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  • 22/06/2025
Em entrevista ao Papo Antagonista, Eduardo Gouvêa, presidente da Comissão Especial de Precatórios da OAB, disse que a PEC dos precatórios deve ser derrubada pelo Supremo, caso seja aprovada pelo Congresso.

Segundo o presidente da Câmara, Arthur Lira, o texto, adia a quitação de sentenças judiciais, criando uma gambiarra no teto de gastos, deve ser votado amanhã. A ideia do governo é abrir espaço para custear um Auxílio Brasil de R$ 400.

Para Gouvêa, a PEC é manifestamente inconstitucional.

“A solução para os precatórios é gestão. E gestão não se faz com emenda constitucional manifestamente inconstitucional. Ela vai cair no Supremo. Ela vai ser ajuizada em uma ADI pela OAB e por outros órgãos e, provavelmente, o Supremo vai seguir o mesmo caminho que seguiu no passado, que é declarar que moratória de precatório é inconstitucional.”

Segundo o presidente da Comissão Especial de Precatórios da OAB, a proposta fere 13 cláusulas constitucionais e duas cláusulas pétreas.

“São duas cláusulas pétreas feridas e mais 13 cláusulas constitucionais. Então, o texto, consegue, em quatro laudas, essa proeza de ferir tantas cláusulas constitucionais. E não precisa.”
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Transcrição
00:00o papo antagonista, reportagens exclusivas, bastidores do poder e análise com quem faz
00:09notícia. Boa noite, Eduardo Gouveia, presidente da Comissão Especial de Precatórios da OAB,
00:16bem-vindo ao Papo Antagonista. Boa noite, obrigado. Doutor Gouveia, o senhor está acompanhando aí com
00:25bastante interesse, por motivos óbvios, toda a tramitação, o debate em torno da PEC dos
00:30precatórios. O senhor defende uma posição contrária à aprovação da PEC dos precatórios, porque no fim
00:36das contas a gente está falando de calote. Eu queria aproveitar já para abrir, que o senhor expressasse
00:43aqui para os nossos espectadores uma síntese da sua apreciação em relação a esse texto que está para
00:50ser votado agora. E aí, na sequência, a gente vai detalhando e vai aprofundando, que eu tenho algumas
00:55questões importantes também para tratar. Para iniciar, não é só calote, é pedalada também, né? São as duas
01:03coisas... É pedalada também. Verdade. E essa questão do precatório está sendo utilizado como uma
01:10justificativa para essa pedalada é o pior cenário possível, né? Porque nós, a pretexto de abrirmos
01:16espaço fiscal para o Auxílio Brasil no ano que vem, estamos mexendo no teto de gastos, mexendo na
01:23regra de ouro e desvinculando receitas, ao mesmo tempo, dentro da mesma PEC, né? Então, estamos dando
01:29uma carta branca para o governo gastar do jeito que quiser e como quiser o dinheiro público, né? O que era
01:35uma evolução da nossa legislação, de ter algumas amarras, de ter algumas restrições para que se
01:41escolhessem melhor os investimentos, mas a PEC está servindo para isso no final das contas, né?
01:47E imaginamos que isso possa ser contido, né? Ou pelo menos bastante melhorado, porque a solução
01:54para os precatórios é gestão, é planejamento e gestão. E planejamento e gestão não se faz com
02:00emenda constitucional manifestamente inconstitucional, né? Por quê? Porque ela vai cair no Supremo...
02:07O ato contínuo, ela vai ser ajuizado numa ADI, pela OAB e por outros órgãos, por outras
02:13associações e provavelmente o Supremo vai seguir o mesmo caminho que seguiu no passado,
02:18né? Que é declarar que moratória de precatório, que representa no final das contas o descumprimento
02:23das decisões judiciais, é inconstitucional. Então, como nós dissemos, são duas cláusulas
02:28pétreas feridas e mais 13 cláusulas constitucionais. Então, o texto em quatro laudas consegue
02:35essa crueza de ferir tantas cláusulas constitucionais ao mesmo tempo. E não precisa.
02:40A gente sabe que tem possibilidade de resolver sem isso.
02:43Nós temos aqui a apresentação que o senhor preparou para a comissão especial aí da PEC
02:50e eu vou trazer para os nossos espectadores. A gente pode comentar aqui de acordo com o que
02:57está registrado, que aí facilita o entendimento. Pode botar na página 4, Freitas, o documento
03:03dos precatórios, que mostra justamente o que o doutor Gouveia acabou de mencionar. A
03:10PEC 23, ela ataca duas cláusulas pétreas, mais 13 constitucionais e, se contadas quantas
03:17vezes se repetem, são mais de 30 violações constitucionais, tudo isso em quatro laudas.
03:23Logo na página seguinte, tem justamente esse detalhe, né? As cláusulas pétreas. Separação
03:28de Poderes, Direitos e Garantias Individuais. Explica um pouquinho como que ela atinge essas
03:34duas cláusulas, doutor Gouveia.
03:36A falação de Poderes fica bastante clara. O Supremo já decidiu isso no julgamento da
03:42lei 4357-4425, porque o judiciário processou uma ação judicial por décadas, muitas vezes,
03:51chegou ao fim dela. Foi expedido um precatório, que é um mero procedimento administrativo para
03:55o cumprimento da obrigação de pagamento e, lá no final, vem o executivo e o legislativo
04:03e suspendem o cumprimento da decisão judicial. Então, é interferência clara numa determinação
04:10judicial que é emanada do poder judiciário. Então, você está claro que você está interferindo,
04:15inclusive, na própria capacidade do poder de fazer impor suas decisões. Então, essa é
04:22uma das coisas. E é uma coisa muito importante para ele ressaltar. O teto dos gastos pode
04:26incidir sobre as despesas do poder judiciário, porque aí são despesas correntes. O custo
04:32dos tribunais, os salários dos juízes embargadores, a conta de luz dos tribunais. Isso sim, pode
04:40estar sujeito ao teto, porque pode ser controlado. Mas as decisões judiciais, não, porque elas
04:44não beneficiam o poder judiciário. Elas são beneficiárias dos terceiros, privados.
04:51O senhor mencionou, eu acho que é um ponto fundamental nesse debate, porque o teto de gasto
04:56foi criado justamente para evitar o quê? O inchaço da máquina. Para você reduzir, você
05:03criar um limite, isso acaba forçando os nossos gestores a ir reduzindo a máquina pública.
05:10Isso vale para o executivo, para o legislativo, tem de valer para o judiciário também. Então,
05:14de fato, o judiciário precisa estar debaixo do teto, mas então que ele enxugue a própria
05:22máquina, né? O que, aliás, é o que é muito diferente do que o judiciário está fazendo
05:26semanas atrás mesmo. Estão ampliando lá o Tribunal de Justiça no Ceará, agora criaram
05:31um tribunal, o TRF6. Enfim, mas isso é um outro tema. O fato é o seguinte, essas despesas
05:39correntes, esses gastos com a estrutura, com a máquina do judiciário, ok, está dentro
05:45do teto. Agora, dívida judicial não tem nada a ver, não tem nem como você prever.
05:52E o senhor menciona na sua apresentação justamente essa questão aqui na página 6,
05:56Freitas, põe na tela, por favor.
05:58E eu vou lhe passar a palavra na sequência, porque o senhor diz aqui, nunca se ousou tanto
06:04ao pretender incluir na Constituição um limite percentual ao cumprimento de decisões
06:10judiciais, sem prazo e previsão de crescimento e pagamento.
06:14Exato. Como você bem disse, Cláudio, e observou, a diferença está aí. Uma coisa é gasto público,
06:21outra coisa é dívida. A dívida já se chama dívida judicial. Quando a União está na posição
06:27contrária, os estados e municípios, eles cobram sua dívida ativa dos devedores deles.
06:32Então, se você consegue separar essas duas coisas, fica claro que uma coisa pode estar
06:36sujeita ao teto, a outra não. E o modelo que está criado de gestão, não. Na verdade,
06:42de protelação do pagamento dessas dívidas, que no final das contas é prorrogação do
06:47cumprimento da decisão judicial, ele acaba criando uma bola de neve incalculável, porque
06:52nós não sabemos quanto vai expedir o precatório ano que vem, e além do que vai expedir no ano
06:56que vem, vai incidir correção e juros sobre a dívida que ficou deste ano para o outro
07:02ano. Então, daqui a cinco anos, nós podemos estar com 500 bilhões, 600 bilhões, não
07:07se sabe quanto vai ter de dívida. E aí nós temos um problema, nós estamos criando um
07:10problema que vamos ter que resolver eventualmente lá na frente. E não é verdade que esse problema
07:15está sendo, essa solução está sendo dada para os governos futuros, não. Está se criando
07:20um problema para os governos futuros. Daí nós temos a certeza absoluta, não só somos nós,
07:25advogados, mas os economistas têm dito isso claramente, que isto é uma pedalada. Está
07:31se colocando uma dívida, empurrando uma dívida para frente para liberar recursos e para pagar
07:36uma despesa corrente. Uma despesa que vai ser definitiva, porque essa Bolsa Auxílio Brasil,
07:44Bolsa Família, o que quer que seja o nome, ele vai ficar sendo pago todo ano. Você não pode usar
07:49uma despesa provisória ou a retenção do pagamento da dívida provisória para pagar uma permanente.
07:59Essas menções, inclusive, às falas dos economistas, nós temos aqui gente de peso. Gustavo Franco já esteve
08:07aqui conosco no Papo Antagonista. Ele disse que a solução simples para o nó dos precatórios seria
08:13reconhecer que precatório é dívida e não despesa primária, justamente o que estamos falando. Simples
08:19assim, será preciso uma PEC para isso? O que certamente não pode acontecer é aceitar que o precatório é uma
08:24dívida pública de segunda classe. E temos também menção aqui nesta sua apresentação do próprio
08:32Maílson Danóbrega, ex-ministro da Fazenda, na linguagem dos anos recentes. O nome disso é pedalada,
08:39é esconder uma despesa do conhecimento público. Aí eu lhe pergunto uma coisa. O ministro Paulo Guedes,
08:46quando trouxe esse tema para a pauta, disse que foi surpreendido. Eu fiquei me questionando aqui,
08:54até a gente já mencionou isso outra vez no programa, eu gostaria de colocar essa justificativa aqui para
09:00sua análise, porque eu acho curioso que um ministro da economia, ainda mais um super ministro,
09:05ele seja surpreendido com uma despesa de 89 bi no orçamento, que é uma coisa que é discutida por
09:13meses. Inclusive, quando a gente trata de precatório, de dívida judicial, nós temos setores do Ministério da
09:20Economia que cuidam desta negociação, há uma interlocução com o setor do judiciário que cuida
09:27disse que é o CNJ, ou não? Não tem surpresa nenhuma, Cláudio. A verdade é a seguinte, a nosso sentir,
09:35essa discussão veio se desenrolando ao longo do tempo, isso já tinha sido tentado no ano passado,
09:41a Bolsa reagiu mal, o dólar subiu. Essa novela já é repetida, nós estamos vendo de novo a mesma discussão.
09:49E lá atrás, quando foi discutida, por que ela foi discutida? Exatamente porque a PGFN e a AGU têm esses
09:56dados na ponta do lápis. Esse trabalho, eu conversei com uma pessoa que trabalhou no Tesouro Nacional da
10:02década de 90, ele disse que desde a década de 80, esses relatórios são informados com prazo de 5 anos
10:08para frente. Então, um susto que tinha 5 anos de antecedência para ser tomado, se você tivesse prevenido.
10:15Mas o problema é o seguinte, está se vendo o tamanho da dívida crescendo, essa dívida cresce. Por quê?
10:21Porque o judiciário começou a ganhar um pouco mais de eficiência, o judiciário, de fato, começou a acelerar
10:26um pouco por causa da digitalização dos processos, das intimações eletrônicas. A questão até das
10:32intimações eletrônicas é fundamental, porque as procuradorias acabam tendo que se manifestar mais
10:36rápido nos processos. Então, tudo isso está contribuindo para ser mais rápido. Mas é mais rápido, conforme o próprio
10:41ministro Fux declarou numa das entrevistas, que também a União está se beneficiando disso, porque a União
10:47também, que arrecadava sistematicamente 24, 25 bi por ano, arrecadou 80 esse ano. Então, a receita da
10:56União também cresceu. Então, nós estamos falando um descasamento de 9 bi, mais ou menos, que é 89 contra 80
11:02de receita. Então, o problema é esse que existe dos precatórios, se no ano anterior nós tivemos
11:0950 bi de precatórios contra 24 de receita. Então, o descasamento era muito maior. A receita
11:16versus despesa que o judiciário colocou para a União era pior no ano passado, o descasamento, do que está
11:21sendo nesse ano. Então, o problema não é dinheiro, o problema não é caixa, que conforta na nossa
11:27apresentação também. Caixa, a União tem. Ela não tem espaço fiscal para gastar. Então, é simples. Não
11:32precisava, desculpe os especialistas, mas para o nosso empreendedor, não precisava sequer
11:37de uma PEC. Bastava um parecer da PGFM dizendo o seguinte, olha, os gastos do tribunal têm que ser
11:42submetidos ao teto, mas a dívida judicial não pode ser submetida e, portanto, ela tem que ser excluída
11:47do teto. Ponto final. Não tem que ter PEC para dizer o óbvio. A PEC tem que dizer o que registrar
11:54eventualmente, ajustar e clarear essas coisas, mas não precisa dizer o óbvio.
11:59Dinheiro não está faltando. Hoje, inclusive, saiu aqui o cálculo de arrecadação federal de setembro,
12:06que bateu o novo recorde, R$ 149,1 bilhões. Na sua apresentação, deixou claro aqui o número de junho
12:15de 2021, total de R$ 1,7 trilhão. Quando o senhor fala da reação do mercado, eu queria que o senhor
12:22aproveitasse o espaço e explicasse um pouquinho para o nosso espectador como é que funciona o mercado
12:28de precatórios, porque como é uma dívida garantida, uma dívida futura, você tem a negociação disso,
12:35você tem muita gente que detém um precatório, tem ali um crédito com o Estado ou de alguma dívida,
12:43ali, ele, com algum ente federal, da federação, enfim, você tem as dívidas dos próprios entes federativos
12:54com a União. O fato é que essa dívida, ela gera um crédito, e esse crédito pode ser negociado no mercado.
13:05Muita gente tem empresas, grandes bancos, grandes instituições financeiras que se dedicam a comprar
13:13precatórios com deságio ali, você compra um precatório, às vezes, por 10% do valor, 20% do valor,
13:23e, obviamente, que depois você, se você tem condição de esperar o pagamento desse precatório ali,
13:30depois de 3, 4, 5 anos, isso acaba rendendo uma fortuna. É lógico que isso, quando você coloca
13:36no mercado financeiro, isso vira até uma moeda corrente, né? Explica um pouquinho para os nossos
13:40espectadores. O que acontece? O mercado, inclusive, dos precatórios federais, como eles estão sendo pagos
13:47há 20 anos, em dia, se criou um mercado como se fosse um desconto, uma antecipação de uma duplicata,
13:54né? Porque você tem um crédito. Isso é importante ressaltar. Esse dinheiro que vai, que está previsto ser pago
13:59no ano que vem, num precatório, é dinheiro privado, não é público mais. A condenação judicial já existe,
14:05já é uma dívida do ente público com a sociedade, seja pessoa física ou jurídica. Então, quando você pega
14:12esse ativo, acaba virando um ativo. Você pode pegar ele, o mercado precifica e diz assim, olha,
14:20você vai receber isso em junho e no ano que vem. Então, eu estou disposto a te antecipar esse dinheiro
14:24com desconto de tanto, que no final das contas é uma taxa de juros que é embutida nisso.
14:30O mercado estava organizado, os preços dos precatórios federais estavam super apreciados.
14:37Nós chegamos a ver negociações a 85% do valor de face. E nós estávamos caminhando exatamente
14:44para um modelo de mercado que seriam descontos razoáveis, não de 30% ao ano, como já é praticado,
14:50mas cair para uma taxa razoável, ou seja, equilibrar um pouco esse fisco retorno.
14:55Ou seja, o banqueiro ia continuar ganhando dinheiro, os fundos de investimento, sem problema nenhum,
15:00mas ele ia ganhar. A ideia era que quanto mais se regularizar esse mercado,
15:05quanto mais segurança jurídica, mais ativos você vai ter disponíveis para negociar
15:11e você vai poder ganhar um pouco menos em termos de retorno de taxa, mas muito mais em escala.
15:16Esse é o caminho natural que a gente tem que avançar. E o mercado não.
15:22Para o mercado, quanto menos negócios ele fizer com a taxa maior, em tese melhor.
15:28É menos trabalho com mais ganho. Mas isso estava se organizando e agora se desorganizou de novo.
15:34Porque hoje muitos novos entrantes que estavam vindo para entrar nesse mercado e ganhar,
15:40aceitar taxas menores, sumiram de novo. Porque estão com medo da mudança da legislação.
15:47Quer dizer, você tinha um mercado organizado, com previsibilidade,
15:54muita gente ganhando dinheiro, cada um no seu quadrado, vamos dizer assim,
15:59muitos atores podendo entrar nesse sistema e também faturar.
16:04Talvez a concorrência tenha deixado alguns um pouco insatisfeitos.
16:10O fato é que quando você desorganiza esse sistema e você cria uma instabilidade
16:16e tira do horizonte aquela certeza do pagamento,
16:22você está criando uma dificuldade.
16:25E aqui no Brasil a gente tem uma cultura de se criar dificuldade,
16:29quando se cria dificuldade é para se vender uma facilidade.
16:32Isso me preocupa. Isso preocupa o senhor também, doutor Gouveia?
16:36Preocupou muito, né, Cláudio?
16:38Porque você está falando aí de trilhões de reais em juízo
16:42e milhões de credores do poder público que vão ser prejudicados com isso, né?
16:48Porque eles vão acabar tendo que dar descontos maiores,
16:50porque normalmente o credor público do precatório alimentar
16:53são pessoas de idade, são aposentados, pensionistas.
16:56Não tem mais tempo para esperar.
16:58Tem casos de processo com gente de mais de 100 anos.
17:01O que você vai dizer para a pessoa?
17:02Não espera mais 12 anos para receber seu crédito?
17:04Não. Ela vai trocar isso pelo dinheiro hoje, a valor presente.
17:08E aí vem esses deságios absurdo.
17:12E do outro lado, você tem essa história do quanto pior, melhor no mercado.
17:17Eu não acredito nisso, porque eu acho que o mercado vai se beneficiar
17:21da regularização desse mercado e da segurança jurídica
17:24para ganhar escala, para poder adquirir mais créditos
17:28e fomentar mais economia.
17:30Porque no final das contas, quando ele antecipa valores para alguém,
17:33essa pessoa reinveste o dinheiro no mercado, né?
17:36Então é bom, é uma operação absolutamente ganha-ganha,
17:39destrói menos valor.
17:41Mas assim, a gente sabe que o mercado tem players e players, né?
17:45A gente sabe que tem gente que prefere o pior...
17:48Essa frase, né? Terrível que é, quanto pior, melhor.
17:54Mas tem gente que está interessada realmente em organizar o mercado,
17:57em fazer o país melhorar, fazer o país se desenvolver e crescer
18:01e ajudar essas pessoas, que é o que a gente fala sempre.
18:06É conseguir desenterrar toda essa riqueza que está enterrada no Poder Judiciário.
18:10Isso aí é dinheiro que podia estar na economia,
18:12se não tivesse nessa burocracia interna, né?
18:15O senhor mencionou com muita propriedade
18:20os casos desses precatórios alimentares,
18:24de pessoas de idade.
18:26Então, quando você tem a máquina funcionando direitinho,
18:29tudo sendo pago dentro dos prazos,
18:30ou pelo menos dentro de prazos razoáveis,
18:34a antecipação disso,
18:37ela não fica tão, vamos dizer assim,
18:39ela não rende tanto para quem se propõe
18:42a antecipar esse pagamento para o credor.
18:45Então, se eu sou uma instituição financeira
18:49que me dedico a isso,
18:51eu viro para o detentor do precatório e digo assim,
18:53olha, eu quero te pagar 50% desse valor.
18:58Aí ele vai falar, não, mas eu vou receber ano que vem.
19:00Não, não, então eu pago 70%.
19:02Quer dizer, quanto mais certo o pagamento,
19:08é menor essa diferença,
19:10ou seja, quem pretende lucrar com isso
19:14acaba lucrando menos,
19:15porque não tem tanta margem, vamos dizer assim,
19:17de negociação.
19:19Por outro lado, quando você tira do horizonte
19:21a possibilidade de pagamento,
19:23essa diferença aumenta, fica gritante.
19:25Então, esses agentes,
19:27especialmente aqueles que têm muito poder econômico
19:29e político, vão oferecer 10%, 20%
19:33e o sujeito acaba tendo de ceder
19:37a esse tipo de proposta indecente,
19:40porque, caso contrário,
19:42ele não vai ter nem perspectiva
19:43de ganhar nada com aquilo,
19:45nem 10%, nem 20%, nem nada.
19:47Então, assim, isso é muito preocupante,
19:49porque, de fato, você cria um mercado
19:54que favorece a poucos,
19:56justamente só aqueles que têm acesso.
19:59E aí, eu vou colocar a bola depois
20:01para o ministro Paulo Guedes,
20:03que vem do mercado
20:05e que, obviamente, não pode estar favorecendo
20:08nenhum nem outro agente.
20:10Doutor Gouveia, eu vou, nesse sentido,
20:13eu vou lhe perguntar uma coisa
20:14que surgiu a dúvida para mim aqui,
20:16que é o uso de créditos líquidos
20:23para a quitação de débitos
20:27com a própria União,
20:32para a compra, por exemplo, de imóveis,
20:36para a compra de participação
20:40em privatizações,
20:41compra de partes de empresas públicas.
20:44Como é que funcionaria isso?
20:46Qual é o...
20:47Isso é...
20:49Eu me lembro que lá atrás,
20:51quando foi privatizada a CSN,
20:53a Vale,
20:54esse mecanismo foi utilizado.
20:56A gente está reaproveitando esse mecanismo.
20:58Ele é 100%?
21:00Tem algum risco?
21:01O que a gente precisa ficar atento
21:04para que não haja um uso equivocado
21:07desses recursos, dessas dívidas,
21:09para você comprar imóveis da União,
21:11para você participar de privatizações, etc.?
21:16Porque, obviamente,
21:17nós estamos falando também de big players aqui.
21:19Pois é.
21:20Essa é uma questão importante, relevante.
21:22A gente tem que dar condições de igualdade
21:25para todo mundo que quiser participar desse jogo.
21:28Não tem nada demais
21:29o governo fazer um plano de ação,
21:31planejar e executar bem
21:34essa gestão da dívida,
21:36não só dos precatórios,
21:37mas também das ações judiciais
21:39que já estão perdidas em juízo,
21:41porque o precatório,
21:42ele é o fim da linha.
21:43Mas já há muitas ações perdidas,
21:45que é isso que a PGFN informa
21:48ao governo todo ano,
21:49que vão virar precatórios.
21:50Então, o que o governo tinha que ter feito
21:52no passado era isso,
21:53é usar essa legislação,
21:54que muitas delas já existem,
21:56já podem ser utilizadas,
21:57não precisa de PEC para isso,
21:58e ter feito a gestão
21:59para não deixar expedir precatórios.
22:01Mas tem que ser feito isso com cuidado,
22:03primeiro, de ser facultativo
22:05aos credores de precatórios.
22:06Não pode ser imposto.
22:08Segundo, você não pode criar uma regra
22:10em que você dificulta,
22:11como você bem disse,
22:13você dificulta o pagamento,
22:14diz que a pessoa não vai ter presididade nenhuma
22:16para obrigar ela a aceitar qualquer preso
22:18naquele precatório,
22:20para depois oferecer uma saída ruim para ela
22:22e ela ser obrigada a aceitar.
22:24Isso é que a gente não pode.
22:26Então, o texto,
22:27o conceito do texto é bom
22:29para essa questão da compensação fiscal,
22:31da utilização para a compra de imóveis públicos,
22:33porque o imóvel público também
22:34é um custo ou uma despesa
22:36para o ente público
22:37que não faz sentido ele manter
22:39na carteira dele,
22:40não é o negócio dele ter imóvel público.
22:43Mas a gente precisa organizar isso,
22:45escrever melhor.
22:47Não é uma questão de retirar do texto
22:49o modelo e o conceito,
22:52e sim melhorar
22:53para que ele tenha transparência,
22:55para que não possa ocorrer
22:56nenhum tipo de manipulação dos ativos
23:00para beneficiar quem quer que seja.
23:02A diferença de você estar usando o precatório
23:06ou estar usando ali o direito creditório
23:08que ainda não, vamos dizer assim,
23:10não é líquido e certo?
23:12Você tem a participação também da AGU,
23:15da PGFN,
23:17na definição desses valores?
23:19Qual é a diferença entre um e outro,
23:21entre uma moeda e outra
23:23que se está querendo utilizar nesse segmento?
23:27A vantagem de você permitir
23:29a utilização do direito creditório,
23:30transitar e julgador, obviamente,
23:32o direito creditório que você já sabe
23:33como precificar
23:34e você já tem como parametrizar ele
23:37e ele só fica, muitas vezes,
23:39no judiciário,
23:40numa discussão
23:41totalmente descabida
23:43e isso, às vezes, leva anos,
23:45porque o judiciário não tem
23:46essa velocidade toda
23:47para processar todas essas ações.
23:49Aliás, é bom dizer,
23:50o maior cliente do poder judiciário
23:53é o poder público,
23:54seja nas ações de execução fiscal,
23:57em que ele é credor de...
23:59São 50% dos processos judiciais
24:00em curto no país, praticamente,
24:02seja na outra ponta em que ele é devedor.
24:04Então, quando você retira
24:06do judiciário a discussão,
24:08porque o judiciário já definiu
24:10exatamente qual é o valor
24:11de cada um dos lados
24:12e permite a compensação
24:14com o direito creditório,
24:15qual é a diferença?
24:15Qual é a vantagem para o governo?
24:17É que o direito creditório
24:18está mais longe de ser pago
24:20e, portanto,
24:21o credor vai,
24:23por livre e espontânea vontade,
24:24aceitar um pouco mais de desastre,
24:26porque ele vai receber o dinheiro hoje.
24:28O precatório não,
24:29já está na fila,
24:30já vai pagar ano que vem.
24:31O deságio, obviamente,
24:32o poder de negociação do credor
24:36é maior do que quando ele ainda
24:37não tem uma previsibilidade absoluta
24:39de quando aquele precatório
24:41vai ser expedido.
24:42E isso já está acontecendo.
24:43Tem uma legislação recente,
24:45de 2020,
24:46da transação tributária,
24:48que funciona perfeitamente,
24:49os cálculos são validados
24:51pela Procuradoria da Fazenda Nacional,
24:53pela AGU,
24:54e esses encontros têm acontecido.
24:56A legislação já existe.
24:58Era só ter feito
24:59um programa de incentivo
25:00e ter feito
25:01uma melhor gestão disso
25:02que provavelmente
25:03não teria 89 bilhões
25:04para o ano que vem.
25:05Eu sempre falo
25:07dessa questão
25:07do Fundeb e do Fundef
25:09porque é o seguinte,
25:10está todo mundo dizendo
25:11que surpresa,
25:1117 bilhões apareceram.
25:13Não.
25:14O Supremo Tribunal Federal
25:16julgou isso em 2017.
25:19Levou quatro anos
25:20para expedir o precatório.
25:21Se tivessem proposto
25:22um acordo
25:23lá atrás,
25:24em 2017,
25:25para os entes públicos,
25:26prefeitos em exercícios,
25:27governadores em exercícios,
25:28eles teriam aceito
25:28desconto,
25:30parcelamento,
25:31várias outras coisas.
25:31Agora,
25:32espere o precatório hoje
25:33para receber ano que vem,
25:34eu quero receber ano que vem,
25:35integral.
25:38Isso aí é um outro problema,
25:41essa história do Fundeb,
25:42do Fundef,
25:43porque teve muito advogado
25:45querendo fazer dinheiro
25:47com esses recursos
25:48e a discussão
25:50acabou indo para o Supremo
25:51justamente por causa
25:52dos honorários também
25:53que eles queriam colocar
25:54no grupo.
25:56Todo gol,
25:57o que a gente faz
25:58com esse texto?
25:59Qual é a sua recomendação
26:00para a Câmara
26:01hoje
26:02em relação a esse texto?
26:04Faz o que
26:04com esse texto que está aí?
26:07Eu vou puxar um pouquinho
26:09de contexto histórico.
26:10O precatório
26:10entrou na Constituição
26:11em 1934
26:12e nunca funcionou.
26:15E a gente está querendo
26:16remendar mais uma vez
26:17um negócio
26:18que nunca funcionou.
26:19Eu costumo dizer o seguinte,
26:20a gente,
26:21em vez de comprar
26:21um scanner
26:22de última geração
26:24para passar a utilizar
26:25para fazer
26:26os documentos digitais,
26:27a gente está consertando
26:28o mimeógrafo.
26:30Então,
26:30vamos pegar
26:31essa questão
26:33do precatório
26:34e vamos entender
26:35que essa é uma baita oportunidade.
26:37Por quê?
26:37São ativos
26:38dos credores públicos,
26:40privados ou públicos,
26:41muitas vezes entes públicos,
26:42que é o caso,
26:43que tem a obrigação,
26:44isso é importante dizer,
26:45tem a obrigação
26:46de repassar 60%
26:47dos valores
26:48desse precatório
26:49para os professores.
26:51Então,
26:51o beneficiário na ponta
26:52é o professor.
26:53Então,
26:54vem dizer que não vai
26:54prejudicar a educação?
26:55Vai sim,
26:56o professor já tinha
26:57que ter recebido
26:58esse dinheiro lá atrás.
27:00Então,
27:00o que a gente recomenda
27:01e a gente não só recomenda,
27:03mas se propõe
27:03a fazer isso,
27:05é criar uma equipe
27:06de especialistas.
27:08Precatório
27:08é uma coisa
27:11tão estranha
27:11ao planeta,
27:13não é só ao Brasil,
27:14ao planeta,
27:15porque isso não existe,
27:16nesse formato que a gente tem,
27:17não existe lugar nenhum
27:18do mundo.
27:20Então,
27:20nós temos poucos especialistas
27:21no mundo.
27:23Então,
27:23vamos pegar esses especialistas,
27:25vamos juntar com o pessoal
27:26do Tesouro Nacional,
27:27do Ministério da Economia,
27:28da PGFN,
27:29vamos fazer um time de,
27:30sei lá,
27:308,
27:3110 especialistas.
27:32Eu não tenho dúvida
27:33que em 24 horas
27:34a gente sai com um texto
27:35sem uma inconstitucionalidade
27:36e muito melhor
27:38do ponto de vista
27:39econômico e fiscal
27:40para o próprio governo federal
27:42e aí para governos
27:44municipais e estaduais
27:45também que serão atingidos.
27:46Então,
27:47a gente não tem dúvida
27:47que, entre aspas,
27:49é relativamente simples
27:50resolver,
27:51mas tem que ter vontade
27:52política
27:53e tem que deixar
27:54os especialistas
27:55trabalharem.
27:56Tem que pegar
27:57o Gustavo Franco,
27:58o ministro Maílson,
27:59essa turma que entende
28:01do negócio,
28:01para eles chegar lá
28:02e dizer,
28:03o doutor
28:04como a Sueta Almeida
28:04também,
28:05que é outro grande
28:05especialista deles,
28:06vamos sentar na mesa,
28:07vamos discutir a solução,
28:08vamos negociar.
28:10Não pode é
28:11enfiar a goela abaixo
28:12do credor,
28:13como sempre tem acontecido,
28:15o custo dessa solução.
28:17E com isso,
28:18vão milhares de pessoas
28:19morrem na fila
28:20de precatórios,
28:21aí você tem que habilitar
28:22o herdeiro,
28:23aí o herdeiro morre.
28:24É uma loucura.
28:25Existem casos
28:26de 5, 6 gerações
28:27habilitadas
28:27no mesmo processo judicial.
28:29Isso não faz
28:29o menor sentido
28:30do ponto de vista prático.
28:31É por isso
28:35que tem um mercado
28:36aí funcionando
28:38e muito interessado
28:40em captar
28:41esses
28:42precatórios,
28:44esses recebíveis
28:45também.
28:46Doutor Eduardo
28:47Gouveia,
28:49muito obrigado
28:49aqui pela sua participação
28:50no Papo Antagonista.
28:52O senhor que é
28:52presidente
28:53da Comissão Especial
28:54da OAB,
28:55presidente da Comissão Especial
28:56de Precatórios
28:57da OAB.
28:58O programa
28:59permanece aberto
29:00para futuras colaborações.
29:02Muito obrigado
29:03pelo convite
29:03e essa mensagem
29:04eu acho que é importante
29:05a gente deixar
29:06de otimismo.
29:08Esse não é um problema
29:09para a gente resolver.
29:10Isso é uma grande oportunidade
29:11e um canal
29:12como o de vocês
29:12é fundamental
29:13para que esse debate
29:14se aprofunde
29:15e a gente consiga
29:16chegar a uma boa solução.
29:18Muito obrigado.
29:18Maravilha.
29:19Até logo.
29:20Até logo.
29:21Papo Antagonista
29:23Reportagens exclusivas
29:25Bastidores do Poder
29:27e análise
29:28com quem faz notícia.
29:31Obrigado.
29:33Obrigado.
29:34Obrigado.
29:36Obrigado.
29:37Obrigado.
29:39Obrigado.
29:40Obrigado.
29:42Obrigado.
29:43Obrigado.
29:45Obrigado.
29:46Obrigado.
29:48Obrigado.
29:49Obrigado.
29:51Obrigado.
29:52Obrigado.

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