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Diversão
Transcrição
00:00Hello, mulherada! Hoje nós vamos conhecer uma mulher que é sinônimo de potência.
00:07Joana Vieira é professora, palestrante, empreendedora e mãe solo.
00:12É dona de um projeto mais apaixonante da Ilha do Cumbu, o Paraensíssimo Restô.
00:19Ela une educação, sustentabilidade, turismo consciente e representatividade em um só lugar.
00:28Uma história de raiz, resiliência e sonho regada pela Força Amazônica.
00:34Seja muito bem-vinda, Joana.
00:57E aí eu quero já começar a te perguntar, como é que a tua trajetória como professora te levou a virar empreendedora?
01:07É um pouco curioso, né? O que tem a ver a professora com o turismo?
01:11Mas assim, o curso de redação, ele me ensinou a ser empreendedora, né?
01:15Eu era só professora, trabalhei em muitas escolas de Belém.
01:18Então tu imagina, de repente, ter que administrar um curso de redação
01:21que se transformou no maior curso, inclusive, aqui do estado do Pará.
01:24E então eu acho que essa experiência, eu acho que esse contato com a questão administrativa,
01:31com o empreendedorismo de fato, que eu fui obrigada a ser empreendedora no curso de redação
01:36quando eu decidi ir nas escolas, me fez uma empreendedora, de certo modo, pronta
01:40para encarar esse desafio que foi montar o Paraensíssimo Restô.
01:43E qual foi a tua maior, o teu maior desafio para transformar o restaurante, né?
01:52E hoje ele já não é só mais restaurante, ele é um polo turístico na Ilha do Cumbu.
01:57Me conta.
01:59Eu acho que o maior desafio foi, primeiro, a logística, né?
02:03Não é nada fácil você empreender, você falar, você fazer turismo numa ilha que não tem uma logística,
02:10embora seja tão perto de Belém, embora seja tão do outro lado do Rio, né?
02:15Tão nosso, tão parecido conosco.
02:18Então, logisticamente é um desafio.
02:20Segundo, o investimento, né?
02:21Que é grandioso, exatamente por causa da logística.
02:24Mas eu acho que o maior desafio, de fato, foi levar um projeto capital, capitalista, né?
02:32Para dentro de uma APA, que é uma área de proteção ambiental, como o Cumbu, fazendo a coisa ambientalmente correta.
02:41Porque é muito difícil ser sustentável e é caro, não é barato.
02:45Mas é importante.
02:47Super importante.
02:48Eu não consigo hoje vislumbrar o Cumbu sem essa preocupação com a sustentabilidade.
02:54Ainda mais na Amazônia, ainda mais na capital da COP.
02:58Então, não dá para você desconectar esse empreendimento às questões ambientais e sociais.
03:04Porque quando se fala de sustentabilidade, é importante lembrar que nós não estamos falando apenas da questão ambiental.
03:11A sustentabilidade, ela tem três pilares.
03:14A questão ambiental, a questão econômica e a questão social.
03:18Então, fazer um empreendimento que impacte também as sociedades ribeirinhas, as pessoas que moram no Cumbu, gerar emprego para o Cumbu, profissionalizar a mão de obra do Cumbu.
03:29Então, eu acho que isso é fundamental.
03:31E como você consegue unir essa sustentabilidade, negócio e impacto social lá no Cumbu?
03:38Porque eu acho que é já uma propaganda que vende.
03:41Tipo assim, já é um marketing pronto, você cuidar do meio ambiente.
03:45As pessoas que fazem um turismo ambiental, elas querem o meio ambiente e o meio ambiente protegido.
03:51Não adianta você dizer que você está num ponto turístico dentro da Amazônia quando você não segue regras básicas.
03:58Por exemplo, de manutenção da própria biodiversidade.
04:01Então, um dos exemplos que eu cito é manter, por exemplo, os passarinhos lá.
04:06Então, a vigilância sanitária, ela te dá uma imposição da questão higiênica.
04:10Mas os passarinhos, eles montam ninhos em todos os lugares, inclusive nas comieiras, onde está a cozinha, onde está o restaurante.
04:18Então, foi para mim um desafio até adaptar, não tirar os passarinhos, não matar as espécies.
04:23Então, eu fui a Icoracy, comprei ninhos de argila, fiz adaptações.
04:28E hoje a gente consegue viver com várias espécies de pássaros e ao mesmo tempo manter as exigências da vigilância.
04:34É, eu acompanho as suas redes sociais, eu vi mesmo, tu até postou que vocês não queriam deixar os passarinhos de fora e foram, compraram.
04:44Vi também que vocês estavam chamando as pessoas lá do Cumbu para trabalhar no Parêntesíssimo, né?
04:50Então, vocês também estão valorizando a mão de obra da ilha.
04:54Isso é importante, isso gera impacto social.
04:56Gera um impacto social muito grande.
04:58A minha prioridade é a mão de obra do Cumbu, a mão de obra ribeirinha, porque eu não consigo vislumbrar um empreendimento que vá ao Cumbu e que não empregue as pessoas do Cumbu.
05:08Mesmo porque a maioria das pessoas que moram lá, a comunidade do Cumbu, ela vive do açaí.
05:15E o açaí, ele não dá todo ano.
05:17Então, existe a renda do açaí, que hoje é uma renda literalmente cabível àquela realidade deles.
05:24Mas há um período, principalmente no inverno, em que eles passam até fome.
05:28E os restaurantes estão lá, são muitos empreendimentos.
05:31Então, a gente não pode esquecer que esse impacto também tem que ser social.
05:35E o meu compromisso é muito grande, principalmente com as mulheres, né?
05:38E você, como mãe solo, qual é esse papel dessa mulher amazônida nesse turismo sustentável?
05:48Eu acho que a mulher tem uma participação muito grande, principalmente no Cumbu.
05:51Porque, assim, a linguagem da sustentabilidade, de todo o manejo que tem ali no Cumbu é ancestral.
05:58E a mulher, ela tem muito isso, de educar os filhos, de levar aos filhos, de fazer essa educação ambiental.
06:05É uma coisa nata.
06:06Ela perpassa de gerações a gerações.
06:09Porque o marido vai para o açaizal, ele vai tirar o açaí.
06:13E quem fica em casa, quem debulha, quem faz o manejo, é a mulher.
06:17Então, ela tem um papel fundamental em todos os sentidos lá.
06:20Na criação da abelha, no cacau, porque tem a dona Nena.
06:24Em todo o processo econômico, na biojóia, que são, em maioria, as mulheres que produzem.
06:29Inclusive, nós vamos vender, fizemos parceria para o chocolate.
06:33Então, você não tem noção da participação feminina.
06:35As mãos do Cumbu são, literalmente, de mulheres.
06:38E isso é muito genial, isso é impactante e isso até emociona.
06:42Porque a mulher está desde o manejo das biojóias, até o cacau, até o chocolate que se produz,
06:49até a questão mesmo ambiental, no sentido do camarão, de pegar o camarão, de pegar o peixe,
06:55de cozinhar, de ensinar os seus filhos e agora como empreendedoras.
07:00Vocês ficam bem próximos da fábrica de chocolate, né?
07:03Que também é o turismo puro lá no Cumbu.
07:07Então, vocês fizeram essas parcerias também.
07:10Nós temos essas parcerias.
07:12Inclusive, a dona Nena, lá do chocolate, para mim, é tipo uma inspiração.
07:16E é importante dizer isso.
07:17Eu faço doutorado na Federal, mas eu me inspiro numa mulher do Cumbu,
07:21numa mulher ribeirinha.
07:23É a força da mulher ribeirinha que me motiva no Cumbu.
07:27Isso é muito legal, é muito importante.
07:29E aí, eu já quero te perguntar.
07:30Qual a mensagem que tu deixa para essas mulheres que sonham em mudar a vida dela no Cumbu,
07:39mas também mudar a vida do mundo, né?
07:41Porque nós estamos aqui, é para isso.
07:45Eu acho que, na verdade, as pessoas que estão no Cumbu,
07:47elas não têm muita noção do impacto que a COP vai trazer.
07:50E vai deixar um legado muito grande.
07:52Inclusive, sem dúvida alguma, eu estou dizendo isso hoje,
07:54o Cumbu vai se transformar no maior polo turístico da Amazônia,
07:59do norte do estado do Pará.
08:01E isso vai trazer uma modificação histórica para a vida dessas pessoas.
08:05E elas estão prontas para isso, é bom que se diga.
08:08Porque o turista que vem, o estrangeiro que vem, ele quer ver essas pessoas,
08:13a cultura de lá, o modo de viver ribeirinho.
08:15Tanto que a gente vende experiência.
08:17A gente vende o chalé de madeira, a gente vende a beira do rio,
08:20a gente vende a culinária do ribeirinho, o jeito de viver do ribeirinho.
08:25Então, tem um valor a vida do ribeirinho, a cultura do ribeirinho,
08:29o modo do ribeirinho viver, a forma como ele constrói as suas casas.
08:33A sua arquitetura tem um valor.
08:35E esse valor vai ser reconhecido.
08:37E essas mulheres estão no front.
08:39Elas vão, com certeza, estar prontas para transformar essa ilha
08:43nesse grande viés gastronômico, econômico, social, cultural e turístico do Pará.
08:48Mas conta pra mim, como é o paraensíssimo como polo de turismo sustentável?
08:55A minha ideia é criar um lugar paraense 100%.
08:59Vender a nossa arte, vender a nossa gastronomia, vender a nossa cultura,
09:03vender o que o Pará tem de melhor.
09:05E o Pará tem muita coisa boa.
09:06Então, a gente tem um hostel, que é uma experiência numa casa de ribeirinho.
09:10Quando eu comprei o kumbu, eu comprei uma casa de ribeirinho.
09:13E ela se mantém ali.
09:14E essa manutenção da casa é exatamente para que as pessoas convivam num ambiente
09:19onde o ribeirinho vive.
09:20Na beira do rio, numa casa simples, numa vida simples.
09:23Então, o hostel, ele vende essa experiência.
09:26Além do hostel, nós temos os chaléis.
09:28Construídos, inclusive, na arquitetura e com mão de obra do kumbu.
09:32Então, são os ribeirinhos que produziram aqueles chaléis.
09:35Então, são chaléis que têm a arquitetura do kumbu, né?
09:39Que têm todo aquele projeto de madeira.
09:41E eu até quero dizer sobre isso, porque muita gente diz
09:44por que não tem a alvenaria?
09:46Por que não faz uma coisa mais chique?
09:48Exatamente o que a gente está vendo é a experiência.
09:50A cultura, a gente tem que manter.
09:52Eu não posso chegar lá e reconstruir o que já está.
09:56Então, a gente precisa se adequar.
09:58Então, os chaléis, eles vêm com essa pegada, né?
10:01De trazer também uma experiência de como viver, conviver,
10:05dormir numa casa de ribeirinho.
10:07E o restaurante, com o tambaqui, com a tilápia frita, o tambaqui assado,
10:12o pirarucu, o filhote, o camarão regional, que é exatamente para vender isso.
10:18Então, hoje não é um restaurante.
10:19É um complexo turístico, na beira do rio, que vende a Amazônia,
10:23que vai mostrar a Amazônia do jeito, exatamente como a Amazônia é.
10:28E eu vi que os chaléis são temáticos também.
10:32Tem do Paissandu, tem do Remo.
10:35Que bom que tu recebe bastante estrangeiro, né?
10:38Que aí é para não ter briga.
10:40É, inclusive nós estamos até adaptando a linguagem,
10:42que nós já recebemos gente da Suíça, gente de Portugal,
10:46franceses, colombianos, argentinos.
10:50E dentro dos chaléis, é uma novidade que eu estou te dando de primeira mão,
10:53a gente está fazendo uma exposição.
10:55Então, a gente tem, por exemplo, o chalé Tucupi.
10:57Então, a gente montou quadros falando sobre o Tucupi.
10:59O que é o Tucupi? Onde se usa o Tucupi? Qual é a importância do Tucupi?
11:03Aí tem um chalé açaí.
11:05Então, quem entra no chalé vai ter uma exposição nas paredes
11:08falando sobre aquele produto.
11:10E aí a gente tem o Remo e o Paissandu, né?
11:12Que deu o que falar na internet.
11:14Não tem como não ser paraense e não ser o Remo, o Paissandu.
11:19Exatamente.
11:19Não esquecemos da tuna, tá, gente?
11:21Mas...
11:23Exatamente, tem para todo gosto, né?
11:26Porque é isso, é cultura.
11:27Eu acho que o futebol também faz parte de nós, né?
11:29Então, eu quis fazer essa homenagem.
11:32E aí, lá dentro, a gente tem falando sobre os títulos,
11:34falando sobre a história dos times.
11:36E vocês são bilingües? Como é que funciona?
11:39E essa amostra que tem de arte, ela é bilingüe?
11:42Quando vocês explicam...
11:44Nós estamos adaptando.
11:45Adaptando, sim.
11:46É, porque depois da Copa, o Pará vai ser internacional.
11:50Com certeza.
11:50Não dá para a gente negar.
11:51Eu sou professora de língua portuguesa
11:53e sei que a língua é como se fosse um muro, né?
11:57Ela impede o turismo.
11:59Então, a gente também tem que se adequar a isso.
12:01Inclusive, o governo do Estado, né?
12:03Está fazendo muita formação em relação às questões da linguagem.
12:06E nós vamos nos adaptar, desde o cardápio,
12:09até os chalés, até as placas, né?
12:12E até porque o paraense, ele cria muitos...
12:16Tem o égua e tem o ventibora.
12:20Então, tem muitas palavras que é só daqui, nossa.
12:24Tem uma coisa, sabe, Priscila, muito engraçada.
12:26Que é, por exemplo, os nossos pratos aí são temáticos.
12:29Tipo, mãe d'água, que é o chibé.
12:30Ah, legal!
12:32A gente colocou mãe d'água, que é o chibé.
12:34Até uma moça na internet disse,
12:35eu vivi para ver alguém vender chibé.
12:37O chibé vende muito.
12:39O chibé com camarão, que é o nosso camarão.
12:40Eu já ia te falar.
12:41Ah, com camarãozinho, é uma delícia.
12:44Agora, vai explicar isso em inglês para as pessoas, né?
12:47Vai explicar que existe um prato que é água, farinha e só.
12:52Não, e o camarão.
12:53E o camarão, que é o acompanhamento.
12:54O camarão faz toda a diferença.
12:57Um charquezinho também.
13:00Que delícia, né?
13:00Não dá para separar isso sem gostar do chibé.
13:02Isso é vender a experiência.
13:04A experiência.
13:05Não é verdade?
13:06Exatamente, é assim.
13:07Imagina ali, porque não é só explicar que é a farinha
13:10e é a água.
13:11É explicar que a farinha, sabe, tem toda uma ancestralidade indígena,
13:16tem todo um processo de fabricação no interior,
13:19porque a gente vai falar da farinha de Bragança.
13:21Então, assim, nós estamos no Cumbu, mas é vendendo o Pará.
13:24Bragança vai aparecer.
13:26São Caetano de Odevelas.
13:27Seja, sabe, nos aparatos da nossa decoração, seja nos próprios pratos,
13:32porque a gente vai trazer o caranguejo de lá, sabe?
13:34Então, Salinas, porque o camarão é de Salinas.
13:37Então, a gente vende o Pará, por isso que é Pará, hein?
13:39É insíssimo.
13:41É isso mesmo.
13:43Mas, Joana, o que o mundo pode aprender com a Amazônia e com mulheres como você?
13:49Uau!
13:51Eu acho que com as mulheres o mundo tem muito a aprender ainda,
13:54porque a mulher é o cuidado, a mulher é a sustentabilidade.
13:57Acho que a mulher é a raiz do mundo.
13:59O mundo tem raiz feminino.
14:01E a Amazônia, eu queria falar isso seriamente,
14:04porque a Amazônia, quem diz que nós não somos civilizados,
14:09é a estigmatização, é o preconceito.
14:12Na verdade, o verdadeiro conhecimento, que é o lidar com o meio ambiente,
14:15quer saber fazer essa conjunção entre vida e ambientalismo,
14:21e sociedade, e uma economia sustentável.
14:24É nós que temos que ensinar o mundo.
14:25O mundo tem muito a aprender com nós.
14:28É uma nova vivência, é uma nova experiência, é uma nova educação.
14:31E nós temos todas as condições de educarmos o mundo
14:36para um mundo que realmente encontra as condições de manter a vida humana.
14:42Porque sem o mundo não há, não há homens.
14:44E a Amazônia vai ensinar isso para todo mundo.
14:46Muito obrigada pela sua presença.
14:48Eu te agradeço.
14:49A sua história inspira muitas mulheres.
14:52Continue, porque você é uma mulher forte, é do norte e é forte.
14:57Parabéns.
14:58Que emoção, obrigada.
14:59Muito obrigada.
15:00E a história da Joana nos lembra que resistir também é se reinventar.
15:06Que cuidar da Amazônia é, muitas vezes, começar cuidando de um quintal,
15:13de uma ilha, de um sonho esquecido.
15:16É dar vida nova a tudo isso com amor, com consciência.
15:22Joana é a prova que mulheres podem e devem liderar
15:26o caminho rumo a um mundo mais justo, mais sustentável e plural.
15:31Nós nos vemos no próximo episódio do Dó Delas.
15:34Transcrição e Legendas por Quintena Coelho
15:39Legendas por Quintena Coelho