- anteontem
O delegado federal Jorge Pontes foi o convidado de sexta-feira no Papo Antagonista com Claudio Dantas, para falar sobre o lançamento de seu novo livro "Guerreiros da Natureza" que apresenta histórias sobre o combate ao crime ambiental na Amazônia pela Polícia Federal.
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NotíciasTranscrição
00:00Aconteceu, você fica sabendo aqui, Papo Antagonista.
00:06Jorge Contes, bem-vindo ao Papo Antagonista, tudo bem? Bem-vindo de novo.
00:10É, é um prazer estar aqui, Cláudio, no Papo Antagonista. Obrigado por mais uma oportunidade de conversar com vocês.
00:19Bom, o meu convite para você vir aqui tem a ver com o seu novo livro, que eu, inclusive, já li durante o final de semana, já li quase todo.
00:30Postei até no Twitter, no Instagram, recomendando a leitura. Põe na tela, por favor, Joelto, a imagem do livro do Jorge Guerreiros na Natureza.
00:43Muito bem, a história do combate aos crimes ambientais na Polícia Federal.
00:47Eu te confesso que eu fiquei muito curioso quando você lançou isso e até me mandou o exemplar, porque eu desconhecia totalmente a tua trajetória.
00:59Assim, eu desconhecia a criação das políticas de combate ao crime ambiental na Polícia Federal.
01:07A gente, às vezes, acha que as coisas são o que são, são como são, já estão lá há muito tempo.
01:14E eu me lembro, quando setorizava mais a Polícia Federal, não me lembro exatamente o que era, mas me lembro de uma coletiva convocada por você,
01:27na época que você estava integrada ao escritório da Interpol, justamente dedicada a esses temas.
01:33Uma coletiva que você convidou à imprensa lá no Máscara Negra.
01:38Eu não me lembro exatamente o que era, mas eu me trouxe essa lembrança e eu fiquei muito feliz em ver,
01:47não só de conhecer, através do teu livro, essa história, mas fiquei muito orgulhoso de ver você, de saber do teu protagonismo nessa história.
01:58Então, por isso você está aqui hoje, o microfone é seu.
02:02Conta um pouquinho, sintetiza um pouquinho dessa história para os nossos espectadores, Jorge.
02:07É, na verdade, obrigado aí pela oportunidade mais uma vez, mas na verdade foi uma percepção que nós tivemos,
02:17eu individualmente tive uma percepção, comecei minha carreira no Amazonas,
02:21e aí tive essa percepção do foco que a Polícia Federal tinha na repressão entorpecente.
02:31E é perceptível esse tesouro que nós temos, que são os recursos ambientais da natureza do Brasil, principalmente na Amazônia.
02:42E nós não olhávamos de forma sistêmica para esses crimes, não havia uma especialização.
02:48Depois, mais à frente, quando eu comecei a carreira de delegado, passando no concurso,
02:54essa minha primeira percepção foi no final dos anos 80, ainda trabalhando em Manaus,
03:01quando nós observávamos, às vezes, em situações de batidas atrás de cocaína,
03:08nós observávamos cargas de tartarugas,
03:11e o olhar que a polícia tinha era um olhar não muito aguçado em relação àquilo,
03:19e eram cargas caríssimas de vida silvestre, enfim,
03:23que impactavam, causavam grande prejuízo para o ecossistema local e tudo mais.
03:30Então, nós começamos aí com esse olhar sobre a fauna, sobre a questão de fauna,
03:35e, mais à frente, nós desenhamos, aqui no Rio de Janeiro,
03:41eu ainda estava na Corregedoria, desenhamos uma proposta para a Polícia Federal
03:45começar uma divisão de repressão, uma divisão especializada de repressão aos crimes ambientais,
03:53e, obviamente, isso implica em estudar, ter um conteúdo programático para a formação.
03:59Não é só criar, não é só apenas criar uma divisão, um espaço físico,
04:07destinar um grupo de delegados, agentes, peritos, escrivães, tudo mais.
04:11É preciso que haja uma doutrina, que haja um enfoque doutrinário por parte da polícia,
04:17e, inclusive, o conteúdo de acordo com a atribuição que a Polícia Federal.
04:23Quer dizer, um olhar para todo diploma legal, penal, no caso, que vai nortear o trabalho da polícia.
04:32Então, nós fizemos tudo isso nesse projeto.
04:36Eu desenhei esse projeto, na época eu estava na Corregedoria,
04:39hoje eu até me questiono, na verdade eu fiz esse projeto para poder sair da Corregedoria.
04:44Então, aí, o projeto foi bem recepcionado em Brasília,
04:51e, alguns anos depois, estávamos criando a divisão.
04:55Eu fui convidado para implantar a divisão e criamos isso em 2001,
05:01no último ano do governo Fernando Henrique.
05:04E no primeiro ano, no segundo ano do governo Lula, nós criamos as 27 delegacias.
05:11Quer dizer, aí mostra uma Polícia Federal, naquele tempo, órgão de Estado.
05:15Quer dizer, nós tínhamos uma linha.
05:17A linha era criar uma divisão, criar um braço repressivo para combater o crime ambiental.
05:26Então, nós começamos esse estudo num governo,
05:29e no outro governo nós continuamos como se, quando mudou o presidente,
05:34como se nada tivesse acontecido.
05:36Nós continuamos naquele trilho e montamos as 27 delegacias da Polícia Federal nos 27 Estados.
05:43E eu fiquei dez anos, na verdade, nove anos, como chefe.
05:49Fui o primeiro chefe e toquei nove anos, tinha a oportunidade de conhecer uma geração.
05:54E foi um encontro de gerações.
05:56Às vezes, eu posso ser mal interpretado quando eu venho colocando a minha geração
06:03como a geração que teve essa percepção, esse despertar da consciência ambiental,
06:09quando, na verdade, foi um encontro da minha geração com alguns colegas mais antigos,
06:15como o próprio Zumar Pimentel, o Wilson Damasio e o Paulo Lacerda,
06:19que foi o diretor que abençoou todas essas mudanças,
06:25e com a geração de jovens delegados que, nesse meio tempo, foram entrando,
06:30que hoje formam a linha de frente.
06:32formavam, até pouco tempo atrás, a linha de frente, que é o próprio Franco Perazzoni,
06:38Alexandre Saraiva, o Rubens, enfim, todo um grupo de delegados
06:42que estavam entrando, mais ou menos, naquele período
06:45e que se especializaram de uma forma realmente diferenciada.
06:52Você, deixa eu te interromper para duas coisas.
06:56Uma, que você começou a citar o nome de uns delegados,
06:58você vai ter que citar agora as delegadas, porque no teu livro você deixa claro
07:03que a construção dessa divisão, a construção desse time
07:13teve uma participação feminina importantíssima,
07:17até porque havia uma cultura machista em relação ao que se configurava
07:23como crime ambiental.
07:24Eu vou pedir para você falar sobre isso, mas eu queria só fazer um marco temporal,
07:30que eu percebi, na tua trajetória e na ideia de construir isso.
07:35É muito curioso, primeiro, o fato de você ter a iniciativa,
07:40ela não vem de um governo para baixo, ela não vem do presidente,
07:43ela não vem de um ministro, ela vem de um servidor,
07:46ela vem de um servidor que está sensível, que está na ponta,
07:50que está lidando com o crime diretamente, percebe, tem a sensibilidade de perceber
07:56outros crimes que não estão sendo devidamente abarcados pelo sistema
08:02de persecução penal, pelo próprio sistema de combate, de prevenção,
08:06de repressão ao crime.
08:10E a partir daí, quer dizer, vem de baixo para cima a construção dessa política
08:15de combate a crimes ambientais.
08:19Isso me chamou muita atenção, isso só nos dá orgulho,
08:22nos mostra o quão valorosos são muitos dos nossos servidores públicos.
08:29Você está aqui como exemplo disso,
08:33e todos os que são mencionados por você nesse teu livro.
08:39O marco temporal ao que me refiro, eu acho que você foi,
08:44a tua iniciativa foi um pouco decorrente de um movimento global,
08:50e aí a gente tem a Eco 92 aqui no Rio de Janeiro,
08:53que trouxe esse debate do meio ambiente para o Brasil,
08:59uma coisa que não tinha, a gente não tinha essa cultura mesmo,
09:03muito menos no debate público, da imprensa dedicada a isso,
09:06de fazer, não tinha editoria, não tinha nada.
09:09Então, é aquela sementinha que é plantada,
09:13a gente passa a integrar um debate global,
09:16e você narra, inclusive, os seus contatos internacionais.
09:19Então, primeira coisa, falar um pouquinho desse marco temporal
09:23dos contatos internacionais,
09:24e depois eu quero que você destaque aqui o nome também das delegadas
09:28que te ajudaram nesse processo.
09:30É bom você me lembrar, até porque é tanta coisa na cabeça,
09:36na verdade, você fez uma colocação muito boa agora,
09:40na verdade, o que aconteceu,
09:42até os estudos de administração pública da Fundação Getúlio Vargas
09:46chamam isso de empreendedorismo ao nível de rua.
09:51É quando, muitas vezes, a gente acha que é o gestor que faz Harvard,
09:56que faz MIT,
09:58que vai promover uma grande quebra de paradigma.
10:03Às vezes, o servidor, a nível de rua,
10:08muito raramente tem a possibilidade de perceber uma lacuna,
10:15e aí há o empreendedorismo.
10:18Foi exatamente esse caso.
10:20É o empreendedorismo público que partiu de um grupo de servidores
10:24a nível de rua, quer dizer, de servidores que não estavam em posição
10:28de alta gestão, de ministério e tudo mais,
10:33onde se encaixa aí o corpo policial.
10:38Enfim, e foi muito bem colocada essa questão do marco temporal.
10:43Aí não é a pena...
10:45Foi uma questão até global.
10:47O despertar para a questão ambiental,
10:51o marco da Rio 92,
10:54conferência do Rio,
10:56ocorrido em 92 ainda no governo Collor.
10:59E, mais adiante,
11:01uma sedimentação
11:02da própria Constituição,
11:06que a minha turma de delegados
11:07foi a primeira turma formada
11:08sob um novo estamento jurídico,
11:13uma nova situação jurídica,
11:15já dentro da redemocratização.
11:17Isso foi muito importante também.
11:19O Plano Real, que veio em 95,
11:23que foi o ano que nós fomos para a academia,
11:25esse grupo de delegados,
11:27desse primeiro concurso pós-Constituição de 88,
11:30até então foram todos formados
11:33no regime militar,
11:36na ditadura militar.
11:38E isso também foi o diferencial,
11:41o Plano Real,
11:43porque foi um momento em que a Polícia Federal,
11:45a economia brasileira se estabilizou
11:49e se fazia muito investimento
11:51com cursos internacionais,
11:54viagens, cursos.
11:56Nós tivemos muitas oportunidades,
11:58seguidas oportunidades,
12:00de estar fora do país,
12:02nos Estados Unidos, na Europa,
12:03convivendo com aparelhos policiais
12:05que estavam à frente
12:07em democracias mais sedimentadas que a nossa.
12:10Então, isso foi muito importante.
12:12Veio o advento também do...
12:16Isso até para explicar
12:18essa era das mega-operações.
12:20O advento do guardião,
12:23do sistema guardião,
12:24foi desenvolvido
12:25numa linha de investigação
12:28de drogas,
12:29mas depois foi aproveitado
12:31por toda a Polícia Federal.
12:33A partir daí,
12:34a Polícia Federal também
12:35transformou os manuais de operação.
12:37nós criamos um método,
12:40um procedimento de fazer...
12:42A gente tinha condição
12:43de fazer praticamente
12:44uma operação por semana,
12:45só não fazíamos sábado e domingo.
12:47Então, foram vários fenômenos
12:50socioculturais, históricos,
12:55que foram incidindo essas turmas.
12:58A própria classe média
12:59começou a se interessar
13:00pela Polícia Federal,
13:02os salários aumentaram,
13:03um ingresso maciço de mulheres
13:07em todas as carreiras.
13:09E aí, eu aproveito
13:10até para fazer uma correção aqui,
13:14porque essa divisão
13:16só foi possível
13:17por conta da equipe.
13:19E era interessante
13:20que a minha equipe
13:21era só de mulheres,
13:22era um grupo de agentes federais
13:24que saíram comigo da Interpol
13:26e foram fazer.
13:27Foi a Ângela, Cristiane, Luena e Mara,
13:31que são policiais superespecializados,
13:35também em concurso no exterior.
13:37E houve exatamente essa quebra,
13:41um outro paradigma,
13:42que era o machismo.
13:44No início, chamavam a nossa divisão,
13:46nós sofremos muito,
13:47chamavam de Dambi,
13:50fazendo uma piada de mau gosto
13:53em relação ao personagem
13:55do Walt Disney, o Bambi.
13:57Então, a ideia era que
13:59aquilo não era crime,
14:00era que aquilo era brincadeira.
14:04E depois foram percebendo,
14:05na verdade,
14:06que a criminalidade ambiental
14:08é organizada, estratificada,
14:11ela é mantida por delitos de suporte,
14:14inclusive crimes como homicídio,
14:18como tráfico de armas.
14:21Ele está transversal
14:24a uma enorme gama de criminalidade,
14:27inclusive subindo os andares
14:31para o crime institucionalizado,
14:34corrupção sistêmica,
14:36corrupção de política envolvida
14:39no crime ambiental.
14:40Então, é um crime para a gente grande.
14:43E foi o trilho que nós seguimos.
14:46Tanto é que, hoje,
14:47nós observamos os grandes trabalhos
14:49da Polícia Federal nessa área.
14:52São, talvez, os trabalhos mais importantes
14:54realizados nos últimos dois anos
14:56foram os trabalhos realizados
14:58pela área de repressão dos crimes ambientais.
15:01Muito bem.
15:03É bom que as pessoas tenham ideia
15:05do tamanho do negócio
15:08que é o crime ambiental.
15:10Inclusive, estimativa do...
15:13Eu separei aqui do GAF,
15:16que é dedicado à questão
15:18de lavagem de dinheiro
15:20em nível global.
15:22Eles estimam que os crimes ambientais
15:25por ano movimentem entre 110 bi
15:28e 280 bi.
15:31Bilhões de dólares.
15:33Então, a gente está falando aqui,
15:34se a gente for para a média,
15:36a gente está falando de quase
15:38um trilhão de reais.
15:40É dinheiro que não acaba mais.
15:43Quer dizer, é grana ilícita
15:45que é produzida através do tráfico
15:49de fauna, flora, etc.
15:52Inclusive, eu tive a oportunidade
15:54de investigar ao longo da minha carreira profissional
15:58também algumas empresas
16:00que se dedicaram a, vamos dizer assim,
16:06a extrair o patrimônio
16:10da fauna e da flora,
16:13esse patrimônio biológico
16:15para a utilização na produção de shampoo,
16:20na produção de cremes estéticos, etc.
16:24Empresas, inclusive, bilionárias,
16:27empresas que têm capital aberto
16:28na Bolsa americana, no Brasil.
16:32E, muitas vezes, como você disse,
16:34a corrupção institucionalizada,
16:36você tem, muitas vezes,
16:37a complacência ou até a cumplicidade
16:40de autoridades de fiscalização,
16:43de autoridades que têm o compromisso
16:45de fazer a aplicação,
16:49a execução da política pública
16:50envolvendo esses interesses empresariais.
16:53Então, realmente,
16:56é muito simbólico isso.
17:00Eu queria abordar uma outra questão
17:02que trazia um pouquinho...
17:07Eu também fiquei muito feliz ali
17:11com como acontece também o avanço.
17:15Estou falando um pouquinho de burocracia ainda,
17:17mas eu percebi ali a parceria
17:22que vocês constroem com o IBAMA
17:24e com o Ministério Público,
17:26o Ministério Público Federal,
17:28e que, muitas vezes,
17:31atuam como se fossem forças-tarefas,
17:33como a gente viu aí na Lava Jato, etc.
17:36Então, eu queria a tua percepção
17:38de qual é o melhor modelo
17:39para o cumprimento
17:42dessa missão institucional
17:44de repressão e combate ao crime ambiental, Jorge.
17:49É, foi muito bom você ter falado nisso, Cláudio,
17:52porque a Polícia Federal,
17:54principalmente os delegados,
17:57é por conta de uma disputa de espaço,
18:01talvez.
18:03Nós temos rusgas históricas
18:06com o Ministério Público Federal.
18:08Você que cobre Brasília,
18:11cobre Polícia Federal,
18:12cobre Brasil, cobre política,
18:13você sabe muito bem disso.
18:16E foi interessante
18:19que, quando nós criamos a área de meio ambiente,
18:23ela serviu como uma espécie de mote,
18:27de aproximação.
18:30E porque o Ministério Público,
18:32uma das missões mais importantes
18:34do Ministério Público,
18:36é a defesa do patrimônio natural brasileiro.
18:40O Ministério Público tem câmaras
18:41que se dedicam exclusivamente
18:44ao meio ambiente
18:45e à questão da defesa
18:47da cultura indigenista também.
18:51Da vida, das aldeias,
18:54enfim,
18:56da questão indigenista.
18:58E, quando nós criamos,
19:00houve uma aproximação tremenda.
19:03E eu, particularmente,
19:05eu só tenho a ressaltar
19:09a importância da atuação
19:11do Ministério Público
19:12com a Polícia Federal.
19:14A área de meio ambiente,
19:17ela deve muito
19:18à sua criação,
19:21ao suporte inicial
19:23de alguns procuradores,
19:24que, inclusive,
19:25destinavam recursos
19:27para montar as delegacias
19:28e tudo mais,
19:29como aconteceu no Rio de Janeiro,
19:31em Brasília,
19:32em Belém do Pará,
19:33enfim, nós fizemos
19:35uma aproximação importante.
19:36Então, serviu,
19:38inclusive,
19:39para azeitar a relação
19:41entre delegados
19:43e procuradores da República.
19:45E as nossas grandes operações
19:46de repressão
19:47aos crimes ambientais,
19:48todos contaram
19:50com o apoio
19:51irrestrito
19:52dos procuradores,
19:53com raríssimos casos
19:55de rusgas
19:56e de atritos.
19:58É um case,
19:59o nascimento
20:01da área de meio ambiente
20:02é um case
20:02para a relação
20:04institucional,
20:05aproximação
20:06entre procuradores
20:07e delegados.
20:07E o IBAMA
20:08entra nisso também
20:09porque,
20:10antes da criação,
20:11antes de nós
20:12nos especializarmos,
20:13nós íamos
20:14nas operações
20:15apenas para dar
20:16segurança
20:17aos fiscais do IBAMA.
20:18Então,
20:19nós não atuávamos
20:20propriamente,
20:22nós não andávamos
20:23de moto própria
20:24em relação
20:25aos crimes ambientais.
20:27E o IBAMA
20:27tem uma função
20:28importantíssima,
20:30que é a fiscalização
20:31da observância
20:33das normas
20:34administrativas
20:35ambientais.
20:36E existe
20:36um inúmero
20:38rol de crimes
20:39ambientais
20:39que é a nossa
20:40atribuição.
20:41Então,
20:41quando nasce
20:42a divisão
20:43de repressão
20:45dos crimes ambientais
20:46na Polícia Federal,
20:47há um casamento
20:48perfeito com o IBAMA,
20:49porque o IBAMA
20:50nós viemos
20:51completar,
20:52nós não viemos
20:52ocupar espaço,
20:54nós não brigamos,
20:55pelo contrário.
20:56Houve um encontro
20:57muito grande
20:58e houve uma
20:59complementação
21:00das atribuições.
21:02E também
21:03houve um outro detalhe
21:04importante,
21:05isso eu falo
21:06com muita
21:06tranquilidade,
21:08é que a Polícia Federal,
21:10ela passou
21:10por um período,
21:12logo que o doutor
21:13Paulo Lacerda
21:14e o doutor
21:14Zumar assumiram
21:15a Polícia Federal,
21:16que nós fizemos
21:17muitas operações
21:18de assuntos internos.
21:20Nós fizemos
21:21várias operações
21:22em que cortamos
21:23na cara.
21:24Sucuri,
21:25Anaconda,
21:26Planador,
21:27várias operações
21:28e o nível
21:29de corrupção
21:30na Polícia Federal,
21:32que não era
21:32um nível
21:33fora de controle,
21:34mas em alguns
21:35setores,
21:36como Rio,
21:36São Paulo,
21:37Foz do Iguaçu,
21:38fugiam um pouco
21:39do controle,
21:40diminuiu muito,
21:41a Polícia Federal
21:42conseguiu controlar
21:44bastante
21:44a corrupção.
21:46A partir daí,
21:48nós tivemos
21:49condições também
21:50de combater
21:50a corrupção
21:51em outros órgãos.
21:53Se não tivesse
21:54esse início,
21:57então nós
21:57ajudamos
21:58a depurar o IBAMA,
22:00que era um órgão
22:00em que havia
22:03alguns focos
22:04de corrupção.
22:05Então,
22:05algumas das nossas
22:06operações
22:07foram feitas
22:08a pedido
22:09do próprio IBAMA,
22:10para que nós
22:11saneássemos ali.
22:12Então,
22:13foi uma
22:14convivência
22:16institucional
22:17perfeita.
22:18Ministério Público,
22:19Polícia Federal
22:20o IBAMA
22:21ao longo
22:22desse período.
22:22Inclusive,
22:23nós,
22:23a partir de um certo
22:24ponto,
22:25nós começamos
22:26a treinar
22:27alguns servidores,
22:29alguns analistas
22:30do IBAMA,
22:31analistas importantes,
22:32que depois fizeram
22:33uma trajetória
22:34muito boa.
22:35Eu posso citar
22:35o Roberto Cabral,
22:37que é um analista
22:38importante,
22:40que ficou à frente
22:41de operações
22:42muito complexas,
22:43operações
22:44da esfera
22:45do IBAMA.
22:46E nós ali
22:47fizemos
22:48uma séria,
22:49uma sequência
22:50de operações
22:51muito bem sucedida.
22:53E aí,
22:53esses órgãos
22:54se aproximaram
22:55e entregaram
22:56o produto
22:57para a sociedade
22:57muito melhor.
22:59Muito bem.
23:01Jorge,
23:01você nesse...
23:03Eu quero fazer
23:04aqui
23:04dois cortes
23:07temporais também.
23:09Um
23:10do governo
23:12do PT,
23:14porque
23:14eu me lembro
23:16de N vezes
23:17o próprio
23:18presidente,
23:20então presidente
23:21Lula,
23:23criticar
23:24paralisação
23:25de obra
23:26por causa
23:26da perereca,
23:28fazer debochar
23:29de toda
23:30a questão ambiental.
23:32A própria
23:33Marina Silva
23:33abriu mão
23:35do cargo
23:35de ministro,
23:36saiu do governo
23:37em função
23:37dos atritos
23:40e de discordâncias
23:42ali com a cúpula
23:43do governo.
23:44Como é que era
23:44na ponta?
23:45A Polícia Federal
23:46quando conseguia
23:47trabalhar,
23:48ou ela já sentiu
23:50que no momento
23:50que avançou
23:51nessa área
23:51de crimes ambientais,
23:52ela já sentiu
23:53algum tipo
23:54de resistência
23:56em algum setor
23:58do governo
23:59ou de falta
24:00de apoio
24:01institucional.
24:02Você falou bem
24:03do Paulo Lacerda,
24:03conheci o Paulo Lacerda.
24:05O Paulo Lacerda,
24:07apesar de
24:07diretor-geral
24:09da época
24:09do Lula,
24:10ele
24:11tinha uma
24:13percepção
24:14de que a
24:15corporação
24:15precisava
24:17caminhar
24:17solta,
24:18e sempre
24:21defendeu
24:23muito
24:23a institucionalização,
24:26a autonomia
24:26do trabalho
24:27policial.
24:29Mas a gente
24:30sabe que
24:30a burocracia
24:31brasileira
24:32era pesada
24:33e ela é
24:33bastante complexa.
24:35Você lembra
24:36de tensionamentos,
24:37de faltas
24:38de apoio
24:38institucional
24:39ou de
24:40barreiras
24:41que vocês
24:42encontraram
24:43nesse período
24:44ou era fácil
24:45de trabalhar?
24:46Olha,
24:47não era fácil,
24:48mas a gente,
24:49nós estávamos,
24:50nós éramos um grupo
24:50tão determinado
24:52a conseguir
24:53que esses trabalhos
24:56fossem realizados
24:56que nós íamos
24:57empurrando.
24:59Mas isso
25:00não significa
25:01que nós
25:02não tenhamos
25:02sentido
25:03resistência.
25:05Por exemplo,
25:05eu posso dizer
25:06tranquilamente,
25:07nós tivemos
25:09um pouco
25:09mais de resistência
25:10por parte
25:11de um número
25:13de superintendentes,
25:15principalmente
25:15do Nordeste
25:16e da região
25:17Norte,
25:18Pará,
25:18principalmente,
25:19Pará
25:20e alguns
25:21estados
25:22do Nordeste,
25:24de instalar
25:25a delegacia.
25:26Porque,
25:27no início,
25:27a delegacia
25:28saiu do Pará.
25:30Fazendo só um parêntese
25:31aqui,
25:31o Pará
25:32é um estado
25:33importantíssimo
25:35e que tem
25:36essa tensão
25:38permanente
25:39do agronegócio
25:40com,
25:40do avanço
25:41do agronegócio
25:42com a questão
25:44ambiental.
25:45Sim,
25:45sim.
25:46O Pará,
25:47tem algumas regiões
25:48do Pará
25:48que nós considerávamos
25:49o faroeste,
25:51aquela região
25:52do arco de fogo,
25:53tem aquelas regiões
25:54muito complicadas
25:56em que tem garimpo,
25:57tem madeira
25:58ilegal,
25:59tem grilagem,
26:01enfim,
26:01e juntam
26:03um entorno
26:04violento,
26:05fica um entorno
26:06violento,
26:07uma criminalidade
26:08violenta
26:08também,
26:10do tráfico
26:10de drogas,
26:11do tráfico
26:11de armas
26:12e tudo mais,
26:13quer dizer,
26:13cria um ambiente
26:15extremamente
26:16violento.
26:17Mas,
26:17o que eu quero
26:20colocar
26:20é o seguinte,
26:22havia uma dificuldade
26:23de criar,
26:24até porque aqueles
26:25delegados
26:25mais antigos
26:26eram de uma geração,
26:28aí nós temos
26:28até que entender,
26:30são questões
26:31geracionais,
26:32eram delegados
26:33de uma geração
26:34que não tinham
26:35a sensibilidade ambiental,
26:37porque a questão
26:38ambiental,
26:38ela foi se desenvolvendo
26:40ao longo
26:41dessas décadas.
26:42Nos anos 60,
26:43já começou,
26:44já começou
26:45a haver um esboço
26:47do que seria
26:48o movimento
26:48de 72
26:49em Estocolmo,
26:51aí,
26:52mais à frente,
26:54nos anos 80,
26:55com as ONGs
26:57ambientais
26:58na Europa,
26:59nos Estados Unidos,
27:00enfim,
27:00a consciência ambiental
27:02foi crescendo
27:03a partir do momento
27:03que as sociedades
27:05planetárias
27:08foram percebendo
27:09do caráter
27:11esgotável
27:16dos recursos
27:17da Terra.
27:18Não existe jogar fora.
27:21Olha,
27:21vamos jogar isso fora.
27:22Não existe jogar fora.
27:23Tudo é jogado
27:23aqui na Terra,
27:24então todo lixo
27:25produzido
27:26fica na Terra.
27:27os próprios oceanos
27:31também
27:32vêm sendo
27:34esgotados,
27:37recursos pesqueiros.
27:38Então,
27:39com uma população
27:40de 7 bilhões,
27:41é óbvio
27:42que a questão ambiental
27:44passou a existir.
27:45E muitos
27:46desses delegados
27:47foram
27:47nascidos
27:49nos anos 40,
27:5050,
27:51lá atrás.
27:52anos 30,
27:53inclusive,
27:54alguns chefes meus
27:55nasceram nos anos 20.
27:57Então,
27:58onde não existia
27:59consciência ambiental,
28:00onde era comum
28:01até o sujeito
28:01sair para caçar.
28:03Então,
28:03é óbvio que
28:04a implantação
28:07dessas delegacias
28:08em algumas
28:08superintendências,
28:10ainda mais
28:10dessas do Pará,
28:11que havia
28:12muita pressão
28:13nos governos
28:14locais,
28:15no Nordeste,
28:16tudo mais.
28:16existe aquela
28:18situação
28:19de empresas,
28:20empresas
28:20que exploram
28:22recursos,
28:23que acabam
28:24degradando
28:25o meio ambiente
28:25e que dão
28:26suporte às campanhas,
28:28enfim,
28:28às campanhas
28:29dos líderes políticos.
28:31Então,
28:31isso aí,
28:33dentro desse
28:34quadro
28:35de clientelismo,
28:37patrimonialismo,
28:38que você conhece
28:39bem,
28:40isso não é,
28:43vamos falar,
28:43eu estou aqui falando
28:44do Rio de Janeiro,
28:45isso não é
28:46exclusivo
28:47do Norte
28:48ou do Nordeste,
28:49nós temos
28:49mazelas
28:50nesse mesmo sentido
28:51nos estados
28:52do Sudeste,
28:53do Sul e no Brasil
28:54inteiro,
28:55só que varia um pouco,
28:56porque são variações
28:57do mesmo tema,
28:58mas nós tivemos,
29:00sim,
29:00algumas dificuldades,
29:02algumas delegacias
29:03demoraram a sair
29:04do papel,
29:05mas nós íamos
29:05empurrando,
29:06empurrando com o trabalho
29:07e alguns delegados,
29:10delegadas
29:11e delegados
29:12que ficavam,
29:14digamos assim,
29:17eram responsáveis
29:18pela implantação
29:19da delegacia,
29:20iam empurrando
29:21o superintendente,
29:22trazendo o despediente,
29:23se aproximando
29:24do Ministério Público,
29:25então foi um rolo
29:26compressor,
29:27foi um rolo compressor,
29:28foi um rolo compressor.
29:30Bom,
29:31há outro corte
29:31temporal,
29:32hoje,
29:33mesmo você
29:34estando fora,
29:35eu tenho certeza
29:36que você mantém
29:37aí todos os seus contatos,
29:38sua rede de relacionamentos
29:39com quem está
29:40na ativa,
29:41o que você tem escutado
29:44em relação
29:46à dificuldade,
29:49à resistência,
29:50à falta de apoio
29:50sinal
29:51para esse trabalho
29:52de prevenção,
29:53de repressão
29:54e de combate
29:55ao crime ambiental?
29:57Hoje em dia?
29:59Hoje.
30:00Hoje em dia,
30:01olha,
30:02veja bem,
30:03nós estamos vivendo
30:06um momento muito ruim,
30:08muito ruim,
30:08inclusive eu tive receios
30:11até de termos retrocesso,
30:14porque a impressão
30:15que eu tenho
30:16é que o governo,
30:17o governo Bolsonaro,
30:18quando percebe
30:19que alguma coisa
30:20incomoda,
30:22ele vai lá e tira,
30:23ele vai lá e tira,
30:25ele vai lá e manda
30:27substituir o chefe,
30:28manda deslocar
30:31aquele setor
30:32de um lado para o outro,
30:33mas eu percebi
30:35nas operações
30:37que os delegados
30:40Saraiva e Perazzoni
30:41fizeram
30:42que houve
30:43alguns equívocos
30:45da Polícia Federal.
30:47Eles não deveriam ter sido,
30:48somente o delegado Saraiva,
30:50não deveria ter sido,
30:52mesmo que a Polícia Federal
30:54diga
30:55que já tinha o plano
30:57de tirar o Saraiva
30:58do Amazonas,
30:59a partir do momento
31:00que ele fez uma operação,
31:02e nessa operação
31:03ele alvejou o ministro Salles
31:06do Meio Ambiente,
31:07teve a coragem,
31:08a firmeza
31:09de mandar uma notícia
31:10a crime,
31:11a partir daquele momento
31:12a Polícia Federal
31:12deveria deixar ele
31:14até o final do inquérito.
31:16A partir daquele momento
31:17qualquer mudança
31:18poderia aparentar,
31:20porque o serviço público
31:22a gente não precisa ser só,
31:23tem que aparentar a honestidade.
31:26Então,
31:26o que se viu
31:28foi no dia seguinte
31:29da operação
31:30um movimento
31:31do presidente da República
31:32de prestigiar
31:33o ministro Salles
31:35e tudo mais.
31:35Isso aí deixa
31:36o policial
31:37se sentindo
31:38totalmente
31:40sem chão.
31:41Então,
31:42aí a polícia,
31:43hoje em dia
31:43nós estamos vivendo
31:44um momento
31:45em que há uma confusão
31:46do que é órgão do Estado
31:48e do que é órgão de governo.
31:50E o Bolsonaro
31:51não me parece
31:52ser uma pessoa
31:53que respeita muito
31:54o meio ambiente.
31:56A gente tem
31:56aqueles registros dele
31:57pescando em Angra,
31:59dizendo que vai pegar
32:00aquele paraíso
32:03de Mata Atlântica,
32:03um dos últimos
32:04resíduos de Mata Atlântica
32:06transformado
32:06numa Cancún,
32:09enfim.
32:11Então,
32:11nós não estamos
32:12vivendo um momento
32:13bom
32:14para a administração
32:16ambiental
32:17e o que eu percebi
32:19de algumas mudanças
32:20que eu não concordo.
32:22Por exemplo,
32:22tiraram a DEMAP
32:23de dentro do guarda-chuva,
32:25a DEMAP
32:26e a divisão
32:26de crimes ambientais
32:28dentro do guarda-chuva
32:29da fazendária.
32:30Eu não teria feito isso.
32:32Eu teria elevado
32:34até a divisão,
32:36a coordenação
32:37mantido dentro
32:38da área fazendária,
32:41porque o crime ambiental
32:43é um crime econômico também.
32:46Quando você
32:47destrói
32:49maracanães
32:51por dia,
32:53campos de futebol,
32:55milhares de campos
32:56de futebol
32:57por dia
32:58de cobertura florestal,
33:00a gente está perdendo
33:01uma biodiversidade
33:02que não foi ainda
33:04nem
33:05conhecida,
33:10inventariada.
33:11Então,
33:12nós estamos...
33:14O crime ambiental
33:15é um crime econômico.
33:16Então,
33:17deveria ter ficado
33:18dentro
33:18do guarda-chuva.
33:21Eu não concordei
33:22com essa mudança
33:24da área
33:26de crime ambiental,
33:28essa saída
33:29da fazendária.
33:30Estava muito bem
33:31dentro da fazendária.
33:32Quando muito,
33:32ela poderia se transformar
33:33em uma coordenação geral,
33:35mas não de sair
33:36da fazendária,
33:38do guarda-chuva,
33:40dos crimes fazendários,
33:41dos crimes que atingem
33:42o Tesouro.
33:44Eu vou
33:45te provocar
33:46em relação a isso,
33:48porque você mencionou
33:49no início do programa
33:50e eu me lembrei
33:51de uma conversa
33:52que eu tive aqui
33:53com o Alexandre Saraiva
33:54e pedi para separar
33:55o vídeo.
33:56É um videozinho rápido
33:57de três minutos
33:58em que eu faço
34:00um questionamento
34:01sobre toda essa situação
34:03da Amazônia
34:03e como...
34:06E aí a frase
34:06que ele usou,
34:07a expressão que ele usou,
34:08como que o crime ambiental,
34:09na verdade,
34:10hoje ele integra
34:11uma holding criminosa.
34:12Solta o VT
34:13e na sequência
34:15eu volto
34:16com o Jorge,
34:17por favor.
34:18Eu fiz questão
34:21de separar aqui
34:22algumas informações
34:25importantes
34:25para o nosso bate-papo.
34:27Por exemplo,
34:27a procuradora
34:28Ana Carolina
34:28Halilke Bragança,
34:30ela escreveu
34:31no Twitter hoje,
34:33eu vou tentar
34:33trazê-la aqui também
34:34no programa,
34:35que apenas
34:37um único magistrado
34:38responde
34:39por uma única
34:40vara ambiental
34:41especializada
34:42no estado do Amazonas,
34:43que é maior
34:44do que a Colômbia.
34:45A vara
34:46não tem substituto.
34:48A vara
34:48de Itabatinga
34:49não é especializada.
34:51Os cartórios
34:51de registro
34:52de imóveis
34:52e noto interior
34:53também têm
34:55problemas aqui
34:55com a questão
34:56da digitalização.
34:57Quer dizer,
34:59é uma
35:01parcela
35:03imensa
35:04do território
35:05que está entregue
35:06à criminalidade.
35:08Você,
35:08como delegado,
35:09que foi,
35:10como superintendente,
35:11que foi no Amazonas
35:12durante tanto tempo,
35:14quais eram
35:15as principais
35:17ocorrências
35:18criminosas
35:20que você
35:21enfrentava
35:22na região?
35:24Ali tem
35:24o Código Penal
35:25completo.
35:28E mais
35:29a legislação
35:30extra,
35:31Código Penal.
35:33Na verdade,
35:34hoje virou
35:35uma grande
35:35holding criminosa,
35:36porque existe
35:37no crime organizado
35:38o fenômeno
35:39da convergência.
35:40o sujeito
35:42que está
35:42na madeira
35:43ilegal
35:43vai atuar
35:45em conjunto
35:45com o garimpeiro
35:46em alguns momentos,
35:47o tráfico de drogas
35:48vai chegar também
35:49e, no fim,
35:51eles começam
35:52a colaborar
35:53entre si
35:53e o traficante
35:54eventualmente
35:54vira madeireiro,
35:55o madeireiro
35:55vira traficante.
35:58A organização
35:59criminosa
35:59vai onde tem
36:00dinheiro,
36:01não importa
36:02se isso vai
36:04vindo
36:04da pesca
36:05ou se isso
36:06vai vindo
36:06da droga.
36:08E o que
36:09a procuradora
36:10Ana Carolina
36:11falou,
36:12é verdade,
36:12só tem uma vara
36:13ambiental
36:14no Amazonas,
36:14eu cheguei lá
36:15e achei isso
36:15um absurdo.
36:17Quando estive
36:18como superintendente
36:19no Amazonas,
36:20nós criamos
36:21o GIASE,
36:22Grupo Ambiental
36:22de Investigações
36:23Sensíveis.
36:25Então,
36:26Grupo de Investigações
36:27Ambientais Sensíveis.
36:29Tinha uma base
36:29operacional
36:30em Manaus,
36:31uma base
36:32de inteligência
36:32em Manaus
36:33e uma base
36:33operacional
36:34no sul
36:34do Amazonas,
36:35justamente para quê?
36:35Para tentar
36:36dar essa
36:37presença
36:38do Estado.
36:38agora,
36:40essa base
36:40que ficava
36:40no município
36:41de Santo Antônio
36:42do Mato Pio
36:42foi desativada.
36:44Então,
36:44assim,
36:45foi um sacrifício,
36:47um desgaste,
36:47uma luta
36:48para criar essa base
36:49muito importante
36:50no combate
36:51ao desmatamento,
36:51ficava lá
36:52no foco
36:52do desmatamento
36:53ilegal,
36:54essa base
36:54da Polícia Federal,
36:55e ela é desmontada.
36:57Qual a sinalização
36:58que isso dá
36:58para o crime?
37:00É a pior possível,
37:01né?
37:01A pior possível.
37:02Ou seja,
37:03diante dessa
37:04holding criminosa
37:05em que esses crimes
37:06todos convergem,
37:08não seria necessário
37:11fazer um redesenho
37:12da estrutura
37:13administrativa
37:14para atuar,
37:16para colocar
37:17a Polícia Federal
37:18para atuar
37:19de forma coordenada
37:22com outros órgãos,
37:23de forma
37:24multitemática,
37:27né?
37:28Dentro desse
37:30escopo,
37:30porque realmente
37:31virou um negócio
37:34impressionante,
37:36uma coisa
37:36da saída.
37:38Não, com certeza,
37:40não, com certeza,
37:41essa fita do Saraiva
37:43é bem interessante,
37:44e ele fala
37:45algo ali
37:47que eu posso
37:47até complementar.
37:49Primeiro,
37:50o crime,
37:51isso aí é básico,
37:53o crime só se organiza,
37:56o crime não é,
37:57o crime não,
37:58o crime não se organiza
38:00por conta
38:00do dinheiro,
38:01do grande lucro,
38:04quando a atividade,
38:06porque o crime,
38:08se tiver dinheiro,
38:10ele existe,
38:11mas ele não se organiza,
38:13ele não é
38:13o crime organizado,
38:15ele não sobe,
38:16ele não sobe a escala
38:18para a organização criminosa,
38:20ele fica,
38:21é que nem
38:21um armazém,
38:23se entram duas pessoas
38:24por dia,
38:24o sujeito não organiza,
38:26ele fica ali,
38:26ele mesmo pega a coisa,
38:27ele mesmo recebe,
38:29ele entrega e tal.
38:30Agora,
38:30se começa a entrar
38:3130 pessoas por dia,
38:32ele vai ter que ter
38:33almoxarifado,
38:34ele vai ter que ter
38:34pessoas para tirar,
38:36ele vai ter que ter
38:37alguém para fazer
38:38contabilidade e tudo mais.
38:39Então,
38:39o crime só se organiza
38:41por conta do grande lucro,
38:43é o fator
38:44da organização do crime.
38:48Bom,
38:48e aí,
38:49vamos para a questão
38:49do crime ambiental.
38:51O crime ambiental ali
38:51é madeira,
38:53madeira é extremamente lucrativo,
38:56até porque
38:56os insumos
38:58para esse crime
38:58são retirados
38:59de graça,
39:01eles só gastam
39:02o dinheiro
39:02para fazer
39:03o transporte,
39:04porque as madeiras
39:05são tiradas
39:06de áreas
39:06de preservação ambiental,
39:08áreas indígenas e tudo mais.
39:10E o garimpo,
39:11é ouro,
39:12não precisa se falar
39:12mais nada.
39:13Então,
39:14o crime
39:14passou a se organizar
39:17por conta
39:17de ser altamente lucrativo.
39:20E ainda tem
39:21um outro fator,
39:23que é apenado,
39:25as reprimendas penais
39:28dos crimes ambientais
39:29não intimidam
39:30o criminoso.
39:31Não é igual
39:32o tráfico de drogas,
39:33que o sujeito
39:34vai ter certeza
39:35que vai passar
39:35de 10 a 15 anos
39:37preso.
39:38Então,
39:39é extremamente lucrativo
39:42e convidativo.
39:45Então,
39:45ele atraiu
39:47esses zangões,
39:48essas figuras,
39:49esses operários,
39:50esses soldados
39:51de outras criminalidades.
39:53Então,
39:54gerou ali
39:55uma área
39:56de faroeste,
39:57uma área
39:58sem lei.
39:59Ali no Pará,
40:00e está indo
40:00para o Amazonas também.
40:02É lamentável
40:02porque o Amazonas
40:03é o estado
40:03com a floresta
40:05mais preservada.
40:07Nós temos
40:07muito a perder.
40:09E isso que você falou
40:10também eu reputo
40:11muito importante.
40:13Criar,
40:14esquematizar,
40:18estruturar,
40:19fazer uma estrutura
40:20de enfrentamento
40:21com combinação
40:24de órgãos,
40:25fusão de órgãos,
40:27fusion centers,
40:28usar o conceito
40:29de fusion centers,
40:30fundir os órgãos,
40:32ter procuradores,
40:34delegados,
40:35peritos,
40:36analistas do Ibama,
40:38forças armadas
40:39fundamental.
40:42É impossível
40:43você trabalhar
40:44na Amazônia
40:45sem as forças armadas
40:46por conta
40:47das dimensões,
40:50por conta
40:50de...
40:50Como é que a gente
40:51vai fazer uma apreensão?
40:52Como é que você vai
40:53manejar toneladas
40:54de toras de madeira?
40:57Enfim,
40:57todas essas
40:58instituições
41:00deveriam
41:01ter centros ali,
41:04como nós fizemos
41:05no primeiro ano
41:07da gestão
41:07do Moro
41:08no MJ,
41:09um centro
41:10lá em Foz do Iguaçu,
41:11porque foi observado
41:12que era uma área,
41:13era um hotspot
41:14criminoso,
41:17de criminalidade.
41:18Então,
41:18criaram ali
41:19um centro.
41:20Assim como
41:20os Estados Unidos
41:21têm um centro
41:22em El Paso,
41:23para cuidar
41:24de tráfico
41:26de drogas
41:26na fronteira
41:27com o México,
41:28de tráfico
41:28de pessoas
41:29e tudo mais,
41:30a gente tinha
41:30que criar,
41:31escolher,
41:32olhar,
41:32plotar
41:33no mapa
41:34alguns centros
41:34e com essa...
41:36Nada hoje
41:37é mais importante
41:38para o Brasil
41:39do que
41:40iniciar um processo
41:43para refrear
41:44o avanço
41:46da criminalidade
41:47na região Amazônia.
41:47Os prejuízos
41:48são inimagináveis.
41:49muito bem,
41:52Jorge,
41:52a gente vai chegando
41:53ao fim
41:53da nossa conversa
41:54aqui,
41:55está muito boa,
41:57depois você vai voltar
41:58quando eu transformar
41:59em podcast
42:00para a gente poder
42:01ter três horas
42:02de conversa,
42:02que é o que está
42:03fazendo sucesso
42:03agora na internet
42:04é podcast.
42:06É.
42:07E aí é o seguinte,
42:08a gente,
42:08como tem o nosso limite
42:10aqui de tempo,
42:11eu vou encerrando,
42:12mas eu queria
42:13que você comentasse
42:16um pouquinho
42:17porque você
42:18é autor também
42:19junto com
42:20Márcio Anselmo
42:20do Crime.gov,
42:22nós já comentamos
42:23sobre esse livro
42:23em outra oportunidade
42:25e esse livro
42:26ganhou uma versão,
42:28ganhou?
42:29Na verdade,
42:29ganhou tradução,
42:31traduções.
42:34Põe na tela,
42:35por favor,
42:36o Joelto,
42:38inclusive com o nome,
42:40com o título em inglês
42:41aqui,
42:41Operação Lava Jato,
42:43e recebeu
42:46resenhas
42:47muito positivas,
42:50entrou na lista
42:50dos livros
42:51mais vendidos
42:52e, bom,
42:55um sucesso absoluto.
42:57É engraçado,
42:58lá fora parece
42:59que está fazendo
42:59mais sucesso
43:00do que aqui.
43:02E essas iniciativas
43:05fazem mais sucesso
43:05do que aqui no Brasil.
43:07É verdade.
43:10Esse livro,
43:11na verdade,
43:12ele foi lançado
43:12agora pela Bloomsbury,
43:14eu praticamente lancei
43:15dois livros
43:16ao mesmo tempo.
43:16Esse,
43:17que é,
43:18na verdade,
43:19eu não posso dizer
43:19que é o meu livro,
43:20é o nosso livro,
43:21que é um livro
43:22escrito a quatro mãos
43:23pelo meu colega
43:24Márcio Anselmo,
43:25que é um delegado
43:26extraordinário,
43:28que foi um dos,
43:29uma das espinhas
43:30dorsais da Operação
43:31Lava Jato.
43:33E ele foi lançado
43:34agora na Inglaterra,
43:35nós tivemos,
43:36entrou na lista
43:37do Financial Times
43:39como um dos livros
43:40a serem lidos
43:42em 2022.
43:44O Financial Times
43:45aponta 20 livros
43:47para serem lidos
43:48em 2022
43:48e está o nosso
43:50Operation Car Wash.
43:52Eu não concordei
43:53com a Bloomsbury
43:54em colocar o título
43:56como Operation Car Wash.
43:57Márcio Anselmo
43:58também não concordou,
43:59porque o livro
44:00fala muito,
44:01vai muito além
44:02da Operação Lava Jato.
44:03O livro fala
44:04do crime institucionalizado,
44:06que é uma das,
44:07uma das,
44:09é,
44:10do que a,
44:11um dos pontos
44:12mais importantes
44:13descortinados
44:14pela Operação Lava Jato.
44:16E nós temos no Brasil
44:17uma morfologia criminosa
44:18que tomou parte
44:19do Estado
44:20e está nos três poderes,
44:22nos três níveis
44:22da administração.
44:24E é o que a gente vê
44:25e continua vendo
44:26e continua vendo
44:28e simplesmente
44:29se metamorfoseando.
44:31Então,
44:31é um livro que,
44:32inclusive,
44:32alguma das resenhas,
44:34eu reputo isso
44:34bem importante,
44:36alguma das resenhas
44:37trouxeram o livro
44:39para 2022,
44:40porque o livro
44:40foi escrito,
44:41o marco temporal dele
44:42é 2019.
44:44Então,
44:44trouxeram,
44:45falaram que o crime
44:46institucionalizado
44:47se seguiu forte,
44:48se metamorfoseou
44:50no governo Bolsonaro,
44:53deu exemplos
44:53de outros países
44:55como a Rússia,
44:56de Putin,
44:57o esboço,
45:00o projeto
45:00de institucionalização
45:02da delinquência
45:03do próprio Donald Trump
45:05nos Estados Unidos.
45:06E todas as resenhas
45:08citaram,
45:08atualizaram
45:09o crime.gov,
45:13porque nós
45:13fizemos um corte
45:15em 2019.
45:16Então,
45:16foi um...
45:17É muito interessante
45:18a gente lançar
45:19dois livros
45:19em dois países diferentes
45:21e ter que falar
45:22dos dois ao mesmo tempo.
45:23mas os dois livros
45:24falam.
45:25Até o livro
45:26que eu escrevi
45:26com o Márcio,
45:28ele está presente
45:29no Guerreiros
45:30da Natureza,
45:31porque hoje
45:32o crime ambiental
45:33é um modelo
45:35de crime institucionalizado.
45:36Hoje,
45:37o crime ambiental
45:38está sendo abençoado
45:39por extratos
45:41oficiais
45:42de governos
45:43estaduais,
45:44federais
45:45e também municipais.
45:46já diria
45:48Alexandre Saraiva.
45:50Já diria,
45:51como diria
45:52o nosso Alexandre Saraiva.
45:55Muito bem.
45:57Olha,
45:58meu amigo,
45:58muito obrigado
45:59aqui pela tua
46:00participação
46:02aqui no Papo Antagonista.
46:03Jorge Pontes,
46:04para quem não conhece,
46:05foi delegado
46:06já aposentado
46:07aqui da Polícia Federal,
46:08formado
46:09na academia
46:10do FBI
46:12e também
46:13foi membro eleito
46:14do Comitê Executivo
46:15da Interpol
46:15em Ion,
46:16na França.
46:18Muito bem.
46:19Autor aí do livro,
46:20como a gente acabou
46:20de mencionar,
46:21o crime.gov
46:22e agora
46:22este,
46:24o...
46:25Guerreiros.
46:27Guerreiros da Natureza,
46:28que está aí.
46:29Põe na tela
46:29mais uma vez
46:30a história
46:31do combate
46:32aos crimes ambientais
46:33na Polícia Federal.
46:36Muito obrigado,
46:36boa sorte aí.
46:37Espero que venda bastante,
46:39que as pessoas se informem.
46:40Aliás,
46:40o prefácio
46:41é do Gabeira,
46:42né?
46:42Não,
46:42o prefácio sensacional
46:44do Gabeira.
46:45O Gabeira,
46:45o Gabeira
46:46interpretou o livro
46:48de maneira,
46:49de forma magistral.
46:51Ele interpretou
46:52o sentido do livro
46:53em duas páginas.
46:54Se quiser ler
46:55o prefácio do Gabeira,
46:57não precisa nem ler o livro.
46:58Ele está ali,
46:59reinterpretou o livro todo.
47:01Resumiu o livro.
47:03Muito bem.
47:04Muito obrigado,
47:05Cláudio.
47:06Aviso o Gabeira
47:07que eu quero trazer ele aqui.
47:08Tá,
47:09vou começar.
47:10Olha,
47:10muito obrigado,
47:11pela oportunidade.
47:13Obrigado
47:13os ouvintes
47:15do Papo Antagonista,
47:16mais uma vez
47:16estando aqui com você.
47:18Muito obrigado
47:18pela oportunidade,
47:19Cláudio.
47:20Um abraço.
47:20Excelente.
47:21Grande abraço.
47:22Tchau.
47:22Tchau.
47:23Tchau.
47:41Obrigado.
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