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  • 20/06/2025
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Felipe Moura Brasil e Mario Sabino analisam programa de trainee da Magazine Luiza, que aceita apenas candidatos negros.
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Transcrição
00:00Muito bem, a gente começa pelo assunto polêmico dos últimos dias, que é o seguinte.
00:04A presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza, Luiza Trajano,
00:08afirmou que já esperava que pessoas entrassem na justiça contra o programa de trainee da empresa.
00:14Ela garantiu que, apesar disso, a Magazine Luiza não vai desistir.
00:18A empresa abriu inscrições para seu programa de trainees de 2021, aceitando apenas candidatos negros.
00:24Em nota, a rede Magazine Luiza disse que o objetivo do programa é trazer mais diversidade racial
00:30para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo o Brasil
00:36no início da vida profissional.
00:38O vice-líder do PSL na Câmara, o deputado Carlos Jordi, anunciou no Twitter que entrou com uma representação
00:44no Ministério Público contra a loja Magazine Luiza por racismo.
00:47A Lei nº 7.716 da Constituição Federal estabelece que, aspas,
00:53Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade,
00:58incluindo atividades de promoção da igualdade racial,
01:01quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores,
01:06exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego
01:11cujas atividades não justifiquem essas exigências.
01:15Feche o aspas.
01:15Então, está lá escrito na legislação e eu converso sobre o tema com Mário Sabino,
01:20que hoje publicou em oantagonista.com um artigo a esse respeito.
01:24Mário, isso já é uma polêmica antiga em todo o mundo.
01:28A gente acompanha também o debate público americano e sempre tem esse tipo de discussão.
01:33Então, qual é a sua visão a respeito?
01:35Boa noite, Felipe. Boa noite aos nossos espectadores e ouvintes.
01:38Olha, eu acho que subiram um degrau a mais na história das ações afirmativas,
01:48na discriminação positiva.
01:51A discussão toda nas redes sociais não foi uma discussão, foi uma briga.
01:59Foi dedo no olho, tapa na cara.
02:01Como de costume.
02:02De um lado, como eu chamei, a Ku Klux Klan do politicamente correto.
02:08E do outro lado, as SA bolsonaristas também fazendo com argumentos absolutamente fora de sentido.
02:16O que tem que se discutir?
02:18Vamos esquecer o mérito.
02:20Se funciona ou não funciona a ação afirmativa.
02:24Aparentemente, a minha única observação é que não funciona.
02:29Porque nos Estados Unidos, ações afirmativas já datam de anos, né?
02:33E nós estamos vendo o preconceito ainda graçaia e negros e brancos com disparidade de renda e oportunidade.
02:40Então, a ação afirmativa não parece funcionar.
02:43Mas digamos que o Brasil fez essa opção, ok.
02:47A primeira coisa foi a política de cotas, né?
02:50As cotas nas universidades.
02:52Que o STF chancelou em 2012, numa ação movida pelo DEM contra a Universidade de Brasília,
02:59que havia determinado cotas para negros num período de 10 anos.
03:03Os ministros chegaram à conclusão que não feria a Constituição,
03:08porque a igualdade dos cidadãos prevista na Constituição,
03:13ela estava sendo prejudicada, né?
03:16Por essa, pela falta de acesso às universidades por parte de estudantes negros.
03:21Então, a igualdade ambicionada, prevista, né?
03:26Pela República Brasileira, só seria atingida através também de uma ação como essa.
03:32Muito bem.
03:34Também não vou discutir isso.
03:36Ao longo dos últimos anos, a gente está vendo as ações afirmativas,
03:40elas serem se espraiando, né?
03:43Formal ou informalmente.
03:45Cota para mulher em eleição, né?
03:47Uma maior preocupação em colocar negros e pardos em comerciais de televisão,
03:56em programas, em dar maiores oportunidades, porque tudo isso é muito bom.
04:00A questão, neste caso, e que eu digo que subiram o degrau,
04:06e eu acho perigoso, é que não se trata de cota.
04:11Se trata de integralidade, quer dizer, só candidatos negros têm acesso a esse processo de seleção.
04:22A intenção pode ser ótima, só que é inconstitucional e ilegal,
04:26porque a Constituição não proíbe qualquer tipo de discriminação no acesso ao trabalho,
04:34e é uma lei que regulamenta isso, né?
04:37Que deixa claro que quem fizer isso está sujeito a multas e até penas, né?
04:43Então, assim, a legalidade disso é que deve ser discutida.
04:49Não, assim, não adianta vir com discussão,
04:51ah, os negros são alvo de discriminação,
04:56o país tem uma dívida histórica com eles,
04:58a escravidão foi uma monstruosidade.
05:00Tudo isso é verdade.
05:02Só que você criar um processo de seleção em que só negros podem participar,
05:13você, na verdade, não se trata de racismo reverso,
05:16porque isso é papo furado, né?
05:18Não estou falando de racismo reverso, estou falando de legalidade e legalidade.
05:20Você está discriminando, né?
05:25Talvez não intencionalmente, imagino que não, né?
05:27Você está discriminando uma enorme quantidade de pessoas que não têm a cor negra, a cor preta.
05:37Então, assim, nesse aspecto você está discriminando mulheres, né?
05:42Mulheres brancas, mulheres asiáticas, mulheres indígenas,
05:45você está discriminando gays, lésbicas, transexuais, deficientes físicos.
05:51Todos que não sejam negros.
05:53Todos que não sejam negros, sim.
05:55Eu quero dizer isso, quando você tem um pressuposto que só...
05:57Mas podem pertencer a outras minorias consideradas.
06:02A diversidade, ela não é apenas entre negros e brancos,
06:06negros e brancos, é uma diversidade no interior também das etnias,
06:11do que se convencionou chamar de raça,
06:14que do ponto de vista científico nem mais faz sentido esse negócio de raça.
06:18Então, assim, tem uma questão a ser discutida e debatida.
06:24Agora, se isso for parar no STF, seja por meio da justiça do trabalho,
06:30de quem se sentiu prejudicado,
06:31seja por meio de uma ação direta de constitucionalidade, essas coisas todas,
06:36a gente vai ter que verificar esse troço, vai ter que ser debatido.
06:40Então, muda a Constituição.
06:43Muda a Constituição.
06:44São várias questões dentro de uma mesma questão e o que a gente sempre gosta de marcar é o seguinte,
06:51a causa do combate ao racismo é absolutamente legítima e necessária.
06:56A questão é quais medidas vão ser tomadas para isso e quais efeitos elas podem provocar,
07:02que são positivos e que, eventualmente, podem ser até negativos,
07:06inclusive para a própria causa, muitas vezes.
07:08Então, é essa questão que sempre precisa ser analisada em cada caso específico.
07:12Nesse caso, por exemplo, até o Paulo Cruz, eu vi até que você comentou no Twitter, Mário,
07:17apontou a questão, será que vai ter pessoas realmente que tiveram uma educação,
07:24uma qualificação profissional suficiente para ocupar cargos de liderança oferecidos
07:28em vagas, em empresas assim, já que boa parte da população negra tem uma origem social mais pobre
07:36e não tem acesso a um ensino público de qualidade.
07:40Então, a gente volta também para a questão na raiz,
07:43que é a falta de preparação no sistema de ensino para pessoas de uma origem social pobre,
07:52às vezes até miserável, e que não necessariamente são sempre negras,
07:56porque até, inclusive, isso é usado como argumento no debate público,
07:59que muitas vezes o branco, cristão, hétero, pobre,
08:04ele acaba também prejudicado sem que ninguém saia em defesa dele como sendo uma minoria.
08:10Então, como é que você analisa a questão do ensino relacionado a essas medidas compensatórias, né, Mário?
08:16Na minha visão, as políticas compensatórias têm como causa principal a falta de uma boa escola pública
08:27frequentada por todo o mundo, frequentada por rico, frequentada por pobre, frequentada por branco, frequentada por negro.
08:35Eu estudei em escola pública, aliás, eu escrevi a respeito na Cruzoé algumas vezes.
08:40Eu estudei em escola pública, tive que sair da escola pública,
08:43porque realmente a escola pública, a degradação em meados da década de 70 foi muito grande.
08:49Mas aqui em São Paulo, até então, a escola pública nunca foi o ideal,
08:55mas ela aglutinava mais gente.
08:57Na minha escola pública, eu estudava gente de classe média, estudava pobre, estudava rico,
09:02filho diferente, filho de médico, eu, por exemplo, sou filho de médico,
09:06filho de empregada doméstica, certo?
09:09E nós não tínhamos, é isso que é importante.
09:12Pela convivência diária, constante, desde crianças, nós não fazíamos diferença,
09:21não tínhamos percepção de diferença de cor, de origem social, você entende?
09:26Porque a escola pública, ela ensina você naturalmente a conviver com as pessoas.
09:32Então, o fato é que eles podem tomar as ações afirmativas que forem,
09:37elas serão sempre muito paliativas, não resolverão o problema,
09:43isso muitas vezes apenas só serve para aliviar a má consciência de uma certa classe social,
09:50e vão combinar também com uma ação de marketing.
09:56Hoje, a causa social, a causa racial no Brasil, do racismo, contra o racismo,
10:03move campanhas de puro marketing.
10:07Não seria melhor que essas campanhas, essas empresas se unissem em torno de uma ajuda,
10:13em termos de bolsa de estudos, por exemplo, para pessoas pobres, negras?
10:18Sem dúvida, eu acho que você tem também medidas que são paliativas, mas são mais efetivas.
10:23Então, tá, então adotem escolas públicas.
10:26Todo esse dinheiro que vai para marketing,
10:28pega esse dinheiro, uma parte desse dinheiro,
10:33e põe para financiar a escola pública.
10:36E estimule o debate,
10:39veja que isso não é um papel da empresa,
10:41resolver os problemas do Brasil,
10:42é o papel de todo mundo.
10:43A gente tem que ter uma atitude séria como país
10:47para recuperar o que era bom
10:51e melhorar o que sempre foi ruim
10:53em termos de escola pública.
10:55Porque é a escola pública que vai garantir,
10:57não só a convivência entre as diferentes pessoas
11:02de diferentes origens e etnias, etc.,
11:06mas também vai garantir a todos uma base comum
11:10para que todos desenvolvam as suas potencialidades.
11:14Você entende?
11:15Então, assim, se um aluno negro e pobre
11:17tem a mesma base educacional de uma criança branca e rica,
11:24os dois chegarão ao mercado,
11:27na hora de dar o salto profissional,
11:30de entrar em uma universidade,
11:31entrarão com as mesmas condições,
11:33ou condições pelo menos muito mais próximas
11:37do que as que existem hoje.
11:40Então, assim,
11:42ou a gente quer resolver o problema de racismo,
11:44preconceito, resgatar uma dívida,
11:46pagar uma dívida histórica com quem foi escravizado,
11:49vão criar uma boa escola pública,
11:53todo mundo, né?
11:54Classe média,
11:55vocês que se movimentam para dar bolsa de estudo,
11:57não basta,
11:58põe o seu filho na escola pública, então.
12:01Você entende?
12:01É um sacrifício no primeiro momento?
12:04É.
12:05Mas, se nós tivermos uma atitude constante,
12:11isso se resolverá em algum momento.
12:14E é bom deixar claro que qualificação técnica,
12:17acadêmica, profissional,
12:19é uma coisa que é diferente de capacidade.
12:23Ninguém aqui está dizendo que falta capacidade
12:26a determinados grupos,
12:28a determinadas pessoas,
12:29simplesmente, muitas vezes,
12:31faltam as ferramentas educacionais,
12:33o acesso a essas oportunidades
12:35das quais a gente está falando,
12:37justamente para que elas possam
12:38potencializar ao máximo
12:40as suas capacidades,
12:43as suas virtudes,
12:44e poder aplicar isso na prática,
12:46produzindo para o restante da sociedade
12:48qualquer valor, produto,
12:50o que quer que seja,
12:51onde ela se estabeleça no mercado, né, mano?
12:53É.
12:53O que a gente corre,
12:54o risco que a gente corre hoje,
12:58é também das políticas afirmativas
13:01muito abrangentes, né,
13:04alijarem as escolas públicas,
13:08principalmente na universidade,
13:10né,
13:11de gente privilegiada, né,
13:15que tem privilégios.
13:16Qual é o problema disso?
13:18É que pode acontecer,
13:19pode acontecer,
13:21desse público ir para uma escola particular,
13:24uma universidade particular,
13:25e a universidade particular
13:27passar a ser mais atrativa
13:29para os bons professores,
13:31por pagar melhores salários,
13:33por exemplo.
13:34Então, você pode ter uma migração,
13:36e as escolas públicas,
13:37que hoje têm regime de cotas,
13:39elas podem ser esvaziadas.
13:41Mas isso não é culpa
13:42do aluno que entrou por cota.
13:45É que o sistema funciona assim, né,
13:47é oferta e procura.
13:51Então, assim,
13:52quer, vamos fortalecer, então,
13:55as universidades públicas,
13:56as escolas básicas,
13:58o ensino médio,
13:59o que seja,
14:00tem que pôr dinheiro,
14:03tem que ter,
14:04tem que ter,
14:05tem que ter,
14:06tem que ter a,
14:07o impulso, né,
14:09não pode ser apenas
14:09de alguns abnegados,
14:12você entende?
14:13A classe média,
14:14ela tem que também
14:15frequentar as escolas públicas,
14:18né,
14:18poder frequentar as,
14:19confiar nas escolas públicas,
14:21ter bons professores,
14:23boas instalações,
14:24né,
14:24para que todos sejam beneficiados
14:26e não haja,
14:28o que não aconteça também
14:29na universidade,
14:30o que aconteceu na escola
14:30pública básica.
14:32Quando a classe média
14:33sai da escola pública,
14:35a escola,
14:36porque já estava
14:37degringolando,
14:38quem sobrou,
14:39passou a ter um,
14:40passou a ter um ensino
14:41de péssima qualidade,
14:42com exceções,
14:44com exceções
14:45que só confirmam a regra.
14:46É isso aí,
14:47é preciso que o debate
14:48seja mais sensato,
14:49mais pé no chão,
14:50e é isso que,
14:51há uma dificuldade
14:52muito grande de existir,
14:54principalmente aqui no Brasil,
14:55nos Estados Unidos,
14:55nessas questões raciais,
14:57também existe uma polarização
14:58muito acentuada,
14:59com histeria de todos os lados,
15:01e a gente tenta aqui
15:02separar as nuances do problema,
15:04avaliar cada ponto de debate,
15:05porque existe a questão legal,
15:07existe uma causa legítima,
15:09e existem os meios
15:10que precisam ser discutidos
15:12sobre a melhor maneira
15:13de melhorar essa situação,
15:16esse quadro,
15:16esse cenário.
15:22e aí
15:31Obrigado.

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