A Jovem Pan News inicia uma série de reportagens com os secretários de Segurança Pública de todo o Brasil. Neste episódio, o entrevistado é Victor César dos Santos, secretário do Rio de Janeiro, que reconheceu o descontrole do crescimento do crime organizado no RJ e avaliou que a PEC da Segurança Pública não trará solução efetiva para o país. Cristiano Beraldo e Deysi Cioccari comentaram. Reportagem: Misael Mainetti Comentaristas: Cristiano Beraldo e Deysi Cioccari
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00:00A partir de hoje, ao longo das próximas semanas, a Jovem Pan News exibe uma série de reportagens com secretários de segurança pública de todo o Brasil.
00:09Estreamos com o responsável pela pasta no Rio de Janeiro, Vitor César dos Santos.
00:14Para ele, a PEC da segurança pública não vai resolver os problemas do país.
00:19A reportagem especial é do Misael Mainete.
00:22Tráfico de drogas e proliferação de armas ilegais.
00:26Elementos que coexistem quando o assunto é facção criminosa.
00:31Em todo o estado do Rio de Janeiro, são cerca de 1.800 favelas.
00:36Na capital, 813.
00:38Muitas delas, dominadas pelo tráfico que está presente nestes e em outros vários lugares.
00:45Conversei com Vitor César dos Santos, atual secretário de segurança pública do estado do Rio de Janeiro.
00:52Ao ser questionado se o Rio se tornou um narco-estado, ele diz que não.
00:57Mas reconhece o descontrole do crescimento do crime organizado.
01:01O que a gente vê, assim, é um crescimento desenfreado de anos de comunidade.
01:08E a desordem é um ambiente favorável ao criminoso.
01:12Então, você vê no Rio de Janeiro micro soberanias, ou seja, territórios comandados por organizações criminosas há anos.
01:22O maior desafio do secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, Vitor César dos Santos,
01:29é o que ele chama de um problema cultural.
01:31A entrada de fuzis em todo o estado.
01:35Ferramenta utilizada pelos criminosos para controlar e expandir territórios.
01:40Só no Rio de Janeiro você vê um roubo de carro assim, de cachorro quente, cara, com fuzil.
01:45Roubo de veículo com fuzil.
01:48Você vê fuzil em outros estados, vê.
01:50A gente tem um problema em São Paulo, mas lá, por exemplo, em outros estados, você vê a utilização de fuzil para quê?
01:57Roubar uma instituição financeira, um carro forte, né?
02:02Uma agência que guarda valores.
02:05Nos últimos meses, a pasta entregou um dossiê ao governo americano, que indica a ligação do PCC e do Comando Vermelho,
02:14junto à máfia italiana e ao resbolar, mostrando o quão complexo e estruturado é o crime organizado.
02:21Para o secretário, é necessário estancar o financiamento.
02:25O que é comum a todos eles?
02:27O financiamento, o dinheiro, o recurso.
02:31Cada um tem o seu, digamos assim, o seu modelo de negócio.
02:35Mas o que é comum?
02:37A lavagem de dinheiro.
02:38Acaba sendo comum.
02:39O mesmo doleiro, a mesma instituição financeira, faz essas transações para o tráfico, para o terrorista, para a máfia.
02:47Então acaba isso se unindo.
02:49E isso é preocupante demais.
02:50Para o secretário, nas palavras dele, a PEC da Segurança Pública não resolve em nada o problema.
02:58Ele enxerga tudo isso como uma questão mais sindicalista, envolvendo as polícias federal e rodoviária federal.
03:05Mas ainda assim, vê toda essa situação com uma parte positiva.
03:10A criação do Fundo de Segurança Nacional na Constituição.
03:14A PEC, na prática, não resolve nada, né?
03:17Do problema de segurança pública no Brasil, não resolve nada.
03:21Algumas coisas interessantes, sim.
03:23Você ter os fundos de segurança pública e penitenciário na Constituição,
03:30isso, claro, evitando o contingenciamento desse recurso,
03:34isso é uma questão interessante, porque você já tem educação e tem a saúde.
03:39Então a segurança iria elevar essa questão a nível constitucional.
03:44De acordo com a PEC, os municípios poderão constituir guardas ou policiais municipais.
03:50No Rio de Janeiro, a Câmara Municipal já aprovou a lei que prevê a Guarda Municipal Armada,
03:56medida aprovada pelo secretário.
03:58A gente entende que não é só colocar a arma na mão de um profissional de segurança.
04:04Ele tem que ser capacitado, mas eu acho que a Guarda Municipal é a instituição que deve portar arma de fogo
04:14e não criar uma estrutura separada, provisória, temporária,
04:20porque isso, sim, causa insegurança e receio, né?
04:23Na última semana, uma mega-operação em comunidades do Complexo de Israel
04:28gerou pânico em motoristas e passageiros que passavam pela Avenida Brasil e pela Linha Vermelha,
04:35duas importantes vias expressas do Rio de Janeiro.
04:38Criminosos trocaram tiros com a polícia e pessoas que estavam a caminho do trabalho
04:43ficaram no meio do fogo cruzado.
04:46Por fim, o secretário pediu à imprensa que não diga mais que o Rio não tem jeito.
04:56Para ele, a sociedade não pode perder a perspectiva e a esperança em um mundo melhor
05:02dentro de uma política de transparência total.
05:08Beraldo, desde o Sr. Cari, vamos comentar esse tema aqui.
05:11Cristiano Beraldo, queria começar contigo, à medida em que o secretário fala dos fuzis
05:15que são utilizados até para pequenos assaltos lá no Rio de Janeiro,
05:19o que mostra, possivelmente, que a gente tem uma porosidade aí das armas entrando no Rio de Janeiro.
05:24Quando ele fala para a gente ter esperança, é duro pedir isso para o brasileiro, de um modo geral,
05:29à medida em que essa é uma das principais preocupações que a gente tem, Beraldo.
05:33Tem que fazer coraçãozinho, Nonato.
05:35Só faltou isso nessa fala.
05:37Vamos ter esperança, vamos nos dar as mãos, vamos abraçar uma árvore.
05:42Porque não faz absolutamente nenhum sentido.
05:44O próprio secretário de segurança informa que o problema do Rio de Janeiro é a proliferação
05:51de áreas que estão dominadas pelo crime e que ali gera uma baderna e que a baderna propicia a atuação criminosa.
05:59Quem é que deixa essas áreas serem tomadas pelo crime?
06:02Há décadas governadores que se entregam ao interesse escluso da bandidagem permitem que eles façam o que eles queiram.
06:15E a polícia não detém.
06:16A polícia não tem autonomia para deter a expansão desses territórios.
06:20Uma pessoa de bem que paga IPTU, corta uma árvore na sua casa, está acabada.
06:26No dia seguinte vai ter lá notinha no jornal.
06:29Ah, empresário fulano de tal cortou uma árvore, aí vai ter protesto, aí vai a prefeitura, a multa, o Ibama,
06:35coloca a faixa lá na frente, Greenpeace, tudo.
06:37Agora, quando essas canalhas, esses criminosos desmatam as encostas do Rio de Janeiro para construírem casas
06:45que depois eles alugam para a comunidade, ninguém fala nada.
06:50Pode ligar para reclamar, dizendo, olha, cortaram uma árvore aqui na Rocinha, cortaram uma árvore aqui no Chapéu Mangueira,
06:57que eu quero ver quem é que vai lá tomar satisfação de criminoso.
07:01Portanto, é uma palhaçada esse tipo de declaração diante de uma sociedade que vem decaindo ao longo do tempo
07:11e o Rio de Janeiro, que era uma referência para o mundo, foi absolutamente destruído pela falta de iniciativa,
07:18a covardia e o egoísmo de pessoas que estão comandando a política do Estado.
07:23Deise, se até o próprio secretário de Segurança do Rio disse que essa PEC da Segurança, então, não resolve o problema,
07:30qual seria, então, o real impacto dessa proposta, né?
07:34O impacto vai ser muito pequeno, Soraya, porque essa PEC, ela é estruturalmente vazia,
07:41ela não trata do problema em si, ela trata de pequenos pontos.
07:45E aí tem algumas coisas para se considerar, né?
07:48Ela não fala de prevenção, muito menos de inteligência policial, né?
07:53Então, ela não trata o problema como ele deveria ser tratado.
07:56A presença do Estado não é mencionada nessa PEC.
07:59A gente sabe que para a segurança pública funcional, o Estado tem que estar presente.
08:04E a gente já tem falado sobre isso aqui ao longo das semanas no Jornal da Manhã.
08:09Os policiais, muitas vezes, e na maioria das vezes, eles entram em lugares onde o Estado já não consegue mais entrar.
08:16Só que eles entram com um aparato muito menor do que o crime organizado.
08:21Então, a desvantagem, ela é muito grande.
08:23Hoje, o Atlas da Violência, numa dessas pesquisas, alertou.
08:28É necessário que se invista nesses locais onde a criminalidade é muito alta.
08:34Tem que investir em urbanismo, tem que investir em educação.
08:37Ou seja, o Estado tem que estar presente.
08:40Não adianta só jogar a culpa no policial.
08:41Essa PEC também tem um grande problema, que tem sido o motivo da maior reclamação dos governadores e dos prefeitos,
08:49porque ela agrava o desequilíbrio federativo.
08:53O que acontece?
08:54Ela aumenta a responsabilidade dos estados e, principalmente, dos prefeitos,
08:58mas segura o cofre lá em Brasília.
09:00Então, em Brasília, o dinheiro fica todo lá e as prefeituras e os governos que vão ter que se virar.
09:04Então, ela é uma resposta muito mais sintomática para um problema estrutural e que não vai resolver.
09:11O Brasil, ele é mestre em ter respostas emergenciais para problemas que são permanentes.
09:17E essa PEC é um exemplo disso.
09:20Ela é uma resposta muito pontual para um problema que é muito, mas muito mais complexo.
09:26Pois é, o problema da violência que, infelizmente, a gente está acompanhando, preocupando a população.
09:30E como a Deise, seu cara, chama a atenção.
09:32É preciso o Estado estar presente também para que a gente não tenha esse desandado de violência
09:37e que culmina com essa campanha da Jovem Pan.