- 20/06/2025
Em entrevista exclusiva a 'O Antagonista', a infectologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin, derruba a tese da "imunidade do rebanho" sem vacina, incentivada por Jair Bolsonaro e seus assessores. E também descarta o uso da hidroxicloroquina.
"É uma falácia e muito perigosa. Não temos uma vacina, então essa imunidade teria que ser conseguida com as pessoas se infectando." No caso da Covid-19, seria necessária a contaminação de 70% a 90%. "Estamos falando de, no mínimo, 140 milhões de brasileiros."
Segundo ela, considerando uma taxa de mortalidade conservadora, de 0,5% a 0,7%, teríamos ao final do processo pelo menos "1 milhão de mortos" - um genocídio.
Garret, que acompanha nos EUA os estudos referentes a tratamentos para a Covid-19, também descarta o uso da hidroxicloroquina. "Já temos três estudos concluídos¹. Nenhum mostrou eficácia da hidroxicloroquina. Um tivemos que parar porque houve um número maior de óbitos."
A infectologista explica ainda que a pesquisa sobre infectados em Nova York, divulgada pelo governador Andrew Cuomo, foi manipulada no Brasil.
Constatou-se, sim, que 64% das pessoas contaminadas pelo coronavírus estavam em isolamento domiciliar. "Não foi mostrado que, a grande maioria, era de idosos que moravam com pessoas que não estavam se isolando."
***
¹Links para os estudos citados sobre hidroxicloroquina:
'Outcomes of hydroxychloroquine usage in United States veterans hospitalized with Covid-19'
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.16.20065920v1.full.pdf
'Observational Study of Hydroxychloroquine in Hospitalized Patients with Covid-19'
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2012410
'Association of Treatment With Hydroxychloroquine or Azithromycin With In-Hospital Mortality in Patients With COVID-19 in New York State'
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2766117
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"É uma falácia e muito perigosa. Não temos uma vacina, então essa imunidade teria que ser conseguida com as pessoas se infectando." No caso da Covid-19, seria necessária a contaminação de 70% a 90%. "Estamos falando de, no mínimo, 140 milhões de brasileiros."
Segundo ela, considerando uma taxa de mortalidade conservadora, de 0,5% a 0,7%, teríamos ao final do processo pelo menos "1 milhão de mortos" - um genocídio.
Garret, que acompanha nos EUA os estudos referentes a tratamentos para a Covid-19, também descarta o uso da hidroxicloroquina. "Já temos três estudos concluídos¹. Nenhum mostrou eficácia da hidroxicloroquina. Um tivemos que parar porque houve um número maior de óbitos."
A infectologista explica ainda que a pesquisa sobre infectados em Nova York, divulgada pelo governador Andrew Cuomo, foi manipulada no Brasil.
Constatou-se, sim, que 64% das pessoas contaminadas pelo coronavírus estavam em isolamento domiciliar. "Não foi mostrado que, a grande maioria, era de idosos que moravam com pessoas que não estavam se isolando."
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¹Links para os estudos citados sobre hidroxicloroquina:
'Outcomes of hydroxychloroquine usage in United States veterans hospitalized with Covid-19'
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.16.20065920v1.full.pdf
'Observational Study of Hydroxychloroquine in Hospitalized Patients with Covid-19'
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2012410
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NotíciasTranscrição
00:00Boa noite, bem-vinda ao Gabinete de Crise, doutora Denise Garrett, vice-presidente do
00:05Instituto Sabin, a senhora que trabalhou aí 20 anos no Centro de Controle de Doenças
00:10em Atlanta.
00:12Olha, eu agradeço a disponibilidade do seu tempo, a gente está enfrentando uma crise
00:18mundial em função da pandemia da Covid-19 e aqui, especialmente no Brasil, estamos
00:26enfrentando uma crise política em função justamente da forma como lidar com essa pandemia.
00:32O presidente Jair Bolsonaro e alguns dos seus assessores defendem a teoria da imunização
00:39do rebanho e eu sei que a senhora pensa bem diferente e, inclusive, tem alguns cálculos
00:45assustadores sobre a colocação em prática dessa teoria sem uma vacina.
00:51Por favor, pode nos explicar?
00:56Prazer muito grande estar aqui com vocês.
00:59Cláudio, obrigada pelo convite.
01:01É sempre importante estar difundindo informação e, como médica epidemiologista, eu vejo meu
01:10dever ser a voz da ciência nessa situação.
01:12E imunidade de rebanho é uma falácia, é um erro grande e é uma falácia muito perigosa
01:21por vários fatores e eu posso explicar.
01:25Mas, em resumo, o que é imunidade de rebanho?
01:29É você, quando existe um número suficiente de pessoas na população que já são imunes
01:36àquela doença, isso automaticamente levaria à diminuição da transmissão da doença
01:43ou até mesmo parar a transmissão da doença.
01:48Por que isso é uma falácia para a COVID-19?
01:52Porque, como você mencionou, primeiro, nós não temos uma vacina.
01:57Essa imunidade teria que ser conseguida através das pessoas se infectando,
02:02adoecendo com a COVID-19, para ficar imune.
02:06Exato.
02:06E são várias variáveis nessa situação.
02:11E eu vou começar por essa.
02:13É o pressuposto que as pessoas que têm a COVID-19, elas se tornam imunes à COVID-19.
02:23Isso é um pressuposto.
02:24Como essa doença é muito recente, a gente ainda não tem essa informação
02:30que realmente você está imune à doença.
02:34O que acontece?
02:35Nós sabemos que nós temos anticorpos contra a COVID que são produzidos.
02:40E que esses anticorpos, eles podem e estão provavelmente conferindo uma certa imunidade à doença.
02:47O nível de imunidade que esses anticorpos estão conferindo, a gente ainda não sabe.
02:53E por quanto tempo essa imunidade vai durar, a gente também ainda não sabe.
03:01Então, por exemplo, se essa imunidade durar, não durar o suficiente, até quando a transmissão acabou,
03:10essas pessoas, elas poderiam estar se reinfectando no futuro, se houver uma perda dessa imunidade.
03:16Então, esse é o primeiro fator.
03:20Quer dizer, a gente ainda não tem a garantia de que a pessoa fique imune de forma permanente.
03:26Exatamente.
03:27A gente não sabe por quanto tempo essa imunidade dura.
03:30Por exemplo, quando a gente olha para a SARS, para o surto de SARS, a gente sabe que houve uma certa imunidade
03:37e que durou praticamente uma média de dois anos.
03:41Para esse coronavírus, a gente não sabe.
03:44O que nós temos visto é que os pacientes, eles desenvolvem anticorpo.
03:48Alguns pacientes, em alguns pacientes, a gente vê que esses anticorpos, eles vão desaparecer com alguns meses depois,
03:58mas como ainda é um tempo muito curto de segmento, não existe ainda dados concretos sobre isso.
04:05Então, esse é um ponto.
04:08O outro ponto que a gente pensa sobre isso é o seguinte, quantas pessoas a gente precisaria ter infectadas para se criar essa imunidade rebanho?
04:23Essa é a outra pergunta.
04:24Porque isso varia com a taxa de transmissão do vírus.
04:30Um vírus que tem uma transmissão muito alta, ele precisa de um grande número da população infectado para poder parar a transmissão.
04:40Por exemplo, o vírus do sarampo.
04:42É cerca de 90 a 99% da população que vai precisar pegar para se conseguir imunidade rebanho sem a vacina.
04:51No caso da Covid, se eu não me engano, até o ex-ministro Rosmar Terra, que quer ser ministro da Saúde a todo momento,
05:01vem dizendo que precisaria pelo menos 70% de contaminação de 70% da população.
05:07É isso?
05:08Da Covid, o que os estudos mostram é que precisaria de, no mínimo, 70 a 90% da população contaminada.
05:17Então, vamos pensar nisso comigo, Cláudio.
05:2170%, vamos ser conservadores aqui e pegar os números baixos.
05:2570% da população brasileira.
05:28Eu sou ruim em matemática.
05:30Seria o quê?
05:31140 milhões.
05:33147?
05:34É 200 e é.
05:35147.
05:36215 milhões é o total.
05:37Então, nós estamos falando o seguinte, se formos deixar a doença correr solta, sem as medidas de prevenção que nós conhecemos e que funcionam,
05:50como distanciamento social, lavar as mãos, usar as máscaras, se vão deixar o povo se infectar,
05:57nós estamos falando de, no mínimo, 140 milhões de brasileiros infectados pela Covid.
06:04E isso para conseguir algo que a gente nem sabe se é 70% mesmo, pode ser 90%.
06:13Bom, considerando a taxa de mortalidade, a gente está falando de o risco de termos quantos mortos para uma contaminação de 140 milhões de brasileiros?
06:23Essa é uma ótima pergunta.
06:25Essa taxa de mortalidade, ela está variando muito de país para país, como vocês devem saber.
06:32Alguns países morrem mais gente por milhão, em outros países morrem menos gente por milhão.
06:38Essa taxa, ela varia.
06:41Vamos dizer que eles se falam, tem gente que fala que vai de 0.3%, 0.4%, 0.2%, até 1% ou mais de 1%, 2%.
06:52O problema dessa taxa é que, além de não se ter um número fixo, é que no minuto que você libera o sistema de saúde, fale.
07:04E nessa situação, a taxa, ela aumenta.
07:07Pode aumentar.
07:08Mas vamos, mais uma vez aqui, ser conservadores e assumir uma taxa muito baixa, tá?
07:17Vamos assumir o quê?
07:190,5%, 0,7%, o que eu acho que é muito baixo para o que está acontecendo no Brasil e o sistema de saúde.
07:30A provável falência do sistema de saúde, número de leis respiradores disponíveis, principalmente em cidades de interior, que não existe muito.
07:41Mas vamos pensar em 0,5%, 0,7%.
07:45Nós estamos falando de, Cláudio, nós estamos falando de, no mínimo, um milhão de mortes.
07:54800 mil, um milhão ou mais, isso é o mínimo, por baixo.
08:00É um assustador, é absolutamente assustador.
08:03É inaceitável.
08:05É inaceitável.
08:06É literalmente você conduzir a população brasileira para o matador.
08:12Para quem está, eu digo que quem está defendendo essa teoria, ou é ignorante,
08:19e quando eu falo ignorante, ele não conhece a ciência, não é epidemiologista, não sabe do que está falando,
08:27ou não tem nenhuma sensibilidade à vida do ser humano.
08:30Bom, faz sentido...
08:31Porque é inaceitável.
08:33O outro detalhe, que nós falamos de mortes.
08:37Sim.
08:38Não falei ainda das sequelas nas pessoas que sobrevivem à doença.
08:43É certo que a grande maioria vai sobreviver à doença, mas o que nós estamos vendo,
08:50estamos vendo aqui nos Estados Unidos, Cláudio, por exemplo, 12%, 12% dos pacientes que se recuperaram,
09:01que estavam hospitalizados, estão apresentando insuficiência cardíaca.
09:05Na Itália, fizeram um estudo que seguiram 1.200 pacientes por três meses.
09:14E eles constataram uma altíssima incidência de Guillain-Barré.
09:18Guillain-Barré, que é uma doença autoimune, onde você começa...
09:23Os anticorpos começam a atacar os nervos, você começa com formigamento e acaba com o corpo todo paralisado.
09:31Então, nós estamos falando...
09:35Existem várias...
09:36É uma doença muito recente.
09:39Nós temos acompanhamento de quê?
09:41Seis meses, no máximo, de pacientes.
09:43A gente não sabe o que vai acontecer com esses pacientes.
09:46Temos visto doença de Kawasaki, temos visto Guillain-Barré, temos visto coagulopatias,
09:52temos visto infarto de insuficiência cardíaca, temos visto várias, várias...
10:02Sequelas, né?
10:04Doenças correlacionais.
10:05Temos visto várias sequelas e, então, além das mortes que nós falamos,
10:12nós também temos uma porcentagem grande de sequela que a gente está vendo
10:16e ainda mais que ainda não sabemos.
10:19E todo o impacto que isso pode ter no próprio sistema de saúde.
10:23CD Silva, alguma pergunta?
10:26Sim, doutor.
10:27Eu tenho uma pergunta sobre a dificuldade de atingir a imunidade de rebanho.
10:31A gente tem estudos dessa semana que, em Madrid, que é um lugar que demorou
10:35para tomar medidas de distanciamento social, a prevalência da doença,
10:40em um estudo conduzido nesta quarta-feira, era de 11%.
10:45E mesmo em Nova York, que é um lugar que teve um custo humano muito alto
10:49e a crise em Nova York está pegando muito sério,
10:52o exame de 1.300 pessoas encontraram anticorpos em 21% das pessoas.
10:58Então, mesmo em cidades como Madrid e Nova York, estão vendo ainda porcentagens
11:02de infecção muito aquém dos 70% ou mais que são propostos pela turma
11:10da imunidade de rebanho sem vacina.
11:12Por que um vírus, mesmo tão infeccioso, ele ainda tem dificuldade de passar
11:17de 20% de contaminação?
11:21Tá.
11:22Esses dados que você citou foram todos de locais que estavam,
11:29que estavam uma epidemia muito, um outbreak, uma epidemia muito ativa,
11:34que é Nova York e Madrid.
11:36O comportamento, ele varia dependendo do país, do estado, da cidade.
11:44E o que acontece, o CD, o que acontece é que quando a gente fala
11:53de imunidade de rebanho sem vacina, isso mesmo que a gente atinja
11:59a contaminação de 70% da população, isso não significa que a transmissão
12:06vai parar.
12:08Porque, eu vou te dar um exemplo de um carro em movimento.
12:12Se eu estou dirigindo um carro em movimento e eu tiro o pé do freio,
12:17o carro não vai parar necessariamente quando eu tiro o pé do freio.
12:21Então, a transmissão vai continuar ocorrendo, mesmo depois.
12:28E é por isso que quando se fala em imunidade de rebanho, nós falamos
12:32em imunidade de rebanho com vacina.
12:35E não de deixar a população adoecer e deixar solto dessa maneira,
12:41sem uma vacina.
12:42Doutora, a gente tem um outro debate intenso aqui no Brasil.
12:47ele tomou novo fôlego na última semana em função de informações
12:54que surgiram, especialmente em Nova York, de que até 60% das pessoas
12:59que estavam se contaminando, estavam apresentando a Covid-19,
13:02estavam em quarentena, estavam reclusos.
13:05Então, o pessoal ficou falando, olha, o efeito é o contrário.
13:10Se você ficar do lado em casa, vai piorar a contaminação, etc.
13:15Quer dizer, tentando justamente se criar um argumento absolutamente oposto
13:21ao senso comum, pelo menos ao que se tem de entendimento agora,
13:26considerando que a doença é uma doença nova, como a senhora mesmo frisou.
13:32Afinal, esses dados são confiáveis?
13:35Qual o tipo de conclusão que a gente pode tirar diante de uma situação
13:38como essa que foi entendida aí, que está acontecendo em Nova York?
13:43Fiquei muito feliz de você ter feito essa pergunta, porque realmente
13:48isso foi uma conferência do governador, do Como, que eu, aliás, assisti
13:57a press conference, como é que fala aí no Brasil?
14:01A coletiva de imprensa.
14:02A coletiva, foi uma coletiva do Como, que eu assisti e realmente
14:07o dado que ele apresentou, e é o dado, foi que 64% das pessoas hospitalizadas,
14:16elas estavam em casa e isoladas.
14:20E isso foi o que foi mostrado aí no Brasil.
14:23O que não foi mostrado foi o resto da apresentação dele, que é o seguinte,
14:29são 64% das pessoas hospitalizadas realmente estavam em casa, estavam isoladas e eram idosos,
14:40na grande maioria dos hospitalizados eram idosos, que moravam com pessoas que não estavam se isolando.
14:48Ou seja, foi uma total, uso errado, é aquilo do texto fora do contexto, vira pretexto.
15:00Então, é verdadeiro que eram idosos e isolados, mas também verdadeiro que moravam com pessoas que eram que saíam.
15:11Então, esses hospitalizados não eram trabalhadores essenciais, não estavam saindo,
15:16mas moravam com pessoas que se infectaram através dessas pessoas.
15:22O que eu acho que chama ainda mais a atenção, enfatiza ainda mais a necessidade do distanciamento social,
15:31principalmente porque pessoas que estão em casa estão se contaminando através de familiares
15:38que moram com eles e que estão saindo, principalmente quando nós estamos falando de idosos nessa situação.
15:45Então, é uma informação que foi truncada, só apresentaram a metade da fala do como,
15:52a fala inteira do como ele explica quem são essas pessoas e não é, de nenhuma maneira,
15:58um argumento contra o distanciamento social, aliás, é um argumento a favor do distanciamento social.
16:05Quer dizer, no máximo que se poderia ter, aí seria algum tipo de regime que você mantivesse esses idosos isolados.
16:12Mas aí, como faz com as famílias, com as próprias famílias, como o Estado vai conseguir fazer esse tipo de segmentação?
16:21Você deu alguma pergunta?
16:23Sim, é sobre o poder, a questão da reinfecção.
16:28A gente sabe que o vírus da influenza, ele tem diferentes cepas e por isso a pessoa precisa tomar vacina todo ano
16:34para poder ser imunizada.
16:37E tem outras vacinas que a gente só toma uma vez.
16:40Qual que é o possível papel, o que a gente já sabe hoje sobre as diferentes cepas do novo coronavírus
16:46e qual o papel que elas podem ter na utilidade ou não de uma única vacina?
16:50Ótima pergunta também.
16:54Exatamente isso.
16:56O que a gente tem visto, CD, o que nós vimos nos pacientes da China é que não houve reinfecção.
17:04Então, existe uma certa proteção ali que a gente não sabe de quanto e por quanto tempo,
17:10mas até agora não há caso de reinfecção.
17:13A situação que você descreveu é bem possível de haver uma mutação,
17:19porque o que acontece com o vírus da influenza é que é um vírus de uma taxa muito alta de mutação
17:26e nós temos que prever a vacina que vai ser naquele ano.
17:31Já houve mutações no vírus da COVID.
17:34Já tem descrito, eles já sequenciaram o vírus, já tem descrito no mínimo duas mutações de artigos que eu li.
17:41Podem ser que tem mais.
17:44A nossa sorte é que essas mutações foram bem pequenas
17:48e não foram mutações que poderiam mudar esse reconhecimento do vírus
17:55em termos da pessoa que já foi infectada.
17:58Então, nesse momento, esse é o tipo de informação que nós temos.
18:02Doutora, é...
18:03Porque nos dá esperança de que possa haver uma única vacina que funcionaria para todo mundo,
18:08até onde a gente sabe. Uma única vacina daria para todas as variedades.
18:14Sim, sim, com certeza.
18:16E que bom que você falou de vacina.
18:18Como vocês sabem, eu trabalho no Instituto de Vacina e estou bem envolvida...
18:22Eu ia perguntar isso.
18:24O Instituto Seib está fazendo...
18:26Que tipo de trabalho, aproveitando já para colocar nessa pergunta,
18:30que tipo de trabalho o Instituto Seib está fazendo especificamente em relação à COVID-19?
18:34Existem várias vacinas que estão sendo testadas no momento.
18:41Só aqui, na minha área de Washington, Maryland, na Universidade de Maryland,
18:48um parceiro nosso, eles estão testando quatro vacinas ao mesmo tempo.
18:54Agora, eu não vou entrar aqui no processo de vacina, mas é um processo demorado,
19:00são quatro fases até que se chegue a uma vacina e eles estão na fase 2, que é a mais rápida.
19:07A fase 2 é a fase que olha a segurança da vacina em termos de ter efeito colateral
19:13e olha também quão imunogênica essa vacina é.
19:16Depois da fase 2, eles passam para a fase 3, que olha a eficácia da vacina e essa fase é mais demorada.
19:22Então, existem várias vacinas sendo testadas, existe também, Cláudio, vários medicamentos sendo pesquisados.
19:33A comunidade científica quase inteira, do mundo inteiro, está voltada para vacina e tratamento de COVID.
19:41Todos os projetos, eu tinha projetos em outras coisas na Ásia, nós mudamos tudo para a COVID.
19:47Por quê? Porque é urgência. Então, eu sou otimista que nós vamos ter resultados.
19:56O vírus já mostrou que ele responde a certo tipo de tratamento.
20:01Então, existe esperança, existe uma luz no fim do túnel.
20:06Não precisamos fazer imunidade rebanho.
20:09Nós temos que, no momento agora, preservar as vidas o máximo que nós pudermos.
20:15E como que nós sabemos que preservamos as vidas?
20:19É o distanciamento social, é lavar as mãos, uso de máscara, e isso nós todos sabemos.
20:27Agora, esse distanciamento social é para sempre?
20:30Não, não é para sempre.
20:32Mas ele dá ao país o tempo de se preparar.
20:36Não só o sistema de saúde, mas também para uma reabertura.
20:40A reabertura... Desculpa.
20:42Não, não, imagina. Eu tenho duas perguntas na sequência.
20:47Uma ainda sobre a vacina.
20:49Quanto tempo demoraria para uma vacina, por exemplo, que seja desenvolvida aí nos Estados Unidos?
20:53Quanto tempo demoraria para que nós, aqui no Brasil, tivéssemos acesso a essa vacina em escala?
20:59E a segunda pergunta, já aproveitando aqui a demissão do ministro da Saúde, o Nelson Tais, que hoje se demitiu em função de pressões feitas pelo próprio presidente da República, pelo uso da cloroquina, da hidroxicloroquina, o uso generalizado, massivo da hidroxicloroquina.
21:17Eu gostaria que você também pudesse falar sobre o que se sabe disso, o que se tem realmente de efetivo do uso da hidroxicloroquina.
21:25Tá certo.
21:26Em termos de vacina, para o desenvolvimento da vacina, ainda vão ser uns bons, sendo bastante otimista, uns 10 meses.
21:35Mas, depois que se desenvolve a vacina, nós ainda temos o tempo para se tornar essa vacina disponível, porque a demanda vai ser enorme, né?
21:45Lógico que todos os produtores de vacina vão estar mobilizados para produzir.
21:51O Brasil, ele é um país muito forte em vacina, em produção de vacina, e isso é muito bom para o Brasil.
21:59Então, vai ter que ter uma articulação aí, a nível de governo e de produtores, para se fazer essa vacina disponível em cada país.
22:10Porque é lógico que as vacinas produzidas aqui, primeiramente, eu estou assumindo que vão ter a prioridade dos americanos.
22:19Mas, nesse aspecto, Cláudio, o Brasil é um país muito forte em produção de vacina.
22:24Os dois países, um dos dois países mais fortes é o Brasil e a Índia.
22:28Então, eu vejo que se houver uma articulação boa, isso seria algo que aconteceria num tempo viável aí no Brasil.
22:39Mais do que em qualquer outro país.
22:41Quanto à hidroxicloroquina, existem, eu sei que existiu, né?
22:49Essa teoria, essa fala de hidroxicloroquina funcionar, o que a gente precisava, porque nós já temos agora,
22:59para poder comprovar isso, são o que a gente chama de estudos que tem que ser randomizado.
23:07O que é randomizado?
23:08Onde você sorteia quem vai receber e quem não vai receber.
23:12Tem que ser cego.
23:15Ou seja, eu, quando eu faço um estudo de eficácia de vacina, eu não sei quem está tomando a vacina,
23:21ou quem está tomando o medicamento e quem está tomando o placebo.
23:24Eu não posso saber, porque isso vai me influenciar.
23:28O cego só é quebrado depois que eu faço as análises do estudo.
23:33Então, tem que ser um estudo sério, randomizado, cego, controlado, que possa nos dar essa resposta.
23:40E isso era o que a gente não tinha, né?
23:43A gente tinha um estudo de um médico francês que não tinha um desenho adequado,
23:50que inclusive não foi aceito para publicação em nenhum periódico, a não ser o que ele era editor.
23:57Então, um estudo cheio de controvérsia.
24:00E temos também relatos anedóticos de médicos aqui e ali, o que não é como nós devemos estar agindo
24:11e como órgão federal, o Ministério da Saúde deve estar endorçando um medicamento
24:16que não existe esse tipo de comprovação pela ciência.
24:20E agora, nós já temos esses estudos, Cláudio, nós temos resultado de pelo menos três estudos
24:28aqui nos Estados Unidos e eu posso mandar referência para quem se interessar.
24:33Claro.
24:34E nenhum desses estudos randomizados, controlados, cegos, nenhum mostrou nenhuma eficácia da hidroxicloroquina.
24:43Inclusive, teve um estudo aqui que nós tivemos que parar, porque houve um número maior de óbitos
24:51entre os pacientes recebendo a hidroxicloroquina com a estromicina.
24:55Perfeito. CD?
24:58Acho que é isso, Cláudio.
25:00Só se eu puder resumir o meu entendimento do que a doutora disse, a imunidade de rebanho é um bom objetivo,
25:06mas nós temos dois caminhos possíveis.
25:09O caminho da vacina e o caminho de deixar a população se contaminar.
25:12Pelo caminho da vacina, a gente chega na imunidade de rebanho salvando vidas.
25:17E pelo caminho de chegar lá, deixando pessoas se contaminar, vai ter um custo humano inaceitável.
25:24Acho que é esse o entendimento.
25:26Sim.
25:26É algo que, para ser bem honesta, CD, eu fiquei estarrecida quando eu ouvi essa proposição
25:36de imunidade de rebanho sem vacina, porque as consequências disso são terríveis para uma coisa que, como eu disse,
25:46e eu posso continuar aqui falando mais, não é certa que conseguiríamos.
25:51Eu não, eu agradeço, doutora Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin.
25:59Eu agradeço muito os seus esclarecimentos.
26:02Espero poder contar com a sua participação em breve aqui novamente.
26:06Vamos tentar estabelecer algum debate também com outras vozes.
26:09que a senhora possa participar também com o seu conhecimento inloco
26:15de tudo que está sendo feito aí nos Estados Unidos, inclusive.
26:20Será um prazer.
26:21Uma vez.
26:23E uma boa noite.
26:24Boa noite.
26:25Um prazer estar aqui.
26:26Muito obrigada.
26:27Até logo.
26:39Boa noite.
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