Com a aproximação da COP 30 em Belém, produtores e especialistas em vinho no Pará se preparam para apresentar aos turistas uma experiência única: vinhos feitos com frutas típicas da região, como cupuaçu e açaí. A sommelière Christianne Rosas, da ABS-PA, explica como o setor vem crescendo e aposta nos sabores da Amazônia como diferencial.
REPORTAGEM: Bianca Virgolino / Especial para O Liberal IMAGENS: Carmem Helena
00:00A gente começa como hobby e depois acabei transformando como trabalho.
00:05Já tem mais de 15 anos que eu estudo sobre vinhos e era um hobby e eu sou super curiosa, gosto de ler a respeito.
00:14E quando eu vi que o vinho atravessava vários temas como geografia, história, literatura, arte, música, até espiritualidade.
00:23Então assim, só para citar alguns temas, o vinho abrange tudo isso.
00:27Então isso me seduziu bastante e houve um tempo que eu estava um pouco infeliz no meu antigo trabalho e eu disse, por que não trabalhar com vinho?
00:37E aí comecei a trabalhar com vinho e dentro desse meu trabalho com vinho, eu já representei vinícolas naturais e tive contato com os vinhos de outras frutas.
00:50Que existe toda uma discussão no setor, no meio, porque a legislação brasileira não prevê esses produtores artesanais, esses produtores de vinhos de outras frutas.
01:06Mas é porque a legislação brasileira não prevê o contexto histórico e cultural do Brasil.
01:11Antes das chegadas das caravelas, a gente já tinha vinho sendo produzido aqui.
01:16E não sou eu que estou dizendo, as cartas de Cabral falam sobre isso, sobre os vinhos dos índios, os vinhos como eles retratavam.
01:25E hoje a gente sabe, os povos indígenas produzem as suas bebidas fermentadas alcoólicas, ainda hoje na verdade.
01:32E isso me seduziu também, porque eu disse, poxa, não é só de uva.
01:37Então eu consigo produzir um vinho, por exemplo, de cupuaçu, de açaí, e retratando toda uma identidade cultural, principalmente aqui do Norte.
01:48Aqui no Estado, o vinho que é produzido é de açaí, de cupuaçu, de bacuri, que são as nossas frutas amazônicas.
01:55A gente não tem vinho produzido de uva, por exemplo, porque aí esse contexto de terroir, clima, o solo, a própria mão do homem na terra, na produção do vinho.
02:07A gente não tem em Belém um clima apropriado.
02:11A gente precisa de um clima com arrefecimento, com um contexto climático diferente, de solo.
02:19Então a gente vê hoje muito mais no Rio Grande do Sul.
02:23Mas o Brasil já é um produtor de vinhos, porque a gente tem vinho sendo produzido lá no Vale do São Francisco, em Minas Gerais, em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro.
02:36Então hoje o Brasil já é um produtor de vinhos, como qualquer outro país.
02:42E eu também não gosto muito quando se fala que o Brasil é um produtor muito jovem.
02:47Até porque a gente já tem o contexto das videiras aqui, desde a chegada das caravelas.
02:53Então a gente está falando aí de 500 anos.
02:55Então desde 1600, 1700, a gente já vê a tentativa de produção de vinho fino, de uva, aqui no nosso solo brasileiro.
03:04E o Brasil, ele é um grande player, como se diz no mercado, porque ainda tem muito para crescer.
03:11A gente aqui no Norte não tem uma cultura do vinho ainda, mas a gente já tem um consumo de vinho bastante alto.
03:22Pelo que eu percebo de mercado, eu ando pelos restaurantes, represento vinícola brasileira,
03:27represento os vinhos de Cupuaçu e Açaí do Acre, Apisato, que é do Rio Grande do Sul.
03:32E eu ando pelos restaurantes e o que eu vejo é que o consumo do vinho está agora muito maior do que já foi há cinco anos, por exemplo.
03:42Então a gente tem um mercado interno muito propício e muita coisa para crescer ainda.
03:49Então a gente já tem essa possibilidade do vinho se tornar, sim, uma cultura.
03:55Por que não? Nossa, a gente está vendo os eventos sendo produzidos na cidade com vinho ao ar livre ou nos restaurantes e o consumo está sendo muito grande.
04:05A COP vem trazer luz para o que a gente já sabe.
04:09A gente que mora aqui já sabe que nós temos a melhor gastronomia do mundo.
04:13E hoje o mundo está conhecendo também por conta da COP 30, que vai ser realizada no Belém.
04:19O que eu vejo assim, o vinho, ele não é dissociado da gastronomia, do alimento.
04:27Ele está presente na mesa.
04:29E nós temos uma gastronomia riquíssima, que harmoniza muito bem com vinhos.
04:35Vinhos de uva ou de outras frutas.
04:37Eu brinco que o nosso prato de peixe frito com açaí, ele foi atualizado com sucesso,
04:43porque hoje eu consigo tomar um vinho de açaí com peixe frito.
04:47E isso é interessante.
04:48E falando de mercado, a gente tem uma possibilidade muito grande, porque como eu te falei,
04:55uma pessoa que vem de outro país, ele quer ter experiências daqui, experiências nossas, com as nossas bebidas.
05:03E quando eu falo também nossas bebidas, eu falo dos vinhos brasileiros.
05:07Inclusive, todas as consultorias que eu presto para escrever carta, eu falo da importância de ter vinho brasileiro
05:15e hoje de ter vinho de outras frutas também, porque as pessoas buscam essa experiência.
05:21Elas querem saber como é que é produzir um vinho de cupuaçu, um vinho de açaí e ter experiência com a gastronomia.
05:28Isso é uma possibilidade muito grande e eu vejo que a gente vai ter muitas possibilidades de venda,