sempre te agradeci
37:12tudo que você fez
37:13por mim,
37:14desde a época
37:15da Record
37:15em tudo.
37:17Nunca.
37:18Queria mandar um abraço
37:18pro Zé Luiz Daterno
37:19que ama o Hidalgo
37:20porque ele não era
37:21essa estrela que é hoje,
37:22a maior estrela
37:22da televisão brasileira.
37:24E ele morou lá em Curitiba,
37:25ele morou na casa
37:26do Hidalgo
37:27porque o Hidalgo
37:28fez questão.
37:29Ele tinha uma pensão lá,
37:30o nosso querido Hidalgo.
37:31Eu não sabia
37:31que ele tinha trabalhado
37:32em Curitiba.
37:32Aliás, eu pedi fotos
37:33pro Hidalgo
37:34com o Daterno
37:35no Rádio Esportivo de lá
37:36porque eu vi o Daterno.
37:37Eu também trabalhei
37:38no Rádio Esportivo de lá
37:39e morei numa pensão
37:40que eu vou dizer agora pra você.
37:45na Rádio Colombo lá
37:46e eu vou dizer agora pra você
37:47que foi uma tristeza
37:48na minha vida
37:48porque lá em Curitiba
37:49ao contrário de você
37:50eu passei fome
37:52e passei frio.
37:53E o Hidalgo
37:53tem o maior orgulho
37:54de ter sido seu companheiro
37:55na cidade de Curitiba.
37:57Fria e maravilhosa Curitiba.
37:59Grande da Atena.
38:00Deitou e rolou também
38:02lá no Paraná
38:02antes de virar
38:03essa estrela nacional.
38:04Primeiro na Record.
38:05Antes aqui na Bandeirantes
38:06como repórter
38:07e como narrador.
38:08É um eclético.
38:09Não é eclético.
38:10O homem não faz tudo direito
38:11o Claudíssimo Zaidá.
38:12Ah sim, competentíssimo.
38:13Muito bem Zaidá.
38:14Um grande abraço
38:16pra você aí viu
38:16o Datena.
38:18Vou mandar
38:19eu vou mandar um vinho
38:20peramanca
38:22da adega
38:23alentejana
38:24pra você.
38:25Tá legal?
38:26Mas é um direito
38:27dele dizer ou não.
38:29Parabéns Zaidá.
38:29Que merda é essa
38:30que você fala?
38:31Por isso que você é monstro.
38:32Que merda é essa aí cara?
38:34Que merda é essa aí?
38:35Chegue aí
38:36o que é assada.
38:36Caralho.
38:39E aí?
38:39O que é que você acha
38:42disso tudo?
38:43O que é que você acha
38:44dessa história
38:45de legítima defesa
38:47da honra?
38:49Calma, calma.
38:50Essa aí você já tá
38:51coçando, né Poupina?
38:52Eu também.
38:53Desde o começo
38:53do vídeo
38:54eu já tô
38:55que eu me aguento.
38:57Vamos
38:57pras narrativas?
39:03Ai gente,
39:03esse coach
39:04é muito chorão.
39:07É muito chorão.
39:08o Datena
39:10tava fazendo
39:12a legítima defesa
39:13da honra dele.
39:14A legítima defesa
39:16da honra
39:17é algo que está
39:18na nossa legislação.
39:21Foi uma coisa
39:21violenta,
39:22ok,
39:24mas ele tem
39:25o direito
39:26de se defender
39:27de uma
39:28acusação
39:29injusta.
39:31As palavras
39:32são importantes.
39:34Palavras
39:35matam.
39:36é como no caso
39:37daquele comediante
39:38o Chris Rock
39:39com o Will Smith
39:40que nós chegamos
39:41à conclusão
39:42de que uma agressão
39:43física
39:43ou física
39:44é igual
39:46a uma agressão
39:47verbal.
39:48Elas podem ferir
39:49tanto quanto.
39:51O que importa
39:52é o quanto
39:53a pessoa se sente
39:54ferida.
39:56E muitas vezes
39:57eu sei que as palavras
39:58nos ferem
40:00muito mais
40:00quando alguém
40:01troca o meu pronome.
40:03Eu
40:04eu realmente
40:05às vezes sinto
40:06a vontade
40:06de quebrar
40:06a cara
40:07da pessoa.
40:11Vocês imaginam
40:13se fosse um candidato
40:15de direita
40:16que tivesse sido
40:17acusado
40:18de assédio
40:19e tivesse dado
40:21um soco
40:22em alguém
40:22o que é que
40:23teria acontecido?
40:23Ele estava preso
40:24conta bancária
40:26bloqueada
40:27estava
40:28eles tinham
40:29ressuscitado
40:30o Twitter
40:30só para cancelar
40:31o cara
40:31e fechar
40:32o Twitter
40:32de novo
40:33para poder
40:33ser autoritário
40:34tinham feito
40:35um carnaval
40:36no país
40:37mas como o Datena
40:38agora esquerdou
40:38o Datena
40:39é amigo
40:40do Boulis
40:41então o Datena
40:42é amigo
40:42do Boulis
40:43ele pode
40:44tudo
40:44e ninguém
40:45nem vai perguntar
40:46a história
40:46da sede
40:47direito
40:47que é igual
40:48o Silvio Almeida
40:48ai mas não tem
40:49condenação judicial
40:50não aconteceu nada
40:51gente mas a esquerda
40:53não falava
40:53que a palavra
40:54da vítima
40:55basta
40:55ah não
40:57para quem
40:57esquerdou
40:58aí é diferente
41:00e nós estamos
41:01convivendo com
41:02esse circo
41:02de horror
41:03
41:03e o Marçal
41:05faz é muito
41:06bem
41:06expor
41:07toda essa
41:08baixaria
41:09essa sugerada
41:11essa hipocrisia
41:12da esquerdalha
41:13e aí
41:14Zentão
41:15faz o L
41:15agora
41:16e qual é a minha
41:21opinião
41:23a minha opinião
41:24é que conviver
41:25com o uso
41:25do termo técnico
41:27jurídico
41:27legítima defesa
41:29da honra
41:30em pleno
41:312024
41:32é inadmissível
41:34é triste
41:36é nojento
41:38e é preciso
41:39parar
41:40com isso
41:41legítima defesa
41:42da honra
41:43não é assim
41:43ah não pode usar
41:44expressão tal
41:45porque vem da lista tal
41:46e o criado mudo
41:47e mulata
41:48não tem nada a ver com isso
41:49não tem a ver com origem
41:51não tem a ver com se sentir ofendida
41:54tem a ver com o significado
41:57da expressão
41:58legítima defesa
41:59da honra
42:00sempre significou
42:02uma única coisa
42:05a licença
42:07para matar
42:08mulher
42:08por ciúme
42:09e é uma expressão
42:11que parece uma maldição
42:12no Brasil
42:12porque ela nunca
42:13esteve na nossa lei
42:14ela vem de Portugal
42:16e desde a constituição
42:18de 1830
42:19ela não entra
42:20ela surge de novo
42:23com um crime famoso
42:25Doc Street
42:25que matou Angela Diniz
42:27um dos maiores criminalistas
42:29do Brasil
42:29Evandro Lins e Silva
42:30ressuscita essa expressão
42:32legítima defesa
42:34da honra
42:34e diz
42:35que
42:36o assassinato
42:38foi cometido
42:39porque ela o traia
42:41o apelido
42:42da Angela Diniz
42:43que era casada
42:44largou o marido
42:45e os três filhos
42:45para ir atrás
42:46do Doc Street
42:47no Rio de Janeiro
42:47o apelido dela
42:48era a Pantera
42:50de Minas
42:50ela era uma socialite
42:52ela aparecia bastante
42:53em coluna social
42:55ele disse
42:56que o homem
42:56se sentiu humilhado
42:57resolveu defender
42:58a honra
42:59e a única forma
43:00que viu
43:00foi lavar
43:01a própria honra
43:03com o sangue dela
43:03o Doc Street
43:06depois confessou
43:08que isso aí
43:08era tudo mentira
43:09não tinha nada a ver
43:10inventaram a tese
43:11para livrar
43:11livraram
43:12e depois que livraram
43:15o que aconteceu?
43:16começaram a aparecer
43:17outros casos
43:19por quê?
43:20tem uma coisa insidiosa
43:22nessa ideia
43:23de legítima defesa
43:25da honra
43:25que é o seguinte
43:27ela não é só
43:28compreender
43:30que o cara
43:31se sentiu
43:32tão aviltado
43:32que ele deu os tiros
43:34ela obriga
43:36socialmente
43:36qualquer cara
43:37que foi traído
43:38a lavar
43:39a honra
43:40com sangue
43:40porque senão
43:41ele não tem honra
43:43porque senão
43:43como gostam
43:44de dizer
43:45os nossos políticos
43:45senão ele não é homem
43:46eu sou homem
43:48por isso eu dei
43:49uma cadeirada
43:50portanto se te xingarem
43:51se ele não der uma cadeirada
43:52então você não é homem
43:53e isso
43:54tem um efeito
43:55de bola de neve
43:56na sociedade
43:57foi isso que aconteceu
43:57com a história
43:58da legítima defesa
43:59da honra
43:59e legítima defesa
44:01da honra
44:02não tem dois significados
44:03não é que a origem
44:05é tal
44:05não é um termo técnico
44:07que só significa
44:08uma coisa
44:09licença
44:11para matar
44:12mulher
44:12ou por ciúme
44:13ou porque te ofendeu
44:15ou porque difamou
44:16eu estou dizendo
44:17que o Datena usou
44:18nesse sentido
44:19não
44:19não é
44:21todo mundo que sabe
44:22tem muita gente
44:22que não sabia
44:23o significado
44:25de legítima defesa
44:26da honra
44:26quem que sabe
44:28talvez o Datena
44:28não soubesse
44:29advogados sabem
44:31policiais sabem
44:33jornalistas policiais sabem
44:35e talvez o Datena
44:37não tivesse a mínima
44:38ideia disso
44:38quando resolveu
44:40utilizar a expressão
44:42legítima defesa
44:44da honra
44:45e o problema
44:46não é nem a cadeirada
44:48embora na minha opinião
44:50dada a cadeirada
44:52tinha que ter
44:52todo mundo
44:52para a delegacia
44:53é quem bateu
44:54é quem apanhou
44:55é quem testemunhou
44:56ah mas é um crime
44:58de menor potencial
45:00ali tinha delegado
45:02não não tinha
45:03é o delegado
45:03que decida isso
45:04cada um no seu quadrado
45:06se você vê
45:07uma coisa que aconteceu
45:08você vai lá
45:08para a delegacia
45:09e denuncia
45:09mas a gente
45:11não vive
45:11numa sociedade
45:12civilizada
45:13não é
45:14então depois
45:15da gente ter visto
45:15aquela cena
45:16ainda teve
45:17de ouvir
45:18novamente
45:19uma expressão
45:20que eu jurava
45:21para mim
45:22que eu não ia mais ouvir
45:23porque ela só
45:24tem um significado
45:25e é
45:25contra a mulher
45:26legítima
45:28defesa
45:29da honra
45:29em 1830
45:32nosso imperador
45:33não colocou
45:36isso na lei
45:37anulou isso
45:38sepultou
45:39isso ressurge
45:40nos anos 70
45:41e só foi sepultado
45:43quase 50 anos
45:44depois
45:45quando ano passado
45:46o Supremo Tribunal
45:47Federal
45:48tornou inconstitucional
45:49a defesa
45:50com base
45:51em legítima
45:52defesa
45:52da honra
45:53e agora
45:56a gente vê
45:57essa palavra
45:58ressurgir
45:59só que essa palavra
46:00ressurge
46:01legítima
46:02defesa
46:02da honra
46:02que só tem
46:03um significado
46:04em toda
46:05a história
46:06do direito
46:07que é
46:08matar a mulher
46:09por ciúme
46:10ou por suspeita
46:10de traição
46:11essa expressão
46:14legítima
46:14defesa
46:15da honra
46:15ela ressurge
46:16para falar mal
46:17do Pablo Massal
46:18então pode?
46:21eu me pergunto
46:21nós estamos ouvindo
46:22falar legítima
46:23defesa
46:23da honra
46:24cadê
46:24as feministas?
46:27cadê
46:27as feministas?
46:28cadê
46:28eu mexeu com uma
46:29mexeu com todes?
46:31com todas?
46:32sei lá o que?
46:33cadê
46:33esse pessoal
46:34diante
46:35do uso
46:36dessa expressão
46:37tão perigosa
46:39tão insidiosa
46:40esse conceito
46:41tão perverso
46:42de novo
46:43na nossa sociedade
46:44bom
46:45se eles não estão aqui
46:46eu estou
46:47a partir do momento
46:49que a única
46:50defesa
46:50legítima
46:51da honra
46:52é a pessoa
46:53partir
46:54para a agressão
46:54física
46:55nós estamos
46:56mandando uma mensagem
46:57para todo mundo
46:57que se o cara
46:58não parte
46:59para a agressão
46:59física
47:00quando ele é xingado
47:02quando ele tem
47:02a sua honra
47:03aviltada
47:03então ele não tem honra
47:05é esse o mundo
47:06que você quer viver?
47:07olha
47:07tem ainda um outro conceito
47:09muito equivocado
47:11de que alguém bate
47:12porque foi provocado
47:13isso é desculpa
47:14de gente fraca
47:15ninguém bate
47:17porque foi provocado
47:18a gente bate
47:19por duas coisas
47:20ou porque perdeu
47:21o controle
47:22ou porque quis
47:23mesmo bater
47:24nenhum adulto
47:26decide por mim
47:27eu tomo
47:28as minhas decisões
47:30a pessoa
47:30precisa ser muito
47:31frouxa
47:32para levar adiante
47:33esse conceito
47:34de que você bate
47:35porque foi provocado
47:36ninguém te obriga
47:37a fazer nada
47:38você faz
47:39o que você quer
47:40e você faz
47:41o que você decide fazer
47:42às vezes decide errado
47:43como nesse caso
47:44o Datena
47:45provocado
47:46decidiu errado
47:48mas também
47:49já entrou
47:49dez anos atrás
47:50no estúdio
47:50para dar um soco
47:51no Milton Neves
47:52que estava elogiando
47:54ele no ar
47:54porque estava falando
47:55dele
47:56sabe-se Deus
47:56o que é que ele achou
47:57quem bate
48:00bate
48:01porque bate
48:02não bate
48:04porque foi provocado
48:05esse
48:06é o conceito
48:07que a gente
48:07precisa levar adiante
48:08a gente não pode
48:10deixar
48:11para as pessoas
48:12o recado irresponsável
48:13de que é lícito
48:15que é justo
48:16que é moral
48:16resolver as coisas
48:18no tapa
48:19isso vai acabar
48:20pior
48:20sabe para quem
48:21para a mulher
48:22e para a criança
48:23bom pessoal
48:32o narrativas antagonista
48:34vai ficando por aqui
48:36super histórico
48:37de hoje
48:38o que você acha
48:39de usar a expressão
48:41legítima
48:42defesa da honra
48:43a gente devia voltar
48:44a fazer isso
48:47e essa coisa
48:50de
48:51a gente
48:52compreende
48:53que provocou
48:54tem que bater
48:55mesmo
48:55ou a gente
48:56sabe
48:57que algumas
48:59pessoas
48:59reagem fisicamente
49:01quando provocadas
49:02e também
49:03sabe que é errado
49:04tá aí
49:06Brasil
49:07quero ouvir
49:08o que é que
49:09vocês vão falar
49:10beijo
49:11tô de volta
49:12amanhã
49:13às 5 da tarde
49:13até lá
49:14tchau
49:15tchau
49:16tchau
49:16tchau
49:16tchau
49:17tchau
49:18tchau
49:19tchau
49:19tchau
49:19tchau
49:19Legenda Adriana Zanotto

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