A arrecadação do governo federal somou R$ 234,5 bilhões em junho, um valor recorde da série histórica. O resultado foi influenciado, em parte, pelo aumento na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Os comentaristas do 3 em 1 discutiram sobre o assunto.
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00:00Eu quero mudar um pouquinho de assunto agora e trazer os dados da arrecadação do governo federal com impostos, contribuições e demais receitas que somou R$ 234,5 bilhões em junho deste ano.
00:12O resultado, é um recorde mais uma vez, representa um aumento real de 6,6% se compararmos com o mesmo mês do ano passado quando a arrecadação somou R$ 220 bilhões.
00:23De acordo com a Receita Federal, o recorde na arrecadação foi obtido com a ajuda do aumento do IOF, anunciado pelo governo no final de maio.
00:33Alan, não é de agora que a gente tem falado de recordes e recordes de arrecadação e de dificuldades e dificuldades de se fechar as contas.
00:44Onde que está o erro aí em recorde de arrecadação e dificuldade de se fechar as contas? Por quê?
00:50O problema é que a arrecadação de fato cresce em termos reais, só que o gasto cresce mais do que a arrecadação.
00:57Esse que é o grande problema. Então você tem um gargalo.
01:00Tem uma métrica muito simples para você avaliar se o governo consegue ou não fechar as suas contas.
01:06A dívida pública. Por quê?
01:08Se a dívida pública está crescente, significa que o governo está precisando tomar dinheiro emprestado da sociedade para fechar as suas contas.
01:17E eu gosto muito de olhar o resultado nominal do governo, ou seja, arrecadação menos todos os gastos, incluindo os gastos financeiros.
01:27Por que eu não gosto de olhar o resultado primário?
01:30Porque o resultado primário é cheio de possibilidades de maquiagem, de você não contabilizar alguns dados.
01:39Então, por exemplo, uma parte dos precatórios você não contabiliza, mesmo o governo pagando não é contabilizado.
01:45Então, olha o resultado nominal.
01:47Mas, Evandro, o grande ponto é o gasto sobe mais do que a arrecadação, por isso que a conta não fecha.
01:53Ô Piperno, e como é que você avalia a maneira como o governo está conduzindo as contas e também as explicações sobre isso com recordes de arrecadação nos últimos meses?
02:04Veja, claro que esses recordes têm realmente se repetido aí de mês a mês.
02:09Aliás, os recordes têm se renovado.
02:12Agora, também, toda hora surgem novas despesas.
02:15Por exemplo, ontem aprovaram, aliás, ontem foi anunciado aí o novo aumento no soldo dos militares.
02:25Então, já para 2025 e 2026.
02:27Isso vai gerar uma nova despesa, uma despesa muito grande.
02:32Há muito tempo, por exemplo, se falou em mexer na previdência dos militares, que foi, de certa forma, poupada na última reforma lá atrás.
02:42Esse é um tema sensível e espinhoso que o Congresso não quer enfrentar.
02:46E, às vezes, os governos também não.
02:48É bom que a gente seja justo em relação a isso.
02:51Há a questão, por exemplo, dos supersalários.
02:54Então, toda hora tem alguns projetos, algumas ideias para limitar isso, mas é um outro tema que não foi votado ainda.
03:02Então, é óbvio que isso também gera novos gastos.
03:07Temos, todo dia, a gente também debate a questão das emendas parlamentares.
03:12Esse é um outro gargalo.
03:14Então, na verdade, para não falar de subsídio, né?
03:17Todo dia, todo mundo bate lá buscando uns trocados a mais agora aqui em São Paulo ontem.
03:23Por exemplo, a gente noticiou aquela questão do auxílio aos exportadores que vão deixar de exportá-la para os Estados Unidos.
03:31Então, o bom e velho Estado, de certa forma, ele está sempre à disposição de vários grupos que têm lobbies importantes.
03:41O que eu chamo de pacto das elites.
03:43Enquanto isso não for, de fato, enfrentado, toda hora a gente vai conviver com esse tipo de confronto.
03:51Ou seja, a receita sobe, os gastos continuam explodindo e daqui a pouco vai vir alguém e fala
03:57Pô, mas eu tenho agora a fórmula mágica para isso.
04:01Vou lá cortar o benefício social.
04:02É aí que está a grande conta e é aí que eu resolvo.
04:05Fala, Moza.
04:06Eu mergulhei em cima do relatório bimestral também, então estou com isso bem na ponta da língua.
04:10E é engraçado, o traje cômico, que todos os meses a manchete parece positiva, que o número de arrecadação é positivo.
04:17Mas isso não é positivo.
04:18Não é porque a atividade econômica está sozinha crescendo.
04:21Primeiro que ela foi anabolizada.
04:22Segundo que é aumento de impostos, retirada de dinheiro da mão das pessoas e das empresas, que geram emprego, investimentos, produtividade.
04:30E fica muito claro, complementando um pouco do que o Alan falou, que o gasto tem que se olhar do seu ponto de vista nominal.
04:37Imagina você na tua casa que tem uma dívida e você tem um juros em cima dessa dívida.
04:41O que o gasto primário faz é retirar essa dívida da conta.
04:45Ora, mas você tem que pagar os juros.
04:46E o pior de tudo, tem matérias facilmente encontradas que até hoje o governo já gastou 324 bilhões de reais com gastos que ele colocou como gasto discricionário e deveria ser gasto financeiro.
05:02E ao ser gasto discricionário, só que pela lei deveria ser financeiro, o que ele faz?
05:08Não entra na conta do arcabouço, mas entra no endividamento.
05:11O endividamento continua crescendo e a gente chega no problema que a gente está.
05:15Zé Maria Trindade, fala aí meu amigo.
05:18Me lembrou a música, né?
05:20Aquela, se o Brás é tesoureiro, a gente acerta no final.
05:24Porque já estão gastando por conta, já aumentaram os gastos aqui com base exatamente nesse aumento da arrecadação.
05:31E o orçamento público virou uma peça de ficção.
05:35Porque na verdade é o seguinte, já existem setores que tem o gasto obrigatório
05:42e quando aumenta a arrecadação, aumentam esses gastos obrigatórios.
05:47Educação, saúde, né?
05:49São vários fundos constitucionais que captam pedaços ali.
05:54E aí as contas públicas continuam com o problemão danado em colapso, né?
05:59Então não adianta muito o aumento da arrecadação se o aumento da despesa também é proporcional.
06:05Ou até às vezes até maior.
06:06Porque existe um crescimento projetativo independente da decisão.
06:11Valeu, Zé Maria Trindade.
06:14Ô, Alan Gani, agora você entende de fato que, tanto por parte do Congresso Nacional, quanto por parte...
06:21Ô, Zé, eu atrapalhei a sua linha de pensamento ou não?
06:24Eu estava falando, falei rapidamente com o nosso diretor?
06:26Não, não.
06:27Não, né?
06:27Eu concluí, é isso mesmo.
06:29Ah, então beleza, Zé, me desculpa aí.
06:30Ô, Gani, o Zé estava falando sobre essa peça de ficção que se tornou o orçamento.
06:35E isso me parece não só acontecer no Executivo, mas no próprio Congresso Nacional.
06:41Tanto que aquela regra de se aprovar o orçamento para poder sair de recesso nos últimos anos
06:48não tem valido porcaria nenhuma.
06:51E principalmente, há uma preocupação maior dentro do orçamento com aquilo que vai ser
06:56destinado às emendas parlamentares do que de fato uma preocupação com os gastos necessários
07:02para mobilizar o Brasil de uma maneira positiva e atender os setores que realmente precisam de investimento.
07:09Exatamente, Evandro.
07:10Virou moda no país a gente falar em ajuste fiscal e eu compactuo com certeza com essa ideia.
07:18Agora, é o ajuste fiscal para os outros, né?
07:22Então o Congresso Nacional fala em ajuste fiscal, mas não, espera aí.
07:26As minhas emendas eu não vou cortar.
07:28Quem tem que fazer o ajuste fiscal é o Poder Executivo.
07:30O Poder Executivo, por sua vez, fala em ajuste fiscal, mas fala
07:35Opa, o grande problema, o grande culpado é o Congresso Nacional com as emendas.
07:40Eu também não quero mexer.
07:42Então, fica essa discussão do ajuste fiscal, mas ninguém quer cortar na própria carne.
07:50E é aí que está o problema.
07:51Porque um ajuste fiscal obrigatoriamente significa perda de benefícios e perda de privilégios.
08:00Só tem um jeito da gente conseguir um pacto fiscal no Brasil, que todo mundo pague essa conta.
08:09E não um poder ou outro poder.
08:10Mas todos os poderes acabem pagando essa conta, inclusive também a classe empresarial com os subsídios.
08:16Fala, Bruno Moussa.
08:17Bem rapidamente, segundo a FMI, o maior Estado do mundo, ou seja, o que pega a maior parte daquilo que é produzido é a França.
08:2460% do que é produzido fica na mão do Estado.
08:27A França, na semana passada, anunciou um corte de 44 bilhões, congelamento de salários,
08:32demissões de alguns funcionários públicos.
08:35A França, que é o maior Estado do mundo.
08:38Se nós não fizermos o ajuste fiscal, quem faz sempre, basta olhar a história, é a própria inflação.
08:46E ela faz sozinha e é muito mais dolorosa.
08:48Não, é que tem uma coisa.
08:50Bruno, de fato a França fez tudo isso.
08:52Até o ano passado a gente mostrou aqui muitas imagens das brigas nas ruas,
08:56quando a França anunciou aquela reforma lá da Previdência.
08:59Mas a gente não pode esquecer uma coisa.
09:03A França gostaria muito de, na questão fiscal, estar nesse nível do Brasil.
09:09Porque a França, ela tem um déficit fiscal de quase 6% do PIB.
09:16A França tem que cortar demais.
09:18Aliás, toda a Europa tem que cortar muito.
09:22E o governo americano também.
09:23É por isso que, inclusive, mexeu em muita coisa.
09:25Eu concordo, mas quando nós levamos em consideração o nosso déficit nominal,
09:30que o Alan mencionou e eu completei aqui,
09:33o nosso déficit nominal hoje é 8% do PIB, né?
09:36Quer falar algo, Piperno?
09:37Não, o nosso déficit nominal, de fato, é alto.
09:40E veja, nesses países desenvolvidos, o déficit nominal também está muito alto.
09:47Por isso que é uma coisa que eu sempre discuto com o Alan aqui, né?
09:50O, enfim, economista lá, o doutor Catástrofe, que eu gosto muito.
09:55Ele prevê que a próxima grande crise mundial vai ser a crise do endividamento,