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  • 22/06/2025
O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), diz que o Ministério da Saúde está certo em não aplicar a Coronavac como dose de reforço.

Na quinta-feira da semana passada (26), o ministério emitiu nota técnica em que decide pela aplicação de uma 3ª dose de vacina nos maiores de 70 anos a partir de 15 de setembro. Essa dose de reforço deverá ser "preferencialmente" com a vacina da Pfizer, sendo os imunizantes da AstraZeneca e Janssen aceitos como alternativas. A Coronavac está excluída.

#Covid #Coronavac #TerceiraDose
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Transcrição
00:00Olá, eu sou o C.D. Silva e hoje estou conversando com o pesquisador Júlio Croda.
00:04Ele é pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
00:09Hoje nós vamos falar sobre as diferenças entre as diferentes vacinas aplicadas no Brasil
00:14e também vamos falar bastante sobre dose de reforço ou terceira dose
00:18e sobre as diferenças dessa terminologia.
00:22Professor, vamos começar com um estudo recente da Fiocruz,
00:25um estudo preliminar enviado para publicação em revista científica,
00:30que é coordenado pelo pesquisador Manuel Barral Neto.
00:33Esse estudo analisou a efetividade das vacinas Coronavac em AstraZeneca
00:39em quase 76 milhões de brasileiros.
00:42Quer dizer, é um estudo de efetividade no mundo real,
00:45já não é mais aquele ensaio clínico quando tem poucos voluntários.
00:49E ele mostrou que ambas as vacinas são efetivas, oferecem proteção,
00:55ambas oferecem proteção contra as variantes,
00:58mas existe uma diferença importante nos mais idosos, a partir dos 80 anos.
01:04Quais são as principais diferenças entre AstraZeneca e Coronavac nos mais idosos
01:09e por que a recomendação de idade é diferente no caso da Coronavac em relação à AstraZeneca?
01:16Então, assim, é um dado muito sólido, foi feito no Brasil todo.
01:22A gente já tinha publicado, nosso grupo VEBRA COVID também,
01:25esse sim já publicado na BMJ, Brickton Medical Journal,
01:30foi publicado no último dia 20 de agosto,
01:33mostrando que para essa população existe uma redução importante de efetividade mesmo.
01:38Acima de 80 anos, para a doença sintomática, cai para menos de 50%
01:44e para a óbito, cai para menos de 50%.
01:47Ou seja, a vacina não tem uma efetividade tão elevada para essa população acima de 80 anos.
01:54E quando a gente entende um pouco isso,
01:57as causas que levam a essa diminuição de efetividade nessa população,
02:03vem um fenômeno que é bem conhecido, não específico do COVID,
02:06que chama imunossinescência.
02:08A imunossinescência é um envelhecimento da resposta imunológica.
02:12Está associada à idade e, da mesma forma que os idosos têm dificuldade de responder à infecção
02:19e são os grupos que têm maior risco para hospitalização e óbito,
02:23eles também têm dificuldade para gerar resposta imune pós-vacina, pós-segunda dose.
02:29E a gente sabe que a Coronavac produz anticorpos neutralizantes menores
02:33que a AstraZeneca faz.
02:36Então, por conta dessa característica do idoso de produzir menos anticorpos
02:41e por conta da característica da Coronavac de gerar menos anticorpos neutralizantes,
02:46menos resposta imune,
02:47se torna mais sensível nessa população uma dose de reforço
02:53para garantir maior proteção,
02:54principalmente no contexto do surgimento de uma nova variante,
02:58que é mais transmissível, tem mais escape de resposta imune,
03:01e nos outros países, onde elas se tornaram predominantes,
03:05e principalmente Israel,
03:06tem levado a aumento de casos nessa faixa etária,
03:10associado a aumento de hospitalização, principalmente nessa faixa etária.
03:16Perfeito.
03:17Pelo que entendi, nesse caso da resposta imune,
03:21até poucos meses atrás, os pesquisadores nos alertavam
03:25que esses testes de anticorpos não são suficientes
03:28para medir a resposta imune de diferentes vacinas,
03:32que não havia um número de anticorpos que dá para relacionar
03:37com uma determinada resposta imune.
03:39Lembro até recentemente que o Gustavo Mendes da Anvisa,
03:42na apresentação que ele fez debatendo a Coronavac em crianças,
03:47ele disse isso,
03:48eu não lembro agora o termo exatamente que ele usou,
03:51mas é não ter um número a partir do qual a gente sabe que tem resposta imune.
03:54Mas pelo que eu entendi, agora nesses novos dois estudos da Fiocruz,
04:00além da quantidade de anticorpos,
04:04também está sendo medida a resposta imune no mundo real,
04:07com milhões de pessoas vacinadas.
04:09E essa que é a diferença que permite afirmar
04:11que há uma resposta imune menor da Coronavac em relação à AstraZeneca, não é isso?
04:17Não necessariamente, né?
04:18O que está sendo medido é a efetividade, é o mundo real.
04:21Está acontecendo em termos de hospitalização, de óbito, de casos sintomáticos.
04:25Os dados de laboratórios estão se correlacionando com esses dados do mundo real.
04:30Os dados de laboratórios já demonstravam para a gente
04:33que existe uma menor resposta das diversas vacinas
04:38para as novas variantes, principalmente Gamidelta,
04:42produz menos anticorpos neutralizantes.
04:44E a gente tem que entender que quando a gente fala de resposta imunológica,
04:50a gente tem resposta de anticorpo e resposta celular.
04:53A resposta celular protege para a hospitalização em óbito.
04:56A resposta de anticorpo protege para a hospitalização em óbito,
05:00mas também para as formas sintomáticas e assintomáticas.
05:03Ou seja, uma vacina que gera muita resposta de anticorpo
05:06vai prevenir para todas as formas.
05:08A vacina que não gera resposta de anticorpo pode continuar prevenindo
05:12para as formas mais graves, hospitalização em óbito.
05:16No contexto de uma nova variante e de queda de anticorpos ao longo do tempo,
05:21nessa população de idosos, é que a gente observa os dados de vida real.
05:26Então, a gente junta dados que são de laboratório com poucos indivíduos,
05:31mostrando que a resposta imune está comprometida em doses,
05:34que cai ao longo do tempo e que existe diferença em relação às vacinas
05:40na produção desse anticorpo, com um dado de vida real,
05:44que é outro estudo, para afirmar que nessas pessoas especificamente,
05:50a gente deveria utilizar o que a gente chama de esquema heterólogo.
05:55Fazer terceira dose ou dose de reforço com a vacina de um tipo diferente,
05:59porque vai suscitar uma resposta imune diferente.
06:02E os estudos que têm de vacinas diferentes com duas doses,
06:07tem estudo da Pfizer com AstraZeneca, tem estudo da Coronavac com a Pfizer,
06:11mostra que a resposta da combinação de duas vacinas diferentes
06:14é mais robusta, a resposta imunológica, sem aumento de eventos adversos.
06:21Perfeito.
06:22Vamos falar agora da nota técnica recente.
06:25O ministro Marcelo Queiroga decidiu fazer a aplicação da terceira dose
06:29ou dose de reforço nos maiores de 70 anos e nos imunossuprimidos,
06:33a partir agora da segunda quinzena de setembro.
06:36Nessa nota técnica, ele prevê ou define como terceira dose ou dose de reforço,
06:42preferencialmente, a vacina da Pfizer ou as vacinas AstraZeneca e Janssen.
06:48Na prática, pelo menos pelas próximas semanas,
06:51tem que ser AstraZeneca e que Janssen só começa a chegar no Brasil
06:53a partir de outubro.
06:56Esta nota técnica, esta orientação de excluir a Coronavac como terceira dose
07:02ou dose de reforço está em linha com o que o senhor conhece,
07:06com a pesquisa que o senhor faz e também aproveitando.
07:10É eficaz, neste caso, tomar terceira dose de Pfizer,
07:16quem já tomou duas doses de Pfizer, não fazer a vacinação heteróloga,
07:20no caso de quem tomou duas doses da Pfizer?
07:25Então, vou começar pela última, que é mais fácil responder.
07:29A gente tem dados de vacinação heteróloga com duas doses,
07:33misturando Pfizer e AstraZeneca,
07:35comparando com Pfizer e Pfizer, com AstraZeneca e AstraZeneca.
07:38A combinação de Pfizer com AstraZeneca gera a resposta mais robusta
07:42do que Pfizer e Pfizer e do que AstraZeneca e AstraZeneca.
07:46Então, é totalmente factível,
07:47poderia ser utilizado, sim, nas pessoas que tomaram Pfizer e Pfizer,
07:53a vacina heteróloga da AstraZeneca,
07:55para garantir, eventualmente, mais proteção.
07:58Mas, eventualmente, se não tiver outra dose,
08:01eu não vejo nenhum problema em estar utilizando
08:03a terceira dose da mesma vacina.
08:06É bom lembrar que, na nota do Ministério,
08:09está acima de 70 anos.
08:11Nessa época, a gente não tinha Pfizer.
08:12Então, a gente não tem nenhuma pessoa que vai estar fazendo Pfizer, Pfizer, Pfizer,
08:18como o Ministério recomenda,
08:20pelo menos nessa nossa nota técnica,
08:23nas pessoas acima de 70 anos.
08:25Acima de 70 anos, a maioria, 75%, 80% dessa população,
08:29tomou Coronavac.
08:30Então, assim, os dados são claros do ponto de vista
08:36de que você combinar, para quem tomou Coronavac,
08:40principalmente, AstraZeneca ou Pfizer,
08:42vai gerar uma resposta imune mais robusta.
08:44O Ministério optou para o Pfizer, preferencialmente,
08:48por conta de estudos comparativos entre Pfizer e Coronavac,
08:51entre Pfizer e AstraZeneca e Coronavac,
08:55mostrando que a Pfizer gera uma resposta ainda mais robusta.
08:59Então, foi uma opção do Ministério,
09:01mas ele deixa claro que ele abre a possibilidade,
09:04na eventualidade, de não ter Pfizer,
09:07poder utilizar AstraZeneca ou Janssen, eventualmente.
09:10Então, não vejo problema usar esquema heterólogo.
09:13O que não seria recomendado é dar uma terceira dose,
09:17ou, nesse caso, de doses, uma dose de reforço
09:20nos pacientes que receberam Coronavac com a mesma Coronavac.
09:24A gente tem um estudo só, que é um estudo chinês,
09:30em doses acima de 60 anos, que é um pré-print,
09:33que não foi publicado, que existe o aumento de 10 vezes
09:37a produção de anticorpo nesse idoso que fez dose de reforço.
09:41Após seis meses, existe negaciação de anticorpo neutralizante,
09:46e nesses idosos que fizeram dose de reforço na China
09:49com a própria Coronavac, houve aumento de 10 vezes
09:52anticorpo neutralizante, ou seja, Coronavac gera anticorpo neutralizante
09:56numa quantidade importante.
10:00Só que quando a gente olha, por exemplo, a dose,
10:03quando a gente utiliza Pfizer, principalmente,
10:06que é os estudos que tem de dose de reforço,
10:08mostra que esse aumento de produção de anticorpo neutralizante
10:11de resposta imune é de 100 a 1.000 vezes maior
10:15do que a segunda dose.
10:17Então, não é que a Coronavac não gera resposta imune,
10:22eventualmente não garante proteção.
10:24É que você usar esquemas heterólogos vai garantir uma maior resposta imune
10:29e, consequentemente, talvez uma proteção mais duradoura,
10:34que você não vai precisar tomar um reforço de Coronavac nos próximos meses.
10:38Então, essa é a lógica do Ministério,
10:40que tem respaldo das sociedades científicas.
10:44Todas as sociedades científicas se manifestaram
10:47e apoiam a nota técnica do Ministério.
10:51Tem seus membros no comitê da Câmara Técnica
10:54que recomendaram isso.
10:55Então, assim, do ponto de vista científico,
10:57não há dúvida que uma terceira dose com esquema heterólogo
11:00seria a melhor alternativa.
11:04Perfeito.
11:05Antes da gente voltar nessa questão da política versus Coronavac,
11:08só um parêntese.
11:09Nesse caso, a nota técnica do Ministério da Saúde
11:11também está em linha, ao menos, com a política de compras,
11:15já que o Ministério da Saúde contratou
11:17100 milhões de doses da Coronavac
11:20e 100,4 milhões de AstraZeneca envasadas pela Fiocruz,
11:24boa parte das quais já foram aplicadas no Brasil.
11:28E o Ministério da Saúde contratou 200 milhões de doses da Pfizer.
11:32Até o fim do ano, a vacina da Pfizer vai ser a vacina mais comum do Brasil.
11:36Então, está chegando, se tudo der certo, vacinas da Pfizer suficientes
11:42para serem aplicadas como primeira dose de quem não se vacinou
11:45e como dose de reforço dos maiores de 70 anos,
11:49já que a quantidade de vacinas da Pfizer até o fim do ano
11:52será o dobro do volume contratado de Coronavac e AstraZeneca.
11:57Professor, voltando então nessa questão da política da Coronavac,
12:00nesta quarta-feira, que é o dia que o governo de São Paulo
12:04sempre faz coletivas de imprensa sobre a pandemia,
12:07o governador João Doria, o diretor do Butantan de Mascovas
12:10e o secretário de Saúde, Jean Gorenstein,
12:12todos alegaram que existe, por parte do Ministério da Saúde,
12:17um viés político contra a Coronavac,
12:19uma decisão política de não usar a Coronavac como dose de reforço.
12:24Como que o senhor avalia esta afirmação?
12:27Existe um preconceito, uma perseguição política contra a Coronavac
12:31por parte do Ministério da Saúde?
12:34Não, em nenhum momento.
12:36A gente tem todas as críticas ao Ministério da Saúde
12:39na condução da pandemia, na compra de vacina em tempo oportuno.
12:43Se a gente tivesse vacina, a gente não estaria discutindo
12:45quem priorizar nesse momento, adolescentes ou idosos.
12:49Mas nessa questão específica, a nota técnica é clara,
12:54tem boas referências, é referenciada por todas as sociedades
12:59científicas brasileiras.
13:01É o que deveria ser feito.
13:02E quando a gente observa os outros países
13:05que aplicaram vacinas de vírus inativados,
13:08ou Coronavac ou Sinopharma, que é outra vacina de vírus inativado,
13:13todas estão utilizando o esquema heterólogo,
13:15com Pfizer e AstraZeneca.
13:16Nenhum país está recomendando para os seus idosos
13:20um reforço com Coronavac.
13:22Então, talvez só a Turquia, que já está no quarto reforço
13:26com Coronavac.
13:28Mas se a gente pegar Uruguai aqui do lado,
13:31para idosos, a recomendação é essa.
13:33Chile, AstraZeneca, para quem tomou Coronavac.
13:36Então, assim, não existe dado que justifique isso.
13:40Os dados vão em outra direção,
13:43vão na direção dos esquemas heterólogos,
13:47para garantir maior proteção, justamente numa população
13:49que já responde menos às vacinas.
13:52As experiências internacionais e a decisão de outros países
13:57vão em outra direção.
14:00E, de alguma forma, o governo de São Paulo
14:03não segue o Programa Nacional de Imunização.
14:06E, assim, fica difícil estabelecer,
14:10principalmente para os idosos extremos,
14:13uma alternativa que São Paulo poderia fazer,
14:16se quisesse acelerar a vacinação nessa população,
14:19e São Paulo vai abrir para mais de 60 anos,
14:22é, por exemplo, reservar a Coronavac
14:24quem tem 60, 70 anos,
14:26onde a resposta imunológica é melhor
14:28do que quem tem mais de 70 anos,
14:31mais de 80 anos, mais de 90 anos, entendeu?
14:33Então, quanto mais velho,
14:35pior vai ser essa resposta imune.
14:36Então, São Paulo poderia ser inovador,
14:39acelerando e antecipando a vacinação de reforço,
14:42talvez usando a Coronavac no público de 60, 70 anos,
14:47que você teria mais segurança
14:48do ponto de vista de garantir proteção
14:51e geração de resposta imune.
14:53Como que o usuário vai ficar?
14:54O Ministério recomenda uma coisa,
14:57São Paulo recomenda que se utilize
15:00qualquer vacina que tiver no posto,
15:02o usuário tem direito ou não?
15:05Ele vai seguir o quê?
15:06A recomendação do Ministério da Saúde
15:08ou do governo de São Paulo?
15:09Isso vai gerar problemas jurídicos importantes,
15:12que não vão ser resolvidos rapidamente
15:15e, de alguma forma, vai atrasar a vacinação.
15:18O que é o pior cenário?
15:20Para ilustrar o que o professor disse,
15:22no Chile, e eu vi esse pronunciamento
15:24do presidente Pinheira,
15:26lá no Chile já estão vacinando os maiores
15:28de 55 anos,
15:30aí quem recebeu duas doses da Coronavac
15:32recebe preferencialmente AstraZeneca
15:34ou Pfizer, no caso dos imunossuprimidos.
15:37Lá no Chile não compraram tantas doses de Pfizer
15:40como aqui no Brasil,
15:42mas lá estão vacinando com dose de reforço
15:45os maiores de 55, já há algum tempo,
15:48aqui no Brasil, pelo Ministério da Saúde,
15:51por hora vão receber doses de reforço
15:52os maiores de 70.
15:54Aí, professor, o senhor entrou num ponto recente
15:57mais quente, porque nesta quarta-feira
16:00o Ministério da Saúde publicou uma nota à imprensa
16:02dizendo que não garante o fornecimento de doses
16:05aos estados que não seguem o Programa Nacional
16:08de Imunização.
16:09O nome de São Paulo não está escrito na nota,
16:11mas fica bem evidente,
16:12porque São Paulo está com duas diferenças importantes
16:15em relação ao programa do Ministério da Saúde
16:18em termos de dose de reforço.
16:19Primeiro, São Paulo tem essa intenção,
16:21esse plano de vacinar com dose de reforço
16:24os maiores de 60 e não os maiores de 70,
16:27como está exigido nacionalmente,
16:28e São Paulo está insistindo que pode ser usada
16:31como dose de reforço também a Coronavac.
16:34Como o senhor avalia esta afirmação
16:37do Ministério da Saúde?
16:38Parece uma ameaça?
16:41O governo federal pode não garantir
16:43o fornecimento de doses porque um estado
16:46está vacinando de maneira diferente?
16:49Existe um planejamento em termos de compra
16:52e distribuição.
16:53Essa distribuição é de forma bem igual
16:57entre os diferentes estados,
16:59baseado na população específica.
17:01O Ministério determinou acima de 70 anos,
17:03preferencialmente faz,
17:05e eventualmente AstraZeneca e Janssen.
17:07Janssen, como você falou,
17:08não vai ter disponível nesse momento.
17:11AstraZeneca, basicamente,
17:12a gente está usando para fazer segunda dose,
17:15que muita gente tomou segunda dose de AstraZeneca.
17:17AstraZeneca e o volume, muito provavelmente,
17:20vai sobrar muito poucas doses de AstraZeneca
17:23para fazer dose de reforço ou terceira dose.
17:26Então, basicamente, essa população vai ser vacinada
17:29como dose preferencial,
17:31como a própria nota técnica do Ministério descreve,
17:34com Pfizer.
17:35Beleza.
17:35Você começa,
17:37você programou um número específico de vacinas
17:39para enviar para cada estado.
17:40Se muitas pessoas de 60 a 70 anos
17:44se vacinarem com Pfizer,
17:46você não vai ter Pfizer para cobrir os idosos
17:49naquele estado de 70 a 80,
17:52que era o público-alvo do Ministério.
17:53O Ministério vai mandar o número de vacinas
17:55necessárias para fazer as doses de 70 a 80.
18:00Então, isso gera um desequilíbrio
18:02e, eventualmente,
18:04não vai ter essa imunizante específica.
18:06Eu acho que a Coronavac não vai faltar.
18:08O Butantan entregou um lote
18:09bastante expressivo nos últimos meses
18:12e a gente tem bastante Coronavac disponível.
18:16E São Paulo importou,
18:18para São Paulo,
18:19São Paulo importou doses prontas da Sinovac.
18:21Exato.
18:22Então, assim,
18:23Coronavac não vai faltar.
18:25Mas o que vai acontecer?
18:26Muitos de 60 a 70,
18:28eventualmente,
18:29vão se vacinar com Pfizer
18:30e a gente vai ter pessoas de 80 a 90
18:33se vacinando com Coronavac,
18:35que não seria o público ideal
18:37para ter repouso com Coronavac
18:40acima de 80 anos, 90 anos.
18:43Excelente, professor.
18:44E falando em escassez de vacinas,
18:46quantidade de vacinas,
18:48a gente tem o tópico da lei orçamentária.
18:51O governo federal enviou, nesta semana,
18:54um projeto de lei orçamentária anual,
18:56a PLOA, ou PLOA,
18:57que reserva quase 4 bilhões de reais
19:03para a compra de vacina em 2022.
19:06Sendo que só os contratos vigentes hoje,
19:08das quatro marcas,
19:10eles somam praticamente 22 bilhões de reais.
19:13Se a gente somar,
19:14Coronavac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen.
19:17Quer dizer, é um volume bem menor
19:20do que o volume contratado para 2021.
19:24Menos de 4 bilhões de reais para 2022.
19:28Na sua avaliação,
19:30este volume está adequado
19:32porque a gente deve vacinar apenas
19:34com doses de reforço?
19:35Ou não?
19:36Pode surgir outras variantes?
19:38O que o senhor acha desse volume
19:39que é significante menor
19:43do que o volume para vacinas em 2021?
19:45Eu acho que a gente tem que fazer uma conta
19:49que ainda não está finalizada.
19:52Quantas doses que a gente contratou em 2021
19:56vão ser entregues em 2021?
19:58No final do ano,
19:59a gente contratou mais de 500 milhões de doses,
20:02eu acho,
20:02400, 500 milhões de doses de vacina.
20:05Isso dá para a gente vacinar
20:06toda a nossa população,
20:07ofertar doses de reforço também.
20:09No final do ano,
20:12quanto a gente realmente foi entregue
20:14pela Pfizer,
20:15pela Fiocruz,
20:16e quanto ficou a ser entregue em 2021?
20:20Ou 2022, desculpa.
20:222022.
20:24E aí a gente pode pensar nessa conta.
20:25Pelo contratar,
20:26se tudo der certo,
20:28vai dar 438 milhões de doses em 2021,
20:32porque é 100 milhões AstraZeneca,
20:35100 milhões Coronavac,
20:36200 milhões Pfizer,
20:3838 Janssen.
20:39Os 38 da Janssen,
20:41em tese,
20:42se não tiver dose de reforço,
20:44eles são diferentes
20:44porque é dose única.
20:46Os outros a gente teria que dividir por dois,
20:48mas daria 438 milhões de doses.
20:52400 dessas são em duas doses,
20:55então daria para vacinar 238 milhões de pessoas.
20:5828 milhões de pessoas.
21:00Em 2021.
21:01Em 2021.
21:03Um ciclo só,
21:03e aí eu não estou falando de doses de reforço.
21:05É, um ciclo só,
21:07238 milhões,
21:08a gente tem que tirar os menores de 12 anos,
21:11que não são público elegível da nossa população.
21:15Então, assim,
21:15sobram as doses que dá para fazer reforço.
21:19Se vai precisar de doses de reforço no futuro,
21:23é uma pergunta em aberto.
21:25A gente sabe que está precisando
21:28para essa população mais vulnerável,
21:30idosos e imunossuprimidos.
21:34Se tiver uma nova variante,
21:37e essa variante, de alguma forma,
21:39tiver mais escape de resposta imune,
21:42e for necessário uma atualização da vacina,
21:45aí a gente vai ter que vacinar mais.
21:47Vai ter que vacinar, talvez,
21:48revacinar toda a população.
21:50Mas, por enquanto,
21:52o que a gente sabe
21:55é que a gente não precisa
21:57revacinar toda a população.
22:00É só esses grupos prioritários.
22:02E pode ser que,
22:04na população mais jovem,
22:05essa imunidade dure muito mais,
22:08porque a resposta é muito mais robusta.
22:10Então,
22:11a consideração que eu faço
22:12é do imponderável.
22:13A gente não tem certeza
22:15se vai surgir uma nova variante,
22:17que vai ser necessário
22:18revacinar toda a população.
22:21Se não for necessário
22:22vacinar toda a população,
22:24eu acho que metade
22:26desse valor empenhado,
22:29talvez seria necessário
22:30entre 5 e 10 bilhões
22:32para a gente ter uma garantia
22:35de ter vacinas para 2021.
22:37A vantagem é que,
22:39com a Fiocruz,
22:40a Fiocruz,
22:41a partir de 2022,
22:44ela vai ter uma produção própria.
22:45E, de alguma forma,
22:47isso dá certa flexibilidade
22:50para o Ministério da Saúde
22:51e fazer contratos mais rápidos
22:53para atender a sua necessidade.
22:55Então,
22:56do que está empenhado para a Lua,
22:58eu acho pouco.
22:59Respondendo sua pergunta,
23:01eu acho pouco.
23:02Acho que deveria ter mais recursos
23:04já garantidos
23:05para as vacinas.
23:06Mas a gente sabe
23:07que futuramente
23:08pode ter remanejamento
23:10de recursos,
23:11se for necessário.
23:12Esse orçamento
23:13pode ser aumentado
23:14para garantir,
23:16eventualmente,
23:17dose de reforço
23:18para toda a população.
23:19Não é isso
23:20que o Ministério da Saúde
23:21está programando.
23:22A gente não tem dados ainda
23:24para a gente poder afirmar
23:27que vai ser necessário
23:28para toda a população
23:29se vacinar novamente.
23:30Então,
23:31a gente tem uma incerteza
23:32muito grande
23:33e é muito difícil
23:34a gente programar
23:34o dinheiro público
23:36e manter alocado
23:38para um propósito
23:40sem realmente
23:41uma necessidade
23:42óbvia
23:43em relação a isso.
23:46O senhor falou de dados,
23:47inclusive,
23:48literalmente,
23:48essa é a resposta
23:49da assessoria de imprensa
23:50do Ministério da Saúde
23:51que me disse
23:52quando perguntava
23:53sobre essa questão
23:54do orçamento de vacinas.
23:55Com relação às vacinas,
23:56a pasta aguarda
23:57os resultados
23:58de estudos em andamento
23:59para avaliação
24:01das necessidades
24:02para o próximo exercício.
24:03Quer dizer,
24:04eles mesmos estão dizendo,
24:05a gente ainda não tem
24:05os estudos para saber
24:06de quanta vacina
24:07que a gente vai precisar.
24:09A professora,
24:09se me permite
24:09uma pergunta bônus
24:11antes da gente
24:11ir para o encerramento,
24:13recentemente,
24:14teve esse pedido
24:15do Butantan
24:15para autorizar
24:17o uso da Coronavac
24:18em crianças.
24:19Na China,
24:20já se usa a Coronavac
24:21e a outra,
24:23a Sinopharm,
24:24em crianças,
24:25alguns países,
24:27então,
24:27já estão vacinando crianças.
24:29O que a gente já sabe
24:30sobre a vacinação
24:31de Covid
24:32em crianças?
24:34Crianças já estão
24:34um monte de vacina,
24:36difteria,
24:36tetra,
24:37coquelude,
24:37paralisia infantil,
24:38sarampo,
24:39e Covid?
24:40O que a gente já sabe
24:41sobre vacinação
24:42de Covid
24:42em crianças?
24:44A gente sabe
24:45que as crianças
24:46têm menor risco
24:48de hospitalização
24:48em óbito
24:49que os idosos,
24:50principalmente,
24:52e é por isso
24:53que nesse debate,
24:54expandir a vacinação
24:55com Pfizer
24:56para adolescentes
24:57ou dar dose
24:58de reforço
24:58para os idosos,
24:59eu optaria
25:00pela dose
25:01de reforço
25:01em idosos,
25:02claramente,
25:02para garantir
25:03menos hospitalização
25:04em óbito,
25:04mas a gente
25:05não pode
25:06deixar as crianças
25:07sem serem vacinadas.
25:08Primeiro,
25:09porque
25:10mesmo
25:12nessa condição
25:16de menor risco
25:16para hospitalização
25:17em óbito,
25:18o número
25:18de crianças
25:19que vieram
25:20a falecer
25:21pelo Covid
25:21foi maior
25:22do que qualquer
25:23outra doença
25:24imunoprevenível
25:27no Brasil,
25:28menor que pneumonia,
25:29menor do que influenza,
25:30Então, assim,
25:31comparando
25:32com outras doenças
25:35da infância,
25:36Covid matou
25:37muito a criança.
25:38Comparando
25:38com outra faixa etária,
25:39não,
25:40Covid matou
25:40muito mais
25:41idosos,
25:42mas a gente
25:43tem que sim
25:44ofertar
25:45essa vacina
25:45para as crianças,
25:47garante maior proteção
25:48contra as formas graves
25:49e reduz 50%
25:51a transmissão.
25:52Se a gente
25:52quer diminuir
25:53de alguma forma
25:53a transmissão
25:55e proteger
25:56mais as pessoas
25:57contra hospitalização
25:58em óbito,
25:59a gente tem que vacinar
25:59o maior número
26:00de pessoas possíveis
26:02nesse limite
26:03de 12 anos,
26:04mas no futuro
26:04a gente vai ter vacina
26:05que crianças
26:07de 5,
26:08de 3 anos
26:09vão poder utilizar.
26:10E aí eu acho
26:11que a Coronavac
26:12seria excelente,
26:13seria a melhor vacina
26:15para crianças,
26:16para adolescentes,
26:17adultos jovens.
26:18Por quê?
26:18Porque é a vacina
26:19que tem menos
26:20evento colateral,
26:22eventos adversos,
26:24e que para essa
26:25população jovem
26:26ela gera uma resposta
26:27imune muito robusta.
26:29Então,
26:29acho que é um nicho
26:30muito interessante
26:31para esse tipo
26:32de vacina,
26:33que é a tecnologia
26:34mais antiga
26:35no mundo,
26:36comparando com as outras
26:37que nós temos,
26:38mas que tem pouca
26:39reação adversa.
26:41O que aconteceu
26:43ainda é que o Butantan,
26:44nesse pedido da Anvisa,
26:45pelo menos ainda não conseguiu
26:46convencer,
26:47apresentar resultados
26:48consistentes
26:49que, por enquanto,
26:50que justificassem
26:51vacinar crianças
26:52a partir de 3 anos,
26:53mas talvez
26:54no futuro,
26:56quantos estudos?
26:57É isso que pode acontecer?
26:57O senhor acha que ainda
26:59tem que ter mais
27:00ensaios clínicos
27:01com crianças?
27:02O que tem que acontecer
27:03para a Anvisa
27:04ser convencida
27:05de que vale a pena
27:07autorizar a Coronavac
27:08em crianças
27:08a partir dos 3 anos,
27:10por exemplo?
27:10Falta os dados clínicos
27:12nessa população,
27:14principalmente em relação
27:15à segurança
27:15dos estudos de fase 3.
27:17Os estudos de fase 1 e 2
27:18são estudos muito pequenos
27:20que não permitem ter a certeza
27:22em relação à segurança.
27:23Então,
27:24é produzir esses dados.
27:25Eu acho que
27:27o Butantan,
27:28o próprio Sinovac,
27:29poderia rapidamente
27:30fazer um estudo
27:31de fase 3
27:32em crianças,
27:33porque eu acho que
27:33é uma alternativa
27:34bem interessante.
27:35A gente sabe
27:36que a Pfizer,
27:37que a Moderna
27:38e a Janssen,
27:39já estão fazendo estudos
27:40de fase 3 em crianças
27:42e vão estar liberando
27:43essa vacina
27:43muito provavelmente
27:44nos próximos meses.
27:46Então,
27:47é uma pena
27:47que a gente não tenha
27:49esses estudos de fase 3
27:50sendo conduzidos
27:51ou finalizados
27:52pelo Butantan
27:54e pela Sinovac,
27:56que é a empresa chinesa.
27:59Sim,
27:59eu achei...
27:59Eu falei Sinovac,
28:00é Sinovac,
28:03porque Sinovac
28:03é outra vacina
28:04de vírus inativado.
28:05É bom corrigir.
28:07Isso.
28:08A Sinovac
28:09ficou mais famosa
28:11porque vendeu
28:12muito cedo
28:13na pandemia
28:14para os Emirados
28:14Árabes Unidos.
28:15Exato.
28:16A vacina da Sinovac
28:17e a Sinovac
28:18faz a Coronavac.
28:20As duas
28:20empresas são chinesas.
28:22Exato.
28:23Eu me confundi.
28:24Professor,
28:24o que eu não perguntei
28:26sobre doses de reforço
28:27e vacinas em geral
28:28e o nosso leitor
28:30precisa saber?
28:32Eu acho que a gente
28:33fez um bate-papo legal,
28:35acho que está bem claro,
28:36uma linguagem bem simples.
28:39Tem uma questão
28:41que é importante
28:41ponderar aqui,
28:42que a gente não tratou
28:43isso com mais detalhes.
28:46É lógico
28:47que no contexto
28:48de falta de vacina,
28:51uma dose de reforço
28:52de qualquer vacina
28:53é importante.
28:54Isso não tem
28:55dúvida em relação
28:56a isso.
28:57A gente discutiu muito
28:58que o Ministério da Saúde
29:00está certo,
29:01principalmente
29:01para essa população
29:02de 70, 80 anos.
29:03se o Ministério
29:05tem essas doses.
29:06Mas,
29:07assim,
29:08no intuito
29:09de avançar
29:10e proteger
29:11todos os idosos,
29:13assim,
29:13não tem nenhum problema
29:14a gente ter
29:14poder avançar
29:16com o Coronavac
29:17nos mais jovens,
29:19nos idosos
29:21entre 60 e 70 anos,
29:23ou eventualmente
29:24nas pessoas
29:24acima de 50 anos,
29:26se você quiser
29:26garantir maior proteção.
29:28Eu acho que
29:30a combinação
29:31de estratégias
29:32é importante.
29:33A gente está discutindo
29:34do ponto de vista técnico,
29:36individual,
29:37qual seria
29:37a melhor vacina
29:39como dose de reforço.
29:40Do ponto de vista coletivo,
29:41o que importa
29:42é ofertar vacina,
29:43né?
29:43E, dessa forma,
29:45ofertar vacina
29:46para adolescentes,
29:47ofertar dose de reforço
29:48para os idosos,
29:49para o imuno suprimido,
29:51mesmo que a vacina
29:52não garanta
29:52uma proteção duradoura,
29:54vai garantir
29:55uma proteção
29:56até a gente ter mais doses,
29:57até poder ofertar
29:58outro tipo
29:58de vacina específica.
30:00Então,
30:00essa ponderação
30:01é importante.
30:02A gente sabe
30:03que existe
30:03uma discussão técnica
30:04entre o Ministério
30:05e o Governo de São Paulo.
30:06É uma discussão
30:07que, nesse caso,
30:08o Ministério da Saúde
30:09está correta,
30:10mas, ao mesmo tempo,
30:12a gente tem que entender
30:13que é importante
30:14expondir a vacinação
30:15e chegar
30:16a maior número de pessoas.
30:19Eu conversei
30:20com o pesquisador
30:21Júlio Croda,
30:22ele é médico
30:23infectologista,
30:24pesquisador da Fiocruz
30:26e professor
30:26da Universidade Federal
30:27do Mato Grosso do Sul.
30:29Professor,
30:29muito obrigado
30:30pelo seu tempo.
30:31É um prazer
30:32estar com vocês
30:33aí do Antagonista.
30:34Tchau, tchau, tchau, tchau, tchau.

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