- hoje
A policial militar e ex-deputada federal Katia Sastre relembra o episódio que a tornou conhecida publicamente após viralizar nas redes sociais.
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NotíciasTranscrição
00:00Eu quero que você fale de um episódio do qual você foi protagonista, que marcou muito.
00:08Me marcou, eu me lembro, quando eu assisti o vídeo do episódio, e acho que marcou o Brasil inteiro, né?
00:14Porque eu acho que você simbolizou muita coisa. Eu queria que você contasse como é que foi que aconteceu.
00:23Então, era o dia das mães, né? 2018. Na verdade, assim, foi uma sequência de coisas, né?
00:33Nós estávamos num período até mesmo de mais cuidado com a família.
00:41Eu tinha, poucos meses antes, eu já tinha participado de uma outra ocorrência de roubo também, né?
00:48Que um indivíduo veio a óbito, o outro foi baleado, foi preso.
00:55Nós deparamos com uma... Mas até aí a gente estava em ocorrência.
01:01Nesse mês que tinha acontecido isso, um pouco antes, o meu marido também tinha deparado com uma outra ocorrência de roubo também.
01:10Ele levou um tiro no braço, perdeu o movimento da mão esquerda.
01:14Então, a gente estava numa sequência de fatos, assim, né?
01:19Nesse dia, ele estava cuidando da minha filha menor, que era...
01:22Tudo isso com a minha filha recém-nascida.
01:25E a gente muito preocupado, porque ele já tinha levado esse tiro no braço.
01:28Teve essa outra ocorrência que ele falou...
01:30Eu liguei pra ele de madrugada e falei, olha, amor, eu não vou voltar pra casa.
01:33A gente teve uma ocorrência...
01:35Tinha um sargento, foi baleado nessa ocorrência que estava comigo.
01:39Ele falou, Cátia, eu estou em casa, sem o movimento da mão esquerda.
01:43Você se envolvendo em outra ocorrência, né?
01:46Com troca de tiro.
01:48O que vai ser dessas crianças aqui em casa?
01:51Nós temos essa dificuldade.
01:52Claro.
01:53Entende?
01:54E aí eu falei, eu não sei.
01:56O que Deus achar que tem que ser feito, vai ser feito.
02:00Vamos confiar em Deus, né?
02:02E aí, logo em seguida, que ele voltou a trabalhar, que ele estava em casa esse dia,
02:08cuidando da filha menor, pra eu ir na festa de dia das mães da filha mais velha,
02:14que estava com sete anos.
02:15E aí eu saí de casa, a gente cria umas historinhas na cabeça, assim, sabe?
02:22Policial, a gente vive focado, né?
02:24E eu lembro que eu saí de casa, eu parei na esquina de casa do carro, pra gente tirar
02:28uma selfie, pra falar, olha, estamos indo pro dia das mães.
02:31E aí me veio na cabeça, caramba, é muito cedo, eu parar o carro na esquina aqui, pode
02:36ser surpreendida por alguém.
02:38E aí já veio uma sequência de coisas.
02:40Olha, eu vou chegar na escola, é sábado, não tem movimento na rua, oito horas da manhã,
02:44não é só falta alguém vir roubar a porta da escola.
02:46Ainda pensei isso no caminho da escola.
02:49Mas aí, ai, loucura, coisa de polícia, vamos embora.
02:53E aí eu cheguei na porta principal da escola, por onde sempre entramos, olha como as coisas
03:00acontecem, sempre entramos pela porta principal.
03:02E esse dia, o porteiro da escola falou assim, dona Kátia, hoje vai entrar pela parte de trás,
03:08que é uma parte menos movimentada, que é só residência, oito horas da manhã no sábado,
03:12vão entrar pela parte de trás.
03:15Como eu já tinha estacionado o carro, eu falei, vamos a pé, a gente vai dar a volta
03:18no quarto, terão a pé.
03:20E aí fomos.
03:21Chegamos lá, criança brincando, porta de escola, as mães se encontram, né, e aquela
03:25coisa, e fala de criança, as crianças pulam.
03:28E tinha bastante carros já estacionados, eu não tenho, não sou alta, então eu não
03:35consigo ver a travessa, né, por cima dos carros.
03:38A gente estava bem atrás dos carros.
03:40E aí passa uma mãe, muito rápido, e ela falou, é um ladrão.
03:46E passou.
03:47Quando eu virei pra olhar, pra ver o que estava acontecendo, que a gente realmente estava
03:52conversando, as crianças brincando, ele já estava saindo de trás do carro com a arma
03:58na mão.
03:59Então, assim, foi muito rápido, ele já estava em cima da gente.
04:02Como ele veio atrás do carro e eu não enxergava atrás, né, não conseguia ver, ele veio muito
04:08rápido.
04:09Foi uma...
04:09A moto durou cinco segundos, a ação toda.
04:13E aí entra a situação que eu falei, que nós somos seres humanos, né.
04:19Em cinco segundos você tem que pensar que você não pode morrer, porque se você morrer,
04:26você não sabe o que vai acontecer com as outras pessoas que estão ali, inclusive com
04:30a sua filha, porque não é um momento que você está trabalhando que você tem que cuidar
04:34da sua vida e do seu parceiro.
04:35É um momento que tem um monte de crianças, um monte de mãe e a sua filha está ali no meio.
04:40E a gente sabe hoje que se um marginal desse, um ladrão desse, descobrir que você é policial
04:48e você está em...
04:50Você vai morrer.
04:51É diferente, Mota, se alguém for te roubar, eu falo que você tem cinquenta por cento
04:57de chance de viver e cinquenta por cento de chance de morrer.
05:01O policial não.
05:03O cem por cento você vai morrer.
05:05Ele não vai deixar você vivo.
05:07Ele não vai pegar a sua arma e falar assim, olha, vai embora, eu já peguei o que eu queria.
05:11Ele não vai fazer isso.
05:13Ele vai te matar onde você está.
05:14Ele não quer saber se você está com o seu filho, se você está com a sua família,
05:18se você está sólido.
05:19Ele não quer saber.
05:20Ele vai te matar.
05:22Então, naquele momento, e até mesmo por ser uma situação, a gente tem sempre uma regra
05:28de segurança de estar com a arma colada no seu corpo, mas era dia das mães.
05:33Eu ia entrar na escola, eu ia dançar, eu ia pular.
05:35Eu não podia correr o risco da arma cair.
05:37Então, quando isso acontece, que é uma situação diferente do normal, você tem que estar
05:46ciente, primeira coisa, de que a arma, mesmo ela não estando no seu corpo colado, você
05:51vai ter facilidade em pegá-la.
05:55E foi o que eu imaginei.
05:57Eu saí de casa nessa situação e falei, eu vou deixar ela na minha bolsa, porque eu
06:00não tenho como colocar na roupa.
06:02Eu estava realmente preocupada com as crianças da escola, porque não tem como.
06:06Você está dançando o celular, queda a sua roupa, assim como a arma.
06:09E eu falei, eu tenho que colocar, sempre coloquei de uma forma que eu pudesse pegá-la
06:13muito rápido.
06:13Você tem que estar preparado, Mota, 24 horas.
06:17Assim, como o meu pai me instruía, a gente tem que instruir os nossos filhos.
06:23Muitas vezes eu ouvi de mães falar assim, ah, mas você assusta a sua filha.
06:27Não, eu instruo a minha filha.
06:29E eu falava, sempre falei para ela, Mota, se um dia a mamãe estiver dentro do carro
06:34e vir um homem mal e falar para a mamãe que ela tem que descer, estiver armado, qualquer
06:40coisa que aconteça, você deita no chão e só sai de lá se eu tirar.
06:44Se a gente estiver fora do carro, você vai correr para longe da mamãe.
06:50Você não segura em mim, você corre para longe.
06:52Se esconde em algum lugar e depois eu vou te pegar.
06:55Mas você não fica perto de mim.
06:57Por quê, Mota?
06:58Porque o alvo sou eu.
07:00A criança, o natural dela é grudar na mãe.
07:04Claro.
07:05Então, eu sempre instruí as minhas filhas.
07:07Corre para longe.
07:09Não importa para onde.
07:10Corre e me deixa.
07:11Não fica comigo.
07:13Então, sempre a instrução foi essa.
07:14E a minha filha fez exatamente isso.
07:17Se elas vão fazer, a gente não sabe.
07:19Porque a gente, na verdade, Mota, a gente não sabe nem da nossa reação.
07:24Assim, 100%.
07:25Eu já vi policiais que não tiveram reação.
07:28Eu já vi policiais que tiveram reação para mais porque na hora da adrenalina, na hora
07:33do momento crítico, não conseguiu controlar a emoção.
07:36Então, assim, o ser humano é imprevisível, né?
07:40E aí, naquele momento, o que eu tinha que pensar?
07:43Não morrer para conseguir salvar as outras vidas.
07:46Eu não sabia se ele só roubaria ou se a intenção era entrar na escola.
07:52Eu não sabia.
07:52Porque hoje em dia, quantas vezes a gente vê, ah, eu vou entrar na escola e vou roubar,
08:00ou eu vou cometer um massacre.
08:02A gente não sabia o que ele faria.
08:05Não tinha como prever, né?
08:07Ah, mas talvez ele só roubaria a bolsa e embora só o celular.
08:10Não sei.
08:10Ninguém sabe.
08:11Então, assim, naquele momento que eu o vi, eu pensei, primeira coisa, eu não posso morrer
08:19na frente da minha filha.
08:20Eu não posso deixar ela morrer.
08:22Eu não posso deixar nenhuma criança, nesse momento, ser atingida, nem as mães.
08:27Eu vou reagir independente da situação, porque senão eu vou morrer.
08:31E aí, é tão rápido que você tem que pensar, como durou o vídeo, em cinco segundos, que
08:38você tem que reagir sem deixar a sua reação machucar alguém.
08:42Você tem que reagir sem deixar a chance para que ele continue a agressão dele e continuar
08:49machucando alguém.
08:50Então, é muito rápido.
08:51Quando eu o vi, eu pensei, bom, eu não posso morrer, eu não posso deixar que ele continue
08:56reagindo e eu tenho que ser rápida.
08:59Mas, ao mesmo tempo, como as pessoas correram, teve criança que foi para trás dele.
09:05Se eu errasse um tiro, eu poderia atingir uma criança ou uma mãe.
09:12E aí, naquele momento, você esquece que você também é ser humano.
09:16Qual foi a minha reação?
09:17Eu vou chegar muito perto dele para que, se ele conseguir dar um tiro, acerte em mim
09:25e não na minha filha ou em outras crianças que eu não sabia aonde estava naquele momento
09:29e que eu consiga acertá-lo sem eu errar e acertar outra pessoa.
09:36Então, tudo isso é infração de segundo.
09:39Cinco segundos.
09:40Então, no vídeo, você vê que eu vou muito perto dele.
09:43Teve internautas aí que foram parando os vídeos por frações e tem momento da minha arma
09:51estar apontada para ele e a dele para mim.
09:54Então, ali é bang, bang, né?
09:56Quem é o mais rápido.
09:58E aí, entra toda a parte operacional, treinamento, dois tiros de imediato para que você consiga...
10:04Mas ele chegou já com a arma apontada para você, né?
10:08Ele já chegou com a arma apontada.
10:10Você, então, teve que abrir a sua bolsa...
10:12Não, ela já estava aberta.
10:13A sua bolsa já está com...
10:14Já estava aberta e a arma na posição, como eu falei, que aí vem aquela preparação.
10:19A bolsa aberta e a arma na posição de pegá-la.
10:23De forma que eu pegasse e ela estivesse no jeito certo de usar.
10:27Quando a arma não está em você, ela tem que estar em algum lugar ou de alguma forma
10:34que você consiga...
10:36Então, enquanto ele estava chegando perto, você botou a mão na bolsa...
10:39Eu tirei a minha filha da frente.
10:41Na hora que eu tirei ela, ela entendeu e correu, né?
10:45E aí, eu peguei a arma e esperei o momento certo para ele chegar mais perto de mim.
10:49Porque se eu reagisse na distância que eu estava, eu podia acertar a mãe que estava correndo
10:53atrás dele.
10:54Você ficou com a mão na arma?
10:55Eu fiquei com a mão na arma até que eu conseguisse o momento exato, que eu chegasse muito perto
11:01dele e ele perto de mim para que eu conseguisse reagir.
11:04Então, tudo isso eu consegui pensar graças a Deus, né?
11:07E deu certo.
11:08É claro que eu falo, a gente tem o preparo, a gente tem o treinamento, a gente tenta focar,
11:13mas se não for a ação de Deus ali, também é tudo perdido.
11:16E aí, eu consegui paralisar aquela ação de imediato, mas, Mota, eu vi que ele, mesmo caindo,
11:25ele não largava a arma.
11:26Foi a hora que eu corri para trás do carro, porque eu falei, eu vou me proteger.
11:29Porque mesmo no chão, ele pode continuar atirando.
11:31Você deu um tiro nele e ele caiu.
11:33Eu dei dois.
11:35Ele estava caindo e não soltava a arma.
11:38Nesse momento que ele não soltava a arma, eu dei o terceiro.
11:41Porque eu tinha que parar, eu tinha que parar a agressão dele.
11:43E se ele começasse a atirar para todos os lados, eu não sabia onde o tiro tinha pego,
11:48porque na hora a gente não tem em movimento isso.
11:51Se ele continuasse atirando, ele ia acertar em qualquer pessoa que estivesse na rua,
11:54inclusive no carro, que tinha gente saindo com o carro.
11:58E aí, nessa hora, eu tentei me proteger.
12:01Foi a hora que é muito rápido o terceiro tiro.
12:04E quando ele largou a arma, foi a hora que eu voltei.
12:09Eu falei, bom, eu preciso tirar a arma de perto dele.
12:11Porque se ele ainda está conseguindo reagir, eu não sabia.
12:16Porque na hora, Mota, é tão rápido que você não sabe se o tiro pegou, se o tiro não pegou.
12:21É muito rápido.
12:22E aí, eu pedi para que ele virasse.
12:25Aí você usa toda a técnica que você aprendeu.
12:28Por isso que é importante o treinamento do policial.
12:31Pedir para que ele virasse para o outro lado,
12:33para ele não me ver onde eu estava e nem saber onde mais armas estavam.
12:39Ele virou para o outro lado, eu chutei a arma para atirar.
12:41Porque se eu abaixo ali e ele me segura, a gente entra em luta corporal.
12:45E aí, Deus lá sabe o que ia acontecer.
12:48Tirei a arma de perto dele, peguei, imobilizei, virei ele de costa.
12:53E ali mesmo, eu já liguei o 90, pedi apoio, pedi ambulância.
12:58Consegui avisar minha mãe para buscar minha filha,
13:00que a minha mãe estava mais perto do que o meu marido.
13:03E aí, dali, a gente conseguiu uma melhor situação.
13:08Naquela posição que eu estava, tinha a escola atrás de mim.
13:13Ele não estava sozinho.
13:15Tinha um outro com ele, que estava com o carro um pouco mais à frente.
13:19Mas ladrão é isso, eles são covardes.
13:21O primeiro tiro, o comparsa corre.
13:24Geralmente é isso que acontece.
13:26Larga quem está lá e cada um por si.
13:28E aí, ele fugiu e eu fiquei com esse.
13:35Enfim, dali em diante, quando eu entrei na escola,
13:40porque minha filha foi levada para dentro da escola,
13:43ela estava chorando muito.
13:44E aí, eu trouxe ela para a realidade.
13:46Eu falei, filha, você lembra quando a mamãe falou para você
13:50que se viesse um homem mau, a mamãe ia proteger,
13:53não ia deixar nada acontecer?
13:54Ela falou, lembra.
13:56Eu falei, foi só isso que aconteceu.
14:00Entendeu?
14:00Ela falou, entendi.
14:01Aí, ela se acalmou.
14:03Porque aí, eu trouxe ela para a realidade,
14:04para a instrução que eu dava para ela.
14:06A mamãe fez exatamente o que você...
14:09O que eu sempre falava.
14:11Então, Mota, para mim, a partir daquele momento ali,
14:16foi uma ocorrência.
14:17Eu não sabia que tinha vídeo.
14:19Eu não sabia que tinha câmera do lado de fora.
14:21porque, na verdade, há quase oito anos atrás,
14:28nem sempre todas as ruas ainda tinham uma câmera de segurança.
14:32Já tinha oito anos aquilo.
14:33É.
14:34Eu me lembro como se fosse hoje.
14:35Na verdade, sete anos.
14:39Acho que oito.
14:41Foi em 2018.
14:43Então, assim, de sete para oito anos.
14:46Então, o que acontece?
14:48Não sabia que tinha câmera naquele momento.
14:50Não sabia que tinha gravado nada.
14:55Não tinha essa noção.
14:59E, a partir dali, para mim, claro,
15:02eu estar com a minha filha naquele momento
15:04é um momento muito crítico, chocou.
15:07Mas era uma ocorrência.
15:08Eu sou policial militar.
15:10Era uma ocorrência.
15:11Só que, quando nós saímos dali,
15:16que a gente foi apresentar a ocorrência na delegacia,
15:18aí o mundo virou para mim.
15:22Porque eu comecei a receber mensagem no WhatsApp,
15:26no celular.
15:28Inclusive, o meu comandante,
15:29que hoje, o Coronel Meca,
15:31que é deputado estadual também,
15:33que era comandante da minha unidade na época,
15:35ele me mandou os parabéns,
15:38me ligou e falou assim,
15:40olha, parabéns pela tua ocorrência.
15:41Eu falei, ele falou, assisti o vídeo.
15:43Eu estava na delegacia.
15:45E meu marido chegou.
15:47Meu marido estava,
15:48na época, acho que, de supervisor regional.
15:51Ele tem uma função que eles ficam em casa
15:54e só saem quando tem uma ocorrência
15:57com policial militar.
15:59E ele estava.
16:00Meu marido estava nessa função aquele dia.
16:03E aí ele foi também para a delegacia.
16:05E aí ele me ligou e falou,
16:06eu vi, eu assisti o vídeo.
16:08Parabéns.
16:09Eu falei, que vídeo?
16:10Eu não sabia.
16:11Eu estava apresentando a ocorrência,
16:12eu não sabia.
16:12Aí eu entrei na delegacia e falei,
16:14doutor, tem vídeo da ocorrência?
16:16Ele falou, tem, você quer assistir?
16:17Eu falei, quero,
16:18porque todo mundo já está assistindo
16:19e eu não vi ainda.
16:21E aí eu sentei,
16:22nós assistimos o vídeo.
16:23Então, assim, até aquele momento,
16:24eu não sabia.
16:25E o que aconteceu
16:25quando você assistiu o vídeo?
16:28Você, como foi a sua reação?
16:30É, assim, para mim,
16:32estava tudo na minha cabeça, é claro.
16:34Mas eu consegui ver detalhes
16:35do que realmente tinha acontecido
16:38e tudo mais.
16:39Mas, para mim,
16:40era mais uma ocorrência.
16:42Claro que um pouco mais crítica,
16:45porque eu estava numa porta da escola.
16:46Eu não sabia qual seria o desfecho disso.
16:49Por quê, Mota?
16:50Eu ouvi até policiais falar assim,
16:53cara, eu não sei se eu ia reagir,
16:55porque eu não sei qual seria a repercussão depois.
16:58Na porta da escola,
16:59com um monte de criança,
17:00você dá tiro, né?
17:01Talvez eu não tivesse...
17:02Mas esse talvez, Mota,
17:05é a hora que o policial morre.
17:07Porque o cara não vai ter piedade de você.
17:10Nem da tua família,
17:11nem do teu filho.
17:12Entende?
17:12E aí ia ter tiro na porta da escola
17:14de qualquer jeito,
17:16e só que o tiro ia pegar.
17:17Mas aí acontece o quê?
17:19Como nós vivemos num mundo difícil hoje,
17:23inclusive da legislação,
17:25e o policial sendo massacrado o tempo todo,
17:28eu acho incrível,
17:29porque, Mota,
17:31quantos policiais não passam por isso
17:33que não é gravado?
17:35que não tem um vídeo,
17:37uma câmera tão boa,
17:38para mostrar o que aconteceu.
17:41Se não tivesse um vídeo ali,
17:43eu ia depender, Mota,
17:44de testemunhas.
17:47Que não estariam olhando,
17:48porque elas se escondiam,
17:49estavam correndo.
17:51Eu corri, eu não vi,
17:51eu só escutei.
17:53Seria a minha palavra só.
17:55Nem sempre, talvez,
17:56eu seria compreendida daquela forma.
17:58Não, você colocou...
17:59Tudo bem, você conseguiu,
18:01mas você colocou a vida das crianças em risco.
18:03Não teria um vídeo para mostrar como foi.
18:05E isso acontece muito.
18:08Nem sempre tem uma câmera da rua tão boa aqui,
18:11que mostra realmente
18:13tudo o que acontece na vida do policial.
18:16E aí vem uma parte ainda mais crítica.
18:20Quando eu não consegui sair pela porta da frente da delegacia,
18:24eu não tinha noção da repercussão desse vídeo.
18:27Quando nós olhamos para fora,
18:29estava cheio.
18:30Sabe aqueles cavalês?
18:31Parecia filme.
18:32um monte de cavalete
18:34com um monte de emissora
18:35me esperando sair
18:36para me entrevistar.
18:38Eu falei, cara, eu sou um policial,
18:40eu não vou na entrevista.
18:41Eu não vou falar.
18:42O que eu vou falar?
18:42Não, eu não vou.
18:45Vamos sair.
18:46Aí o delegado falou,
18:47não, põe o carro aqui dentro,
18:49eu saio por aqui.
18:50Por quê?
18:50Assim,
18:51eu não tinha noção da repercussão.
18:53Você não...
18:55Porque ali você representou
18:57a reação,
18:59não foi de uma polícia,
19:01só foi da sociedade,
19:02porque era dia das mães.
19:03Era dia das mães.
19:04O vídeo que eu vi,
19:05eu quando vi o vídeo a primeira vez,
19:06eu não vi um policial.
19:08Eu vi mães na porta da escola
19:10e um vagabundo covarde
19:13apontando a arma para mães e para...
19:15E ele teve o que ele não esperava
19:19que ele fosse...
19:19Esse indivíduo, Mota,
19:23aí entra aquela parte
19:26do afrouxamento das leis, né?
19:30Ele não devia estar na rua.
19:32Ele respondia por um crime de tortura,
19:35homicídio.
19:36Ele roubou um taxista,
19:38um senhor, um pai de família.
19:40Ele manteve esse taxista,
19:42um senhor,
19:42durante dez dias torturando,
19:44mas eu estou queimado.
19:46Isso é o que diz os processos.
19:49O que ele estava fazendo na rua, Mota?
19:52Na porta de uma escola daquele jeito?
19:54Entende?
19:55O que ele faria comigo
19:56se ele fez isso com uma pessoa
19:57que nem da segurança não era?