O deputado federal do MDB RS, Alceu Moreira, detalha as consequências das tarifas de 50% impostas ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na indústria, que já gerou reações imediatas das empresas.
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00:00Ainda nesse assunto, a gente recebe aqui no Jornal da Manhã o deputado federal do MDB do Rio Grande do Sul, Alceu Moreira, que gentilmente nos atende nesta manhã de domingo.
00:10Deputado, bom dia. Muito obrigado por atender a Jovem Pan.
00:14Bom dia, Roberto Nonato. Bom dia, Beatriz Maffredini. Bom dia aos nossos queridos telespectadores do Jornal da Manhã.
00:22É sempre uma alegria poder conversar com vocês. O Acácio Miranda, que também está conosco, estou à sua disposição.
00:28Bom, deputado, a gente está vendo aí uma série de setores se movimentando em virtude dessa possibilidade de tarifa de 50% sobre os nossos produtos que devem entrar em vigor no mês de fevereiro.
00:40Agora o Rodrigo Viga trouxe aí a informação da redução da produção de carne destinada ao mercado norte-americano.
00:47O senhor sempre foi um parlamentar muito ligado às questões do agronegócio.
00:52Como é que o senhor está vendo essa taxação e a possibilidade de que a gente possa negociar com os Estados Unidos para tentar reduzir isso e chegar num patamar um pouco mais consensual, deputado?
01:05Então, Roberto, a primeira questão a levar em consideração é o seguinte.
01:08Não podemos ser fatalistas.
01:11Encontrar culpados por isso que está acontecendo agora é perfeitamente possível, mas não resolve nosso problema.
01:17Nós precisamos, com certeza, ir buscar alternativas diplomáticas para vencer a quantidade de problemas que nós criamos absolutamente desnecessário.
01:29O Brasil estava fora desse radar, não teria participação e foi, na verdade, com a atuação leviana de alguém que projeta a sua imagem muito maior do que ele mesmo é,
01:42que é o presidente Lula, ele com certeza tem na sua retina a imagem de 30 anos atrás, não tem um projeto estratégico diplomático para discutir com o mundo
01:53e, no caso dos Estados Unidos, ele agiu de forma provocativa, levando a chegar a essas consequências que chegamos agora.
02:02Há como vencer-se diplomaticamente?
02:04Porque se fosse para culpar apenas outro, vamos culpar o ex-presidente da República?
02:09Bom, então, a China teve um problema, também tinha que ser culpado mesmo.
02:15O México, o Canadá, agora a Índia, né?
02:19Nós, na verdade, temos que perceber o seguinte.
02:21Quando nós tivemos a eleição do presidente Donald Trump,
02:25Nós já percebemos que no seu discurso durante a campanha, ele trazia este tema,
02:33que é a questão da vulnerabilidade americana, que apareceu ainda na pandemia,
02:39quando a globalização figurava entre nós como vento e chuva, como fato natural, e ele não era.
02:46Os Estados Unidos, então, encontrou-se vulneráveis porque ele botou suas plantas produtivas fora do país
02:51e precisava repatriá-la para que ele não tivesse relação de dependência com outros países.
02:57Trazer de volta isto traz um custo gigantesco, custo de mão de obra,
03:02custo de possibilidade de estar trabalhando com essas questões todas.
03:06Tudo isto é muito complexo.
03:10Ele resolveu, então, e já estava isso logo depois que ele assumiu a presidência da República,
03:15oferecendo tarifácios como uma forma de atrair os países
03:19que ele queria recompor as relações comerciais a partir das tarifas.
03:25E os países, todos, inclusive a China, vieram para a negociação buscar alternativas.
03:31Nenhum deles, no entanto, conseguiu voltar ao estágio anterior.
03:35Todos tiveram penalidades.
03:36Quando volta na negociação, reduz enormemente o impacto,
03:41mas paga mais caro para ter isto.
03:43O Brasil continuou fazendo, com o seu presidente da República,
03:47em viagens internacionais, com as suas posições políticas,
03:51ele fazia uma manifestação completamente oposta aos Estados Unidos.
03:56E ele fazia isto por questão de natureza ideológica.
03:59E, na minha visão, um provocativo final foi a reunião dos BRICS,
04:03quando, na verdade, mexeu em algo que é absolutamente importante para os Estados Unidos,
04:09de alta sensibilidade, o dólar como moeda regulatória do comércio mundial.
04:16Dizer que pode tentar substituir a moeda americana
04:19e trazer outra moeda regulatória dos BRICS
04:21é, na verdade, brincar com a economia americana,
04:24que hoje nós temos uma relação de dependência de 11% de toda a exportação que nós temos lá.
04:31Muito importante para o nosso mercado.
04:35O que faltou para nós é maturidade.
04:37para perceber o seguinte, nós podemos e devemos até ter posições,
04:42pensamentos distintos ao presidente americano.
04:45Tem muita gente fazendo crítica da sua atitude como presidente do país.
04:49Mas nós não podemos abandonar nunca a responsabilidade diplomática
04:53e ser pragmático no tratamento disso.
04:57Foi assim no governo anterior, quando começaram a falar mal da China
05:00pelo seu sistema político.
05:02E nós, da frente parlamentar, chamamos a atenção.
05:04Não cabe ao Brasil, que tem uma relação de dependência,
05:08um intercâmbio comercial gigantesco com a China,
05:11ficar fazendo provocação de natureza ideológica.
05:14Não venceremos a China?
05:16Não teremos condição de modificar o que a China pensa sobre política?
05:20E, portanto, só perderemos o mercado.
05:22Agora, o senhor presidente da República sai pelo mundo inteiro
05:25fazendo posição quase sempre contrária ao governo americano.
05:29se reunindo com ditaduras, mostrando a amabilidade com isto,
05:34indo lá fora buscar no Peru uma interferência,
05:37uma corrupta e traz para o país no avião da FAB,
05:40vai na Argentina e abraça a Cristina Kirchner.
05:43Enfim, faz uma série de movimentos que mostra claramente
05:47que ele pretendia ser um estadista no contraponto contra os americanos,
05:51mas seu tamanho visto no espelho é, no mínimo, 30 vezes maior do que ele mesmo vê.
05:57Hoje é um presidente ultrapassado.
05:59Cada aeroporto que chega tem alguém lhe criticando
06:02pela sua conduta moral no próprio país.
06:04Não poderia fazer isso.
06:06O que nós temos que fazer do agro agora
06:08não é ouvir o que eu vi agora do secretário.
06:10Não!
06:11Nós vamos tentar buscar o mercado interno.
06:14Meu amigo, o nosso custo de produção é em dólar.
06:17Se nós tivermos o preço de venda muito mais baixo do que isso,
06:22quebraremos a nossa cadeia produtiva.
06:24Não há como nós vendermos.
06:26Qualquer coisa que entra na porteira da propriedade é em dólar.
06:29Esses mercados como utilizados, como é o caso dos minérios,
06:34mas também o suco de laranja, também a carne, também o café,
06:37eles todos têm um custo em dólar.
06:40Se nós perder o mercado americano,
06:42teremos grande dificuldade para a adaptação disso
06:44e com certeza pagaremos com a quebradeira inteira de setores
06:49que levamos anos e anos e anos para organizar.
06:53É um ato de irresponsabilidade completa.
06:56O agro-brasileiro vai agir com absolutamente pragmatismo.
07:02Nós estaremos no solo americano discutindo com os americanos
07:07todas as possibilidades de acordo.
07:10Precisamos, no entanto, que o presidente brasileiro
07:12para de fazer bravatas, que para de andar pelo mundo
07:15tentando passar a ideia do estadista no contraponto,
07:20porque ele não tem esse tamanho que ele pensa que tem
07:22e só nos atrapalha.
07:24Agora, é hora de todos pensarmos na unidade do país.
07:28Mas não dá para fazer com o chavismo.
07:31Olha, vamos tratar o império americano
07:32para unir a população brasileira
07:34de acordo com o pensamento do PT no governo.
07:36Não, nós nunca pensaremos assim.
07:39Nós somos oposição.
07:41Esse é um país que passa a discutir política interna pelas laterais.
07:45Nós queremos fazer uma discussão pragmática, objetiva,
07:49buscando alternativas para recompor
07:52nossa relação comercial com os Estados Unidos
07:55de tal maneira que o prejuízo seja o menor possível.
07:59Deputado, bom dia para o senhor.
08:03Por favor, qual é agora a expectativa,
08:06essa semana, para a gente fechar a nossa entrevista,
08:10da atuação da Câmara dos Deputados?
08:13O que está previsto nesse sentido,
08:15pensando nesse possível tarifácio?
08:19Nós, na verdade, já estamos conversando com a embaixada americana,
08:22estamos usando interlocutores que têm condição de fazer isso.
08:25Aliás, não estamos fazendo sozinhos.
08:27A Índia também estava na reunião dos BRICS,
08:30já está fazendo a discussão.
08:32Nós estamos discutindo com o Canadá e o México,
08:35que são países que, junto conosco,
08:37formam uma população maior que a população americana
08:39e que, portanto, juntos teremos muito mais força
08:42para fazer contraposição.
08:44Estamos pedindo para a nossa diplomacia
08:46utilizar de toda a intensidade possível,
08:50a maturidade,
08:51para excluir desse processo a contaminação política.
08:55Não dá para esquecer, por exemplo,
08:57que há pouco tempo os Estados Unidos pediu
08:59que transformasse o narcotraficante brasileiro
09:02num terrorista.
09:04E o governo brasileiro negou de fazer isto.
09:07O que diz os Estados Unidos?
09:08Grande parte do que está acontecendo hoje
09:11na operação desse narcotráfico instalado no mundo
09:14tem o cérebro e a possibilidade de execução dinâmica no Brasil.
09:18Não considerado como terrorista,
09:21não permite a ação dos Estados Unidos
09:22para coibir essas questões que interferem lá.
09:26Nós vamos ter que trabalhar essas questões de maneira lateral
09:29para amenizar os impactos de natureza ideológica,
09:32como é o caso, por exemplo, da Suprema Corte Brasileira,
09:34que age de maneira absolutamente irresponsável e desproporcional,
09:39relativizando a questão democrática e não raro,
09:42atingindo aquilo que é princípio americano.
09:44Nesse momento, não dá para nós baixar a cabeça
09:48e achar que a nossa soberania pode ser subjugada.
09:51Não faremos isso.
09:52Mas é preciso ter racionalidade,
09:54inteligência estratégica
09:56para encontrar alternativa
09:58e salvar a economia do Brasil
09:59e, principalmente, a economia que nós transformamos competitiva.