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Delegado de Polícia Federal, 17 anos de atividade na profissão, exerceu a função de Superintendente Regional, cargo que ocupou em 3 estados localizados na Amazônia legal (RR, MA e AM)

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Transcrição
00:01Eu já vou começar com o nosso convidado especial, Alexandre Saraiva,
00:04delegado da Polícia Federal, ex-superintendente no Amazonas.
00:07Põe na tela, por favor. Obrigado pela disponibilidade, Alexandre.
00:12Sei que você está aí com a agenda apertada.
00:15Bem-vindo novamente ao Papo Antagonista.
00:18Obrigado, Cláudio. Prazer imenso estar aqui.
00:22Nesse momento difícil para a Amazônia, difícil para aquelas pessoas
00:26que são comprometidas e estão na linha de frente do combate ao crime ambiental.
00:31É um momento de muita tristeza.
00:33Eu já esperava que esse ano para a Amazônia fosse ser muito ruim,
00:36mas não esperava uma tragédia como essa.
00:40Claro. Bom, só contextualizando para os nossos espectadores,
00:43hoje a gente teve a informação de que os dois pescadores detidos
00:50participaram da execução, execução com algumas ações bastante dramáticas,
01:01com esquartejamento, incineração dos corpos.
01:06Quer dizer, uma coisa absurda, uma barbárie, um crime grotesco.
01:12E a gente lamenta, naturalmente, lamenta muitíssimo,
01:17porque isso é o reflexo de um processo histórico
01:21que tornou a Amazônia uma terra sem lei.
01:26O ministro Barroso, dias atrás, pedindo providências ao governo,
01:31falou do risco de se tornar uma terra sem lei.
01:33Mas, na verdade, já é uma terra sem lei há bastante tempo, não é, Alexandre?
01:37Infelizmente, é verdade.
01:38É uma área imensa, é uma área coberta de floresta,
01:45e 100 quilômetros na Amazônia não é a mesma coisa que 100 quilômetros
01:49numa rodovia do Sudeste.
01:52São parâmetros de distância que envolvem outras questões logísticas.
01:58E quem tem capacidade ali para conseguir dar proteção à Amazônia
02:04são as Forças Armadas, que têm previsão
02:07na Lei Complementar 97.
02:10Mas, infelizmente, as Forças Armadas têm uma doutrina ainda
02:12que espera o ataque de um inimigo externo.
02:20Quando, na verdade, nós temos um inimigo interno
02:22corroendo a nação.
02:25É um insurgente criminoso.
02:28Isso tem até um artigo de um coronel do Exército, da Ativa,
02:31Alessandro Visaco, o nome do artigo é
02:33Fazendo as Coisas Certas, em que ele fala exatamente
02:35do insurgente criminal.
02:39Mas as Forças Armadas precisam atuar, mas não nos módulos da GLO,
02:44onde, na minha opinião, houve um gasto enorme
02:48para resultados muito tímidos.
02:50É uma atuação lastreada em inteligência,
02:55em conjunto com as polícias judiciárias,
02:58Polícia Civil, Polícia Federal, conjunto com a PM,
03:01mas o efetivo das Forças Armadas
03:03e a capilaridade das Forças Armadas
03:05na região amazônica é enorme.
03:08E me parece que o foco deveria ser a proteção da Amazônia.
03:13Eu não sei como é a distribuição das Forças Armadas pelo país,
03:15mas eu acho que tem gente de mais no Sudeste
03:18e gente de menos na Amazônia.
03:20Você tocou num ponto fundamental.
03:25Não quero te cortar.
03:26Desculpa, você estava no raciocínio?
03:28Não, eu estava concluindo mesmo, sim.
03:30Perfeito.
03:31Não, você tocou num ponto fundamental.
03:33Inclusive, eu fiz questão de separar aqui
03:38algumas informações importantes para o nosso bate-papo.
03:42Por exemplo, a procuradora Ana Carolina Halilke Bragança,
03:46ela escreveu no Twitter hoje,
03:48eu vou tentar trazê-la aqui também no programa,
03:51que apenas um único magistrado responde
03:55por uma única vara ambiental especializada no estado do Amazonas,
03:59que é maior do que a Colômbia.
04:01A vara não tem substituto.
04:04A vara de Tabatinga não é especializada.
04:07Os cartórios de registro de imóveis e noto interior
04:09também têm problemas aqui com a questão da digitalização.
04:13Quer dizer, é uma parcela imensa do território
04:21que está entregue à criminalidade.
04:24Você, como delegado, como superintendente que foi no Amazonas
04:28durante tanto tempo,
04:31quais eram as principais ocorrências criminosas
04:36que você enfrentava na região?
04:38Ali tem o Código Penal completo.
04:44E mais a legislação extra, Código Penal.
04:50Na verdade, hoje virou uma grande holding criminosa.
04:53Existe no crime organizado o fenômeno da convergência.
04:56Então, o sujeito que está na madeira ilegal
04:59vai atuar em conjunto com um garimpeiro em alguns momentos.
05:03O tráfico de drogas vai chegar também
05:05e, no fim, eles começam a colaborar entre si
05:09e o traficante eventualmente vira madeireiro,
05:11o madeireiro vira traficante.
05:14A organização criminosa vai onde tem dinheiro.
05:17Não importa se isso vai vir da pesca ilegal,
05:22se isso vai vir da droga.
05:24E o que a procuradora Ana Carolina falou
05:27é verdade, só tem uma vara ambiental no Amazonas.
05:30Eu cheguei lá e achei isso um absurdo.
05:33Quando estive como superintendente no Amazonas,
05:36nós criamos o GIASI,
05:37Grupo Ambiental de Investigações Sensíveis.
05:41Então, Grupo de Investigações Ambientais Sensíveis.
05:44Tinha uma base operacional em Manaus,
05:47uma base de inteligência em Manaus
05:48e uma base operacional no sul do Amazonas.
05:51Justamente para quê?
05:51Para tentar dar essa presença do Estado.
05:55Agora, essa base que ficava no município de Santo Antônio,
05:58no Mato Pinto, foi desativada.
05:59Então, assim, foi um sacrifício, um desgaste,
06:03uma luta para criar essa base,
06:05muito importante no combate ao desmatamento.
06:07Ficava lá no foco do desmatamento ilegal,
06:09essa base da Polícia Federal.
06:11E ela é desmontada.
06:13Qual a sinalização que isso dá para o crime?
06:16É a pior possível, né?
06:17A pior possível.
06:18Como é que é a situação, por exemplo, desses indígenas?
06:22Porque a gente tem reservas, reservas imensas.
06:30A entrada do cidadão comum é restrita,
06:35bastante restrita, inclusive é proibida em alguns lugares.
06:39E esses indígenas, nessa região mesmo do Vale do Javari,
06:44ali onde tem povos isolados e tal,
06:48eles não têm nenhum tipo de preparo para lidar
06:50com armamento pesado do crime organizado.
06:54Inclusive, eu tenho lido que esses pescadores,
06:57na verdade, eles estão ali trabalhando
06:59para essas organizações criminosas
07:02que passaram a ocupar esse espaço,
07:06PCC, Comando Vermelho,
07:08o pessoal aí da Família do Norte e outros.
07:13Exatamente.
07:14Ali em Benjamin Constante,
07:16perto de Atalaia do Norte,
07:17Benjamin Constante é uma cidade brasileira
07:19que está à fronteira com o Peru.
07:20Ali é dito como local de nascimento da Família do Norte,
07:23que é uma organização criminosa extremamente perigosa.
07:28Os indígenas não têm essa capacidade
07:31de utilização de armamento pesado,
07:32nem podem e nem devem se expor a esse risco.
07:37Isso é uma função do Estado brasileiro
07:39garantir a incolumidade dos povos indígenas,
07:42que são fundamentais para a preservação
07:44da floresta amazônica.
07:45O que restou de floresta amazônica,
07:47por exemplo, no Maranhão,
07:48é na terra indígena e na unidade de conservação.
07:52Mas, segundo a criminologia,
07:55a principal causa do crime
07:57é a ausência de guardião.
07:59E o guardião pode ser um policial,
08:01pode ser um militar,
08:03pode ser um fiscal do IBAMA ou da FUNAI,
08:05mas também pode ser um satélite,
08:06pode ser um VANT,
08:07pode ser uma câmera.
08:09O importante é passar para a sociedade
08:11a ideia de que o Estado está tomando conta daquela área.
08:15Ah, vamos prender todos os criminosos?
08:18Provavelmente não.
08:19Mas você cria o que eu chamo de efeito lei seca.
08:21A probabilidade de você ser parado é 0,01%,
08:25mas isso é suficiente para fazer com que 80% das pessoas
08:28deixem de consumir algo antes de dirigir.
08:30Então, é preciso acrescentar o risco
08:33com a ação mental do criminoso.
08:35Você tem que criar,
08:37tem que tentar dificultar a vida do criminoso, né?
08:42Você citou o VANT,
08:44que são, para os leigos aqui,
08:46é o drone, né?
08:47O drone, que é o veículo aéreo não tripulado.
08:50E eu me lembrei,
08:51até citei ontem aqui no programa,
08:53que nós já tivemos
08:54diversos planos, planejamentos,
08:57tanto por parte das Forças Armadas,
08:59como por parte da própria Polícia Federal,
09:01de estratégias de proteção dessa fronteira,
09:05de guarda dessa fronteira,
09:06como você citou,
09:07o papel do guardião.
09:09Inclusive, em determinado momento,
09:12tem alguns anos já,
09:14se falou na compra de veículos,
09:18a instalação de bases,
09:20de satélites, etc.,
09:22de bases radiotransmissoras,
09:26enfim, para fazer essa cobertura.
09:30O que aconteceu com isso?
09:34Bem, hoje nós temos um sistema de satélites
09:36que foi adquirido quando eu era superintendente
09:38por minha iniciativa,
09:40e depois foi expandido,
09:41que é muito bom.
09:44Eu pertenço a uma empresa americana,
09:46mas que nos dá uma imagem
09:48bem confiável e recente
09:50do que está acontecendo em toda a Amazônia.
09:52E foi assim que nós fizemos a Operação Corubo,
09:55em 2019,
09:56que foram destruídas 60 balsas do garimpo,
09:59justamente porque a gente não precisava fazer
10:00o sobrevoo para confirmar.
10:03As balsas sumiram.
10:04E até quem trabalhou,
10:05quem fez toda a conexão entre as instituições
10:08foi o Bruno, nessa Operação Corubo.
10:11Então, deu um previso imenso
10:12para aquela organização criminosa.
10:15E o VANT é uma possibilidade,
10:16ver qual era o nome tripulado.
10:18Mas, hoje,
10:20nós temos tecnologia disponível,
10:23as instituições sabem
10:25onde está acontecendo o crime,
10:28porque o sistema Brasil Mais,
10:31que incorporou a Planet,
10:32hoje tem a cobertura completa
10:33de toda a Amazônia.
10:35Não se faz porque não se quer.
10:38Quando terminou a Operação Corubo,
10:40eu cheguei para o meu chefe e falei,
10:41dois helicópteros e 60 homens
10:45e a gente resolve de vez o problema
10:47do Vale do Jabari.
10:49Como?
10:50Vamos criar um protocolo de atuação.
10:52A balsa detectada tem,
10:53em 15 dias,
10:54tem que estar no fundo do rio,
10:55destruída.
10:57O cara vai tentar.
10:58Depois da décima balsa afundada,
11:01ele para.
11:02Mas, assim,
11:03o que o Estado não pode é sinalizar
11:06é que aquela operação é pontual.
11:10Isso é extremamente prejudicial.
11:13Mas não precisa de muito dinheiro, sabe?
11:16O problema da Amazônia
11:17não é essencialmente dinheiro,
11:19é vontade política,
11:20é vontade de fazer,
11:21é vontade de confrontar
11:23esses criminosos
11:24que têm tentáculos aí
11:27dentro do governo,
11:28dentro da iniciativa privada.
11:33O que eu percebi
11:35em 10 anos na Amazônia
11:36foi, como Carioca,
11:39eu percebi no Rio de Janeiro também,
11:41foi que o Estado
11:41foi perdendo o controle
11:43de algumas regiões.
11:44A coisa vai indo,
11:46chega num ponto
11:47que para reverter a situação
11:49é extremamente difícil,
11:53com alto custo humano.
11:56E eu vejo para a região amazônica
11:58se essa doutrina
12:00das Forças Armadas,
12:01se essa doutrina
12:02de segurança pública
12:03não for repensada,
12:04vai virar um Rio de Janeiro
12:05de tamanho continental.
12:07Então,
12:08é um problemaço
12:10que nós vamos ter
12:10daqui a 20 anos
12:11se a coisa continuar
12:14desse jeito.
12:14Porque ali,
12:15para piorar tudo,
12:16tem a segunda principal rota
12:18da cocaína
12:19do Brasil,
12:21que é a rota dos folimões.
12:23Então,
12:23é a receita
12:25para o desastre.
12:25Tem ouro,
12:26que é a moeda.
12:27O ouro é moeda.
12:28Tem madeira,
12:32que também tem muito valor
12:33no mercado internacional.
12:34Tem droga,
12:35tem muita coisa ali,
12:36muita riqueza.
12:38E essa história
12:39que garimpeiro gera riqueza,
12:41como eu já vi
12:41alguns integrantes do governo
12:42falando,
12:43isso é uma grande falácia,
12:45porque o garimpeiro,
12:45na verdade,
12:46ele gera miséria,
12:47gera destruição dos rios,
12:49os rios ficam,
12:50não dá para pescar
12:52mais no rio.
12:53Então,
12:53há uma destruição
12:54muito maior
12:55do que produção de riqueza.
12:56quando você,
12:59você pela tua experiência,
13:01nós já vimos vários modelos
13:02aí de participação social,
13:06ONGs,
13:08associações indigenistas,
13:12empresas que apoiam
13:13indiretamente
13:15essas iniciativas,
13:16para além da presença
13:17do Estado.
13:19Qual é,
13:19na tua cabeça,
13:21duas perguntas,
13:22uma até,
13:22a nossa espectadora
13:23que a Mariana perguntou,
13:25qual seria
13:25a prioridade
13:27a ser atacada?
13:28E aí,
13:28eu pergunto também
13:29o seguinte,
13:30qual é,
13:30na tua opinião,
13:31a melhor estratégia?
13:33É colocar
13:35helicóptero mesmo,
13:37os embarcações,
13:38equipar a polícia,
13:40botar o exército
13:41junto,
13:42deixar
13:43essa parte aí
13:45da sociedade civil
13:47organizada
13:47para cuidar
13:48essa turma
13:51do terceiro setor
13:52para cuidar
13:52da assistência,
13:54ou qualquer
13:55coisa que o valha,
13:57como é que você
13:57enxerga
13:58a melhor estratégia
13:59de atuação
14:00para tentar
14:01reverter
14:02ou pelo menos
14:03segurar,
14:07criar uma contenção
14:08a essa expansão
14:10do crime
14:10na região?
14:12Olha,
14:13primeiro nós temos
14:14que fazer o problema
14:15cessar,
14:16e para isso
14:17nós vamos,
14:18não é difícil,
14:19por exemplo,
14:22garimpo,
14:23tempos atrás
14:24ali no Rio Madeira
14:25tinha uma
14:26fila enorme
14:27de balsas
14:28de garimpo,
14:30tivesse uma vida
14:30marinha
14:31ali fechando a boca
14:33do Rio Madeira,
14:34porque o garimpo
14:34tem uma logística,
14:35precisa de quê?
14:36Combustível,
14:38fiscalização no rio,
14:39um mínimo,
14:40um mínimo,
14:41fiscalização no rio,
14:43isso estrangula
14:43o garimpo
14:44completamente,
14:44isso desidrata,
14:47nós já fizemos isso
14:48em Roraima,
14:49então eu não estou falando
14:50aqui de teoria,
14:50estou falando de coisa
14:51que eu já fiz,
14:52que eu coordenei,
14:54foi na Terra
14:54Yanomami,
14:56Operação Shawara
14:57em 2012,
15:00como é que chegou,
15:01como que o,
15:02que as coisas chegavam
15:03para suprir o garimpo,
15:05avião
15:05ou barco,
15:07quais aviões eram
15:09tais,
15:10apreendemos todos os aviões,
15:1114 aviões,
15:12ficaram lá na frente
15:12da superintendência,
15:13os pilotos,
15:15pedimos judicialmente
15:16a suspensão do brevê,
15:17passamos um correntão
15:18no rio Urariquera,
15:19que é um rio
15:20que está
15:20para o padrão
15:22amazônico,
15:23um rio estreito,
15:24e botamos uma base
15:25lá com integrantes
15:26da FUNAI,
15:27Polícia Federal,
15:28Exército,
15:29IBAMA,
15:31eram 3 mil garimpeiros,
15:32depois de 3 meses
15:33da perissão,
15:34já tinha garimpeiros saindo
15:35e nós praticamente
15:35zeramos
15:37a presença
15:39de garimpo
15:39na Terra Yanomami,
15:41paralelamente,
15:42uma operação
15:43de inteligência
15:44para rastrear
15:45onde esse ouro
15:47foi parar,
15:47e batendo em TVML
15:48em São Paulo.
15:50Na minha gestão
15:51lá no Amazonas,
15:51nós adquirimos
15:52um equipamento alemão
15:53chamado S4 Star,
15:55que é o único
15:56no Brasil,
15:57que ele faz
15:58análise química
15:59do ouro.
15:59Então,
15:59a palavra-chave
16:00para controlar
16:01o ouro
16:02é rastreabilidade,
16:04porque o ouro
16:04de Roraima
16:05é diferente
16:05do ouro de São Paulo,
16:06que é do Amazonas,
16:08que é diferente
16:08do ouro do Pará,
16:09e esse equipamento
16:10já existe.
16:11e a gente,
16:12em uma semana,
16:13prendemos uma dupla
16:14de americanos.
16:15Na primeira semana
16:15que chegou o equipamento,
16:17a Receita Federal
16:17detectou uma dupla
16:18de americanos
16:18saindo do Brasil
16:19com 35 quilos
16:20de ouro
16:20declarados,
16:22declarados,
16:22com documento.
16:24Com documento.
16:25O pessoal da Receita
16:25sabia que tinha
16:26alguma coisa errada,
16:27mas não tinha equipamento.
16:28Esse equipamento
16:29que nós compramos
16:30vem com uma pistola
16:30que faz parte
16:32por milhão.
16:33o perito foi lá
16:35e apontou
16:3598% de pureza
16:38do ouro
16:39que eles estavam levando.
16:39O ouro de joia
16:40tem no máximo
16:4075% de pureza.
16:42Então,
16:42foram presos,
16:43o ouro foi arrecadado
16:4435 quilos de ouro
16:45em uma tacada.
16:47Ou seja,
16:47o equipamento
16:47se pagou,
16:48sei lá,
16:4920 vezes.
16:50Então,
16:50assim,
16:51a Amazônia
16:52tem solução,
16:55obviamente,
16:55tem jeito.
16:56Mas com o quê?
16:58Polícia,
16:58ciência,
16:59governança,
17:00sociedade envolvida,
17:03porque a situação
17:05da polícia
17:05é como os bombeiros
17:06num prédio pegando fogo.
17:08Os bombeiros
17:08apagam o incêndio.
17:10Claro.
17:12Você falou,
17:13eu já me lembrei aqui
17:15também da necessária
17:18participação
17:19da política internacional,
17:21da política externa.
17:22Quer dizer,
17:23quando você fala,
17:24por exemplo,
17:24dos diamantes de sangue
17:26de alguns dos países
17:28africanos,
17:29de regiões da África
17:30que eles são
17:31identificados
17:32também
17:32pelas suas propriedades,
17:37esse DNA,
17:38essas propriedades
17:40químicas
17:40que estão
17:41atreladas
17:42à rocha,
17:43ao mineral,
17:44quando ele é extraído.
17:46E você,
17:47hoje,
17:47tem uma proibição
17:48internacional
17:49de,
17:50pelo menos,
17:50as grandes casas
17:51de joias
17:52não comercializem
17:54esse tipo
17:55de produto,
17:57o que já restringe
17:58muito o mercado.
17:59mas eu não vejo
18:00isso acontecer
18:00em relação
18:01aos diamantes brasileiros
18:03que são retirados
18:03lá do Cintalar,
18:05ou o ouro
18:05da terra
18:06Anomami.
18:07É uma terra,
18:08é de fato
18:09uma feira,
18:11né?
18:11E isso envolve
18:12gente muito poderosa,
18:14porque envolve
18:14justamente
18:15grandes redes,
18:16redes internacionais
18:18de grife,
18:20de consumo
18:21de alto nível
18:22que produzem
18:24joias,
18:24que produzem
18:25produtos
18:28para bilionários,
18:31né?
18:31E que usam
18:32esses minerais.
18:35Existe uma hipocrisia
18:37muito grande,
18:38né?
18:38Em relação
18:38à Amazônia,
18:39com o discurso,
18:40às vezes,
18:41que a gente vê
18:44de ações
18:45não se coaduna
18:45com o discurso, né?
18:46E a gente vê isso
18:48em relação
18:48ao ouro,
18:50que uma boa parte
18:52vai para os Estados Unidos,
18:53para a Europa,
18:53os diamantes também,
18:55muitos diamantes
18:56retirados de terra indígena
18:57vai parar na Europa.
18:59E o seluquim,
18:59ele não é lá,
19:00ele é baseado
19:01na palavra, né?
19:04Ele é baseado
19:04numa certificação,
19:06mas não numa certificação
19:07científica, né?
19:09O que eu estou propondo
19:10é uma certificação
19:11que mostre
19:14cientificamente
19:14que aquele ouro,
19:15a composição
19:17daquele ouro
19:18é do lugar X
19:19e não do lugar Y.
19:21E existe
19:22estudo em relação
19:23ao diamante também
19:24para ser feito isso
19:24em relação ao diamante.
19:25Porque só existe
19:26uma mina
19:27de diamante
19:29primário, né?
19:33Que realmente sai lá
19:34do fundo da terra
19:35e chega,
19:36que é lá em Rondônia.
19:38Esse diamante
19:39é retirado de lá
19:40e registrado
19:42em Minas Gerais
19:43em Lavras
19:45de Rio,
19:47que é outro tipo
19:47de diamante.
19:48E vai para a Europa.
19:50Então, isso aí,
19:51a gente sabe
19:52pelo imprensa
19:52que acontece,
19:53já foi detectado
19:53várias vezes,
19:55mas isso pode
19:56ser controlado.
19:58Mas o problema
19:59é que a ilegalidade
20:00é...
20:01ela dá dinheiro
20:02para muita gente, né?
20:04Operar na ilegalidade,
20:05sem os impostos,
20:06é preciso
20:08que a sociedade,
20:10que o governo
20:11exija
20:13que a lei
20:13seja cumprida, né?
20:14E falta ainda
20:17para a nossa sociedade
20:19dar o devido
20:21peso ao crime ambiental.
20:24Porque parece...
20:26a sociedade
20:26sinaliza
20:27de que
20:28não é um crime
20:29tão grave assim.
20:31E é complicado
20:32quando isso acontece.
20:33Bom,
20:36você me faz pensar
20:38que, assim,
20:38tem, sei lá,
20:39quase 20 anos
20:40que eu
20:41fui fazer cobertura,
20:44fazer matéria
20:45investigativa
20:45no Amazonas,
20:47em Manaus,
20:48e na ocasião
20:49era justamente
20:50interferência.
20:51Já era
20:52a conexão
20:53do tráfico
20:54das Farc
20:55junto com
20:56o PCC.
20:58E você já tinha
20:59essa presença,
21:01ainda era incipiente,
21:02era uma coisa
21:03que era captada
21:05pela inteligência
21:06da Colômbia,
21:07que tinha apoio americano,
21:08e eu fui atrás
21:09dessa turma lá
21:11e entendi
21:13um pouco
21:14dessa realidade,
21:15inclusive,
21:16já ali,
21:17muito presente
21:18na periferia
21:19de Manaus.
21:21E aí,
21:21eu percebo
21:22que em 20 anos
21:23isso só
21:24piorou,
21:25só ficou mais complexo.
21:27Eu aproveito
21:28para te perguntar
21:29pela tua experiência
21:30o seguinte,
21:30para a gente encerrar
21:31que eu sei que a tua agenda
21:32está apertada,
21:33é o seguinte,
21:34o que que diferencia
21:37a atual situação,
21:40e aí eu estou falando
21:41de poder público,
21:42presença de poder público,
21:44iniciativa e tal,
21:45de governos passados?
21:48Você citou aí
21:49alguns interesses
21:51que já estão presentes
21:53em agentes públicos
21:55que atuam,
21:57pelo que eu estou entendendo,
21:58como lobistas
22:00de grupos
22:02organizados aí,
22:05o que que muda
22:06dessa tua experiência,
22:08o que que você acha
22:08que mudou,
22:09o que que hoje tem
22:10que está diferente
22:11do que tinha?
22:14Bem,
22:15sobre o legislativo,
22:17sempre foi muito ruim,
22:19desde que eu
22:20chamava de centrão,
22:22sempre foi alinhado
22:23com os destruidores
22:25da Amazônia.
22:26Mas por parte
22:27do Poder Executivo,
22:28havia,
22:29no meu entender,
22:29uma vontade política maior
22:31de proteção da Amazônia,
22:33e os números mostram isso.
22:36O grande azar
22:37da Amazônia
22:38é que naquela época
22:39nós não tínhamos
22:39a tecnologia,
22:40nem a expertise
22:41que temos hoje.
22:43Hoje nós temos
22:43a tecnologia,
22:44temos a expertise,
22:45entendemos como funciona
22:47a dinâmica
22:47do clima ambiental
22:48na Amazônia,
22:49mas não existe
22:49vontade política
22:50para se combater
22:53efetivamente
22:54esses crimes.
22:56Então,
22:56essa é a grande
22:57diferença.
22:59Entendi.
23:00Saraiva,
23:01você está,
23:02você é pré-candidato
23:03a deputado federal
23:04pelo PSB,
23:05está mantida aí
23:06a candidatura?
23:08Está mantida,
23:09está mantida
23:09porque
23:09a polícia,
23:13ela tem um limite
23:15no Estado Democrático
23:16de Direito,
23:16que é a lei.
23:18O problema
23:19que eu me deparei
23:20é que quando a lei,
23:21quando o legislativo
23:22está dominado pelos bandidos,
23:23o que o policial faz?
23:25Porque enquanto
23:26a Polícia Federal
23:27era uma instituição
23:28normal,
23:30com independência,
23:31eu nunca
23:32cogitei
23:33entrar para a política.
23:34Ainda falei mal
23:35de muita gente
23:36que entrou,
23:36estou pagando a língua.
23:38Mas,
23:39nas atuais circunstâncias,
23:40nas atuais circunstâncias,
23:42eu acho que é um
23:43dever cívico
23:44e porque também
23:46eu nunca
23:46desisto
23:47de uma
23:47de uma briga.
23:49Então,
23:50se mudou
23:51o campo de batalha,
23:52eu vou mudar também.
23:53Muito bem.
23:56Obrigado pela
23:56tua participação aqui.
23:57O programa permanece
23:58aberto
23:59para as colaborações.
24:01Muito obrigado.
24:02Um grande abraço
24:02a todos.
24:03O programa permanece
24:08A todos.
24:10O programa permanece
24:12aberto
24:12para as colaborações.
24:12O programa permanece
24:13aberto
24:13para as colaborações.
24:14Aberto
24:14para as colaborações.
24:14Legenda Adriana Zanotto

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