O especialista em contas públicas Bruno Lavieri concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Jovem Pan. Ele analisou a decisão do governo federal de congelar R$ 31 bilhões do Orçamento de 2025 para ajudar a manter a meta fiscal do ano. “O aumento do IOF tem o objetivo de aumentar a carga tributária”, avaliou Lavieri. Cristiano Vilela e Nelson Kobayashi participam.
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00:00Voltamos a falar sobre a decisão do governo de congelar cerca de 31 bilhões de reais em despesas
00:07para cumprir as metas fiscais. O IOF para compras internacionais vai subir.
00:13E o nosso entrevistado agora é o especialista em contas públicas, Bruno Lavieri, economista da For Intelligence.
00:19Tudo bem, Bruno? Mais uma vez, obrigado por estar aqui conosco na Jovem Pan para explicar o que o governo anunciou hoje.
00:24Bem-vindo, boa noite.
00:26Boa noite, Thiago. Eu que agradeço o convite.
00:27Bom, é uma decisão que visa, claro, o governo cumprir as metas fiscais, o arcabouço fiscal, como a gente chama.
00:39É algo que deveria ser mais amplo? A torneira está sendo fechada?
00:45Como é que, na prática, se dá um contingenciamento desse, Bruno?
00:49Eu diria que é um contingenciamento dentro do que o mercado esperava.
00:54E a verdade é que o mercado já não esperava muito.
00:58A gente sabe que é um governo muito comprometido com o lado da despesa e tem, no final das contas, o equilíbrio fiscal ali como algo apenas desejável, aparentemente.
01:08Então, ainda que a meta para este ano seja de um resultado primário zero, ou seja, um equilíbrio entre receitas e despesas primárias,
01:18o governo ainda está um pouco distante de alcançar, por conta própria, esse número.
01:23Esse contingenciamento vai na direção de, pelo menos, limitar um pouco do aumento de despesas.
01:29E esse aumento do IOF vem no sentido de aumentar um pouco mais a carga tributária,
01:35uma vez que outras formas de aumentar a arrecadação, o governo tem falhado.
01:40Enfim, isso desde ali de 2023, desde o seu primeiro ano de mandato,
01:45não vem conseguindo elevar a carga tributária como gostaria,
01:48uma vez que esse ajuste fiscal proposto pelo novo arcabouço,
01:53ele contempla, na prática, um aumento de carga tributária.
01:56Como esse aumento não aconteceu na velocidade que o governo gostaria,
02:02os resultados fiscais, de fato, ficaram abaixo do desejado pelo governo,
02:07enfim, pelo prometido, na verdade.
02:10E é o que a gente espera, na verdade, também para este ano,
02:12um resultado no piso dessa meta de resultado primário.
02:17Bruno, pergunta agora de Cristiano Villela, nosso comentarista. Villela.
02:20Bruno, boa noite.
02:22Bruno, é possível se imaginar novos bloqueios, novos contingenciamentos a serem feitos ainda no ano de 2025?
02:30Ou dentro de uma avaliação preliminar,
02:33esse fato agora talvez seja um fato único, um fato isolado ao longo desse ano?
02:38Boa noite, Villela.
02:40Obrigado pela pergunta.
02:40Eu acho que esse é o tipo de gestão de contas públicas que vai acontecendo a conta gutas.
02:49Então, eu diria que, pelo menos mais algumas vezes ao longo desse ano,
02:53a gente vai ver isso acontecendo justamente porque é uma gestão que a gente fala que é na boca do caixa.
02:59Ou seja, o governo vai tentar limitar a despesa até onde ele pode,
03:03sem comprometer ali, enfim, grandes despesas que ele já tenha se comprometido.
03:09Mas a verdade é que isso deve acontecer novamente ao longo do ano,
03:13uma vez que ainda falta um bocado para que esse governo consiga atingir a sua meta de resultado primário para este ano.
03:22Nelson Kobayashi, a sua pergunta.
03:26Vou falar contigo.
03:27A minha pergunta é em relação ao que esperar destes números todos para o próximo ano,
03:33que a gente vem agora numa expectativa do que será o ano eleitoral.
03:37O ano de eleições é um ano que interessa muito ao governo,
03:40principalmente para que haja repercussão da economia na popularidade do presidente.
03:46Isso pode impactar também o orçamento do ano seguinte, do ano de 2026?
03:52Certamente, Kobayashi, certamente.
03:53Acho que para o ano que vem, a meta de resultado primário prevista no Arca Bolso
03:59é de um superávit de cerca de 0,25 ponto percentual do PIB,
04:03que é um valor ali relativamente pequeno, cerca de 33 a 35 bilhões de reais.
04:10Sendo o ano eleitoral, a gente imagina que na prática esse resultado não vai ser atingido,
04:16assim como também não foi no ano passado.
04:18Acho que uma grande quantidade de descontos na meta, com gastos extraordinários,
04:23enfim, gastos que no final das contas você desconta da sua meta de primário.
04:28Então é o que a gente espera também para o ano que vem.
04:31Como eu disse, é um governo preocupado em manter ou aumentar minimamente o gasto público
04:38e, de forma secundária, talvez, atingir esse equilíbrio primário.
04:45E a verdade é que a gente não acredita que esse equilíbrio vai ser atingido este ano
04:50ou no próximo.
04:51E eu digo a gente, o mercado como um todo, acho que tem esse cenário já bastante homogêneo
04:56e cristalizado depois de dois anos de governo.
05:01Bruno, em relação ao IOF para compras internacionais,
05:06o que o governo consegue com esse aumento de um imposto
05:10e qual classe, principalmente, é penalizada por causa disso?
05:14Olha, hoje esse aumento de IOF, eu diria que talvez não tenha o impacto positivo
05:22que o governo espera.
05:23A gente viu ali alguns números na ordem de 20, 30 bilhões de reais.
05:28Parece muita coisa, eu diria que tende a ter um efeito muito menor,
05:32uma vez que hoje boa parte desses gastos em viagens,
05:36eles podem ser contornados através de um cartão próprio para viagem,
05:41enfim, você pode comprar a moeda antes também.
05:44Então, no final das contas, é um pouco, você aperta de um lado e espirra do outro.
05:50Então, tenho sérias dúvidas sobre a eficácia na arrecadação
05:55que esse aumento de IOF teria.
05:58Eu diria que é, de certa forma, uma medida ali um pouco desesperada,
06:02talvez não nessa graduação, para o governo, de fato, aumentar a sua arrecadação,
06:07sem contar ali com fatos extraordinários.
06:10Bruno Lavieri, economista da For Intelligence, especialista em contas públicas,
06:15mais uma vez, obrigado pela atenção com os nossos telespectadores aqui da Jovem Pan News.
