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00:00DOL DELAS. Oferecimento claro. Você merece o novo.
00:04Olá, mulherada! Sejam muito bem-vindas a mais um episódio do DOL DELAS.
00:33E hoje nós vamos receber direto de Mocajuba, no coração do Baixo Tocantins,
00:39conhecer uma mulher que une saberes ancestrais à inovação com muito propósito e sabor.
00:46Recebemos com muito orgulho a engenheira, educadora ambiental e CEO da Cacauaré, Nayane Maia.
00:54E eu já te pergunto, o que é o cacau cerimonial e para que ele serve?
00:59Oi, Priscila. Obrigada por me receber. É um prazer estar aqui.
01:03E o cacau cerimonial, ele nada mais é que o uso tradicional do cacau pelos povos originários.
01:08A gente sabe que o cacau é muito associado ao chocolate, mas o chocolate é uma invenção europeia.
01:14O cacau saiu daqui, foi para a Europa e lá ele se transformou em chocolate.
01:17Então a Cacauaré, ela traz esse uso tradicional, originário do cacau pelos povos tradicionais daqui das Américas.
01:24Que eles pegavam o cacau, maceravam ele, as amêndoas e misturavam com água quente para beber em rituais,
01:31em cerimônias, em agradecimento, em fortalecimento, pedir fartura na colheita.
01:35Então os povos consumiam o cacau dessa forma, com uma bebida que era sagrada.
01:41O cacau, a palavra dele, teobroma, é alimento dos deuses.
01:45Então eles bebiam o cacau em forma de agradecimento também.
01:49Então é resgatar essa ancestralidade, né?
01:52E essa história, porque isso é história, é a nossa história.
01:55É, exatamente, é a nossa história.
01:57A gente vê, né, ao longo desses anos de trabalho, que muitos amazônidas desconheciam que o cacau é original daqui, né?
02:04É original daqui?
02:06É, o cacau, ele é original da Bacia do Amazônida.
02:07Eu jurava que era da Bahia.
02:08Não, ele saiu daqui e foi para a Bahia, ainda no Brasil Colônia.
02:11Lá ele se adaptou muito bem e deslanchou, mas o cacau, ele é nativo da Amazônia.
02:16Gente, como é importante a gente saber essas informações.
02:20Olha, isso também aqui é cultura, tá, meu povo?
02:23É verdade.
02:23E como surgiu a Cacau Aré?
02:27Conta pra gente.
02:28Então, a Cacau Aré, ela é uma empresa que é formada por mim, minhas irmãs e a minha mãe.
02:32Em 2020, a gente perdeu o nosso pai, que era quem tomava conta, né, da nossa área.
02:37Nós morávamos em Belém, trabalhávamos aqui, cada uma na sua carreira, né?
02:41Eu sou engenheira.
02:42Ah, tinha outras profissões.
02:44Outras profissões.
02:44Minha irmã é advogada, minha outra irmã é de TI e eu engenheira, né?
02:48Trabalhei muitos anos, né, público e privado.
02:50E aí, com o falecimento dele em 2020, de Covid-19, a gente teve que retornar pro nosso território.
02:56Certo.
02:57Então, a gente chegou lá naquela situação.
02:59Ou a gente deixava o território, se desfazia ali da área, ou a gente voltava e via o que poderíamos fazer.
03:04Então, a gente optou em voltar pra Mocajuba, se reconhecer naquele território mais uma vez e começamos o trabalho com o Cacau lá em 2020.
03:14E vocês fazem um trabalho também de educação ambiental lá e de resgate dessa comunidade, né?
03:21Conta pra gente como foi isso, porque não deve ter sido fácil, né, Nayone?
03:25Foi uma longa jornada, né?
03:28Ainda enfrentando a pandemia, aquela questão da gente estar recluso, não poder estar visitando as pessoas.
03:35Então, a gente teve que ir devagar, de comunidade em comunidade, de casa em casa, pra ver o que a comunidade estava fazendo ali com relação ao Cacau, né?
03:42A gente via que era uma super desvalorização, não tinha perspectiva de mercado, de produto, de acesso a novos produtores, fornecedores, enfim, né?
03:52Então, a gente teve que fazer esse resgate, de fato, ir lá e mostrar que tinha potencial, que tem potencial, né?
03:59Com certeza.
03:59Então, foi um trabalho junto à comunidade de se redescobrir como um produtor de Cacau.
04:04De você ter orgulho de estar ali naquela área e ter um cacau original, um cacau puro, que é bom, que ele faz bem pra gente e pro meio ambiente também.
04:15E pra comunidade, porque gera renda, né, pra essa comunidade.
04:19Mas conta pra gente, qual é o papel dessas mulheres na produção e na gestão da marca Cacau Aré?
04:26É, como eu disse, né, é uma empresa de mulheres, então...
04:29Força feminina, eu gosto disso.
04:31E divido em todos os segmentos dentro, na parte administrativa, financeira, de comunicação e de relação com a comunidade.
04:38Quem nos representa hoje lá é a nossa mãe, a nossa matriarca, né?
04:42Que ela herdou, nós herdamos isso tudo da nossa avó, da mãe dela.
04:46A minha avó era uma grande produtora de cacau, ela tinha muito orgulho de estar ali, de fazer doce, geleia, de fazer licor.
04:52E tinha orgulho de ter a renda dela e dizer, olha, eu comprei esse prato, essa louça aqui toda com dinheiro do cacau.
04:58Eu construí isso aqui com dinheiro do cacau.
05:01Então foi esse pertencimento, essa sensação de você contribuir com a comunidade que a gente trouxe de volta.
05:06Falou, olha, é possível você gerar renda sem derrubar uma árvore, sem destruir nada.
05:11Você pode pegar, trabalhar esse cacau, fazer ele de uma boa forma e vender pro mercado que vai receber ele de uma forma maravilhosa.
05:18Então a gente tem esse trabalho hoje de ser exemplo também.
05:21De falar, olha, são quatro mulheres que comandam uma empresa que gera renda, que traz dinheiro pra comunidade e que não derruba nada.
05:27Como é importante a gente ter essa educação.
05:31Vocês fizeram o caminho inverso, vocês saíram do interior, que geralmente isso acontece, as pessoas que moram no interior saem pra ir estudar.
05:39Mas aí quando isso aconteceu, vocês retornaram.
05:42E já, claro, também com a sabedoria do que vocês conseguiram estudar e tudo mais.
05:48E você é engenheira, as outras irmãs têm outras profissões.
05:53Então vocês trouxeram também essa educação que vocês receberam aqui e foram disseminar, né?
05:59Foram espalhar essa educação pra toda a comunidade.
06:02Isso é muito legal. Parabéns, viu?
06:03Obrigada.
06:04Eu sei que não deve ter sido nem um pouco fácil, né?
06:09Porque vocês trabalham mesmo... É um trabalho de formiguinha, né?
06:12Sim, sim. Como a gente tá numa zona ribeirinha de difícil acesso, então é só com barco.
06:17Então você que ir, e aí tem chuva, tem a subida e a descida da maré, que o nosso rio tem maré, né?
06:24Então todos os atravessos, né? Todas as dificuldades, elas vão existir.
06:29Mas a gente encontrou muita receptividade também na comunidade.
06:32Quando a gente... Meus avós foram grandes produtores.
06:35Então quando eu ia lá e falava, olha, eu sou neta do Nari, eu sou neta da Daí,
06:39eu tô resgatando o trabalho com cacau aqui em Mocajuba.
06:43Como é que você tá fazendo? O que você tá fazendo aqui?
06:45Como é que tá a sua área?
06:47Então a gente conseguiu também fechar parcerias pra levar assistência técnica rural pra lá,
06:51pra levar conhecimento, pra levar outras pessoas que trabalham com cacau
06:56pra instruir as pessoas ali, né? A nossa comunidade como um todo.
06:59Porque só a gente não tem, né? Só uma andorinha não faz verão, literalmente.
07:04Então a gente conseguiu ter essa receptividade e fortalecer a nossa comunidade ali
07:08pra atuar junto com a gente na produção de cacau de vasa.
07:12E como foi pra Cacauaré trabalhar essa renda?
07:17Porque vocês ajudam a eles terem uma renda e com isso eles não precisam desmatar a floresta
07:24e vocês ajudam também nisso.
07:25Como é esse trabalho? Como vocês fizeram? Isso é através das parcerias?
07:32Então a gente começou fortalecendo o cacau, né?
07:35Vendo como é que eles estavam na produção e indo atrás de compradores, né?
07:40Abrindo o mercado.
07:41Nosso papel, principal no início, foi encontrar mercado pra esse cacau que tava ali desvalorizado.
07:46Então a gente foi fazer esse trabalho de conscientização com a comunidade
07:50e depois atrás de mercado.
07:52Hoje tem várias empresas que tão atuando em Mocajuba, como a CB Cacá.
07:56A própria Cargill também compra cacau de lá da comunidade.
07:59E ensiná-los, né?
08:00Como é que ele negocia?
08:01Qual é o melhor momento de comprar ou de vender?
08:03E absorver a produção deles também.
08:06Como a gente já tava no mercado, a gente conseguiu consolidar a nossa marca.
08:09Então aqueles que não tinham...
08:10Ah, não consigo vender o meu suco de cacau.
08:12Não tão conseguindo vender minha amêndoa, a minha geleia.
08:15E a gente absorve e vende.
08:16Eu compro do preço deles, não tenho desconto, não...
08:20Ah, faz bem barato pra mim.
08:21Não dá pra tu...
08:22Não.
08:22Quanto é que você tá vendendo aqui?
08:2410, 15, 20, 30?
08:25Vou comprar e vou colocar o meu preço e vou revender pra fora do estado.
08:29Mas aí vocês trabalham a marca de vocês, que é isso que vocês estão trabalhando bastante.
08:34A cacau areia.
08:35Então vocês estão resgatando, gerando essa renda e colocando a marca de vocês nisso.
08:43Mas vocês também têm a produção de vocês próprias.
08:45Temos, a gente tem a nossa produção própria, a nossa área.
08:48Seriam os insumos então também, né?
08:50Isso, a gente faz toda a matéria-prima do cacau.
08:51A gente aproveita tudo, da semente até a polpa, o suco, o mel.
08:56Tudo se aproveita do cacau.
08:57Então a gente não tem desperdício.
08:59E aí a nossa comunidade também aderiu a isso.
09:01Quem produz amêndoa também produz geleia, produz suco, produz todos os derivados do cacau.
09:07E aí a gente consegue abrir mercado pra eles também.
09:09Que bacana. E como é que tá sendo esse fomento desses empreendedores lá em Mocajuba com a COP30?
09:17O que vocês estão percebendo? O que ela tá ajudando?
09:21Como tá sendo isso? Conta pra gente.
09:23Ah, estão... Todo mundo tá eufórico, né?
09:26É uma grande janela, uma visibilidade nunca imaginada por qualquer produtor ribeirinho.
09:30Imagina, a gente tá lá dentro, na beira do rio e tem a possibilidade de levar um pouco do nosso trabalho
09:36pro mundo inteiro que vem aqui nos ver, né? Vem ser recebido por nós.
09:41Eu acho que é uma oportunidade ímpar na vida de qualquer produtor.
09:44Seja do cacau, do açaí, da andiroba, de todas as cadeias produtivas do Estado.
09:50Então a gente tá se preparando pra isso, né?
09:52Refinando nossos produtos, melhorando o nosso networking,
09:55a forma como a gente se apresenta, participando dos festivais que tem,
09:59voltados ao cacau e chocolate.
10:00Então a janela da cópia, ela já começou, né?
10:03A gente já tá naquele bala.
10:05Então a gente tá na contagem regressiva pra receber,
10:08pras pessoas verem o que tem de bom aqui, de fato.
10:10Pois é.
10:11Mocajuba é conhecido como a cidade dos botos.
10:15E ela é uma cidade muito linda.
10:18Os rios, o rio é maravilhoso.
10:22Essa questão turística, essa questão de levar pessoas pra conhecer como é o funcionamento lá.
10:28Vocês pensam nisso, essa parte mais de conhecer como funciona o que vocês fazem lá.
10:37Vocês estão pensando nisso, em trazer esses turistas pra lá ou não, Priscila?
10:41A gente tá focado no chocolate e hoje é o nosso principal produto.
10:46Não, a gente tem, a gente tá modelando um serviço de receptivo
10:49pra levar as pessoas pra conhecerem a cadeia do cacau, né?
10:52Ótimo.
10:53Pra ver como é, porque as pessoas pensam no cacau em fazenda, né?
10:56Sim.
10:56E o nosso cacau não é, ele tá no meio da floresta.
10:59Então, assim, eu não tenho só um cultivo de cacau.
11:01Lá dentro é uma floresta.
11:02Então, tem açaí, tem a diroba, tem todas as espécies nativas da Amazônia.
11:06Então, a gente quer que a pessoa entenda como é que eu consigo.
11:09Então, tá lá no meio do rio, numa ilha, tirar esse cacau e transformar ele e levar ele pro mercado.
11:14Então, a gente tá desenhando um roteiro de um receptivo
11:18pra essas pessoas que vêm hoje pra COPE ou pra qualquer outro evento, né?
11:22A COPE vai passar, mas os efeitos vão ficar, né?
11:25Sim.
11:25Então, a gente quer que isso vire um serviço dentro da Cacau Areca.
11:28A pessoa venha, consiga conhecer, visitar a área, visitar cacaueiros centenários que nós temos lá, né?
11:34São quatro gerações produzindo cacau.
11:36Eu sou a quarta geração da minha família.
11:38Então, como é que a gente consegue transformar esse cacau nativo de lá, da comunidade e levar ele pra todo o Brasil?
11:43A gente envia pra todo o Brasil o nosso produto, né?
11:46Então, a gente tá desenhando esse modelo de receptivo
11:48pras que as pessoas tenham essa experiência de ir lá, conhecer a comunidade, conhecer o cacau
11:53e provar nossos produtos também, né?
11:55Provar os produtos e conhecer as belezas e a receptividade realmente de Mocajuba.
12:01Porque eu já fui em Mocajuba e foi muito bem recebida.
12:03Eu não conhecia ninguém, mas foi maravilhoso.
12:06E eu já quero te pedir pra que tu deixe um conselho pra essa mulherada empreendedora
12:12que tá assistindo a gente, pra que elas possam trabalhar essa veia empreendedora,
12:20mas com propósito aqui na Amazônia.
12:23Qual é o conselho que tu deixa pra essa mulherada?
12:25Olha, meu conselho, antes de tudo, é conheça a comunidade onde você vai atuar,
12:31vá pra área, pro território, veja quais são as potencialidades.
12:34E a gente tem que ter na nossa mente, principalmente enraizado pra nós, Amazônidas,
12:40que a solução, ela tá aqui dentro.
12:42Ela não vem de fora, o modelo de fora, ele não se aplica pra gente aqui.
12:45Então, a solução sempre tá na comunidade.
12:48Foi como a Cacauaré começou.
12:49A gente voltou pra comunidade, conheceu as nossas dores, angústias e as nossas potencialidades.
12:54E fomos trabalhar dentro delas.
12:55Então, não tenham medo.
12:57Nós somos do território, nós somos daqui.
12:59Quem conhece mais a Amazônia do que o próprio Amazônida, né?
13:03Basta você se reconhecer como Amazônida que a solução, ela vai surgindo em comunhão com a floresta
13:09e com a comunidade que tá ali dentro.
13:11Nayane, que inspiração.
13:13Muito obrigada por compartilhar tanta força e propósito.
13:17Que agradeço, viu, Priscila?
13:18Muito obrigada.
13:19E a Cacauaré mostra que a gente, com força e propósito, é possível empreender com impacto e raiz.
13:29Nos vemos no próximo episódio do Dall Delas, com mais histórias de mulheres que inspiram e transformam a Amazônia.
13:37Dall Delas. Oferecimento claro. Você merece o novo.
13:49Amazônia.
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