Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • 29/05/2025
Aos 30 anos, a professora Nayana Véras chegou a pesar 115 kg. Após o falecimento do pai aos 54 anos, por complicações da obesidade, decidiu mudar de vida. Sofrendo de hipertensão e já tendo tido três derrames oculares (que ocorrem por picos de pressão), optou pela cirurgia bariátrica, após tentativas frustradas com dieta e exercícios convencionais. “Mas nunca alcançava o resultado esperado”, contou.

Reportagem: Dilson Pimentel
Imagens: Igor Mota

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00O meu pai, que já é falecido, ele faleceu muito jovem, faleceu com 54 anos,
00:06em virtude de problemas derivados da obesidade.
00:12Então, o ano em que ele faleceu foi um ano muito decisivo para mim, que já era obesa.
00:18Aos 30 anos eu já era obesa, já tratava a hipertensão e já tinha tido três derrames oculares,
00:26que são aqueles sangramentos oculares que acontecem por conta de picos de pressão.
00:31Então, com o falecimento do meu pai, eu tomei a decisão de que eu iria tentar traçar um caminho diferente para mim.
00:39Tentei os métodos convencionais, dieta e exercício, só que eu nunca alcançava o resultado esperado.
00:49E aí eu decidi procurar alguns outros especialistas, entre eles o endocrinologista,
00:54para verificar se eu tinha alguma questão hormonal ali, né, que eu não estivesse percebendo.
01:01E isso se confirmou.
01:02Tanto é que para você fazer cirurgia bariátrica, via de regra, se você tiver com uma equipe responsável,
01:07você precisa do aval de pelo menos cinco profissionais diferentes.
01:11Um deles é o endócrino.
01:12Então, você vai encontrar um endócrino, você vai encontrar um nutricionista,
01:16você vai encontrar um cardiologista, um pneumo e um psicólogo também.
01:21Isso sem falar no próprio cirurgião.
01:24Então, a gente precisa do aval, do aconselhamento favorável, positivo,
01:30desses cinco profissionais para a gente conseguir fazer a cirurgia.
01:34Ainda existe aquela falsa crença de que a bariátrica é o caminho mais fácil,
01:39quando na verdade não é não.
01:42E a segunda era por conta da minha idade.
01:44Eu era muito jovem, as pessoas acreditavam,
01:46Ah, é só fazer uma dieta, é só fazer um exercício.
01:50Só que isso não se aplica a todo mundo.
01:53E é muito complicado, porque é meio que uma ideia que está no imaginário popular.
02:00Só que quando a gente para e se dedica um pouquinho a estudar, a ler a respeito,
02:06a gente vê que os organismos são diferentes.
02:08E nem todo mundo vai conseguir alcançar os objetivos pelo método convencional,
02:16vamos dizer assim, do fazer dieta e exercício.
02:19Vai fazer oito anos em outubro, não em agosto desse ano.
02:26Vai fazer oito anos.
02:27A mais significativa para mim é o fato de que eu não tenho dor de cabeça todo dia.
02:31Essa mudança é a mais significativa.
02:33Sim, não foi estético, foi qualidade de vida.
02:38E assim, para quem sofre com os efeitos da pressão alta,
02:46porque tem a pressão alta silenciosa,
02:48pessoas que já não sentem mais esses efeitos, mas eu sofria.
02:52Então, eu tinha dor de cabeça todos os dias.
02:54Dormir não adiantava, alguns remédios não adiantavam mais,
02:58então eu tinha que fazer o acompanhamento da pressão.
03:00Isso sem falar na questão da própria mobilidade.
03:06A gente fica mais cansado ao executar tarefas simples.
03:11Tem a situação que sim é estética também.
03:16Se, por exemplo, eu queria comprar uma roupa.
03:19A gente, na época, há oito anos atrás,
03:22a gente não tinha uma série de alternativas que tem hoje
03:25com esse monte de aplicativo que oferece roupas mais joviais
03:29para pessoas que têm tamanhos maiores, plus size, né, e tudo.
03:34Então, na época, eu tinha que me conformar
03:36e me vestir como uma senhora.
03:38Por quê?
03:39Porque só tinha esse tipo de roupa para quem estivesse acima do peso.
03:42Ficava de 110, 115 quilos.
03:45E eu acho que já cheguei a pesar mais.
03:48Só que teve um momento em que eu só decidi evitar as balanças.
03:51E eu sei por conta do tamanho das roupas.
03:54Eu já cheguei a usar manequim 52, 54.
03:58E aí, eu não sou alta, né, eu tenho 1,63 m.
04:04Obviamente, eu devo ter pesado mais do que isso.
04:07Eu tenho essa ideia de peso, de controle,
04:09porque eu precisei me pesar na época da cirurgia
04:11e eu já estava ali por volta dos 110, 115 quilos
04:15quando fui operar.
04:16Eu tive aquela recomendação que as pessoas imaginam que é de praxe.
04:19Ah, você tem que perder peso para fazer a cirurgia.
04:22Não, isso não aconteceu comigo.
04:23Eu fui perdendo peso por opção mesmo.
04:24Não foi necessariamente uma recomendação médica.
04:27Por quê?
04:29Eu já estava pré-qualificada para fazer essa cirurgia
04:32por conta da hipertensão.
04:33E a cirurgia, né, estética,
04:36a bariátrica é, hoje em dia,
04:38um dos tratamentos mais eficientes
04:40no controle da pressão alta e do dietético.
04:43Reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, inclusive.
04:45Eu tive uma perda de cerca de 40 quilos.
04:49E eu tive aquilo que é, inclusive, questionado
04:52por alguns especialistas da área,
04:54que é o regânio.
04:56Eu fiquei com cerca de 66 quilos
04:58e uma aparência muito doentia.
05:00A gente perde peso muito rápido.
05:02E aí, dois anos depois,
05:04eu tive um regânio de mais ou menos...
05:07Varia entre 4 e 6 quilos.
05:09Depende muito da época do ano.
05:10Porque eu acho que isso acontece com qualquer ser humano normal.
05:12Tem época que a gente come mais, malha menos.
05:16Enfim, as festas, né?
05:18Vem aí festas juninas e eu provavelmente vou dar uma engordadinha.
05:21Mas a verdade é que eu tenho muito medo de engordar de novo.
05:30Eu não quero ter dores de cabeça todos os dias de novo.
05:34E essa decisão, ela é muito, muito pessoal.
05:40Porque eu não sei o que motiva as outras pessoas.
05:42Eu só posso falar por mim.
05:44E como eu não quero voltar para aquele estado de jeito nenhum,
05:46Então, eu redobro meus cuidados quando eu acho que eu estou pisando na bola.
05:51Quais são os cuidados que você redobra?
05:53Primeira coisa é a alimentação.
05:56Porque não adianta.
05:57É quase que lógica matemática.
06:00O meu estômago, se eu forçar ele novamente,
06:03ele vai distender.
06:05E eu vou voltar para um tamanho original de estômago.
06:08Então, a cirurgia não vai ter adiantado de muita coisa.
06:11Eu vou voltar a absorver, não de forma idêntica,
06:15mas eu vou voltar a absorver um grande volume de calorias.
06:19E isso vai alterar o meu peso.
06:21Principalmente para pessoas como eu.
06:23E por que pessoas como eu?
06:24Eu sou relapsa no quesito malhar.
06:27Eu ainda tenho muitos pontos de flacidez no corpo
06:30porque eu não me dedico a exercícios físicos
06:33e reconheço que isso é um problema.
06:36Ah, eu não tenho tempo.
06:37Ah, rotina corrida.
06:39Eu estou trabalhando e fazendo faculdade ao mesmo tempo.
06:41A gente tem N desculpas para nós mesmos,
06:43mas eu reconheço que é uma falha.
06:45E estou muito, muito disposta a mudar isso.
06:50Eu preciso de variedade,
06:52mas uma variedade que seja satisfatória.
06:55Eu sempre vou tentar comer uma porção de fruta no café,
06:59que aqui, no caso, está uma porção para duas, três pessoas.
07:03Eu não consigo comer, por exemplo, uma porção desse tamanho
07:06e ainda assim comer os outros itens.
07:09E no meu caso, variedade é muito importante.
07:11Variedade de itens.
07:13Preferencialmente pão careca sem o miolo.
07:16Às vezes um pão, às vezes meio pão.
07:20Quase sempre acompanhado de um ovo.
07:23Se eu não comer a fruta,
07:24eu posso substituir isso por um copo de iogurte.
07:27Mas eu tenho uma preocupação quando eu vou consumir iogurte.
07:34Diferentemente das frutas,
07:36os elementos industrializados,
07:38eles têm, na maioria das vezes, adição de açúcar.
07:41E esse açúcar, ele é prejudicial para mim.
07:44Em que sentido?
07:45Eu desenvolvi uma síndrome,
07:46que chama síndrome de dumping.
07:48É comum para quem faz bariátrica.
07:50Que é quando você tem uma reação muito forte
07:55ao consumo de açúcar e doces industrializados.
08:00É como se eu tivesse rapidamente uma crise de hiperglicemia.
08:07Lembra muito uma crise de abstinência.
08:11Não só a carne vermelha,
08:13mas você vai encontrar elementos regulares,
08:15como o feijão,
08:17o arroz.
08:18Eu dou preferência aqui em casa para o arroz parborizado.
08:20Mas eu poderia tranquilamente estar usando o arroz integral.
08:24As pessoas podem pensar que é por conta da dieta,
08:27por manter a perda de peso.
08:29Não.
08:29É por conta da oferta de nutrientes.
08:32Mas eu não gosto do sabor do integral.
08:34Então eu opto pelo parborizado.
08:36Que seria a segunda melhor opção.
08:39Sempre uma salada.
08:42Mas diferentemente do que as pessoas pensam,
08:45eu não posso comer muita salada.
08:48Por quê?
08:49Porque a salada é uma tática para quem quer emagrecer.
08:53E aí ela ocupa muito espaço no estômago.
08:56Mas vai te dar a sensação de saciedade.
08:59Só que ela não necessariamente vai te dar calorias
09:02e carboidratos necessários.
09:04Então eu posso comer salada,
09:06mas eu não posso comer muita salada.
09:08Porque senão eu não consigo comer as outras coisas.
09:09Porque eu preciso.
09:11Que é o arroz, o feijão, a carne, a proteína.
09:15Eu faço lanches.
09:18Eu faço lanche de manhã.
09:20Eu faço lanche à tarde.
09:22Eu tento manter alguma coisa no estômago
09:25de três em três horas ou de quatro em quatro horas.
09:29E aí é aquela história.
09:31Mas eu tenho que verificar o que são esses lanches.
09:35Ah, você come fritura?
09:36Você come coxinha?
09:37Você come coisa de padaria?
09:39Como?
09:39Eu só não posso comer isso todo dia.
09:41E não posso comer em excesso.
09:44Assim como mulheres costumam ter tendência maior a desenvolver doenças,
09:49como é o caso da osteoporose.
09:51Então, você vai ter determinadas situações que se aplicam a mim,
09:56enquanto indivíduo.
09:58E aí eu não posso querer ter um corpo como, por exemplo, de uma modelo super jovem
10:07que vem de uma família que geneticamente é uma família magra.
10:11Até porque a minha família não é assim.
10:12Como eu falei, meu pai era obeso.
10:14Minha mãe também não é magra.
10:16E aí eu não tenho esse biotipo.
10:19Não adianta ficar me torturando achando que eu tenho que perder esses 13 quilos
10:23às vezes é neurada com isso, né?
10:26As pessoas também às vezes acabam caindo naquela velha história de que
10:30porque a pessoa é gordinha ela não tem saúde.
10:34Ou porque a pessoa visivelmente está um pouco acima do peso e ela não tem saúde.
10:38Isso não é real.
10:39Mas as pessoas precisam tomar uma decisão pautadas
10:44naquilo que elas conseguem experienciar
10:48ou conseguem absorver das experiências alheias.
10:53Porque quanto mais informações elas tiverem
10:56melhor vai ser a capacidade delas de tomada de decisão.
11:03E aí ela vai pensar, ela vai pensar na situação particular dela
11:07e ver se ela está disposta a lidar com as consequências da cirurgia
11:14para o bem e para o mal, né?
11:17E assim, buscar dados científicos.
11:25Eu sou suspeita para falar, mas eu acho que isso é de praxe.
11:29Buscar dados reais.
11:31Ainda mais numa época que a gente viu ali a disseminação
11:34de tantas informações não confirmadas
11:36que a gente chama de fake news.
11:38Então eu penso que as pessoas deveriam buscar plataformas
11:41que sejam plataformas oficiais e estar sempre atentas
11:48para o fato de que a obesidade, de que as comorbidades vindas
11:56dessa obesidade, elas matam muito.
12:01Não só no Brasil, mas no mundo.
12:02Essas falácias de pessoas que não sabem o que é ser obeso,
12:08que não sabem o sacrifício que o bariátrico precisa fazer,
12:13de que é o caminho mais fácil,
12:15porque tem gente que pode até se envergonhar
12:18por optar pela bariátrica, por conta desse tipo de fala.
12:22Ah, a pessoa vai pensar que eu não tenho força de vontade,
12:25que eu estou optando pelo caminho mais fácil.
12:27Então é se enriquecer de conhecimento
12:33para poder, inclusive, rebater esse tipo de fala.
12:36Aí depois da cirurgia, o pessoal pergunta
12:39precisa tomar remédio?
12:40Não.
12:41Foi eu operar, eu pude suspender todos os remédios de pressão
12:45que eu fazia.
12:46Eu era essa aqui.
12:50Essa aqui.
12:53Até em relação a outras pessoas,
12:55eu era visivelmente grandona, né?
12:58Bem maior.
13:00Provavelmente um em 115.
13:03Hoje eu tenho 68.
13:05Eu acho que as pessoas precisam se informar
13:07em plataformas sérias,
13:11não se basear apenas na questão da opinião,
13:13não que elas não possam perguntar
13:15para outras pessoas que experimentaram a cirurgia
13:18e os possíveis efeitos colaterais.
13:21Mas eu acho que se informar,
13:23procurar dados científicos,
13:25procurar os profissionais envolvidos no processo da cirurgia,
13:29tudo isso para poder compor ali
13:31um arcabouço de informações
13:33para ajudar na tomada de decisão.
13:35E lembrar que nem sempre o que funciona para mim
13:37vai funcionar para o outro, né?
13:39Para elas.
13:40Não se deixar contaminar também
13:42por essas falácias que são tão preconceituosas
13:46sobre o fato da cirurgia bariátrica
13:47ser o caminho mais fácil,
13:49porque isso não podia estar mais longe
13:51do que é a realidade do bariátrico.
13:53A CIDADE NO BRASIL
13:59A CIDADE NO BRASIL
14:00A CIDADE NO BRASIL

Recomendado