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00:00Olá, estamos dando início a mais um Ponto de Vista, hoje para falar de um assunto muito sério,
00:15o abuso sexual infantil no Brasil. Para isso, estamos recebendo aqui no estúdio a delegada
00:21Vila Neida Aguiar, especialista em educação sexual e em prevenção ao abuso sexual.
00:29Vila Neida, seja muito bem-vinda e obrigado por ter aceitado o nosso convite.
00:34Muito obrigada, é uma satisfação enorme estar aqui divulgando esse assunto.
00:38Eu queria começar perguntando para você qual o cenário atual do abuso sexual infantil aqui no país.
00:44Nosso país enfrenta um problema que não que seja crescente, mas as notificações têm aumentado
00:53e isso é muito bom que sejam expostos esses casos, porque isso sempre existiu,
01:01mas por algum motivo as pessoas evitam até falar e nisso elas deixam as crianças desprotegidas
01:09e traumatizadas com esse tipo de crime.
01:11E se está denunciando mais hoje, pela sua experiência, você sente que as pessoas estão denunciando mais
01:19apesar de todas as barreiras que muitas vezes as famílias enfrentam para fazer as denúncias?
01:26Com certeza. Quanto mais você fala, quanto mais você divulga, mais incentiva a que as pessoas comentem
01:33e eduquem essas crianças que precisam ser educadas no sentido de proteger em seu corpo,
01:41sua segurança, evitar esse tipo de abuso.
01:45Você inclusive, Vilaneida, é autora desse livro aqui, Vozes de Transformação.
01:50É um livro que reúne 12 mulheres especialistas de todo o país,
01:55Engajadas na Defesa dos Direitos da Infância e no Enfrentamento do Abuso Infantil.
02:00Como foi que surgiu a ideia de reunir o trabalho de vocês num livro só?
02:06Todas as coautoras são especialistas na causa da proteção infantil direcionada ao abuso infantil,
02:14sendo que algumas delas usaram a própria experiência na infância como uma bandeira, uma luta.
02:21Então, muitas se transformaram em protetoras da infância com foco nesse tipo de abuso
02:29e relatam isso, inclusive, no livro.
02:32Quer dizer, entre as 12 autoras tem algumas que sofreram abuso infantil quando eram crianças.
02:37Sim, então se transformaram em profissionais e para justamente lutar por essa causa.
02:43No meu caso, eu fui seis anos, trabalhei em uma delegacia especializada de crianças e adolescentes
02:50e ali eu vi o quanto é frequente esse tipo de crime contra essas crianças.
02:57O que me causou é uma indignação muito forte e resolvi daqui em diante também me dedicar a essa causa.
03:04O livro já foi lançado em São Paulo e está sendo lançado aqui agora em agosto.
03:09Como é que está sendo até agora a repercussão e a receptividade a esse livro?
03:14Está sendo muito boa pelas coautoras serem de todos, de vários estados do país.
03:21Foi lançado em São Paulo, que foi um ponto central para algumas delas.
03:27E estamos trazendo aqui para Recife, para lançar aqui em Pernambuco.
03:32E com certeza nós estamos recebendo um feedback muito bom.
03:36Inclusive já consta no IA também, se você colocar livro Vozes da Transformação,
03:43todas as inteligências artificiais já estão comentando o livro, indicam os links até para você, para a compra.
03:52E é uma satisfação muito grande, além de ser o primeiro livro,
03:57e tratar de uma causa tão importante para todos nós.
04:02Agora, Vila Neida, quais são os principais perfis dos abusadores de crianças?
04:09Isso dificulta muito a identificação, porque os abusadores não têm um perfil específico.
04:17Não é aquele que você pensa que a pessoa já tem uma cara de mal, aquele bicho papão, como dizem.
04:24Não, geralmente é uma pessoa que passa uma confiança para os familiares, para a criança,
04:30brinca com a criança, enfim, geralmente é um indivíduo, eu falo indivíduo masculino,
04:38porque a maioria, mais de 80% são pessoas do sexo masculino, que são os abusadores.
04:45Então, eles procuram ter a confiança da família para poder praticar esses abusos,
04:52que acontecem em sua maioria dentro das casas.
04:55É, quando você fala que eles procuram ter a confiança da família, muitas vezes eles estão na própria família, né?
05:01Às vezes é o pai, é o avô, é um tio, né?
05:05Então, assim, é uma situação bem delicada, eu imagino, para a família que acaba passando por isso, né?
05:12Exatamente.
05:13É muito raro ser um desconhecido.
05:16Essa maioria dos abusos são dentro da residência.
05:20E eu vi casos, assim, muito claros que a criança falava, olha, desde que minha mãe trouxe ele para casa,
05:28que ele começou a olhar para mim diferente, daí em diante.
05:32Então, assim, eles procuram mulheres que têm filhas pequenas, que têm adolescentes,
05:41para poder já pensar na prática desse abuso.
05:45Isso, para mim, ficou muito claro.
05:46Nesse caso aí que você está falando, seria o companheiro da mãe, digamos.
05:50O padrasto.
05:51O padrasto.
05:52Mas pode ser também o próprio pai, às vezes, né?
05:54Sim.
05:55Você me falava, antes da gente começar a entrevista aqui, até de um caso de avô, né?
06:00Às vezes é o avô que abusa das netas ou das filhas.
06:04Exatamente.
06:04É realmente algo horrendo, que choca muito a todos nós, mas geralmente é isso.
06:10Você é padrasto, avô, o pai, muitas vezes também o pai e companheiro da avó também.
06:20Vai passear na casa da avó.
06:22Enfim, as crianças, os pais, em geral, têm que ter muito cuidado.
06:26Não deixar seus filhos sozinhos, nem festas infantis.
06:30Tem uma moda agora de convite só no nome da criança.
06:34Isso aí, eu aconselho que não aceite, porque onde seu filho vai, sua filha, você tem que estar lá.
06:42Você não sabe o que acontece ali naquela casa, quem são aquelas pessoas.
06:46E dentro de casa você já não conhece, muitas vezes.
06:49Então, é ficar muito atento, pai, mãe, e alertas, né?
06:55Para os sinais que essa criança pode estar repassando sobre isso.
06:58Por que o abuso sexual infantil ainda é tão difícil de ser denunciado, explicitado?
07:06Justamente, nós verificamos que a grande dificuldade não é nem o adulto responsável,
07:16quando sabe e fica indignado, que temos casos de não expor essa situação,
07:23mas da criança falar, que a criança fica num dilema terrível,
07:29porque muitas vezes aquela pessoa é quem ela ama, ela gosta,
07:34e ela não entende, quando é muito pequena, ela não entende o que está acontecendo ali.
07:38Porque ela tem um amor por aquela pessoa, e imagine, nós, mulheres,
07:43muitas mulheres ficam num relacionamento abusivo,
07:46e demoram a se dar conta que aquele relacionamento abusivo...
07:50Você imagina a criança, a mente de uma criança que não está preparada
07:54para perceber essas abordagens.
07:58Por isso, nós sempre falamos da importância de conversar,
08:03a educação sexual para crianças também.
08:07Mas no sentido de uma abordagem sobre o quê?
08:11Você não vai falar exatamente sobre o sexo.
08:15Você vai falar na linguagem da criança, proteger o corpo,
08:19onde pode tocar, onde não pode, e quem pode tocar.
08:23E se se sentir desconfortável, que ela fale, ela conte,
08:28conversar sempre de uma forma suave, tranquila,
08:32para não assustar também a criança.
08:34Como é que a família, a escola, até a sociedade, de um modo geral,
08:38deve se comportar para identificar possíveis abusos?
08:41Existem alguns sinais que a criança transmite,
08:45que deixa transparecer, para que, seja lá, um professor na escola,
08:51ou uma professora, identifique que aquela criança está sofrendo
08:54algum tipo de abuso, ou até em casa mesmo,
08:57o pai ou a mãe perceber que a criança está sofrendo algum tipo de abuso?
09:02Há alguns sinais, por exemplo, se a criança é muito expansiva,
09:06muito falante, de repente fica retraída,
09:08retraída, umas dores inexplicáveis, dores no estômago,
09:12dores de cabeça, que ela relata.
09:15Não que sempre seja isso, deixando claro,
09:18mas são sinais, marcas no corpo,
09:21próximo aos órgãos, a parte íntima,
09:25marcas estranhas.
09:26Então, abordar com muita tranquilidade,
09:29sem fazer muita alarde,
09:30sem que ela ache que ela é culpada de algo,
09:34é investigar sempre, observar os filhos.
09:39A maioria, Vila Neida,
09:41a maioria das crianças são abusadas em casa?
09:45São os índices de vários...
09:48A casa é o principal local?
09:49A casa é o principal local.
09:51E ali, lógico que o abusador não vai fazer,
09:55para todo mundo da casa ver na sala,
09:57dentro do quarto, quando não tem ninguém,
10:00e 80% dentro da própria residência da vítima.
10:05E o que é que uma pessoa deve fazer
10:07quando identifica que aquela criança
10:09está sofrendo algum abuso?
10:11E qual deve ser a providência, por exemplo?
10:15Uma professora de uma escola,
10:17ela percebe que a aluna ou o aluno
10:20está sofrendo algum tipo de abuso?
10:23Qual deve ser a atitude dela?
10:25O que é que ela deve fazer?
10:26Os alunos, geralmente, podem expressar
10:30por meio de um desenho.
10:32Então, esses educadores têm que ter
10:34essa sensibilidade.
10:35O que acontece, muitas vezes,
10:37de adolescentes, na aula de ciências
10:39sobre o corpo humano,
10:41conversar com um coleguinha,
10:43olha, acontece isso com você?
10:45Porque ali, adolescente,
10:47percebe o que acontecia com ela,
10:49o que acontece.
10:50E descobre que não é certo aquilo,
10:53que ali se confirma
10:55que está sendo abusado sexualmente.
10:57Então, o que?
10:58Os educadores, professores, qualquer pessoa.
11:01Que isso é uma obrigação de todos nós
11:04pela Constituição, a proteção, a infância.
11:06De levar imediatamente,
11:08se for na escola, ao Conselho Tutelar.
11:12Chama o Conselho Tutelar
11:13ou encaminha o Conselho Tutelar
11:15para que ele aplique essas medidas de proteção.
11:18O Conselho Tutelar leva até a delegacia
11:21quando vê uma situação ali de abuso.
11:25Tem que ser investigado,
11:26porque o que nós todos temos que fazer
11:28como obrigação da sociedade,
11:31proteger essas crianças
11:33para que ela não seja mais
11:35vítima desse tipo de violência.
11:37A partir do momento que se descobre,
11:39tem que afastar essa criança do agressor.
11:43Quais são as faixas etárias
11:44mais comuns de sofrer abuso sexual infantil?
11:48Infelizmente, faixas de 0 a 4 anos
11:51são muito comuns.
11:54E até 13 anos, os índices são bem altos.
11:57Ou seja, a infância inteira, né?
11:59De 0 a 4 e depois até 13 anos,
12:02infelizmente, as nossas crianças
12:04estão muito expostas a esse tipo de abuso, né?
12:08E considerando que as estatísticas,
12:10os números, são apenas 10% aproximadamente
12:14do que acontece na realidade.
12:17A maioria é mascarada, não é notificada,
12:20não chega às autoridades
12:22para que possam providenciar medidas
12:27para proteger essa criança.
12:29O aumento das denúncias, Vilaneida,
12:31significa que o problema está aumentando
12:34ou antes não se falava
12:36e agora está se falando mais?
12:37Qual a avaliação que você faz?
12:39Estudos mostram que atualmente
12:41está se falando mais,
12:43os meios de comunicação estão divulgando mais,
12:46o DISC-100, né?
12:48Frisando que se o fato está acontecendo
12:51ou acabou de acontecer
12:53e há aquela suspeita,
12:55é para ligar para o 190,
12:58que é o caso de prisão em flagrante.
13:00190 é o número da polícia, né?
13:02Da polícia militar, do cupom.
13:03Ou então procurar um conselho tutelar
13:06imediatamente
13:08ou qualquer delegacia da polícia
13:10que vão tomar as medidas cabíveis
13:12para resguardar a proteção
13:15daquela criança
13:17e afastar daquele abusador
13:19imediatamente a primeira medida.
13:21O DISC-100 não é tão rápido
13:24na resposta quanto o 190, por exemplo.
13:27É, o DISC-100 é uma denúncia anônima,
13:30de repente é uma vizinha,
13:32é alguém da família que percebe
13:34e vê que ali não tem aquele ambiente
13:37ou não vão...
13:38Falou e não acreditaram.
13:39O importante é denunciar.
13:41Porque muitas vezes os pais também,
13:44mães, não acreditam, duvidam.
13:47E isso é muito ruim
13:48para a autoestima da criança.
13:50Porque ali, para ela denunciar,
13:52para contar,
13:53ela já venceu barreiras emocionais
13:56daquela pessoa que ela tinha confiança.
14:00Então ela quer o quê?
14:00É uma validação dos pais dessa mãe.
14:04A mãe tem que validar aquele sentimento,
14:07não duvidar nunca,
14:09conversar calmamente
14:11para que ela não fique revitimizada.
14:14Para evitar,
14:15porque cada vez que a criança
14:16tem que contar sobre o assunto,
14:19ela sofre novamente
14:20aquela lembrança e aquele trauma.
14:23Então, tem que acolher
14:25essa escuta
14:26com muita tranquilidade
14:28com a criança
14:30e tomar as medidas cabíveis.
14:32Muito bem, Vila Neida.
14:33Vamos fazer um rápido intervalo.
14:35Você que está acompanhando a gente,
14:36não saia daí.
14:38A gente volta já, já.
14:39O Ponto de Vista está de volta.
14:53Hoje estamos entrevistando
14:54a delegada Vila Neida Aguiar,
14:57especialista na questão
14:58do abuso sexual infantil.
15:01Vila Neida,
15:02a gente vai continuar.
15:03Eu queria voltar aqui ao livro.
15:05Você assina um dos artigos.
15:07o seu tema
15:09questões legais
15:10sobre o abuso.
15:13As pessoas falam um pouco
15:14sobre isso.
15:15Quais são as questões legais
15:16que você considera
15:18mais importantes?
15:19É importante as pessoas
15:20perceberem que
15:22na lei penal,
15:24o estupro
15:25não é somente
15:27o ato em si,
15:28a violação física
15:30da criança,
15:32do adolescente,
15:33até de adultos.
15:33houve uma mudança
15:35na legislação
15:37que penalizou
15:38de forma mais grave
15:39qualquer tipo
15:40de ato libidinoso.
15:42Nós sabemos
15:43que a maioria
15:44dos atos libidinosos
15:45com crianças
15:46não deixam marcas,
15:48não deixam vestígios.
15:50Isso não exime
15:53o responsável
15:54da prática
15:55desse crime.
15:56Isso é um crime
15:57muito grave,
15:58pena de 20 anos.
16:00Então,
16:00que as famílias
16:01não fiquem preocupadas.
16:02Poxa,
16:03como é que eu vou provar?
16:05O depoimento
16:06dessa criança
16:06é muito importante.
16:08Na justiça,
16:09há também
16:10psicólogos
16:11especializados
16:13para conversar
16:13com a criança.
16:14Delegacias especializadas
16:16têm uma pessoa
16:17que é só ela
16:18que conversa.
16:19E é muito óbvio
16:21para todos nós
16:22que uma criança
16:23não consegue
16:24manter uma mentira
16:26por muito tempo.
16:28É muito fácil
16:29detectar
16:30se essa criança
16:31mente ou não,
16:33se ela
16:33detalha,
16:36ela fala em detalhes
16:37um certo assunto
16:38que não era
16:39para ela ter conhecimento
16:40daquilo.
16:42Então,
16:43é muito importante
16:44isso também.
16:45Agora,
16:45você falou
16:45das delegacias
16:46especializadas.
16:48Todas essas delegacias
16:49especializadas
16:50contam mesmo
16:51com profissionais
16:53preparados
16:54para receber
16:55esse tipo de denúncia
16:57ou esse tipo de caso?
16:58Aqui em Pernambuco,
16:59as delegacias
17:00especializadas
17:01em criança e adolescente
17:02têm uma pessoa
17:04específica
17:04que faz
17:05uns treinamentos
17:06até no Ministério Público,
17:09tem esse envolvimento
17:10do Judiciário,
17:12do Ministério Público
17:13nesse treinamento
17:14desses policiais.
17:15O ideal
17:16realmente seria
17:17em todas as delegacias
17:19porque tem cidades
17:20que não há
17:21especializada.
17:23É porque
17:23requer um pouco
17:24de conhecimento
17:24de psicologia mesmo,
17:26psicologia infantil,
17:27tudo, né?
17:27É, mas a verdade
17:29é assim,
17:29existe a lei
17:30da escuta especializada
17:32que é de 2017
17:33que ela fala
17:34especificamente
17:35sobre o que?
17:36A revitimização,
17:38não induzir
17:39respostas,
17:40deixar a criança
17:41falar abertamente.
17:42Então,
17:43não é necessário
17:44num primeiro momento
17:45ali para você
17:46receber
17:47esse depoimento
17:49livre da criança
17:50espontâneo
17:51que seja uma formação
17:53exatamente
17:53em psicologia,
17:55que ali o policial
17:56basicamente
17:57só recebe
17:58aquele relato
17:59e ela faz
18:00um relatório
18:01simplificado,
18:02mas na justiça
18:03há psicólogos
18:04especialistas
18:06nesse assunto
18:07que passa
18:08também por esse processo
18:09de fazer
18:10a escuta especializada.
18:12Porque o que é importante?
18:13Não revitimizar,
18:15não perguntar,
18:16porque antigamente
18:16a criança chegava
18:18na escola,
18:20falava,
18:20aí ia para casa,
18:22perguntava de novo,
18:24ia para o conselho,
18:25e perguntava de novo,
18:26vai para a delegacia
18:27e perguntava de novo.
18:28Então,
18:28foi criada essa lei
18:30para que ela fale
18:31o menos possível
18:32sobre o assunto.
18:34Então,
18:34é feito um relatório
18:35e que ela não reviva
18:38aquilo continuadamente.
18:39Uma forma de proteger
18:41também a vítima,
18:42no caso.
18:42o psicológico
18:43dessa vítima
18:44alertando que qualquer
18:46abuso sexual
18:47é um trauma
18:48que perdura
18:50a vida toda
18:51e precisa
18:52desse acompanhamento
18:53psicológico.
18:54Os familiares
18:55têm que procurar
18:56esse atendimento
18:57para que
18:59no futuro
18:59ela possa ter
19:00um pleno desenvolvimento
19:02com relação a isso,
19:03que acaba
19:04na vida dela,
19:05no crescimento,
19:06na vida adulta,
19:08ela passando
19:10novamente
19:10por esse pensamento,
19:13por esse trauma.
19:14Existem campanhas
19:15de conscientização,
19:17elas funcionam,
19:18elas deveriam acontecer
19:19com uma frequência maior?
19:21Qual avaliação
19:21que você faz?
19:22Quanto mais se falar,
19:24nós temos a campanha
19:25do Maio Laranja,
19:27temos o dia
19:28de combate
19:29também
19:29à prevenção
19:30do abuso sexual
19:31e um pedido
19:32que eu faço
19:33a todas as pessoas
19:34que assistirem,
19:37que repliquem,
19:38é que participem
19:40mais desse assunto.
19:42Não feche os olhos
19:43porque muitas pessoas
19:45pensam
19:45ah, isso só acontece ali,
19:47está acontecendo
19:48com a pessoa ali
19:49e não acontece comigo.
19:50esse é o crime,
19:54por incrível que pareça,
19:55mais democrático
19:56que existe.
19:58Não existe classe social,
19:59não existe raça,
20:00não existe
20:01nenhuma diferenciação,
20:04em qualquer lugar
20:05ele pode acontecer.
20:06E acontece
20:07tanto em famílias
20:08pobres
20:08quanto em famílias ricas,
20:10é uma coisa
20:11que se repete, né?
20:11É muito democrático
20:13que, enfim,
20:16e nós temos
20:17por essa obrigação
20:18proteger as crianças
20:19em qualquer esfera.
20:21Você falou
20:21do suporte psicológico
20:23na delegacia,
20:24mas fora da delegacia,
20:27qual o tipo
20:27de apoio psicológico
20:29que uma criança
20:30que foi vítima
20:31de abuso sexual
20:32deve receber?
20:33O que é que as famílias
20:34devem fazer?
20:35O que é que a escola
20:36deve fazer
20:37em termos de apoio psicológico?
20:39Minha opinião pessoal
20:40é que não existe ainda
20:42esse amplo apoio
20:44para todas
20:45essas crianças vítimas.
20:47Existem CAPS,
20:50enfim,
20:51elas são direcionadas
20:52a alguns tratamentos,
20:54tem ONGs
20:55que fazem também
20:56esse apoio,
20:58mas na escola,
21:00por exemplo,
21:01eu acho que deveria ter
21:03um número muito maior
21:05de atendimento psicológico,
21:07tanto para o abuso sexual
21:10quanto também bullying,
21:11cyberbullying,
21:13que é um problema
21:13também muito recorrente
21:15entre crianças
21:16e adolescentes.
21:17Vamos falar um pouquinho
21:18mais do cyberbullying.
21:19Você disse que é uma coisa
21:20que tem aumentado,
21:22tem acontecido mais casos
21:24de crianças que,
21:26sei lá,
21:26estão jogando no celular
21:28ou no computador em casa
21:30e acabam entrando
21:32nesses jogos
21:34ou nesse cyberbullying.
21:36muitas vezes,
21:37quase sempre,
21:38sem perceber
21:39que estão sendo vítimas
21:40do cyberbullying.
21:42É,
21:42infelizmente,
21:44antes as crianças
21:45brincavam na rua
21:46tranquilamente,
21:47eu brinquei
21:48na minha infância
21:49e hoje em dia
21:50nós sabemos
21:50que a rua
21:51já é um perigo.
21:53Aí o que acontece?
21:54A criança está
21:55dentro de casa,
21:56o adolescente
21:57com o celular na mão
21:58e você está tranquilo,
21:59está aqui na minha casa,
22:01não vai acontecer nada.
22:02O que é uma grande
22:03inverdade.
22:04ali ele tem
22:06que ser fiscalizado,
22:08criança não deve
22:09ter acesso
22:10à internet,
22:11todos os psicólogos
22:12aconselham isso
22:14e supervisão.
22:16Ou pelo menos ter acesso,
22:16mas um acesso
22:17vigiado,
22:18controlado.
22:19O adolescente,
22:20mas há um estudo
22:22científico,
22:23psicológico
22:24que até
22:2510 anos,
22:27se não me engano,
22:28não é para ter
22:28nenhum acesso
22:29à internet.
22:30É difícil,
22:31a gente sabe,
22:32mas se tiver acesso
22:33que seja
22:34supervisionado.
22:35Aí a gente vê
22:37o ponto em comum
22:37de crianças e adolescentes
22:40que ficam expostos
22:41aos perigos.
22:42É o que?
22:42A supervisão.
22:43Nós, pais,
22:45não podemos abrir mão
22:46dessa supervisão,
22:48seja em que esfera for.
22:50A gente sabe
22:51que a vida é corrida
22:52e muitas vezes ali
22:54a criança está
22:55com o celular,
22:56o adolescente,
22:57é uma tranquilidade,
22:58dá para fazer
22:58outras coisas,
22:59os pais,
23:00a mãe,
23:01mas ali nas mãos
23:03ela está sujeita
23:05a perigos extremos,
23:08tanto de abuso sexual
23:09quanto de jogos,
23:12aqueles grupos
23:13que obrigam adolescentes
23:15também a praticarem
23:16crimes,
23:18até contra si mesmo,
23:20auto-lesão,
23:21auto-mutilação,
23:22tem sido crescente
23:24esse tipo de problema.
23:26Então, há aplicativos
23:28que os pais
23:29podem instalar
23:30e assim,
23:32eu nem falo,
23:33é escondido,
23:34conversar,
23:34olha,
23:35você não tem
23:36a maturidade ainda,
23:38vamos ver isso aqui,
23:40com quem você está
23:40conversando,
23:41explicar que tem pessoas
23:42que colocam ali
23:44uma foto
23:44que não é dela,
23:46esses criminosos
23:49sabem exatamente
23:50como conversar
23:51com essas crianças,
23:52com esses adolescentes,
23:54se passando por alguém
23:55da idade deles.
23:56A internet permite
23:57até isso,
23:58que esses bandidos,
24:00que são bandidos,
24:01apareçam com,
24:04às vezes com aspecto,
24:05sei lá,
24:06um homem aparece
24:06como uma mulher,
24:07uma moça
24:08querendo conversar
24:09com um adolescente,
24:11e a gente sabe
24:12de casos
24:13que realmente
24:14se passam
24:15por outra pessoa
24:17e acabam
24:17cometendo abusos.
24:19A senhora acha
24:20que a necessidade
24:22de se falar mais,
24:23a gente disse
24:24lá no início
24:25da entrevista,
24:26você falou
24:26que a educação
24:28tem que começar
24:29em casa
24:30e os pais
24:30têm que falar
24:31mais com os filhos,
24:33isso é uma necessidade
24:35no seu dia a dia,
24:35você percebe isso,
24:37que as pessoas
24:37conversam muito pouco
24:39com os filhos?
24:40Percebo isso,
24:41inclusive,
24:43você tem que ter
24:44aquela relação
24:45de confiança
24:46com seu filho,
24:47com a sua filha,
24:49para que ele possa
24:49contar tudo.
24:50O que acontece?
24:51se ele não conversa
24:52em casa,
24:54tem um ambiente hostil
24:55para esse tipo
24:56de diálogo,
24:57aí vem o criminoso,
24:59entra em contato
25:00através até
25:01de um jogo,
25:02conversa,
25:03ele desabafa,
25:04aí começa a saber
25:05da família,
25:06o adolescente
25:07conta que os pais
25:09estão passando
25:10por algum problema,
25:11ele passa a ser
25:12aquele conselheiro,
25:14ganha confiança,
25:15pede fotos,
25:16nudes,
25:18começam a pedir
25:20na brincadeira
25:21e tudo,
25:21quando ele tem
25:22aquilo que o adolescente
25:24se dá conta
25:24que é uma violação,
25:26que ele não está
25:27se sentindo bem
25:28e quer parar,
25:29ele já sabe
25:30da família,
25:31dos pais,
25:32onde estuda
25:33e começa a ameaçar
25:34para que ele seja
25:36obrigado a fazer
25:37o que ele quer.
25:39Muito bem,
25:40quais os principais
25:41desafios,
25:42Vila Neida,
25:42enfrentados na investigação
25:44e na proteção
25:45às vítimas?
25:46Eu acho que o maior
25:47desafio ainda
25:48continua sendo
25:49a denúncia.
25:51Pouca denúncia, né?
25:53É,
25:53tem muitos casos
25:55que nós descobrimos
25:57por denúncia anônima,
25:59quer dizer,
25:59onde estavam ali
26:01a supervisão,
26:02o cuidado,
26:04eu até falo
26:05o amor, né,
26:06que deve existir,
26:08que comumente existe,
26:10que é preciso
26:11uma pessoa de fora
26:12vir denunciar
26:12aquilo que está acontecendo
26:13dentro da sua casa,
26:14então é algo assim
26:16que realmente
26:17é muito difícil
26:18a gente entender,
26:20mas nunca é tarde,
26:21já que não há denúncia
26:22ali de quem tem
26:23obrigação,
26:24que são os responsáveis,
26:26que haja essa denúncia
26:27anônima,
26:28que vai ser apurada
26:29para que todos nós
26:31possamos cumprir
26:32nosso papel
26:33na própria Constituição,
26:34da sociedade
26:35proteger
26:36crianças e adolescentes.
26:37Agora, muitas vezes
26:38acontece também
26:39da filha
26:41procurar a mãe,
26:43contar
26:43que está sofrendo
26:44algum tipo de abuso
26:45e a mãe
26:46não dá
26:47a devida importância
26:49àquela
26:50queixa, né,
26:52que a filha
26:52está fazendo.
26:53Isso acontece muito,
26:54é muito frequente mesmo?
26:56É.
26:56E por que acontece?
26:57Nós vamos fazer
26:58um paralelo aí
26:59até com a própria
27:00violência contra a mulher,
27:01nós sabemos
27:02que mulheres
27:03que vivem
27:03essa violência,
27:06esse abuso emocional,
27:08abuso físico,
27:10permanecem
27:11numa relação.
27:12Isso acontece também
27:13com mães
27:14que estão ali,
27:16a criança conta,
27:17muitas vezes,
27:18por uma dependência
27:20econômica,
27:21uma dependência
27:22emocional,
27:25finge que não acredita
27:26e continua
27:28aquela criança
27:29sendo violentada.
27:30Isso que a gente
27:31não pode aceitar,
27:32que as mulheres
27:33se acordem
27:35tanto pela violência
27:37contra ela mesma
27:38que muitas mulheres
27:38sofrem
27:39e demoram muito
27:40para tomar
27:42uma atitude.
27:43Eu acho que
27:44nisso tudo
27:44a gente vai
27:45ter um fortalecimento
27:47desse psicológico
27:48dessas mulheres.
27:50Mas criança,
27:51a mãe, inclusive,
27:52pode ser
27:53culpabilizada.
27:55Eu já,
27:56em vários casos,
27:57pedi a indiciamento
27:58da mãe.
28:00Já houve casos
28:01de mãe sendo presa,
28:02que ficou muito claro
28:03de chegar e pedir,
28:05filmar a filha,
28:06pedir para ela negar
28:07o que aconteceu.
28:09Eu confesso
28:10que nunca vai entender
28:11isso,
28:12que o amor de mãe
28:13deve sublimar
28:15a tudo isso.
28:16A mulher tem
28:17que se conscientizar
28:18dessa importância
28:19dos filhos,
28:20que é para a vida
28:20toda dela,
28:21os filhos.
28:22E se ela tem
28:23essa obrigação
28:24de proteger.
28:25Agora,
28:25muitas mulheres
28:26sofreram esse abuso
28:28na infância,
28:29não tiveram apoio
28:31e acabam
28:32replicando isso.
28:34Aconteceu comigo,
28:35algumas ficam
28:36indignadas,
28:37outras silenciam.
28:39Muito bem.
28:40Vila Neida,
28:40nosso tempo está acabando,
28:42estamos chegando
28:42ao fim da entrevista.
28:44Eu mostro mais uma vez
28:45aqui o livro,
28:46Vozes de Transformação,
28:48quebrando o silêncio,
28:50rompendo barreiras
28:51e construindo
28:52uma cultura
28:53de proteção infantil.
28:55Se você gosta
28:56desse assunto,
28:57se interessa
28:58por esse assunto,
28:59eu recomendo.
29:00Vila Neida,
29:01muito obrigado.
29:02Obrigada,
29:03é um prazer todo meu
29:04pela oportunidade
29:05e sempre à disposição.
29:07E para você
29:08que acompanhou a gente
29:09até aqui,
29:09obrigado por sua
29:10companhia e audiência.
29:11A gente volta
29:12na semana que vem.
29:13Transcrição e Legendas por Quintena Coelho

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