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Transcrição
00:00:00De conversa boa, todo mundo quer participar, o Antagonista também.
00:00:06Nossa equipe recebe convidados especiais para um bate-papo leve e divertido sobre as experiências de cada um.
00:00:14Podcast O.A. Conversa boa de ver e ouvir.
00:00:21Salve, salve! Eu sou Felipe Moura Brasil e sejam todos bem-vindos a mais um episódio do nosso Podcast O.A.
00:00:26Lembrando que esse programa está disponível no canal de YouTube de O Antagonista.
00:00:29Toda segunda-feira, às 19h30, tem um episódio novo com um convidado presencial que vem aqui falar sobre a sua trajetória,
00:00:36os seus posicionamentos, a sua análise sobre as tendências na área de especialidade.
00:00:41E hoje eu tenho um prazer enorme de receber essa figura aqui que está do meu lado.
00:00:47Professor, filósofo, colunista, Luiz Felipe Pondé, seja bem-vindo ao Podcast O.A.
00:00:52Eu que agradeço o convite, Felipe. Sempre um prazer vir aqui.
00:00:55É uma honra. Ele já esteve presente aqui para participar do Papo Antagonista, para tratar das questões do dia.
00:01:01Mas aqui no Podcast O.A. a gente trata das questões atemporais, das questões perenes, daquilo que é eterno.
00:01:08Mas Pondé, vindo aqui um pouco para as questões mundanas, quero trazer um pouco da sua experiência universitária.
00:01:15Como é que ela começou? Em que patamar você está hoje? O seu vínculo é como professor sempre?
00:01:22Houve algum outro cargo que você ocupou nesse universo?
00:01:26Olha, primeiro a minha carreira como estudante na universidade, ela foi um pouco intempestiva, digamos assim,
00:01:36porque a época era muito comum. Ainda existe, mas é quando começou a aparecer os tais testes vocacionais.
00:01:46E eu fiz um deles, todo mundo fez.
00:01:50E a psicóloga, então, falou que eu tinha vocação para a área de biológicas e a área de humanas.
00:01:57E ela virou para mim e falou o seguinte, olha, a sua família é família de médicos.
00:02:06Meu avô era médico, meu pai era médico, a minha irmã, mais velha, já era estudante de medicina.
00:02:12Muito parecido com o meu caso.
00:02:14Então, e aí eu fui para a medicina.
00:02:17Eu fui para a medicina porque ela falou assim, olha, você faz medicina, depois você faz o que quiser.
00:02:23Eu fui para a medicina, aí logo no primeiro ano eu fiquei em dúvida e tal, aí fui para Israel.
00:02:34Fui morar no kibbutz.
00:02:36Ah, temos histórias para esmiuçar nesse episódio, aguardem.
00:02:40Quando eu voltei, eu decidi que eu ia fazer história.
00:02:45Aí eu prestei história.
00:02:47Você rebelou contra o teste vocacional?
00:02:48Foi.
00:02:49Fui fazer história.
00:02:50Entrei e daí resolvi voltar para a medicina.
00:02:56É, eu estava casando, né?
00:03:01A minha mulher que eu conheci no kibbutz.
00:03:03É, tá sabe, é.
00:03:04E aí voltei para a medicina.
00:03:07E fiquei na medicina até o quinto ano.
00:03:11Quando eu ia para o internato, eu resolvi fazer um experimento.
00:03:14Eu passei um tempo, um ano, fazendo teatro e decidi fazer o experimento, tranquei.
00:03:22A psicanálise que eu já estudava desde que eu voltei de Israel, é importante falar, o Freud, é que acabou me levando para a filosofia.
00:03:31Aí eu resolvi, ao invés de voltar para a medicina, depois de fazer teatro, eu resolvi prestar a filosofia.
00:03:38Prestei filosofia e fiz a carreira até hoje, até o pós-doc em Tel Aviv.
00:03:43Então, peraí, teve medicina, história, teatro, filosofia?
00:03:47É, história eu entrei, mas nunca cursei.
00:03:50Sim.
00:03:50Só prestei o vestibular e passei.
00:03:52Mas quer dizer, havia aquela inquietude, aquele tumulto de qual caminho seguir.
00:03:57Exatamente.
00:03:58Porque a gente escolhe muito jovem no Brasil, eu sei como é que é, eu fiz dois anos de engenharia antes de mudar para a comunicação.
00:04:04Também tem umas voltas aí, e até na área da comunicação, o universo é gigantesco, você fica pensando para onde que você vai.
00:04:12Foi uma das áreas que eu cogitei foi comunicação.
00:04:16Eu cogitei fazer comunicação e eu prestei filosofia.
00:04:19Mas eu cogitei jornalismo.
00:04:21E a filosofia dá uma bagagem intelectual, talvez até maior, do ponto de vista universitário, do curso.
00:04:28Sem dúvida nenhuma, é um curso.
00:04:30E para quem, como você, já, provavelmente já tinha uma aptidão para ler, para escrever com alguma facilidade,
00:04:37de repente fazer um estudo mais aprofundado numa área, dá uma base maior, né?
00:04:42Porque a área de jornalismo é aquela coisa, quem é que falava, um daqueles mineiros lá da turma do...
00:04:47Falava que o jornalista, ele sabe falar três minutos sobre qualquer assunto, né?
00:04:55Era um jornalista.
00:04:57Depois, da turma do Fernando Sabino, tinha o outro que era o...
00:05:00Tem uns quatro ali, né? Daqueles livros que eles...
00:05:03Depois eu vou me lembrar quem é que tinha essa frase.
00:05:05Mas você sabe falar com profundidade sobre a filosofia.
00:05:08É, eu me encontrei na filosofia.
00:05:09E foi uma coisa assim, Felipe, eu estava andando pela cidade universitária, né?
00:05:16Eu já tinha, eu já tinha ido à ECA, já tinha ido na secretaria da ECA, e aí eu entrei na secretaria da Faculdade de Filosofia.
00:05:28Pedi a lista de disciplinas.
00:05:31Quando eu peguei a lista de disciplinas, eu falei, não, é aqui que eu vou ficar.
00:05:37E aí fiquei.
00:05:38Fiquei na filosofia.
00:05:41E me encontrei na filosofia, justamente nesse aspecto que você falou.
00:05:45Eu acho que era o Otto Lara Rezende que falou isso que eu citei.
00:05:48Era o Otto Lara Rezende, aquele que o Nelson zoava.
00:05:51É, essa é tu.
00:05:52Então, e fiquei na filosofia.
00:05:55E não me arrependi nunca.
00:05:57Mestrado, doutorado, depois pós-doutorado.
00:06:00Só que tinha uma coisa.
00:06:02Quando eu estava ainda no primeiro ou segundo ano de filosofia, eu era um leitor de jornal já,
00:06:08porque eu peguei o hábito do meu pai, que lia jornal todo dia.
00:06:11Meu pai tinha uma frase que ele dizia assim,
00:06:14quando duas pessoas civilizadas se encontram, uma pergunta para a outra,
00:06:19que livro você está lendo?
00:06:21Hoje em dia é um insulto aqui no Brasil, você perguntar que livro, você constrange a pessoa.
00:06:25É, claro, é um assédio moral.
00:06:28E aí, eu já lia jornal e eu lia, eu era assíduo leitor do Paulo Francis na Ilustrada.
00:06:35Mais para frente ele foi para o Estadão, né?
00:06:38Já gostava de um rebelde.
00:06:40Já gostava, exatamente.
00:06:42E aí eu lembro que eu pensava, eu formado já em filosofia, já pensava em dar aula,
00:06:50porque eu dei aula de inglês em uma época importante, porque eu casei, tive filho, tinha que pagar conta.
00:06:57E eu falava bem inglês, eu dei aula, descobri que eu gostava de dar aula.
00:07:01Assim, né?
00:07:03E eu dizia, eu vou escrever aqui na Ilustrada.
00:07:08Esse era o meu objetivo.
00:07:10Exatamente esse.
00:07:12Era tanto escrever na Ilustrada, quanto fazer carreira acadêmica.
00:07:16Porque eu entendia que quando eu decidi ir para a filosofia, depois daquele trajeto todo,
00:07:22indo ao risco do cacete.
00:07:24É.
00:07:24Imagine.
00:07:25Quinto ano de medicina.
00:07:27Quinto ano de medicina e largar é complicado.
00:07:29É, então.
00:07:30E a pressão familiar também.
00:07:32É, e assim, a minha família é de médicos.
00:07:34Meu filho caiu na maldição também, mas assim, ele não escapou também.
00:07:39Mas todos os médicos da minha família, inclusive meu filho, sempre foram médicos apaixonados
00:07:45pelas humanas.
00:07:47Sempre.
00:07:48Todos eles.
00:07:49Né?
00:07:50E eu fui para as humanas, digamos assim, larguei a medicina, mas eu já entendia que eu queria
00:07:57fazer debate público.
00:07:59Entende?
00:08:00Eu não queria só dar aula.
00:08:02Por isso que eu pensava, não, eu tenho que ir para o jornal.
00:08:04Tenho que ir para o jornal para entrar nas polêmicas.
00:08:06Exatamente.
00:08:07E lendo Paulo Francis eu aprendi a fazer polêmica, né?
00:08:10Um pouquinho.
00:08:11Exatamente.
00:08:12Sabe que tem uma música do Paulinho da Viola que eu gosto muito, que é 14 anos?
00:08:15E ele fala assim, é, tinha eu 14 anos de idade quando meu pai me chamou, perguntou-me
00:08:19se eu queria estudar filosofia, medicina ou engenharia, tinha eu que ser doutor.
00:08:25Mas a minha aspiração era ter um violão para me tornar sambista.
00:08:28Ele então me aconselhou, sambista não tem valor nessa terra de doutor.
00:08:32E ele fala, e seu doutor?
00:08:33O meu pai tinha razão.
00:08:34Mas é o Paulinho da Viola, tá aí com mais de 80 anos.
00:08:36Um baita sucesso e tal.
00:08:38Quer dizer, tinha uma pressão para que fosse doutor, mas escolheu aquilo que era a vocação
00:08:43dele, teimou um pouco naquilo, perseverou.
00:08:48Eu acho curioso porque a filosofia naquele momento ainda era vista como algo de doutor,
00:08:53de medicina e engenharia.
00:08:54E na nossa época a gente não vê isso, a filosofia é uma coisa apartada, até como letras, como
00:09:01comunicação mesmo.
00:09:04Humanas.
00:09:05É, humanas.
00:09:06É aquela coisa do pessoal que não quer trabalhar.
00:09:08É, que acha que só fuma maconha.
00:09:10O Domingos de Oliveira, que teve aquele filme, Separações, eu acho que foi nesse que ele
00:09:14falou assim, ele falou assim, artista é esse negócio que eu inventei para não precisar
00:09:18bater ponto.
00:09:18Tanto que tem a expressão vida de artista, para quem não faz nada, chama de vida, imagina
00:09:26se artista não faz nada.
00:09:27Mas não dá para dizer que Pondé não faz nada porque ele leu muito, escreveu muito,
00:09:31mas aí para virar professor, como é que foi o caminho?
00:09:34Então, como eu dizia, eu descobri que eu gostava de dar aula, dando aula de inglês para pagar
00:09:39as contas.
00:09:40assim eu descobri que eu gostava da relação com aluno, né, que eu sentia, eu me divertia
00:09:47passando um conteúdo que eu conhecia.
00:09:50E foi isso mesmo.
00:09:52Hoje eu não tenho muito tempo para dar aula em horário fixo, porque minha agenda é muito
00:09:58louca.
00:09:59E eu dou aula já há muitos anos, tanto na PUC quanto na FAAP.
00:10:03Na FAAP eu dei aula de graduação até 23.
00:10:07PUC São Paulo, as duas daqui.
00:10:08PUC São Paulo e FAAP de São Paulo também.
00:10:11Eu dei aula na FAAP na graduação até 23, uma turma só.
00:10:17Mas hoje eu gravo aulas para a parte AD da graduação, porque a minha agenda é complicada,
00:10:24eu não consigo ter um horário fixo na semana.
00:10:27Não, eu sei bem, foram dois meses para você vir participar do podcast.
00:10:29Então, eu já tenho o horário da gravação do Rias Cruzadas na TV Cultura, que é sexta-feira.
00:10:36E isso, a semana ficou com quatro dias, digamos assim.
00:10:41Na PUC eu ainda dou aula, porque em 17 eu decidi, eu dava aula já há muitos anos na PUC no
00:10:50doutorado e no mestrado, minha cadeira era filosofia da religião, também sempre adorei,
00:10:56sempre adorei dar aula, nunca tive problema com aluno, nunca fui aquele professor que fica
00:11:03na sala de aula falando mal de aluno, que é muito comum, pelo simples fato de que eu
00:11:08sempre me diverti dando aula.
00:11:10Ah, isso é fundamental.
00:11:11Se você não se diverte dando aula, meu, vai ser uma via cruzes.
00:11:16Você está com molecada, que fala merda, que levanta, que não presta atenção, você
00:11:23tem que trazer e não adianta ser no chicote.
00:11:25Não adianta.
00:11:27E aí...
00:11:27E se tornar interessante para eles.
00:11:28É.
00:11:29Em 17, eu decidi, eu estava de saco cheio da política universitária.
00:11:35É, vamos chegar nesse assunto.
00:11:36A política universitária é uma baixaria.
00:11:37Exatamente.
00:11:38E eu estava de saco cheio de uma coisa mais ainda, que é a burocracia.
00:11:43Quando você trabalha no estrito senso, como a gente fala, que é mestrado e doutorado,
00:11:47pós-estrito senso, a burocracia é uma tortura, né?
00:11:52Tanto para o professor, quanto para o departamento de pós-graduação.
00:11:58É muito relatório que você tem que fazer.
00:12:02E exigências que, muitas vezes, elas se transformam em exigências burocráticas.
00:12:08Inclusive, eu cheguei a escrever uma coluna uma vez na Folha, comparando a vida do acadêmico
00:12:13a um personagem do Kafka, certo?
00:12:16Aqueles caras que ficam correndo de um lado para o outro, feito uma barata tonta, né?
00:12:20Tentando pontuar o Lattes, pontuar a plataforma Sucupira para o programa que ele dá aula.
00:12:25Então, eu tive uma crise, né?
00:12:30Com o estrito senso.
00:12:32E aí...
00:12:33É que é onde eu tenho muito pouco tempo de aula na graduação na PUC.
00:12:36E aí, fui bater um papo com a mantenedora da PUC, né?
00:12:41E me foi feita uma proposta extremamente generosa, né?
00:12:50Generosa no sentido institucional, eu quero dizer.
00:12:53Que foi que eu criasse um laboratório de pesquisa, né?
00:12:58É o LABOR, que existe até hoje, Laboratório de Política, Comportamento e Mídia.
00:13:03Que tem pós-doutorado, mas não tem nem mestrado, nem doutorado, nem mestrado.
00:13:10Só tem pós-doutorado, que é estágio pós-doutorado.
00:13:13Não é título.
00:13:14Então, a CAPES não pega você.
00:13:16Você não deve nada a ela, certo?
00:13:19Então, no ano de 18, passamos montando o regulamento.
00:13:24Porque uma coisa como essa numa universidade é um processo gigantesco.
00:13:28Em 19, a gente abriu as portas da lojinha.
00:13:33E até hoje existe.
00:13:34A pandemia virou portal, como tudo virou portal da internet.
00:13:3916 grupos de pesquisa.
00:13:41Que beleza.
00:13:42Com atividades, cursos.
00:13:44E eu dou aula nele, então eu sou livre para marcar o horário que eu posso.
00:13:48Eu fico muito feliz que você consiga manter o pé aí em duas universidades,
00:13:52mesmo criticando a esquerda acadêmica.
00:13:54Que é algo complicado no Brasil, porque eu sei de diversos casos.
00:13:59A gente tem, inclusive, um deles aqui na equipe, de patrulha ideológica.
00:14:05E tem muita gente intolerante mesmo, que não admite a divergência.
00:14:09E faz o possível para fritar aquela pessoa no ambiente até expelir.
00:14:15E você fez um vídeo, uma vez, sobre a esquerda acadêmica.
00:14:19E você apontou ali dois traços.
00:14:22Eu não vou conseguir me lembrar aqui exatamente a formulação.
00:14:25Mas você estava falando sobre, acho que talvez um ódio ao capitalismo.
00:14:30E aí o segundo ponto contraria o primeiro.
00:14:32Você lembra disso?
00:14:33Porque eles vão todos, enfim, defender ali a mesma ideologia, etc.
00:14:39Mas porque isso traz cargos, traz ascensão para eles.
00:14:42Como é que é essa reflexão?
00:14:43É assim, olha, provavelmente o que eu tinha em mente era o seguinte.
00:14:49Porque quando você vê, eu não vou dizer que são todos,
00:14:54porque inclusive eu sou parte, conheço alguns colegas que também não agem dessa forma.
00:14:58Claro.
00:14:59Que é essa patrulha da esquerda a qual você se referiu.
00:15:03Isso.
00:15:03Só que essa patrulha da esquerda, que é de fato intolerante e que de fato faz a cabeça dos alunos, certo?
00:15:12Certo.
00:15:13Essa patrulha da esquerda, do ponto de vista, digamos, da dinâmica interna institucional, eles querem poder.
00:15:21E eles querem poder para mandar na instituição, nos colegiados, né?
00:15:28E esse poder, inclusive, ele será importante, inclusive do ponto de vista de como você vai colonizar as agências de financiamento.
00:15:39Para bolsas, viagens de congresso, bolsas de professor, pesquisador, mestrado, doutorado, pós-doutorado, né?
00:15:49Então, não tem muito dinheiro na academia.
00:15:54Nunca teve.
00:15:55Então, a briga fica bem violenta, porque você briga por pouco dinheiro, né?
00:15:59E o dinheiro, normalmente, o fluxo do dinheiro, não é nem um dinheiro, não se trata de dizer que você vai pôr esse dinheiro no bolso.
00:16:07Não tem?
00:16:08Não é corrupção que você quer o poder para pôr o dinheiro no bolso.
00:16:12Não. O poder propicia a você e ao seu grupo a possibilidade de passagens para congresso, de participação em órgãos de financiamento de pesquisa do Estado, da Federação ou do Estado.
00:16:28Facilita você fazer contatos no exterior, fazendo viagens pagas.
00:16:33Facilita alunos seus receberem bolsa de mestrado, de doutorado, de iniciação científica, de pós-doutorado.
00:16:42Entendeu como funciona?
00:16:43Não é uma coisa de, não, as pessoas estão pondo dinheiro no bolso.
00:16:46Isso não acontece.
00:16:47Não é dessa forma.
00:16:48Agora, a minha experiência na universidade, o que aconteceu é assim, muito antes de eu ir para a mídia, né, para a Folha primeiro, na realidade eu comecei a escrever no Estadão quando eu estava no doutorado na França, na Bolsa Sanduíche.
00:17:06O Mário Sabino me levou para o Estadão, né, e eu fazia entrevistas com intelectuais, essa foi a proposta.
00:17:14E depois eu passei para a Folha, já de volta aqui.
00:17:17Mas, assim, antes de eu entrar na imprensa, então, digamos assim, o primeiro impacto que eu tive antes do problema ideológico, porque o problema ideológico foi piorando, né?
00:17:29Foi.
00:17:30Ele foi piorando.
00:17:31Nos últimos tempos.
00:17:32É, foi se radicalizando.
00:17:34Sempre foi todo mundo meio de esquerda, inclusive por conta da história da ditadura no Brasil, né?
00:17:40O primeiro impacto que eu tive, Felipe, foi um pecado que você não pode cometer na vida universitária.
00:17:47Que é ter sala cheia de alunos, ouvintes, porque adoram sua aula.
00:17:52O pecado do sucesso.
00:17:54Exatamente isso.
00:17:55Esse é o primeiro pecado.
00:17:56Sempre lembra, Tom Jobim, que no Brasil o sucesso é um insulto pessoal.
00:17:59É, então.
00:18:00Então.
00:18:01Ainda mais para a militância.
00:18:02Essa frase pega em cheio o problema, né?
00:18:07Então, esse foi os primeiros, digamos assim, embates que eu tive, porque eu tinha uma sala cheia de alunos, né?
00:18:16E alguns deles eu convivo até hoje, alguns deles estão no laboratório, alguns deles me detestam hoje.
00:18:26Não por causa da época, mas por causa das questões políticas.
00:18:29Daquilo que você comenta na mídia.
00:18:31É, isso mesmo.
00:18:32Me odeio e tal, mas tudo bem.
00:18:36Seja como for.
00:18:37Então, a minha história acadêmica foi essa.
00:18:40Gosto de dar aula, um excelente relacionamento com alunos, muitos orientandos.
00:18:46E isso foi atravessado, um, pela minha crítica na imprensa, na mídia, à esquerda, aos monopólios.
00:18:58Você vê alguém assim, você vê um professor de universidade que a chance de fazer parte desse consórcio aí é muito grande,
00:19:07falando de ética, de transparência.
00:19:09Dá até vontade de dar risada.
00:19:11De diversidade.
00:19:12É, dá vontade de dar risada.
00:19:13Eles não toleram a diversidade, esse pessoal da patrulha mais radical, e falam em nome dela.
00:19:19É, é algo incrível.
00:19:20Ah, isso mesmo.
00:19:21E em relação à filosofia, do conteúdo mesmo, das aulas que você dá, dos filósofos cuja obra você gosta de apresentar.
00:19:30Tem algum ali que você considera que seja muito importante para entender, para mapear o que está acontecendo na política nesse momento?
00:19:38Eu digo assim, por exemplo, Aristóteles, ele tinha a teoria dos discursos, discurso retórico, discurso político, etc.
00:19:44São distinções que até hoje são muito importantes, inclusive aqui para o nosso trabalho diário, porque uma das funções básicas da análise jornalística atualmente é distinguir o que é propaganda e o que é realidade.
00:19:57Sim.
00:19:57É distinguir o que é o discurso que descreve o que aconteceu e o discurso que quer produzir um sentimento, uma ação no seu público e tal.
00:20:05E a gente busca, em primeiro lugar, dizer o que aconteceu.
00:20:09Exatamente, por exemplo, cobertura na faixa de Gaza.
00:20:12Você vai ligar aí a televisão, vai ter um monte de gente no microfone falando uma opinião em cima do que não sabe, em cima de um fato que não está claro ainda.
00:20:21E a nossa primeira preocupação é o que aconteceu.
00:20:25Então, assim, tem uma base filosófica que você considera importante para entender algum elemento da realidade hoje?
00:20:32Eu acho que sim. Alguns filósofos...
00:20:36Estou tentando ver se alguns deles estão vivos, mas não sei o que eu vou citar.
00:20:40Primeiro, um filósofo letão radicado na Inglaterra, chamado, em português a gente fala Isaías, o nome dele em inglês é Ageia Burley,
00:20:54traduzido pela Companhia das Letras, acho que está tudo esgotado, né?
00:21:00Um filósofo liberal, mas um filósofo liberal que faz um trabalho importante de história das ideias.
00:21:06E o elemento específico que me faz citá-lo na sua pergunta é porque o Ageia Burley, ele tem uma concepção de que os valores entram em conflito
00:21:21e muitos desses conflitos não são passíveis de ser resolvidos, certo?
00:21:28Então, ele vai ao Maquiavel buscar as raízes dessa ideia, ele vai ao romantismo alemão buscar as raízes dessa ideia,
00:21:38que é o seguinte, bens podem entrar em conflito com bens.
00:21:43E aí não tem escolha, porque quando você tem escolha entre bem e mal, como todo mundo gosta de ver filmes sobre nazista,
00:21:51você sabe exatamente quem é o mal, né?
00:21:53Apesar que tem gente que gosta de brincar e relativizar tudo, mas normalmente não é assim.
00:22:00Quando você tem situações como, eu vou dar o exemplo aqui banal, por exemplo, o que é mais importante?
00:22:09Você ser feliz sozinho ou você ser capaz de manter uma família funcionando razoavelmente bem?
00:22:16Será que a felicidade é de fato a coisa mais importante na vida ou tem coisas como responsabilidade?
00:22:22Eu estou dando exemplos do nosso dia a dia.
00:22:25A discussão dele é uma discussão filosófica, totalmente sofisticada e tal.
00:22:30Então, essa questão eu acho que é muito importante no A.G. Burling,
00:22:33porque ele tem uma visão liberal que também é diferente daqueles liberais que acreditam que o mercado resolve tudo.
00:22:44Sabe? Que tem esse otimismo de mercado.
00:22:46O Burling, antes de tudo, é um liberal político, da tradição liberal política, que vem desde o Locke e tal.
00:22:54E eu citaria ele.
00:22:56Outro que eu citaria...
00:22:58É um, vamos dizer assim, um anti-maniqueísta, entende que há mais elementos...
00:23:01Seguramente.
00:23:02...do que luz e treva.
00:23:05Seguramente.
00:23:05Outro dia eu estava aqui no programa falando, inclusive, por exemplo, a gente mostrou um vídeo da Maria Corina Machado, líder da oposição Nicolás Maduro na Venezuela.
00:23:13E eu falei assim, por refletir sobre um elemento específico, falei assim, olha, eu nem sei o quanto que eu concordaria com a Corina sobre um monte de outras questões.
00:23:22Fato é que ela é uma líder da resistência democrática à ditadura.
00:23:28A gente quer que a Venezuela volte a ser democracia e a gente possa divergir, eventualmente, de todo mundo que está lutando pela volta da democracia.
00:23:35Mas se diverge é isso, do bem com bem.
00:23:38Tem pessoas que têm visões diferentes, vamos por aqui ou vamos por ali, etc.
00:23:42Aí você tem uma crítica específica.
00:23:43Mas há um momento em que aquele mal, ele se encorpa de tal maneira que é preciso combatê-lo.
00:23:51Sim, inclusive, às vezes, você tem que se juntar a grupos ou pessoas que normalmente você não o faria.
00:23:58Exatamente.
00:23:59Para poder ter massa, digamos assim, no sentido de massa de manobra, de impacto.
00:24:05Um outro filósofo, eu estou buscando citar filósofos, inclusive, que não são todos conhecidos por todo mundo.
00:24:12Um outro filósofo que a gente ainda engatinha na tradução das suas obras, é um outro inglês chamado Michael Oakeshott.
00:24:23É, fundamental.
00:24:24Michael Oakeshott.
00:24:25Está associado ao pensamento conservador.
00:24:27Exatamente.
00:24:28Ele é, talvez, no século XX, um deles ou o maior filósofo conservador.
00:24:33Russell Kirk também é um grande pensador, esse americano, conservador.
00:24:38Russell Kirk é o autor americano que resgatou a obra do Edmund Burke, que é considerado por ele o pai do conservadorismo moderno,
00:24:48que é um pensador irlandês, que foi parlamentar britânico.
00:24:52Exatamente.
00:24:52Eu acompanhei bastante.
00:24:54E o Edmund Burke, ele tem, já que você falou, eu me lembrei, ele tem tiradas maravilhosas.
00:25:01Maravilhosas.
00:25:03Aquela, se referindo ao Rousseau, que o Rousseau é aquele tipo de pessoa que é uma humanidade,
00:25:09detesta seu semelhante, é maravilhosa.
00:25:11É, exatamente.
00:25:12Que eu acho que grande parte dos militantes é gente desse tipo, assim.
00:25:17Isso, quer transformar o mundo, mas não lava uma louça.
00:25:19É isso aí, é isso aí.
00:25:21Que é cheio de teorias de gabinete, como fala o Burke, né?
00:25:25Fica resolvendo todos os problemas.
00:25:28No caso do Michael Okshot, eu citaria um livro que este é um dos poucos traduzidos em português.
00:25:35Coincidência.
00:25:37É um livro que é chamado Políticas da Fé e Políticas do Ceticismo.
00:25:41Sim, eu tenho.
00:25:42Né?
00:25:42Então, esse livro eu acho que é importante na política hoje, porque ele mostra que toda posição política,
00:25:49quando atinge o que ele chama de seu ponto de nêmesis, né?
00:25:55Se transforma num grande pepino, digamos assim, né?
00:26:00O que é que é Políticas da Fé no livro dele?
00:26:03São, é grosso modo, o que a gente chamaria dos progressistas.
00:26:07Aqueles que têm fé na política, que acreditam que estão fazendo o bem e tal.
00:26:13E qual é o nêmesis deles?
00:26:15A vaidade.
00:26:17O que a gente vê pra todo lado?
00:26:19Esse é o grande pecado à esquerda.
00:26:21A vaidade, né?
00:26:22E o nêmesis dos céticos, como ele se refere, que na realidade são os conservadores,
00:26:28porque a tradição conservadora política, ela é cética, epistemologicamente falando.
00:26:34Do ponto de vista do conhecimento, ela é cética.
00:26:37Ela duvida da validade de uma razão plena.
00:26:41Por isso ela diz, olha, vamos com calma, vamos ver o que é que o hábito estabelece.
00:26:46Porque até aqui funcionou.
00:26:49De certa forma, tem a ver com a prudência, o ceticismo.
00:26:51Tem tudo a ver com a prudência.
00:26:53O próprio Kerr coloca a prudência como a virtude primária do pensamento conservador.
00:26:57Exatamente.
00:26:58É, porque o líder, né?
00:27:02Um líder, desse ponto de vista, precisa ser, antes de tudo, prudente.
00:27:07Exato.
00:27:07Ele não pode se dar o luxo de ser um porra louca.
00:27:10Ele tem que ser prudente.
00:27:11E tem uma...
00:27:12Perdão, vou me interromper.
00:27:13Não, continue.
00:27:14É que muitas vezes você vê uma militância e a esquerda acabou se tornando símbolo disso,
00:27:20que acha que tem a solução para o mundo.
00:27:22Tem uma utopia ali desenhada.
00:27:24O Thomas Sowell, por exemplo, autor americano, ele sempre fala, olha, o máximo que a gente consegue
00:27:28é um compromisso aqui, de que isso não vai ser tão ruim assim.
00:27:32Não me lembro agora qual é a formulação que ele usa.
00:27:35Eu, por exemplo, quando eu estou citando esse tipo de exemplo, eu falo do debate sobre armas.
00:27:41Então, tem muitos debates no Brasil que se tornam uma coisa binária, no mundo em geral,
00:27:45político.
00:27:46Então, a pessoa é contra ou a favor, sim ou não.
00:27:49Quando você vai ver lá o que precisa ser decidido sobre armas, tem um monte de itens.
00:27:53Tem 150 aí.
00:27:54Mas qual é a quantidade de munição?
00:27:56Quantas armas?
00:27:56E os caques?
00:27:57E como se faz para evitar que a arma chegue na facção criminosa?
00:28:01Então, tem uma série...
00:28:02Não se consegue hoje em dia, né?
00:28:03Isso, o que não se consegue.
00:28:06Então, eu costumo falar assim, olha, porque as pessoas de lado a lado, elas têm a impressão
00:28:12de que ou com arma ou sem arma, ninguém vai morrer, vamos viver no mundo ideal, né?
00:28:18Então, eu falo assim, olha só, liberando arma ou não liberando arma, vai morrer gente.
00:28:24Do mesmo jeito.
00:28:24Com arma de fogo.
00:28:26Então, assim, o que a gente tem que discutir é como evitar, como minimizar e tal, é por
00:28:32aqui, é por ali, etc.
00:28:33Mas, assim, é você tirar um pouco dessa, a discussão desse terreno da fantasia utópica
00:28:40de que tudo vai ser resolvido porque eu tenho a alegação do grupo dos bons contra o grupo
00:28:45dos maus.
00:28:47Inclusive, a gente discutiu...
00:28:48Então, o ceticismo, ele está aí, né?
00:28:50Você tem um ceticismo, você tem que ver exatamente como é que é a melhor maneira de fazer, mas
00:28:54não quer dizer que tudo vai ser resolvido.
00:28:56É porque nunca é.
00:28:57Nunca é, exatamente.
00:28:58E nesse caso das armas que você citou, se discute muito armas, mas a realidade o que a gente
00:29:04observa é que o Brasil está naufragando no crime organizado.
00:29:09Exato.
00:29:10O mercado é atravessado.
00:29:14Evidentemente, você, seguramente, hoje você pode ter gente do crime organizado sendo preparada
00:29:20para trabalhar dentro do Estado, certo?
00:29:23Para defender os interesses.
00:29:25O Brasil está se transformando, como outro dia alguém falou para mim, é narco-Estado.
00:29:30Foi a expressão que falaram.
00:29:32O narco-Estado.
00:29:33Que é já o que se considera da Venezuela.
00:29:35É, isso aí.
00:29:36E assim, e é muito interessante porque, inclusive, grande parte do Poder Judiciário
00:29:41e do STF acha que quem ameaça a soberania brasileira é o Elon Musk.
00:29:47Quando, na realidade, quem ameaça e já ganhou parte da soberania brasileira é o crime organizado.
00:29:53Que tem territórios próprios, onde o Estado oficial não entra.
00:29:56Eles são o Estado...
00:29:57É mais fácil falar do Elon Musk, porque o crime organizado, quem vai enfrentar?
00:30:03Exatamente.
00:30:03Quem vai enfrentar?
00:30:04Aliás, nas próximas semanas, se tudo correr bem, teremos aqui no podcast O.A., Rodrigo Pimentel.
00:30:09Capitão Rodrigo Pimentel, um de roteiristas ali de tropa de elite, falando sobre segurança
00:30:14pública, esse tema tão importante aqui para o Brasil.
00:30:17Mas você estava falando sobre o Oakshot.
00:30:18Então, o Oakshot, no caso do Céticos, ele vai dizer que o Nemesis, a situação em que
00:30:25se torna um problema, a atitude cética na política, é inércia.
00:30:32Ele não fala nessa linguagem, mas é isso que ele está dizendo.
00:30:35Se a esquerda, o seu grande pecado é vaidade, a direita, conservadora, o seu grande pecado
00:30:41é inércia.
00:30:42E eu citaria, por último, um autor muito importante, que não tem nenhum livro traduzido
00:30:50em português, que é um escândalo.
00:30:53Você sabe que as editoras no Brasil, elas são basicamente, grande parte delas, ou são
00:30:59editoras de esquerda, ou são editoras que só querem best-seller.
00:31:04Exatamente.
00:31:04É um húngaro, hoje radicado em Bruxelas, chamado Frank Furedi.
00:31:10É um sociólogo, né, brilhante, que faz uma sociologia do cotidiano, digamos assim,
00:31:18e que já vem há muito tempo, por exemplo, tratando de temas como a paranoia dos pais,
00:31:23o medo, o problema das identidades, a universidade e a intolerância.
00:31:29É um cara que...
00:31:32Mas não tem tradução em português, é uma vergonha.
00:31:34Não, fica aí a dica para os editores que furaram essa bolha ideológica de esquerda,
00:31:39eu sei quais eles são, a qualquer momento também trago aqui no podcast.
00:31:42Bom, a gente fez um panorama aí da sua história acadêmica, trazendo alguns elementos do debate
00:31:46público brasileiro, vamos dar um pulinho rápido em Israel.
00:31:49Opa!
00:31:49Você disse que conheceu a sua mulher no kibbutz, você pode contar essa história pra gente?
00:31:54Posso.
00:31:56Foi um dia de manhã muito cedo, né?
00:31:59Só deixar claro uma coisa, né, que quando o Pondé participou aqui do Papo Antagonista,
00:32:04eu fiz uma abertura, que ele morreu de rir, que eu falei que nós fomos juntos pra faixa de Gaza
00:32:07e quem vai junto pra zona de guerra guarda um afeto pra sempre.
00:32:11Foi, é verdade, a gente foi em maio desse ano.
00:32:13Exatamente, estamos unidos aqui pelo fato de termos ido pra zona de guerra junto de colete
00:32:18à prova de bala.
00:32:19É, isso mesmo.
00:32:20E aí que eu sei algumas histórias dele de Israel, mas não em detalhes, hoje é o momento
00:32:24de contar.
00:32:25Aliás, nessa viagem, a gente foi um dia pra perto ali da faixa de Gaza, pra aquela área
00:32:33militar ali de Os, como é que era?
00:32:36Na Halos.
00:32:36Na Halos, exatamente.
00:32:38Aquela base que foi invadida pelos terroristas.
00:32:40A gente ouviu histórias terríveis, a gente foi na zona ali da Rave, onde houve o massacre
00:32:44do Hamas contra israelenses, voltamos no fim do dia pro hotel, depois de ouvir relatos
00:32:50assim terríveis, macabros.
00:32:53E o Pondé me perguntou, e aí, Felipe, você tá gostando da viagem?
00:32:56E aí eu falei assim, não é uma viagem de lazer, né, Pondé?
00:33:00E ele falou assim, não, é o contrário.
00:33:03Nós estávamos ali.
00:33:04A trabalho, na verdade.
00:33:06A trabalho, vendo todo o horror, esse horror do neo-nazismo de verdade, do extermínio
00:33:12de judeus, israelenses, porque aqui se fala nazismo quando se diverge de alguém, a esquerda
00:33:17chama de nazista e fascista, e ali a gente tava vendo algo mais próximo, embora o holocausto
00:33:22tenha sido uma dimensão maior.
00:33:22E o 7 de outubro de 23, aquilo sim foi uma tentativa de genocídio.
00:33:28Exato.
00:33:28Mas a história, que é uma história light, comparação, morávamos no kibbutz, perto
00:33:39de Nahalos, na verdade, um kibbutz a 7 quilômetros de Gaza, né, depois a gente, nós nos mudamos
00:33:48pra, quando a gente já tava junto, nós nos mudamos pro kibbutz que fica no topo do
00:33:54Golan, na fronteira da Síria, né, por acaso a gente morou em dois lugares bem quentes,
00:34:03mas não foi escolha, claro que não foi escolha, ah, eu quero ir pra lá porque tá colado na
00:34:07Síria.
00:34:08Mas enquanto a gente tava no sul, é bem ali, bem ali.
00:34:12Quando a gente tava em Brochail, é o nome do kibbutz, foi um dia de manhã, logo, sei
00:34:19lá, devia ter, sei lá, dois, três dias que eu tinha chegado lá, ela já estava lá.
00:34:27No kibbutz você, na maioria das vezes, você acorda muito cedo.
00:34:33É uma fazenda, né, principalmente quando você tá, como no caso, perto de Gaza, você
00:34:42tá ali encostado no deserto de Negev, né, uma região muito quente, muito seca, né,
00:34:49claro, irrigação, tudo aquilo que Israel fez.
00:34:52Então a gente acorda muito cedo e eu lembro que eu já estava lá mexendo, a gente tava
00:34:59mexendo, se não me engano, ou era com cebola ou alguma coisa assim, né.
00:35:05De plantação.
00:35:05É, é, de plantação, é.
00:35:07E aparece, então, essa menina, muito brava, né, brigando com a sua colega de quarto,
00:35:18porque essa colega de quarto não a tinha acordado na hora certa.
00:35:23E, portanto, ela tinha perdido a hora e tinha chegado atrasada no trabalho, o que no kibbutz
00:35:32é um pecado terrível, né, porque tá todo mundo trabalhando e você tem horários fixos
00:35:39e tal.
00:35:41Foi assim que eu a conheci.
00:35:43Já se encantou com a personalidade forte.
00:35:45Então, quem é essa pessoa?
00:35:46Mas eu perguntei pra um colega que tava do lado, um amigo, eu falei, quem é essa menina
00:35:51brava desse jeito?
00:35:53E foi assim, já me encantei com ela, com a brabeza dela.
00:35:56Que maravilha.
00:35:57E você estudou lá em Israel também, não foi?
00:35:59Isso foi depois, né, isso que eu contei foi em 1980, né, em 99, assim, nós vamos
00:36:08muito a Israel porque a família da mãe, inclusive a mãe da minha mulher, eles são
00:36:15sabras, são israelenses, né, então a gente vai pra Israel toda hora, né.
00:36:21Mas em 99 e 2000, eu fui fazer pós-doc na Universidade de Tel Aviv.
00:36:33Então, eu morei em Tel Aviv, né.
00:36:35E foi uma experiência muito interessante porque Israel era, agora tem sofrido muito por
00:36:45conta dessa guerra, mas Israel é um país, inclusive a Universidade de Tel Aviv, que
00:36:50tá no circuito de universidades muito ricas e importantes do debate público, inclusive
00:36:56na área de ciências.
00:36:57minha área de filosofia, eu fui fazer pós-doc no que a gente chama de filosofia de epistemologia,
00:37:03filosofia da ciência, né, esse foi o meu assunto, que virou um livro, tá traduzido
00:37:08pela EDUSP aqui no Brasil.
00:37:12O meu supervisor, ele faleceu há pouco tempo, ele era um professor brasileiro que foi embora
00:37:18pra Israel muito jovem, há muitos anos, né, era uma coincidência que ele era brasileiro
00:37:24e ele tinha um grupo de pesquisa, que era justamente um grupo sobre o que a gente pode definir como
00:37:31linguagem em ciência, grosso modo, pra não falar palavrão.
00:37:37Linguagem em ciência, né, a linguagem científica, como funciona, é dentro da epistemologia.
00:37:44Quem conhece filosofia sabe que isso tá dentro da teoria da ciência.
00:37:47E aí, essa minha estadia, eu ficava indo e voltando, porque minha mulher não podia,
00:37:53não pôde ir dessa vez comigo, quando eu fui pra França, ela foi, a família inteira foi.
00:37:57Mas dessa vez ela trabalhava em loja, com o pai e tal, era um momento de crescimento,
00:38:02de muito trabalho, então eu ficava lá tipo um mês, vinha aqui e passava uma semana.
00:38:08Depois voltava.
00:38:08Chegou a um ponto tal que o pessoal da segurança do aeroporto de Tel Aviv,
00:38:15quando eu chegava, e que tinha que passar pela segurança, como todo mundo,
00:38:20me via e falava, professor!
00:38:24Que é uma expressão muito comum em Israel, quando você é professor de estrito senso, em inglês.
00:38:29Eu queria chegar assim lá, porque eu chego e vão revistando tudo, saio e demora hora.
00:38:35Naquela época acontecia isso porque eu ia e voltava tanto, e eu tinha uma carteira da universidade.
00:38:40Então, eles já sabiam quem eu era, né?
00:38:44E de tanto que eu fui isso, eu ia tanto que eu ia e voltava, porque eu via ficar um tempo aqui com a minha família
00:38:53e voltava pra lá, mas aí eu convivia muito com a família da minha mulher lá, né?
00:38:57E os primos, e que eu vi os filhos crescerem, né?
00:39:03E vi eles crescerem também junto com a gente, tio.
00:39:08Foi uma experiência sensacional na universidade.
00:39:10É, e quer dizer, você conviveu com as pessoas, você sabe que, como em todo lugar, tem pessoas ótimas,
00:39:15eventualmente tem pessoas chatas, eventualmente tem pessoas mais radicalizadas,
00:39:19mas que tem uma sociedade lá de fibra, que muitas vezes se une contra o inimigo externo,
00:39:25de uma maneira que deixa as divergências pra trás também.
00:39:29Eu digo isso porque a gente viveu aí esse ano o desdobramento da reação militar de Israel na faixa de Gaza,
00:39:35por causa do massacre do Hamas em 7 de outubro de 2023,
00:39:39a eliminação do Yahya Sinu, o líder do Hamas em Gaza,
00:39:42Hezbollah atacando o norte de Israel, e Israel, obviamente, atacando ali a infraestrutura militar do Hezbollah,
00:39:50o grupo terrorista libanês ali no sul do Líbano,
00:39:54você teve ataque dos Houthis também pelo Iêmen contra Israel,
00:39:58Israel reagindo contra isso tudo,
00:40:00uma série de polêmicas e controvérsias nessa guerra agora no final do ano,
00:40:04a queda do Bashar Assad na Síria,
00:40:07e aí também não são pessoas super boazinhas que estão ali chegando ao poder,
00:40:12aparentemente, há grandes ressalvas nesse momento em relação a que tipo de poder virá daí,
00:40:19e Israel já tomou algumas medidas preventivas,
00:40:23bombardeando ali a infraestrutura militar,
00:40:27pra que ela não caia na mão desses grupos terroristas que lutavam ali contra o ditador Bashar Assad,
00:40:32e que tem ligação com o presidente da Turquia,
00:40:35que é pro Hamas, que é super anti-Israel, o Erdogan,
00:40:39enfim, não faltou assunto no noticiário internacional,
00:40:44e você escreveu na sua coluna várias vezes a respeito disso,
00:40:48mostrando como Israel é rotulado, é demonizado,
00:40:52a tentativa de desqualificação,
00:40:55que balanço você faz depois de tudo isso,
00:40:58em relação a essa cobertura midiática,
00:41:00em relação a essa suposta opinião pública mundial.
00:41:04Olha, a minha impressão é que,
00:41:07eu vou falar do Brasil, mas não é só no Brasil,
00:41:10isso daí,
00:41:11Estados Unidos,
00:41:12as universidades americanas foram piores que as brasileiras,
00:41:17nesse sentido.
00:41:17E aí os israelenses dizem que tem financiamento do Qatar,
00:41:20tem financiamento de regimes ali,
00:41:22que acabam hospedando,
00:41:23ou são aliados dos terroristas,
00:41:25que estão insuflando esses movimentos.
00:41:26Isso mesmo.
00:41:28A minha leitura aqui é que,
00:41:30assim,
00:41:31na maioria esmagadora dos casos,
00:41:35a maior parte das pessoas que transitam pelo pensamento público,
00:41:39quando eu falo pensamento público,
00:41:40eu falo escritor, artista,
00:41:43professor de universidade, jornalista.
00:41:46Chamadas classes falantes.
00:41:47Exatamente.
00:41:48Aqueles que produzem pensamento,
00:41:52geram ideias,
00:41:53debatem e tal,
00:41:54a maioria esmagadora tem uma posição completamente contra Israel.
00:42:00Conhece muito pouco a história,
00:42:03conhece muito pouco a realidade do Oriente Médio,
00:42:05por exemplo,
00:42:07eu vou usar como exemplo,
00:42:08você acabou de citar que Israel,
00:42:10então,
00:42:11atacou certas áreas militares da Síria.
00:42:15Então, a opinião,
00:42:17que eu já escutei disso,
00:42:19é não,
00:42:19olha Israel como Israel é beligerante,
00:42:21como Israel não quer a paz,
00:42:23ou seja,
00:42:25Israel tem que esperar para morrer.
00:42:27É isso,
00:42:28é isso que essas pessoas,
00:42:30na realidade,
00:42:32a ideia dela chega aí.
00:42:35Mas eu acho que muitas delas,
00:42:37tem tanto desconhecimento,
00:42:40porque no Oriente Médio,
00:42:42a violência,
00:42:43que é já há muito tempo,
00:42:44é quase sistêmica.
00:42:47Uma das coisas que é respeitada no Oriente Médio,
00:42:49é medo.
00:42:50a gente tem que ter medo.
00:42:52É a força de sua ziva.
00:42:54Exatamente isso,
00:42:55a força de sua ziva.
00:42:56Então, por exemplo,
00:42:58diante do quadro da Síria,
00:42:59porque Bashar al-Assad,
00:43:01ele era inimigo de Israel,
00:43:02a Síria tentou destruir Israel
00:43:03três vezes,
00:43:04três guerras,
00:43:05perdeu.
00:43:06Mas,
00:43:07ele estava ali,
00:43:09era o tipo assim,
00:43:09o inimigo que você já conhece.
00:43:12Exatamente.
00:43:12Ele fazia ali a passagem de armas do Irã
00:43:16para o Hezbollah,
00:43:19todo mundo sabia que ele fazia,
00:43:21e estava funcionando daquele jeito.
00:43:23Aí, de repente, ele cai,
00:43:25e entra em cena um grupo
00:43:26que ninguém sabe direito,
00:43:28porque a Pito toca nesse problema.
00:43:31Eu vi um vídeo recente,
00:43:33em que uma dessas pessoas,
00:43:35um líder,
00:43:36falava que derrubaram Damasco,
00:43:37e o próximo aparado era Jerusalém.
00:43:39Então, assim,
00:43:42um grupo que, na realidade,
00:43:44são muitos grupos.
00:43:45A Síria, hoje,
00:43:45é uma coxa de retalhos.
00:43:48A Síria quase acabou
00:43:49com a comunidade nacional,
00:43:50se você olha os mapas
00:43:52que são publicados.
00:43:53Bom,
00:43:54por exemplo,
00:43:55a Síria tem
00:43:56muita arma química,
00:43:58que, inclusive,
00:43:59a dinastia Assad
00:44:01usou contra a população síria.
00:44:03Como quem conhece a história
00:44:05sabe muito bem.
00:44:07Diolando direitos humanos
00:44:08de uma maneira que,
00:44:09não ganha a repercussão mundial,
00:44:11que qualquer explosão
00:44:13na faixa de Gaza ganha.
00:44:15Aliás,
00:44:15uma das grandes alegações
00:44:17do Hillel Neuer,
00:44:18que é diretor executivo
00:44:19da ONG,
00:44:19e o Enwatch,
00:44:20que vigia a ONU,
00:44:21é que toda essa turma
00:44:23não é pró-direitos humanos,
00:44:24é anti-Israel.
00:44:25Porque,
00:44:25se fosse pró-direitos humanos,
00:44:27estaria aí defendendo
00:44:28os direitos humanos
00:44:29das vítimas do Assad,
00:44:30de outros ditadores
00:44:31daquela região.
00:44:32Sem dúvida nenhuma,
00:44:33é anti-Israel mesmo.
00:44:34Por isso,
00:44:35é nobre,
00:44:35suspeita,
00:44:36que se espalhou
00:44:37durante 24
00:44:38e final de 23,
00:44:40de que,
00:44:41na realidade,
00:44:41há um antissemitismo
00:44:42de esquerda
00:44:43muito claro,
00:44:44e que é evidente,
00:44:47é evidente,
00:44:48principalmente para alguém
00:44:49que vive dentro da universidade,
00:44:51como eu,
00:44:52já há muito tempo.
00:44:54E que ele aparece
00:44:55dentro da discussão
00:44:56da teoria decolonial.
00:44:58que Israel é colonialista,
00:45:01que o Hamas
00:45:02é um guerrilheiro
00:45:03pela liberdade,
00:45:04mas voltando à questão
00:45:05da Síria...
00:45:05Que é aquela dicotomia
00:45:08do rico,
00:45:08do pobre,
00:45:09do opressor,
00:45:09do oprimido,
00:45:10do colonialista...
00:45:10É, isso aí,
00:45:10o tempo todo,
00:45:12que anula qualquer raciocínio.
00:45:14Qualquer racionalidade.
00:45:15É, você destrói
00:45:15qualquer inteligência
00:45:16com esse tipo de coisa.
00:45:18E aí, veja,
00:45:19a Síria tem esse arsenal
00:45:21de armas químicas,
00:45:23como que Israel
00:45:24pode deixar
00:45:25esse...
00:45:26Porque o Assad
00:45:28estava com aquele arsenal,
00:45:29estava, de certa forma,
00:45:30sob controle.
00:45:31Não estou dizendo
00:45:31que o Assad
00:45:32era amigo de Israel,
00:45:33porque não é.
00:45:33Era um ditador violento
00:45:35com a sua própria população.
00:45:36Claro.
00:45:38Mas,
00:45:39quem sabe
00:45:40o que um grupo
00:45:41motivado,
00:45:42novo,
00:45:43pode fazer
00:45:45com um arsenal
00:45:46de armas químicas
00:45:47se ele resolve,
00:45:49por exemplo,
00:45:50levar a guerra
00:45:51para dentro de Israel
00:45:52ou contra Israel.
00:45:54O que quase ninguém
00:45:56entende
00:45:57aqui no Brasil
00:45:58é que,
00:46:00no caso de Israel,
00:46:01é sempre
00:46:02uma ameaça existencial.
00:46:05Ninguém entende isso.
00:46:06O país é minúsculo,
00:46:08minúsculo,
00:46:09né?
00:46:09Você, em tese,
00:46:10conseguiria conquistar ele
00:46:12em 24 horas.
00:46:14Do norte a sul
00:46:15é um pouco mais comprido.
00:46:16Mas, assim,
00:46:17portanto,
00:46:18o que acontece
00:46:19é que Israel
00:46:20não pode
00:46:22se dar ao luxo
00:46:23de correr riscos.
00:46:24e o que o 7 de outubro
00:46:26Felipe causou
00:46:28em Israel,
00:46:29causou,
00:46:30e eu acho importante,
00:46:32é o seguinte,
00:46:32ele lembrou a Israel
00:46:34que Israel
00:46:36não pode
00:46:37achar
00:46:38que ele é uma praia
00:46:40no Mediterrâneo.
00:46:41Exato.
00:46:42Um resort
00:46:43no Mediterrâneo.
00:46:44Apesar de Tel Aviv
00:46:45ser maravilhosa
00:46:46em outras cidades.
00:46:47e tem aquela praia
00:46:48que parece o Leblon
00:46:49ali,
00:46:49todo mundo frequentando,
00:46:51jogando futebol,
00:46:52vôlei.
00:46:53É um negócio incrível
00:46:54que você tenha
00:46:55aquele lugar
00:46:55no meio
00:46:56de um bombardeio
00:46:57generalizado.
00:46:59E, é claro,
00:47:00pessoas cansam
00:47:01de guerra e tal,
00:47:02mas o 7 de outubro,
00:47:03que é também
00:47:04uma coisa que
00:47:04muita gente aqui
00:47:05no Brasil
00:47:06não percebe,
00:47:07é que o 7 de outubro
00:47:08foi uma espécie
00:47:09assim de wake-up call.
00:47:11É.
00:47:11Sabe?
00:47:12Os israelenses
00:47:13pararam
00:47:13com todas as discussões,
00:47:15briga com o Bibi,
00:47:16dúvidas se ele é corrupto
00:47:17ou não,
00:47:18o problema
00:47:19dos reféns,
00:47:22mas a população...
00:47:23A suplama corte,
00:47:23tinha manifestação,
00:47:24estavam divididos
00:47:25em brigas internas
00:47:26e o inimigo externo
00:47:27chegou.
00:47:28Aquela piada, né?
00:47:29Dois judeus,
00:47:30três ideias.
00:47:32Nunca se concorda.
00:47:33E nós ouvimos lá
00:47:34muitos relatos
00:47:35sobre essa situação
00:47:35de vulnerabilidade,
00:47:37quer dizer,
00:47:37aquelas meninas militares
00:47:39que fiscalizavam
00:47:40a fronteira,
00:47:41elas deram relatos
00:47:42de que o Hamas
00:47:42estava tramando
00:47:43alguma coisa,
00:47:44que havia alguns movimentos,
00:47:45mas não foram ouvidas,
00:47:47há ali suspeita
00:47:49de que houve
00:47:49uma arrogância mesmo.
00:47:51Total.
00:47:52Falha na segurança,
00:47:53arrogância.
00:47:55Então,
00:47:56o 7 de outubro,
00:47:57Israel vinha,
00:47:58eu que vou muito a Israel
00:48:00e qualquer pessoa
00:48:01que vai muito a Israel
00:48:02ao longo dos anos,
00:48:03foi acompanhando
00:48:04a era Bibi,
00:48:05na TNA,
00:48:05o Israel enriqueceu,
00:48:07virou uma potência econômica,
00:48:10as cidades enriqueceram,
00:48:11os israelenses foram
00:48:13para festa,
00:48:15bares,
00:48:16restaurantes,
00:48:17e um pecado nisso,
00:48:18foram ser felizes,
00:48:19digamos assim,
00:48:21nesse tipo de vida,
00:48:24e eu pensava
00:48:25e conversava
00:48:25com alguns deles,
00:48:26falava,
00:48:27e como outras pessoas
00:48:28também percebiam isso,
00:48:31mas,
00:48:32aqui deixou de ser
00:48:33o Oriente Médio?
00:48:34É,
00:48:35não deixou.
00:48:36Não pode acontecer
00:48:38qualquer hora
00:48:39alguma coisa ruim?
00:48:40Não pode se distrair.
00:48:41Não,
00:48:41não pode confiar
00:48:42demais na própria força?
00:48:44Exato.
00:48:44O 7 de outubro,
00:48:46ele acabou
00:48:46de uma forma
00:48:47desgraçada,
00:48:49violenta,
00:48:50infeliz,
00:48:52lembrou a Israel
00:48:53que ele é um Estado
00:48:55cercado,
00:48:57hoje em dia
00:48:57tem acordo de paz
00:48:58com alguns países,
00:49:00mas cercado
00:49:00por inimigos
00:49:01mortais e violentos.
00:49:03Isso é uma coisa
00:49:04que quase
00:49:05nenhum
00:49:05comentarista
00:49:07no Brasil,
00:49:08do espectro
00:49:09no qual a gente vive
00:49:10parece entender
00:49:12ou quer
00:49:13entender.
00:49:14Exatamente,
00:49:15muitos não querem
00:49:16entender.
00:49:17E até pelo avanço
00:49:18tecnológico
00:49:18de Israel,
00:49:19eles estavam
00:49:20muito bem
00:49:20nutridos ali
00:49:22de equipamento
00:49:22antiaéreo,
00:49:23antimíssel,
00:49:25só que não estavam
00:49:26preparados
00:49:26para um ataque
00:49:27analógico,
00:49:28quer dizer,
00:49:28terrorista armado
00:49:30de fuzil
00:49:30quase a cavalo,
00:49:32quase que a cavalo,
00:49:33quase que
00:49:34separando a grade,
00:49:36assim,
00:49:36passando por baixo
00:49:37e tal,
00:49:37entrando no país.
00:49:39Então,
00:49:39a gente passeou
00:49:40ali,
00:49:41por aquelas estradas,
00:49:42perto da região
00:49:43da rave,
00:49:44a gente foi
00:49:44nos kibbutz,
00:49:46e a gente vê ali
00:49:47que tem vários
00:49:48abrigos antiaéreos,
00:49:49quer dizer,
00:49:49para proteger
00:49:50do estilhaço,
00:49:51no entanto,
00:49:51o abrigo antiaéreo
00:49:52tem um espaço
00:49:54de porta
00:49:55que nem sequer
00:49:55tem a porta,
00:49:56é um vão,
00:49:57você entra
00:49:58para se proteger
00:49:59do estilhaço,
00:49:59se cai um míssil,
00:50:00bate na parede,
00:50:01você está ali dentro,
00:50:01você está protegido,
00:50:02agora,
00:50:03se entra um terrorista
00:50:03armado de fuzil,
00:50:04ele entra pelo mesmo vão
00:50:05que você...
00:50:06E fuzila todo mundo
00:50:07como eles fizeram.
00:50:08Como fizeram.
00:50:09Ou fuzilavam
00:50:10ou jogavam uma granada
00:50:11ali dentro do abrigo
00:50:12e explodia todo mundo,
00:50:13ou pegavam alguns
00:50:14pelos cabelos
00:50:15e levavam como reféns
00:50:16para a faixa de gás.
00:50:17Violentavam mulheres.
00:50:18Violentavam mulheres,
00:50:19exatamente.
00:50:19Então,
00:50:20de fato,
00:50:21esse ataque,
00:50:23acho que plantou
00:50:23uma sementinha lá
00:50:24de que eles não podem...
00:50:25É chocante,
00:50:27inclusive,
00:50:28algumas pessoas
00:50:29aqui no Brasil,
00:50:30inclusive,
00:50:30criticaram isso,
00:50:32como muitos
00:50:33movimentos feministas
00:50:34internacionais
00:50:35não fizeram
00:50:37o mesmo barulho
00:50:38que teriam feito
00:50:39caso tivesse sido
00:50:40outro grupo nacional
00:50:42de mulheres
00:50:42sendo violentadas.
00:50:44Quer dizer,
00:50:45essa crítica
00:50:45foi feita
00:50:46por mulheres
00:50:47feministas,
00:50:50né,
00:50:50de longa data,
00:50:52mas
00:50:53decentes,
00:50:55né,
00:50:55que entenderam
00:50:56que ali havia, sim,
00:50:57uma agressão
00:50:58às mulheres.
00:50:58a ONU demorou
00:51:00dezenas e dezenas
00:51:02de dias...
00:51:03A ONU deu uma carta
00:51:03branca para o Hamas.
00:51:04Exatamente,
00:51:05para fazer uma notinha
00:51:06pequenininha
00:51:07depois de muita pressão.
00:51:08A ONU é uma vergonha.
00:51:09E a gente viu
00:51:10como esse movimento
00:51:11feminista,
00:51:12que obviamente tem
00:51:13seus méritos de origem,
00:51:15de igualdade,
00:51:16de oportunidades,
00:51:17etc.,
00:51:17foi instrumentalizado
00:51:18por uma esquerda
00:51:19anti-Israel,
00:51:20e aí,
00:51:21quando as vítimas
00:51:22são mulheres israelenses,
00:51:24se calam.
00:51:25É como eventualmente
00:51:26acontece,
00:51:26é uma vítima
00:51:27mulher de direita,
00:51:28o movimento feminista
00:51:29também se cala.
00:51:30É, também se cala.
00:51:32E gente falando não,
00:51:33a gente não deve fazer
00:51:35negócios com a empresa
00:51:36de judeus.
00:51:37É, pois é.
00:51:38Essa fala podia ser
00:51:39transportada para a primeira
00:51:41metade do século XX.
00:51:42É, desde o governo Lula.
00:51:44Não, o governo Lula,
00:51:46uma catástrofe.
00:51:47É, então chegamos
00:51:49aqui no nosso assunto final.
00:51:50Numa série de assuntos,
00:51:51não só nisso.
00:51:52Nesse assunto,
00:51:53uma catástrofe.
00:51:54é um governo
00:51:57que hostilizou
00:52:00parte da sua população,
00:52:01no caso judeus,
00:52:03que é claro
00:52:03que não é a maioria,
00:52:04judeus é a maioria
00:52:05em país nenhum,
00:52:06mas assim,
00:52:07só em Israel.
00:52:09Mas assim,
00:52:10hostilizou uma parte
00:52:11da sua população,
00:52:13né?
00:52:14Uma parte...
00:52:14Deixou pessoas
00:52:15da comunidade judaica
00:52:16brasileira com medo.
00:52:17Foi.
00:52:18Quer dizer,
00:52:18você tem as maiores
00:52:19autoridades do país,
00:52:20de certa forma,
00:52:21estimulando um ódio
00:52:24aos judeus
00:52:25e essas pessoas...
00:52:26E aí eu saio na rua
00:52:27e...
00:52:27Essa é a catástrofe.
00:52:29Exatamente essa.
00:52:30Quer dizer,
00:52:31ele ou outras figuras
00:52:32do governo dele
00:52:33ou da diplomacia,
00:52:35manifestando-se
00:52:36claramente
00:52:37de uma forma
00:52:38a fazer com que
00:52:40pessoas
00:52:41pudessem
00:52:42entender
00:52:43que atacar
00:52:45algum judeu
00:52:46ou alguma coisa assim
00:52:47estaria justo.
00:52:48na medida
00:52:49que inclusive
00:52:50o próprio
00:52:50presidente da república
00:52:51parece...
00:52:53Ele escolheu
00:52:54um lado,
00:52:55claramente,
00:52:55escolheu mal
00:52:57e ao mesmo tempo
00:52:59retirou
00:53:01o embaixador
00:53:02de Israel
00:53:02do Brasil
00:53:04lá de Tel Aviv
00:53:06onde a capital
00:53:07é Jerusalém,
00:53:07não é Tel Aviv,
00:53:08mas a maior parte
00:53:09dos países
00:53:10reconhece como Tel Aviv.
00:53:12Retirou
00:53:12o embaixador,
00:53:14quer dizer,
00:53:14é um ato
00:53:14de uma agressão
00:53:15gigantesca,
00:53:17continua
00:53:17dessa forma,
00:53:18ou seja,
00:53:20o PT
00:53:20e o Lula
00:53:21demonstraram
00:53:22claramente
00:53:23um comportamento
00:53:24antissemita.
00:53:25Muito bem,
00:53:26está aí,
00:53:27é bastante
00:53:27esquadrinhado
00:53:29esse assunto
00:53:30Israel,
00:53:30e aí chegamos
00:53:31ao governo Lula,
00:53:32passamos
00:53:33pelo governo
00:53:34Bolsonaro,
00:53:35agora o Bolsonaro
00:53:36está inelegível,
00:53:37se aventa
00:53:38uma possibilidade
00:53:39de uma candidatura
00:53:40mais para centro-direita
00:53:42em 2026,
00:53:43o Lula
00:53:44tendo alguns
00:53:44problemas de saúde,
00:53:45o que está mexendo
00:53:46aí no tabuleiro,
00:53:47mas tem outras
00:53:48lideranças
00:53:49no campo
00:53:49da esquerda,
00:53:50não tem,
00:53:50o Lula
00:53:50nunca deixou
00:53:51crescer uma
00:53:52para não
00:53:52ameaçá-lo,
00:53:54o que você
00:53:54destaca
00:53:55do que sobrou
00:53:56desses últimos
00:53:57anos
00:53:58de populismo
00:54:00com retórica
00:54:01à esquerda,
00:54:01à direita,
00:54:02com esse
00:54:03binarismo,
00:54:04com esse
00:54:04ódio
00:54:05de um lado
00:54:05contra o outro,
00:54:07e assim,
00:54:08Pondé,
00:54:08a gente,
00:54:09como aponta
00:54:09aqui no jornalismo
00:54:10independente
00:54:10e vigilante
00:54:11de um antagonista,
00:54:12viu sujeira
00:54:12de todos os lados,
00:54:14viu abuso
00:54:14do Supremo Tribunal Federal,
00:54:16viu escândalos
00:54:17no governo do PT,
00:54:18viu escândalos
00:54:18no governo Bolsonaro,
00:54:20e muita gente
00:54:21escolhe um lado
00:54:21e quer apontar
00:54:22só a sujeira
00:54:22do lado do outro.
00:54:24Como é que você
00:54:24vê o Brasil
00:54:25nesse momento?
00:54:26Eu vejo
00:54:27como
00:54:27uma nação
00:54:29cuja maior
00:54:31parte
00:54:31dos seus líderes
00:54:33é gente
00:54:34delinquente.
00:54:36Está aí um ótimo
00:54:37resumo,
00:54:37conversamos aqui
00:54:38com o Gustavo
00:54:38Fonelho.
00:54:39É gente
00:54:40delinquente,
00:54:41né,
00:54:42porque assim,
00:54:42o contrário
00:54:44da virtude
00:54:45aristotélica
00:54:46da prudência
00:54:46do líder.
00:54:48Gente delinquente.
00:54:49E é inconsequência
00:54:50absoluta, né?
00:54:51Porque assim,
00:54:52a gente tem
00:54:53Lula
00:54:54versus Bolsonaro
00:54:55grosso modo,
00:54:56o Lula
00:54:56agora doentado,
00:54:58espero que ele
00:54:58se recupere,
00:55:00né,
00:55:00então assim,
00:55:01você tem
00:55:02duas figuras
00:55:03que na falta
00:55:06dos dois,
00:55:07seja lá
00:55:07por que motivo
00:55:08for,
00:55:09a inelegível
00:55:10desistência
00:55:12de concorrer
00:55:12em 26,
00:55:13o caso do Lula,
00:55:14ele talvez
00:55:15venha a desistir,
00:55:16inclusive no momento
00:55:17de pensar que já
00:55:18já serviu
00:55:20muito ao país
00:55:21e pode querer
00:55:22aproveitar a vida
00:55:23dele de outro jeito.
00:55:24Ou medo de perder,
00:55:24amarelar.
00:55:25Ou medo de perder
00:55:26a eleição, né,
00:55:27na última hora,
00:55:28que pode perder, né?
00:55:29Então assim,
00:55:30na saída
00:55:32dos dois
00:55:32da eleição
00:55:34de 26,
00:55:35eu acho
00:55:36que
00:55:37seria uma
00:55:38oportunidade
00:55:39para o Brasil
00:55:41e para os
00:55:42políticos
00:55:43brasileiros
00:55:44que estão aí
00:55:45tentarem
00:55:47reconstruir
00:55:48alguma
00:55:50prática
00:55:50política
00:55:51minimamente
00:55:52razoável
00:55:53dentro do
00:55:53país.
00:55:54Porque o que a gente
00:55:55vive hoje
00:55:55é a polarização
00:55:56que a gente
00:55:57conhece.
00:55:58A gente tem
00:55:59um legislativo
00:56:00que sempre
00:56:01foi fisiológico,
00:56:02sempre foi.
00:56:03A gente está
00:56:04num momento
00:56:04final de ano,
00:56:05mais do que nunca
00:56:06ilustrativo disso,
00:56:07que é a briga
00:56:07por emendas parlamentares,
00:56:08e aí ficam ameaçando
00:56:09os outros poderes
00:56:10porque se não
00:56:11liberar a grana
00:56:12deles,
00:56:12não fazem mais nada.
00:56:13A gente não faz o que a gente quer.
00:56:13Arriscam sabotar o país.
00:56:15Exatamente.
00:56:16Para o país.
00:56:17Não que os outros poderes
00:56:18estejam fazendo coisas boas,
00:56:19mas é que eles estão lá
00:56:20preocupados com o que é um deles.
00:56:21É.
00:56:22Então assim,
00:56:23é,
00:56:23então o legislativo
00:56:25é um legislativo
00:56:26que joga
00:56:27para qualquer lado,
00:56:29né,
00:56:29fisiológico,
00:56:30então portanto,
00:56:32eu diria,
00:56:32não é de se esperar
00:56:34que ele produza
00:56:35nenhuma grande opção
00:56:36no plano executivo,
00:56:38apesar de que
00:56:40sem o legislativo
00:56:41ninguém governa.
00:56:43Apesar que
00:56:43a maior parte das pessoas
00:56:45nem lembra quem votou
00:56:46para o Senado
00:56:47ou para a Câmara
00:56:48de Deputados,
00:56:49mas sem o legislativo
00:56:50ninguém governa.
00:56:51Exato.
00:56:52Eu acho que tem um elemento
00:56:53importante
00:56:53na nossa situação hoje
00:56:55que alguns
00:56:56comentaristas
00:56:58dizem que
00:56:59não é
00:57:00o papel que o STF
00:57:02acabou tendo
00:57:04e tem
00:57:04hoje
00:57:05na política brasileira
00:57:06é porque ele foi
00:57:07demasiadamente
00:57:08acionado,
00:57:10porque como a corte
00:57:12só age
00:57:13quando é acionado,
00:57:14teoricamente
00:57:15é assim que funciona,
00:57:16né,
00:57:16na magistratura.
00:57:18Mas o fato
00:57:19é que
00:57:20a minha impressão
00:57:21hoje em dia
00:57:22é que quem manda
00:57:23no país
00:57:24é o STF.
00:57:26Essa é a minha impressão,
00:57:27né,
00:57:28ele tem ali
00:57:29conflitos
00:57:30com o legislativo
00:57:32porque o legislativo
00:57:33o STF
00:57:34pode dizer
00:57:34você não vai receber
00:57:35dinheiro
00:57:35como já falou
00:57:36com relação
00:57:37a essas emendas,
00:57:38mas o executivo
00:57:40que precisa
00:57:40para governar
00:57:41o STF
00:57:42não precisa
00:57:42do legislativo
00:57:43para governar.
00:57:44Exatamente,
00:57:45nem do eleitorado
00:57:46porque eles
00:57:47não são eleitos
00:57:47e ficam lá
00:57:50até 75 anos.
00:57:51Então eles são
00:57:52o poder mais poderoso
00:57:54da república.
00:57:54Já passou de ser
00:57:55uma impressão,
00:57:56já é uma descrição
00:57:57que eles estão
00:57:58mandando no país.
00:57:59Eles mandam no país.
00:58:01Censurando,
00:58:01eventualmente.
00:58:02Inclusive
00:58:03ensaiando
00:58:05e produzindo
00:58:06formas de censura
00:58:07do pensamento.
00:58:08Eu acho que
00:58:09a gente está
00:58:10numa situação
00:58:10hoje clara
00:58:11que assim,
00:58:13a polarização
00:58:14destruiu opções.
00:58:16Basta pensar
00:58:16o que aconteceu
00:58:16com o Alckmin.
00:58:17Tudo bem que ele
00:58:18virou vício do Lula
00:58:18aos 45 minutos
00:58:20do segundo tempo.
00:58:21Estava aí dizendo
00:58:21que o Lula salvou
00:58:22a democracia.
00:58:23É, então,
00:58:24mas ele acabou
00:58:25o Alckmin.
00:58:26Ele foi governador
00:58:27do estado mais rico
00:58:28da federação,
00:58:30sei lá quantas vezes.
00:58:31Ele estava passando
00:58:31menos vergonha
00:58:32lá com a acupuntura dele,
00:58:33mas aí foi voltar.
00:58:35É, e porque ele
00:58:36ganhou meio voto
00:58:37da última vez
00:58:38que ele foi eleito.
00:58:39Então, você tem
00:58:40uma polarização
00:58:41que daí,
00:58:43desse mato
00:58:44não sai com ele.
00:58:44Eu acho o Lula
00:58:45e o Bolsonaro
00:58:46duas péssimas opções.
00:58:49Eu espero
00:58:50que tanto a esquerda,
00:58:53que como você bem disse,
00:58:54o Lula
00:58:55tocou
00:58:56o seu trabalho
00:58:58como líder
00:58:58do PT
00:58:59de forma tal
00:59:00a que ninguém
00:59:01o ameaçasse
00:59:02na sua liderança,
00:59:04o Bolsonaro
00:59:05tenta fazer a mesma coisa.
00:59:06A mesma coisa.
00:59:06Tenta fazer a mesma coisa.
00:59:07Acho que o Ciro Gomes,
00:59:08inclusive,
00:59:09óbvio que temos
00:59:10várias críticas ao Ciro
00:59:11em relação
00:59:11de diversos comportamentos,
00:59:13mas foi alguém
00:59:14que o Lula
00:59:14sentiu que poderia
00:59:16ameaçá-lo
00:59:16e ele já foi
00:59:17meio que deixando
00:59:18o Ciro para lá
00:59:19e o Ciro guarda
00:59:20uma certa mágoa disso.
00:59:21E foi deixado de lado.
00:59:24E a esquerda
00:59:25acabou abraçando
00:59:26e deixar o Ciro Gomes
00:59:27de fora
00:59:28de qualquer possibilidade.
00:59:30Agora,
00:59:31o que eu penso
00:59:32é o seguinte,
00:59:34se o Lula
00:59:35e o Bolsonaro
00:59:36ficarem de fora
00:59:38da corrida de 26,
00:59:40a gente talvez tenha
00:59:41a melhor corrida
00:59:42para presidente
00:59:43da República
00:59:44desde 89,
00:59:45ou mesmo a eleição
00:59:46do Fernando Henrique Cardoso.
00:59:47O melhor,
00:59:48eu quero dizer,
00:59:48com opções,
00:59:50que não seja polarizado.
00:59:52Com nuances,
00:59:53pelo menos,
00:59:54com candidatos
00:59:54de centro-esquerda,
00:59:55com candidatos
00:59:56de centro-direita,
00:59:57com outros mais...
00:59:58É,
00:59:58eu não estou citando
00:59:59o nome de ninguém,
00:59:59mas todo mundo sabe
01:00:00de quem eu estou falando.
01:00:01Inclusive,
01:00:02a esquerda também,
01:00:03que apareça o candidato
01:00:04da sua esquerda,
01:00:05que não seja o Lula,
01:00:07só que é um homem
01:00:08que já trabalhou muito,
01:00:09já é um homem
01:00:10de uma certa idade,
01:00:11que vai ser o Biden
01:00:13do Brasil.
01:00:15Pois é.
01:00:15É uma situação difícil,
01:00:17é uma situação difícil.
01:00:19Então,
01:00:20eu penso,
01:00:21não acho,
01:00:23todavia,
01:00:23Felipe,
01:00:24eu não acho
01:00:25que exista
01:00:25ninguém ainda
01:00:26que possa
01:00:27pôr a cabeça
01:00:28para fora
01:00:28e dizer
01:00:29sou eu.
01:00:30Tem gente
01:00:30fazendo isso,
01:00:32mas do ponto de vista
01:00:33eleitoral,
01:00:33eu quero dizer,
01:00:34que tenha cacife eleitoral,
01:00:36para poder dizer isso.
01:00:37É, porque o Brasil
01:00:37é um país continental
01:00:38e geralmente
01:00:39quem tem essa fama
01:00:40nacional,
01:00:41já com muita força,
01:00:42é quem já teve
01:00:43algum poder nacional.
01:00:44Então,
01:00:44os presidentes
01:00:45que constroem
01:00:45uma máquina
01:00:46de propaganda
01:00:46e tem disponível
01:00:47isso quando são
01:00:48governo,
01:00:50eles deixam isso
01:00:51para os próximos anos
01:00:52e fica difícil
01:00:52substituir.
01:00:54É todo um processo
01:00:55de depuração,
01:00:56de reconstrução,
01:00:57não é simples.
01:00:58Mas está bem resumida
01:01:00a sua análise,
01:01:00a gente precisa caminhar
01:01:01para o final,
01:01:01infelizmente,
01:01:02um papo ótimo
01:01:02com o Luiz Felipe Ponder,
01:01:04mas eu não queria
01:01:04fechar o programa
01:01:05sem falar um pouquinho
01:01:06desses temas
01:01:06das suas últimas colunas,
01:01:08adolescência,
01:01:09tédio e felicidade,
01:01:10como é que a gente resume
01:01:11isso em algumas pílulas?
01:01:12Adolescência,
01:01:14que você estava falando
01:01:15ali da perspectiva histórica,
01:01:16sempre existiu,
01:01:17não existiu?
01:01:18Eu sempre ouvia
01:01:19que o Selinger,
01:01:20com o apanhador
01:01:21no campo de centeio,
01:01:22meio que inventou
01:01:22a adolescência,
01:01:23não foi assim não,
01:01:24Fondé?
01:01:24Olha, de certa forma,
01:01:27sem dúvida nenhuma,
01:01:29ele é um dos inventores
01:01:31do adolescente mal criado,
01:01:33mal criado,
01:01:33com a figura do apanhador
01:01:36do campo de centeio,
01:01:37o Holden Kolfi,
01:01:38muito divertido,
01:01:39que inclusive a ideia
01:01:40de apanhador do campo de centeio
01:01:42é mínima no livro,
01:01:44no sentido de aparecer no livro,
01:01:47e no entanto,
01:01:49é o nome do livro.
01:01:50Eu quando via esse título,
01:01:51quando era mulher,
01:01:52que título esquisito,
01:01:53o que se trata isso?
01:01:55O apanhador no campo de centeio.
01:01:56É um adolescente rebelde,
01:01:59é isso aí,
01:02:00que tem problema,
01:02:01briga.
01:02:01Não tem nada a ver com centeio.
01:02:03Então,
01:02:05quando eu escrevi na folha
01:02:07essa coluna,
01:02:08a perspectiva histórica,
01:02:09o que eu queria dizer
01:02:10é que o adolescente
01:02:13é uma figura
01:02:13que foi surgindo
01:02:15à medida que a modernidade
01:02:16foi avançando,
01:02:18quando você criou
01:02:19um espaço de tempo
01:02:20em que ele nem é mais criança,
01:02:23a pessoa,
01:02:24e ainda não assumiu
01:02:25responsabilidade de adultos.
01:02:28Esse espaço de tempo
01:02:29preenchido
01:02:30na melhor das formas,
01:02:32nem sempre,
01:02:33infelizmente.
01:02:33Anda se estendendo esse espaço.
01:02:35Ah,
01:02:35está chegando aos 40 quase.
01:02:37É um espaço de tempo
01:02:38em que você seria preparado
01:02:39para a idade adulta,
01:02:40inclusive do ponto de vista
01:02:41da formação
01:02:42educacional e profissional,
01:02:45na melhor das hipóteses,
01:02:46por isso que eu falei.
01:02:48Então,
01:02:48é uma época
01:02:49que ele nem é uma criança
01:02:50que você pode mandar
01:02:51entrar no carro
01:02:52e ficar quieto,
01:02:53nem pode mais hoje em dia,
01:02:55e nem é um adulto
01:02:56que assume responsabilidade
01:02:57e paga boleto.
01:02:59Claro,
01:02:59esse adolescente,
01:03:00o adolescente no Brasil,
01:03:01normalmente de classe média,
01:03:03né,
01:03:03para cima,
01:03:04que é o que um monte
01:03:06de gente discute,
01:03:08teoriza.
01:03:09Eu não duvido
01:03:10que uma fisiologia
01:03:11adolescente existisse
01:03:12no ano 1200.
01:03:14Mas no ano 1200,
01:03:15alguém com 18,
01:03:1717 anos,
01:03:19menino,
01:03:19ou já estava na guerra,
01:03:21ou era ferreiro,
01:03:23tinha que se virar
01:03:24para comer,
01:03:25a menina já devia ter
01:03:26tido uns dois filhos,
01:03:27certo?
01:03:28Não tinha quarto.
01:03:29A parte da guerra
01:03:30é o que acontece
01:03:30com a juventude em Israel,
01:03:31né?
01:03:31É,
01:03:32Israel é uma cidade guerreira,
01:03:34é uma sociedade guerreira,
01:03:35um tipo de Esparta
01:03:36contemporânea.
01:03:38Mas...
01:03:39Aqui vira essa figura
01:03:39empoderada,
01:03:40autoritária.
01:03:41É,
01:03:41aparece dessa forma,
01:03:43né?
01:03:43Bom,
01:03:45e esse jovem
01:03:46não teria quarto
01:03:48para se trancar
01:03:48e entrar em crise.
01:03:50Essa pessoa
01:03:51de 18,
01:03:5217,
01:03:5315 anos
01:03:53não ia ter
01:03:54daddy issues,
01:03:55como se fala,
01:03:56problemas com o pai,
01:03:58questionar isso.
01:03:59A ideia
01:04:00que o adolescente
01:04:01é revolucionário
01:04:01é uma invenção
01:04:03que nem calça jeans,
01:04:05né?
01:04:05Dos anos 60.
01:04:06Então,
01:04:07a minha intenção
01:04:08com essa coluna
01:04:09é não dizer
01:04:10que o adolescente
01:04:11não existe,
01:04:13é dizer
01:04:13que ele tem
01:04:14aquilo que
01:04:15mais se fala
01:04:17dele
01:04:18é uma característica
01:04:19histórica
01:04:20e que se o mundo
01:04:21entrasse num caos
01:04:23econômico,
01:04:25ninguém em sã consciência
01:04:26espera,
01:04:27geral,
01:04:28que fosse destruído
01:04:29o capitalismo,
01:04:31que não se tivesse
01:04:31mais nenhuma produção
01:04:32em escala industrial,
01:04:34que a gente voltasse
01:04:35a viver em bando
01:04:36localmente
01:04:37como na pré-história,
01:04:38o adolescente
01:04:39desaparecia.
01:04:39como se fala
01:04:42hoje.
01:04:43Tá aí,
01:04:43a reflexão
01:04:43de Luiz Felipe Pondé,
01:04:44e tédio e felicidade,
01:04:46se a gente puder
01:04:46fechar assim,
01:04:47quase que como
01:04:48um coach
01:04:49de autoajuda,
01:04:50qual é a receita
01:04:51para ser feliz
01:04:51nesse mundo moderno?
01:04:52Olha,
01:04:53essa coluna
01:04:54foi fruto
01:04:54do editorial
01:04:55da Folha,
01:04:55que muitos
01:04:56dos comentaristas
01:04:58xingar,
01:04:58comentaristas,
01:04:59um dos comentários,
01:05:00não comentaristas
01:05:01do jornal,
01:05:02que falou da eleição
01:05:03uruguaia,
01:05:03que foi um tédio,
01:05:05mas no entanto,
01:05:06foi uma boa eleição,
01:05:08porque as pessoas
01:05:08eram educadas e tal.
01:05:11Então,
01:05:11eu sempre tive
01:05:12essa suspeita,
01:05:12eu usei o editorial
01:05:13como gancho,
01:05:14digamos assim,
01:05:15para afirmar o seguinte,
01:05:17os países mais felizes,
01:05:19eles têm uma enorme chance
01:05:20de serem entediantes.
01:05:22Aliás,
01:05:23aquele filme
01:05:24Testamento,
01:05:25daquele diretor
01:05:26canadense,
01:05:28Denis Arcand,
01:05:30se não me engano,
01:05:31é o nome dele,
01:05:31posso estar enganado,
01:05:32que fez
01:05:33queda do Império
01:05:34Americano
01:05:35nos anos 80,
01:05:37fez invasões
01:05:38bárbaras,
01:05:39recentemente,
01:05:40ele fez um filme
01:05:40chamado Testamento,
01:05:42em que o personagem
01:05:42principal,
01:05:44ele,
01:05:44num dado momento,
01:05:46viveu no Quebec
01:05:47a vida inteira,
01:05:47Canadá,
01:05:49ele fala assim,
01:05:49eu vivi a minha vida
01:05:51num país entediante,
01:05:53o Canadá.
01:05:55Eu suspeito
01:05:56fortemente
01:05:57que os países
01:05:57mais felizes
01:05:58do mundo
01:05:58são entediantes.
01:06:00Porque a felicidade
01:06:02numa sociedade
01:06:03é maior
01:06:05quando não acontece
01:06:05nada,
01:06:07quando não tem
01:06:08nenhuma grande mudança,
01:06:10ninguém tem
01:06:10nenhuma grande demanda,
01:06:12ninguém tem
01:06:12nenhuma expectativa
01:06:14de que vai virar
01:06:15um Rockefeller
01:06:16ou um Elon Musk
01:06:17de uma hora para outra,
01:06:18certo?
01:06:19Então,
01:06:19a ideia da coluna
01:06:21era justamente essa.
01:06:22agora,
01:06:22se a gente
01:06:22amplia,
01:06:24né,
01:06:25sem dúvida
01:06:26nenhuma,
01:06:27uma vida
01:06:27feliz,
01:06:28ela pode ser
01:06:29mais irmã
01:06:30do tédio
01:06:30do que da
01:06:31excitação.
01:06:33Exatamente,
01:06:33maravilha,
01:06:34isso me faz lembrar
01:06:35um sketch de humor
01:06:36ali,
01:06:37de stand-up
01:06:37do Fábio Rabin,
01:06:38e o Rabin
01:06:40fala assim,
01:06:41não,
01:06:42o rap
01:06:43e o Brasil
01:06:43tem tudo a ver,
01:06:44né,
01:06:44porque o rap
01:06:45é uma música
01:06:45de protesto
01:06:46e o Brasil
01:06:46é uma bosta.
01:06:48Então,
01:06:49vai lá o rap
01:06:49e fala aqui,
01:06:50tá acontecendo
01:06:50isso,
01:06:51isso,
01:06:51isso,
01:06:51absurdo,
01:06:52ele faz o rapper
01:06:53ali,
01:06:53né,
01:06:54aí ele fala,
01:06:54você imagina
01:06:55fazer rap
01:06:55na Suíça,
01:06:56é isso que eu tô falando,
01:06:58é isso mesmo,
01:06:59é isso aí,
01:06:59é isso mesmo,
01:07:00o rapper na Suíça,
01:07:01não tem o que falar,
01:07:03é uma coisa entediante,
01:07:04tá aqui,
01:07:04todo mundo vive bem,
01:07:05todo mundo come bem,
01:07:07você vai cantar o quê?
01:07:08Você pode dormir na rua
01:07:09que ninguém te rouba,
01:07:10é exatamente isso
01:07:11que eu tô falando,
01:07:12é exatamente isso.
01:07:14Luiz Felipe Pondé,
01:07:15senhoras e senhores,
01:07:15um papo ótimo,
01:07:17eu gosto muito,
01:07:18foi um prazer enorme
01:07:19viajar com ele,
01:07:20era bom a gente ter
01:07:21mais frequência
01:07:23aqui nessas conversas,
01:07:24qualquer hora
01:07:24ele volta
01:07:26daqui a alguns meses,
01:07:27a gente tenta roubá-lo,
01:07:28né,
01:07:28vamos ver
01:07:29se a gente consegue um dia
01:07:30ter uma parceria
01:07:31com o Pondé também,
01:07:32muitíssimo obrigado
01:07:33pela disponibilidade,
01:07:34pela presença,
01:07:34foi um prazer,
01:07:35sempre,
01:07:37até a próxima.
01:07:37Podcast O.A é toda segunda
01:07:39às 19h30,
01:07:40aliás,
01:07:41falamos de Israel,
01:07:42a gente falou aqui
01:07:43da perspectiva testemunhal
01:07:45e analítica
01:07:46do Pondé
01:07:46sobre a situação atual,
01:07:48um pouco da história dele,
01:07:49pessoal,
01:07:50mas também tem o Podcast O.A,
01:07:51edição com Samuel Feldberg,
01:07:53autoridade
01:07:54aqui do Brasil,
01:07:55da Stand with Us Brasil,
01:07:57em conflitos
01:07:57no Oriente Médio,
01:07:58aí traça tudo o histórico
01:08:00daquela região,
01:08:01vale a pena ver
01:08:02esse trecho
01:08:03da conversa com o Pondé,
01:08:04à luz também
01:08:05daquela conversa
01:08:06com Samuel Feldberg.
01:08:07Toda segunda-feira
01:08:08a gente recebe
01:08:08um convidado especial
01:08:09aqui e vai ao ar
01:08:10às 19h30.
01:08:11Lembrando que o Papo Antagonista
01:08:12é de segunda a sexta,
01:08:13das 18h às 19h30,
01:08:15tratando das notícias do dia,
01:08:16mas a gente sempre tenta também
01:08:18extrair alguma reflexão
01:08:19mais perene.
01:08:20Um grande abraço
01:08:21a todos
01:08:21e até a próxima.
01:08:22Podcast O.A.
01:08:31Conversa boa de ver
01:08:32e ouvir.

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