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Baterista dos Titãs, apresentador do programa O Som do Vinil e pesquisador da nossa história fonográfica, Charles Gavin analisa obras de Rita Lee, Jorge Ben, Paralamas, Chico Science e Caetano Veloso neste episódio do Ilha de Cultura.

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Transcrição
00:00Olá, sejam muito bem-vindos ao Ilha de Cultura, o programa cultural da Cruzoé.
00:12Hoje o nosso convidado é o Charles Gavan, músico, baterista dos Titãs,
00:17apresentador do programa O Som do Vinil e um grande pesquisador do nosso passado musical.
00:23Ele tem sido um escavador de obras que ficaram meio esquecidas nos acervos e, imagino, nos cebos também.
00:33Tudo bem, Charles? Bom dia.
00:35Olá, oi, Carlos, tudo bem? Olá para todos que nos acompanham aqui no Ilha de Cultura.
00:40Muito obrigado pelo convite.
00:42Obrigado a você por ter topado fazer esse papo com a gente.
00:45Bom, como é a praxe do nosso programa, a gente pede que os nossos entrevistados façam indicações.
00:55E o Charles preparou cinco discos, cinco indicações de discos, que, segundo ele, são leituras do Brasil,
01:04do momento em que eles foram lançados.
01:06Mas, antes de chegar nos discos, Charles, eu queria te pedir uma rápida introdução,
01:16uma rápida fala sobre esse seu trabalho.
01:19Como é que você descobriu que gostava de cavocar acervos e de trazer coisas que estavam esquecidas à tona?
01:30Obrigado pela pergunta. Vou tentar resumir.
01:34Bom, na verdade, era condição de autodidata.
01:38Eu fui estudar música depois que me profissionalizei, em 1985, quando os titãs me chamaram para entrar para a banda.
01:44Antes disso, tudo que eu sabia de música e tudo que eu sabia do meu instrumento, que é a bateria,
01:50foi por observação, por métodos absolutamente pessoais, entendeu?
01:55E, de alguma forma, por uma certa paixão e resiliência, eu consegui chegar até um lugar da música brasileira,
02:03ali na cena do rock brasileiro independente de São Paulo, onde eu disputava espaço com outros colegas.
02:11E os titãs acabaram me chamando para entrar para a banda.
02:14Isso é, em 1985, eu estava acabando de cursar administração de empresas da ANAPUC,
02:21sou aluno de escola pública, fiz faculdade.
02:24No último ano, resolvi trancar a faculdade e entrar para a banda.
02:28O ato de procurar, de buscar, como você falou, de escavar, de pesquisar,
02:35ele vem desde os tempos de garoto, assim, né?
02:37Porque o fato de eu ser autodidata, ele me obrigou e até ele me educou a ter a pesquisa, né?
02:45A curiosidade como processo.
02:48Então, assim, para aprender a tocar bateria sozinho, sem a ajuda de ninguém,
02:52era necessário, primeiro, curiosidade, segundo, muita observação, né?
02:56E muita vontade, muita determinação.
02:59Então, eu passava, assim, o meu tempo livre assistindo shows.
03:03Nós não tínhamos internet nessa época, obviamente, eu sou de 1960,
03:07imagina você, então, estou falando dos meus 15 anos, eu tinha 15, 16 anos ali,
03:11em 1975, 76, né?
03:14O método de aprender para pessoas como nós era dessa forma, né?
03:17Era observar e tentar imitar, ou tentar compreender o processo.
03:20Foi assim comigo.
03:22Então, dentro disso, eu criei uma tremenda paixão pela música,
03:25que se tornou um meio de expressão.
03:27Então, desde então, eu vim colecionando, né?
03:30Esse acho que é o termo mais próximo do que eu fiz,
03:33embora eu não me julgue colecionador.
03:35Fui colecionando discos, informações, recortes de jornal, revistas,
03:40tudo que fosse importante para entender o que era a música brasileira, né?
03:45E internacional também, eu fui adquirindo essa vontade,
03:48esse desejo que virou uma atividade,
03:50e mais tarde até se tornou uma profissão, uma atividade profissional.
03:52Deixa eu só te fazer uma pergunta.
03:56Você mencionou a música brasileira antes da música internacional.
04:00E quando a gente fala de roqueiro,
04:03a gente sempre imagina que o cara começou a sua...
04:07Começou a treinar o seu gosto musical pela música estrangeira.
04:11Foi assim com você,
04:12ou você gostava de música brasileira desde o começo?
04:14Foi mais ou menos assim.
04:18Mas nós, a gente...
04:20Uma coisa boa, acho que de brasileiro, né?
04:23E não respondi a primeira pergunta,
04:25é que a gente tem uma cabeça muito aberta, na verdade,
04:27sobretudo para a cultura, né?
04:29Nós somos formados mais ou menos desse jeito, né?
04:33Prestar atenção no que a gente produz aqui
04:35e também no que a gente recebe lá de fora.
04:38Então, quando eu tinha 13, 14 anos,
04:40é claro que as bandas britânicas frequentavam a turma do colégio.
04:44O pessoal levava os discos para o colégio, Carlos, né?
04:46Era uma forma até de você dizer quem era,
04:48uma forma de você mostrar a sua identidade cultural.
04:53Isso acontecia com os mais velhos.
04:54Eu via os caras passando na frente ali na hora do intervalo.
04:58Uns tinham...
04:59Uns tinham a camisa...
05:02Camisa não.
05:03A capa, o disco do John Lennon, por exemplo,
05:05o Beatles.
05:06Outros passavam com o disco do Egbert Schismonti.
05:08Outros passavam com os discos de Bob Dylan.
05:11E assim por diante.
05:12Os discos iam passando.
05:13E as pessoas iam falando.
05:14Olha, aquele cara com os discos de Bob Dylan.
05:16Aquele outro com Beatles.
05:18Outro com Milton Nascimento.
05:19Outro com Chico Buarque, né?
05:21A gente foi criado um pouco nesse ambiente.
05:23Então, era normal gostar dos dois, né?
05:25Mas o que eu acho que...
05:26O que marcou, de fato, toda a minha geração
05:28e que lançou um novo olhar sobre a música,
05:32chamou a atenção para nós,
05:34que éramos bem jovens ainda,
05:35foi Secos e Molhados, em 73.
05:37Um fenômeno cultural no Brasil.
05:39Então, a partir dali,
05:40eu acredito que as pessoas da minha geração,
05:43que tinham a música apenas como entretenimento,
05:46como diversão,
05:46começaram a olhar a música de uma outra forma.
05:49Embora a gente fosse bem jovem,
05:50bem imaturo ainda,
05:51mas assim, Secos e Molhados.
05:53É uma obra tão poderosa e totalizante
05:56que ela lançou esse olhar para a minha geração,
05:59entendeu?
06:00Assim, chamou a atenção por uma série de questões
06:02de uma forma muito poética.
06:03Eu me lembro das pessoas no colégio
06:05ficarem debatendo a poesia do disco.
06:07A gente nem entendia de poesia.
06:08Imagina, nós tínhamos 13, 14 anos.
06:10Nem entendia nada disso, né?
06:12Mas ela era tão impactante pela música também
06:16que, de certa forma,
06:18ela é um marco na minha geração.
06:19Então, a partir dali,
06:20a gente começou a olhar a música de outro jeito.
06:22E aí vieram, claro,
06:24os grandes nomes da música brasileira,
06:25do rock brasileiro.
06:27Uma das pessoas que eu indiquei aqui
06:28foi rita ali,
06:29foi rita ali,
06:31indiquei aqui no nosso bate-papo.
06:33Mas também vieram as bandas britânicas também,
06:35entendeu?
06:36E dentro disso,
06:38só para responder a primeira pergunta,
06:39mais tarde,
06:41que eu não respondi,
06:41mais tarde,
06:43já nos anos 90,
06:45depois de muitas viagens
06:47que eu fazia sozinho
06:48nas folgas da agenda dos titãs,
06:52a coisa que eu mais amo na vida,
06:53além de tocar a bateria e viajar,
06:56eu comecei,
06:56eu percebi que muitos discos da música brasileira,
06:59alguns eu tinha,
07:00outros não,
07:01eram vendidos de lojas da Europa,
07:02e vinham do Japão,
07:03eram lançados no Japão,
07:05e a gente,
07:06aqui ninguém conhecia,
07:07não se vendia,
07:09ninguém sabia mais daquele,
07:10ou daquele disco,
07:11ou daquele nome,
07:12e percebi que existia um imenso,
07:15um imenso patrimônio,
07:17legado da música brasileira,
07:18que por uma série de questões,
07:20algumas bem complexas,
07:22quem tinha nascido nos anos 70, 80,
07:25nem sabia da existência,
07:27do nome,
07:27de alguns grandes nomes
07:28da música brasileira,
07:30e sentia uma vontade,
07:31de pelo menos compartilhar,
07:33e entender melhor
07:34o que era a música brasileira,
07:35assim,
07:36naquela altura a gente já sabia
07:37muita coisa,
07:37mas tem sempre o que saber,
07:39e sempre o que aprender,
07:40claro,
07:40né,
07:41então eu tive uma vontade
07:42de compartilhar,
07:43assim,
07:44desses discos que a gente fala aqui,
07:46raros,
07:46como você falou,
07:47discos de sebo e de vinil,
07:48que ninguém mais se lembra,
07:50que se tornaram raridades,
07:51assim,
07:52discos que são na mão
07:53de colecionadores,
07:54sentia uma vontade,
07:55uma necessidade,
07:56até um dever de compartilhar,
07:58tudo que eu aprendi também
07:59com os titãs,
08:00e que eu aprendi
08:00nessas pesquisas,
08:02e visitas a sebo,
08:03e as lojas do mundo inteiro,
08:04sentia uma vontade
08:05de compartilhar isso,
08:06com outras pessoas,
08:07e aí acabou virando um projeto.
08:09E Secos e Molhados,
08:12se eu não me engano,
08:14foi um grupo que você conseguiu recuperar
08:18fonogramas que estavam meio perdidos deles,
08:21meio esquecidos,
08:22não é isso?
08:22Sim.
08:23O primeiro projeto que eu fiz,
08:26foi um lançamento em CD,
08:30dos dois discos que Secos e Molhados gravaram
08:32para a gravadora continental,
08:33hoje propriedade da Order Music.
08:35O primeiro disco,
08:36foi de 1973,
08:38e o segundo,
08:38em 74.
08:39O disco de 73,
08:41o primeiro,
08:41esse que sorou,
08:42que foi um sucesso massivo no Brasil,
08:45ele estava disponível em CD,
08:46mas o segundo não,
08:47assustadoramente não.
08:48Então,
08:49você andava pelo centro de São Paulo,
08:51as lojinhas ali do centro,
08:52da Galeria 24 de Maio,
08:54Galeria do Rock,
08:54como chamam hoje,
08:56vendiam CD pirata,
08:57veja você,
08:58isso existiu durante muito tempo,
08:59hoje não existe mais,
09:00CD pirata,
09:01CD fabricado em casa,
09:03desse disco do Secos e Molhados,
09:04e ali para mim foi um indicativo
09:06de que existia uma demanda por aquilo,
09:08tanto é que faziam,
09:09e que as gravadoras
09:10estavam distantes do mercado,
09:12não havia alguém para,
09:15pelo menos,
09:15perceber qual é o comportamento
09:17de outras faces do mercado,
09:20outras vertentes do mercado
09:21consumidor brasileiro.
09:23Eu propus esse projeto,
09:24a gravadora achou interessante,
09:26deixou fazer,
09:27e lançamos,
09:27eles lançaram,
09:29eu fui o produtor dessa edição,
09:31num CD,
09:33os dois discos do Secos e Molhados,
09:34como uma novidade,
09:35a gente remixou os dois discos,
09:37remixamos os dois discos,
09:39tivemos,
09:40pela tecnologia,
09:42que já existia na época,
09:43um avanço da tecnologia,
09:44conseguimos alguns resultados
09:46muito interessantes,
09:47isso chamou a atenção
09:48do público,
09:49da imprensa,
09:50o disco saiu muito bem,
09:51e vendeu super bem,
09:52aliás,
09:53o meu projeto que mais vendeu até hoje,
09:54foi o primeiro,
09:55essa edição do Secos e Molhados,
09:57do primeiro e do segundo disco.
09:59Muito bom.
10:00Bom,
10:00vamos passar, então,
10:01para os discos.
10:04Eu estou aqui vendo a lista
10:05que você me encaminhou,
10:08e o disco mais antigo
10:11é justamente o da Rita Lee,
10:14Tutti Frutti,
10:15Fruto Proibido,
10:15de 75.
10:17Vamos começar por ordem cronológica,
10:20porque assim você já conecta
10:21com essa época
10:23de que você estava falando.
10:25Sim, é verdade.
10:27Bom, já acrescentei
10:28a nossa lista
10:29do Secos e Molhados,
10:30que já vem sendo.
10:31Uma leitura do Brasil
10:32daquele momento
10:33em que a gente estava
10:34sobre uma ditadura
10:35difícil,
10:37que dificultava a vida
10:38de todo mundo
10:38aqui no Brasil.
10:40Eu classifico
10:40como o pior momento
10:41da vida brasileira,
10:42apesar de ter nascido
10:43nos anos 60,
10:44mas eu vivi isso
10:45praticamente
10:46em toda a minha infância
10:47e adolescência,
10:48até chegar à fase adulta
10:49e acompanhar
10:50até a gente chegar
10:51à redemocratização
10:52no final dos anos 80.
10:54Secos e Molhados
10:54é uma leitura
10:55muito poética
10:56e muito lírica
10:57até desse equipamento
10:59de repressão
11:00que foi a ditadura militar
11:02no Brasil nesse período.
11:03O fruto proibido,
11:04de certa forma,
11:05olhando por um outro ângulo,
11:06o ângulo feminino,
11:07que é o ângulo de Ritali,
11:08trata um pouco disso.
11:10Aliás, retrata o Brasil
11:11dessa época.
11:12Tem um termo
11:13que hoje não se usa muito,
11:14né?
11:15Ele caiu em desuso,
11:17mas na nossa época
11:18era um termo
11:18que se usava bastante
11:21para descrever
11:21essa rigidez
11:22que a ditadura
11:24e que o conservadorismo
11:25daquela época
11:26impôs
11:27a todos os músicos,
11:29cineastas,
11:30a imprensa,
11:31a censura da imprensa,
11:32esse horror
11:33que foi a ditadura.
11:34A Rita Lee
11:34chamava também isso
11:35de caretice.
11:36Isso vinha lá
11:37dos mutantes
11:37dos anos 60,
11:38que é essa gíria
11:39muito antiga,
11:40careta,
11:40o que é o caretice?
11:42É a pessoa
11:42conservadora,
11:44ao extremo,
11:45que não aceita
11:46as outras pessoas
11:48como elas são
11:49que não convivem
11:50com outras formas
11:51de encarar a vida.
11:53Para ela,
11:53só existe a forma
11:54que ela enxerga a vida,
11:56as crenças dela.
11:58Isso a gente chamava
11:59de certa forma
12:00de caretice,
12:01de caretos,
12:01caretas,
12:02a caretice.
12:03Então,
12:04a Rita grava esse disco
12:05com o Fruto Proibido,
12:07perdão,
12:07grava esse disco
12:08com o Tutti Frutti,
12:10que é a banda
12:10que toca com ela,
12:12uma banda que era
12:13de São Paulo,
12:14ela sai dos mutantes,
12:15procura um coletivo
12:16para trabalhar,
12:17encontra com o Tutti,
12:18com músicos
12:20absolutamente geniais
12:21que estão nesse disco,
12:22destaque para o baterista
12:23que é o Frank Paulino,
12:25monstro da bateria.
12:27Puxando a brasa
12:27para o Sardinha, né?
12:30O monstro
12:31da bateria de São Paulo,
12:33o Sérgio Carlini também,
12:35o monstro da guitarra,
12:36expoentes máximos
12:37do rock paulistano,
12:40ela grava esse disco.
12:41Então,
12:41esse disco tem
12:41alguns clássicos,
12:42alguns deles,
12:44assim,
12:44como Ovelha Negra,
12:46que fala exatamente
12:47de um outsider,
12:48que nasce
12:49numa família
12:50que não aceita
12:50exatamente
12:51a forma como
12:52ela quer viver
12:53a vida dela.
12:55Essa música
12:55explodiu no rádio.
12:56E era interessante
12:57porque as músicas
12:59da Rita Lee,
12:59diferentemente
13:00de outros nomes
13:02da música brasileira,
13:02Carlos,
13:03ela passava
13:04pela censura.
13:05Tinha uma forma
13:06de compor e de falar
13:07tão delicada
13:08e tão mirônica
13:09e engraçada
13:10que não tinha como
13:11censurar
13:12as letras da Rita Lee,
13:13mas são absolutamente
13:14políticas as letras
13:15desse disco.
13:17Diferentemente
13:17de outros autores
13:19que foram perseguidos
13:20pela censura,
13:21Jars Macalé,
13:22Chico Buarque,
13:26Taiguara
13:26e muitos outros.
13:28Taiguara,
13:28inclusive,
13:29é um artista,
13:29é um nome
13:30da música brasileira
13:31que a censura
13:31vivia monitorando
13:34o que ele fazia.
13:36Uma pessoa
13:36que teve muitos problemas
13:37com a censura.
13:39Esse disco
13:40da Rita Lee
13:40é muito interessante.
13:42Tem uma faixa
13:42chamada rock and roll
13:43que é muito interessante,
13:44que na história
13:45de uma menina
13:46que está gostando
13:46de rock
13:47e a família
13:47não gosta
13:48que ela goste
13:48de rock.
13:50Esse disco,
13:51olha,
13:51ele,
13:52para mim,
13:54um dos discos
13:54mais importantes
13:55da música brasileira
13:56e talvez
13:56um maior disco
13:58do rock nacional.
13:59É o grande
14:00manifesto
14:01anti-caretice
14:02da época?
14:04Podemos chamá-lo
14:05assim,
14:05e sobretudo
14:06no meio
14:07também,
14:08Carlos,
14:11ser mulher
14:11dentro do meio
14:13do rock and roll
14:14no universo
14:15do roqueiro
14:15que contraditoriamente
14:18é um universo
14:19muito preconceituoso
14:20e machista.
14:22Rock and roll
14:22supostamente
14:23é uma coisa libertária.
14:24Ele passa essa imagem,
14:26passava nos anos 60,
14:27nos anos 70,
14:28até nos anos 80,
14:29coisa libertária,
14:30progressista.
14:32Só que não,
14:33nem sempre é assim.
14:34Então,
14:34muita gente
14:34dentro do nosso meio
14:36é misógina,
14:37é homofóbica,
14:38é machista,
14:39é preconceituosa,
14:41e ainda mais
14:41uma mulher
14:42como Rita Lee,
14:43uma guerreira,
14:44uma pioneira
14:44dentro desse meio,
14:45não foi fácil
14:45para ela não.
14:46Então,
14:46acho que isso
14:47também é importante
14:48porque traz
14:48a visão feminina
14:49do painel
14:51cultural e político
14:51da época.
14:53Além do som,
14:54além do som também,
14:56do som,
14:56o disco é fantástico.
14:58Além da Rita Lee
14:59e das meninas,
15:00vai,
15:01da Jovem Guarda,
15:02estavam ali também
15:04fazendo uma coisa
15:05que era muito importante
15:06na época.
15:07Teve outra mulher
15:08roqueira nesse momento,
15:09começo dos anos 70?
15:10Nós tivemos assim,
15:13nós tivemos a parceira
15:14da Rita Lee
15:15que mora em São Paulo,
15:16que é a Lúcia Turnbull,
15:17que é a parceira dela,
15:18e a Lúcia tem
15:20um disco gravado,
15:22tocou com muita gente,
15:23continua tocando
15:24com muita gente,
15:25e que era,
15:26ela com a Rita Lee,
15:27elas formaram
15:28uma espécie de projeto
15:29barra banda
15:30que chamava
15:30Celebrinas do Éden.
15:32Existe um disco
15:33pirata
15:34que circula por aí,
15:36que é uma gravação
15:36que vazou
15:37e que fizeram
15:38até um vinil,
15:39fizeram discos pirata
15:40dessa gravação,
15:41já perguntei
15:41para a Lúcia Turnbull,
15:42eu falei,
15:42não,
15:43foi uma gravação
15:43que a gente fez
15:44que vazou
15:45e as pessoas lançaram
15:46sobre esse nome,
15:47que era o nome
15:47como a gente se chamava,
15:48a dupla se chamava,
15:49Rita Lee e Lúcia Turnbull,
15:51chamavam Celebrinas do Éden.
15:53Tem uma outra mulher,
15:55isso existe,
15:56é raro,
15:56eu não sei se está em streaming,
15:58mas na internet
15:58você encontra
15:59se você quiser ouvir,
16:00Celebrinas é genial,
16:02e tem, claro,
16:03todo o DNA da Rita Lee
16:04e da Lúcia.
16:05Outra figura importante também,
16:07não só do rock,
16:08mas também do rock,
16:09é Baby Consuelo,
16:11mais tarde Baby do Brasil,
16:13uma das maiores vocalistas,
16:15cantoras da música brasileira
16:16que eu vi cantar,
16:18ao ouvir ainda
16:18quando era jovem,
16:19quando vi um show
16:20dos Novos Baianos,
16:21já sem o Moraes Moreira,
16:22fiquei absolutamente
16:23chapado com ela,
16:24um show aí
16:25no Auditório Augusta,
16:27uma fase dos Novos Baianos,
16:28já ali da segunda metade
16:29dos anos 70,
16:30eu sou de 1960,
16:32uma cantora
16:34com uma vitalidade,
16:35uma pegada assim,
16:37que a gente achava
16:38que só o rock
16:38tinha aquilo,
16:39não,
16:40a energia,
16:41a força,
16:42a performance,
16:43ela é de qualquer gênero,
16:44não importa qual,
16:45mas foi uma pessoa
16:46muito importante também
16:47a Baby Consuelo,
16:49e a gente ficava,
16:50eu,
16:51só para terminar,
16:52sempre também
16:52prestei atenção nisso,
16:54o papel feminino
16:56da mulher
16:56nos vários gêneros
16:57da música brasileira,
16:58foi assim no Brasil
16:59e foi assim também
17:00em outros lugares do mundo,
17:01o rock,
17:02por alguma razão,
17:02foi se transformando
17:03uma coisa essencialmente
17:04masculina e preconceituosa,
17:06deveria ser o contrário,
17:08libertário,
17:09mas algumas mulheres
17:09dentro do rock
17:10fizeram carreira
17:11e fizeram sucesso,
17:12mas uma das primeiras
17:13bandas que chamou a atenção
17:15em que eu comprei
17:16esse disco,
17:17e o pessoal na escola
17:18ria,
17:19que eu aparecia
17:20com esse disco,
17:21é um disco
17:21de uma banda
17:21de Los Angeles,
17:23de 75 ou 76,
17:25chamada The Runaways,
17:27dentro dessa banda
17:28tem uma guitarrista,
17:30compositora e vocalista
17:31que explodiu,
17:31que seguiu carreira sozinha,
17:33que chama John Jet,
17:34já tocou em São Paulo,
17:35mas esse disco
17:36das Runaways,
17:37inclusive na época,
17:38foi uma coisa assim
17:38que todo mundo olhou
17:40com certo desdém,
17:41e esse disco
17:42é absolutamente genial,
17:43a banda durou alguns anos,
17:44gravou, se não me engano,
17:45quatro ou cinco discos apenas,
17:46mas ela está por aí ainda,
17:48né?
17:48A John Jet, sim,
17:49uma pessoa importantíssima
17:50no rock and roll
17:51e no punk também.
17:54Muito bom.
17:55Bom,
17:55o segundo disco
17:56que você sugeriu,
17:57vem logo em seguida,
17:5976,
18:00Jorge Ben,
18:01não era Jorge Benjora ainda,
18:04África Brasil,
18:05ele já tinha abandonado
18:06o violão nessa época,
18:08ou ainda não,
18:09já estava na guitarra,
18:10não é isso?
18:11É o primeiro disco dele
18:12na guitarra,
18:12exatamente isso,
18:13Carlos.
18:16Talvez,
18:17talvez não,
18:17certamente,
18:19Jorge Ben,
18:19uma das figuras mais importantes,
18:21uma figura magistral
18:22na música brasileira,
18:24essa geração
18:25que nasceu
18:26nos anos 40,
18:27geração que nasceu
18:27nos anos 30 e 40,
18:30tem muita gente,
18:31felizmente,
18:31natividade,
18:32nativa até hoje,
18:34olha só,
18:35Jorge Ben,
18:36não é só uma outra forma
18:38de inventar o samba,
18:39samba esquema novo,
18:40o primeiro disco
18:41ele já dizia isso,
18:42o outro jeito
18:42de tocar o samba,
18:43mas é uma certa,
18:44ele abriu um outro caminho
18:48para tocar o samba,
18:49no que diz respeito
18:50à forma de falar,
18:53de cantar
18:53e também de tocar,
18:54tocar violão
18:55e dar batida,
18:56só ele tem aquela batida,
18:57as pessoas procuram imitar
18:58o Jorge Ben,
18:59não chegam nem perto
19:00da batida que ele inventou,
19:02e anos mais tarde.
19:04Você consegue explicar
19:05para um não músico
19:07o que é tão distinto
19:11na batida do Jorge Ben?
19:13Dá para explicar isso
19:15para uma pessoa
19:16que não sabe tocar nada,
19:17como eu?
19:20Olha,
19:20é difícil,
19:21é difícil porque...
19:23Eu não preciso.
19:25É difícil,
19:26o que eu posso dizer
19:27é que a batida dele,
19:29diferentemente de outros nomes
19:32que vinham do samba carioca,
19:35o Jorge Ben vem de uma turma ali,
19:37se eu não me engano,
19:38da Tijuca do Rio de Janeiro,
19:41essa turma,
19:42que não ouvia só música,
19:44não ouvia só os grandes mestres
19:45do samba
19:46e nem do samba canção,
19:48ouvia um rock também
19:49e, sobretudo,
19:49ouvia o black music,
19:51já ouvia um,
19:52Motown,
19:54Starks,
19:55era uma mistura,
19:56Little Richard também,
19:58Elvis Presley,
20:00então,
20:00eu acho que...
20:01Acho não.
20:02Pessoas como ele,
20:03Tim Maia,
20:04tinham elementos
20:05da música norte-americana
20:06dentro da sua música.
20:08Tim Maia, obviamente,
20:08mas o Jorge Ben é um pouco
20:10mais complexo,
20:11o Tim Maia é mais fácil
20:11de identificar,
20:12você fala,
20:13isso aqui o Tim Maia
20:14tirou da Motown,
20:15redatou para o Brasil,
20:17para a coisa brasileira,
20:17o Jorge Ben é mais complexo,
20:19eu acho,
20:19a batida dele no violão
20:20que ele vai desenvolvendo
20:21ao longo da carreira,
20:22depois ele troca,
20:23vai para o violão elétrico,
20:24depois ele vai para a guitarra
20:25que é o África Brasil,
20:27que para mim é o grande encontro
20:28da música brasileira,
20:30do samba,
20:31com o rock de fato,
20:32o disco tem guitarra,
20:34tem distorção,
20:35tem amplificação,
20:36o disco elétrico,
20:37e também o visionário
20:40que era o Jorge Ben
20:41aponta para essa distância
20:44que existe entre Brasil
20:46e África,
20:47que até hoje eu não me conformo,
20:48como nós,
20:49sendo o que somos,
20:51Carlos,
20:52somos tão distantes
20:53do continente africano,
20:55a gente sempre tem
20:56as nossas lentes
20:56viradas para a Europa,
20:58para os Estados Unidos,
20:59para as questões de lá,
21:00mas eu falo da política,
21:02falo de uma forma geral,
21:03por que não somos mais próximos
21:06da África,
21:07sendo que somos um país
21:08que veio de lá,
21:09metade da Europa
21:10e metade da África,
21:11nós somos um encontro
21:12desses dois continentes.
21:15Então, Jorge Ben,
21:16além dessa forma,
21:17dessa forma de modificar
21:19a sonoridade dele,
21:21e o jeito dele tocar,
21:22passar para a guitarra,
21:24ele também tem letras
21:25absolutamente visionárias,
21:27como, por exemplo,
21:29Ponta de Lança Africana,
21:29onde ele já dá a dica,
21:33olha, no futuro,
21:35para quem,
21:35para bom entendedor,
21:36no futuro,
21:37os jogadores de futebol
21:38da África vão valer muito,
21:40eles vão ser destaque
21:41no mundo,
21:42que é o que acontece
21:43hoje no futebol,
21:44os jogadores africanos,
21:46sobretudo na Europa,
21:47até eu converso,
21:48os meus amigos
21:49do Sport TV,
21:50quando a gente conversa
21:51bastante sobre
21:52o que a imprensa inglesa,
21:55o que os ingleses acham
21:56dos atletas brasileiros
21:58e dos africanos,
21:59então, em alguns
22:00setores da imprensa,
22:02alguns jornalistas
22:02preferem e defendem
22:03mais o jogador africano
22:05no futebol inglês,
22:05até porque o brasileiro,
22:06acho o brasileiro
22:07mais difícil de adaptar,
22:08o africano tem mais
22:09flexibilidade,
22:12tem mais facilidade
22:13de adaptação,
22:14já conversei muito
22:15sobre isso,
22:15Jorge Ben,
22:16até sobre isso,
22:16ele fala nessa música,
22:18tem uma série de música,
22:19de letras
22:21que ele desenvolve ali,
22:22que fala um pouco,
22:23assim,
22:24do,
22:25primeiro,
22:27das nossas matrizes
22:28africanas,
22:29e segundo,
22:29isso é minha leitura,
22:31de como a gente
22:32tem a ver com a África
22:33e como a gente também
22:34não se dá conta disso,
22:36na África,
22:37dentro do Brasil,
22:39do ponto de vista
22:39da sonoridade,
22:40eu acho que é um dos melhores
22:41discos da música brasileira
22:42de todos os tempos.
22:44E o Jorge Ben,
22:44ele falava,
22:46nessa época,
22:47já no final dos anos 60
22:50e no começo dos anos 70,
22:52ele punha a questão
22:53do ser negro no Brasil
22:55nas músicas dele,
22:57de um jeito muito engraçado,
22:59que tinha a ver
23:00com o humor do samba também,
23:03eu não sou um especialista,
23:06mas me parece que nessa fusão,
23:08assim,
23:09de uma música jovem,
23:10que já estava meio que
23:11derivando para o rock,
23:13e essa pitadinha política
23:17era meio nova também,
23:19que era muito leve,
23:20ele não fazia propaganda disso,
23:22me parece,
23:23mas estava lá.
23:29Talvez, sim,
23:30ele não fazia,
23:33ele não fazia assim,
23:36explicitamente,
23:38mas fazia sublinarmente,
23:41está aí a genialidade dele.
23:42E vamos combinar também,
23:44você,
23:45um artista preto,
23:47naquela época no Brasil,
23:48do calibre de Jorge Ben,
23:50com o nível de exposição
23:51que ele tinha,
23:52você tinha que ter muito cuidado,
23:54a gente está falando dos anos 70,
23:55não vamos esquecer disso aqui,
23:56a gente está em meia ditadura,
23:58um aparelho repressor,
24:00assim,
24:00e racista também,
24:02racista também.
24:03Nos anos de som divino
24:04nos quais eu conversei,
24:06muitas pessoas que entrevistei,
24:08Carlos da Fé,
24:09Tony Tornado,
24:11o Jorge Ben não cheguei a entrevistar,
24:12não foi possível,
24:13nossas agendas nunca bateram,
24:15mas não importa também,
24:16a gente sempre se encontra
24:17nos bastidores,
24:17eles sempre falavam
24:18no cuidado oeste
24:19que tinham que ter
24:20nas declarações,
24:21nas palavras,
24:22pelo fato de ser preto,
24:23de ser negro.
24:24Então,
24:24acho assim,
24:24as mensagens que ele envia
24:26em todos os seus discos,
24:28inclusive no África Brasil,
24:30ele se relaciona com a África,
24:32mas não apenas a África negra,
24:33ele se relaciona
24:35com a África islâmica também.
24:36Estudioso e curioso,
24:40leu vários livros,
24:41então,
24:41do jeito dele,
24:43da forma como ele escrevia,
24:46das metáforas que ele criou,
24:48o Jorge Ben era um cara
24:49muito interessado
24:50no que acontecia
24:51no continente africano,
24:53em outras religiões,
24:54enfim.
24:55Então,
24:55o África Brasil
24:56também tem que ler
24:58uma música genial
25:00chamada
25:00Hermes Trismegisto,
25:02uma letra absolutamente genial.
25:03A segunda música do disco,
25:04a primeira é
25:05ponta de lança africana.
25:06E tem um detalhe interessante,
25:07a gente está falando muito
25:08de letra aqui,
25:09da temática,
25:09mas o som desse disco
25:10é muito interessante,
25:11porque é um desafio para a época,
25:13porque o Jorge Ben
25:14levou para o estúdio
25:15uma banda muito grande
25:17para gravar,
25:19para tocar.
25:20Por alguma razão
25:21que eu nunca descobri,
25:22ele queria um som
25:23mais poderoso,
25:25mais pesado,
25:27mais completo
25:28para a música
25:28que ele estava fazendo
25:29naquele momento.
25:30Ele queria uma coisa
25:31diferente das bandas
25:32que ele tinha levado
25:34para o estúdio antes,
25:35por exemplo,
25:36a banda do Zé Pretinho,
25:37o Admiral Jorge Cinco,
25:39ele levou uma banda grande,
25:40então, nesse disco,
25:41acredito se quiser,
25:42tem duas baterias
25:43tocando ao mesmo tempo.
25:45Isso,
25:45para a tecnologia da época,
25:46era muito complicado,
25:47era muito difícil
25:48de fazer uma boa captação,
25:50sobretudo,
25:51bateria,
25:51não é um instrumento,
25:52são vários instrumentos
25:53que organizam um espaço só.
25:55A bateria,
25:55na verdade,
25:56é isso.
25:57Para gravar uma,
25:57já não era fácil
25:58aqui no Brasil,
25:59a tecnologia da qual
26:00dispunhamos.
26:01Gravar duas baterias,
26:03mais percussão,
26:04mais baixo,
26:05mais metaleira,
26:06mais assim,
26:07você vê a contracapa do disco,
26:08é uma legião de pessoas
26:10dentro do estúdio
26:11e foi muito bem feito,
26:13muito bem gravado,
26:15muito bem planejado
26:16pelo produtor,
26:16que é o Mazola,
26:17que é um dos grandes produtores
26:18da música brasileira,
26:20que produziu esse disco
26:21com maestria,
26:21além do disco
26:22ter uma sonoridade muito boa,
26:24ter peso necessário
26:25à proposta artística,
26:26ele encarou
26:27uma tremenda dificuldade técnica
26:29para realizar,
26:30para captar
26:32e para misturar,
26:33para mixar aquilo tudo.
26:35Então,
26:35esse disco,
26:35além disso tudo
26:36que eu estou falando,
26:37ele tem um baita som
26:38para a época,
26:38Carlos.
26:40Muito interessante.
26:41Sabia disso também,
26:43que tinha essa bandona gigante
26:45por trás.
26:46na contracapa.
26:49Bom,
26:49agora a gente vai dar
26:50um pulo de 10 anos.
26:52Você pediu para falar
26:53do Paralamas do sucesso,
26:55que é o Selvagem,
26:56de 86.
26:58Por que esse disco
27:00do Paralamas?
27:03O 86 é uma onda importante
27:05para o rock brasileiro
27:05da nossa geração.
27:08Os Paralamas lançaram
27:09o Selvagem,
27:10Legião Urbana
27:11lança o Legião Urbana 2,
27:13Nós, os Titãs,
27:16lançamos o Cabeça de Dinossauro.
27:18Eu acho que,
27:19num primeiro momento,
27:20para ser aceito
27:21pela indústria fonográfica brasileira,
27:24a gente tinha que
27:25pegar mais leve no texto.
27:28O som podia ser
27:30mais ousado,
27:30mais pesado,
27:31mas a gente tinha
27:32que considerar o rádio,
27:34tinha que considerar a censura
27:35e tinha que considerar também
27:37a possibilidade de vendas
27:39do disco.
27:40Tudo funciona em cima disso.
27:41A gente não pode esquecer
27:42que a música,
27:42é fato,
27:44a música,
27:45a indústria fonográfica
27:46é um negócio,
27:46como o outro.
27:47Muita gente se irrita
27:48quando a gente fala isso,
27:50mas é assim que funciona,
27:51é assim desde sempre.
27:52Então você tinha que seduzir
27:53os diretores artísticos
27:55e as gravadoras.
27:56Passado o primeiro momento
27:57em que você seduziu,
27:58foi contratado,
27:59acho que nós ganhamos
28:00a liberdade de dizer
28:01o que a gente queria dizer.
28:03Então se você ver,
28:04o primeiro disco
28:05dos Paralamas,
28:06o primeiro e o segundo,
28:07o segundo sobretudo,
28:08o Passo do Lúcio,
28:08uma obra da música pop brasileira,
28:10para mim,
28:10o melhor disco
28:11da nossa geração,
28:12de música pop,
28:13de rock pop e reggae,
28:15é o Passo do Lúcio.
28:16Esse disco é impecável,
28:18tecnicamente,
28:19as canções,
28:19o texto,
28:21é um disco impecável,
28:22nota máxima.
28:25O Selvagem é um disco diferente,
28:26o Selvagem é um disco
28:27já de maturidade,
28:28de um olhar para o Brasil.
28:31Veja, por exemplo,
28:31a letra da música
28:32que abre o disco,
28:33Alagados,
28:34a letra de Alagados,
28:36a letra e o arranjo,
28:37a pegada.
28:38É uma música muito interessante
28:39porque,
28:40até então,
28:41Os Paralamas
28:41era uma banda
28:42que juntava
28:43rock,
28:44reggae,
28:45ska,
28:46alguma coisa de new wave
28:47com música brasileira,
28:48até ali.
28:50Dali para frente,
28:50Os Paralamas
28:51é uma banda muito diferente,
28:52porque incorpora
28:53MPB,
28:54a sua sonoridade,
28:55incorpora samba,
28:56incorpora batucada,
28:57Alagados termina
28:58com uma batucada.
28:59E também,
29:00a guitarra do Ebert
29:01que grava em Alagados,
29:03que é uma guitarra
29:04que dialoga
29:04com o que se fazia na África.
29:06Muita gente fala,
29:07ele pegou isso
29:07daquelas bandas
29:08de Afrobeat
29:09ou Juju Music,
29:11como a gente falava na época.
29:12Mas música pop
29:13funciona assim,
29:14você está ouvindo rádio,
29:15está ouvindo um disco em casa,
29:16gostei disso,
29:17vou pegar para mim.
29:18Coloca na sua mão
29:19e transforma em outra coisa.
29:21Então,
29:21essa faixa é icônica,
29:22na verdade,
29:22Alagados,
29:23além da letra
29:24que fala
29:24desse abismo,
29:26esse abismo social
29:29que temos no Brasil,
29:31essa diferença
29:32de classes no Brasil,
29:33economicamente
29:35e culturalmente,
29:36essa música
29:37trata exatamente disso,
29:38da miséria brasileira,
29:39das favelas,
29:40enfim,
29:40é uma letra
29:41absolutamente genial
29:42do Ebert.
29:42E outras músicas
29:43também do disco
29:44que são,
29:45como a própria música
29:46Selvagem,
29:46que fala da censura,
29:48era uma época,
29:49se não me engano,
29:51em 86,
29:52se não me engano,
29:52Jânio Quadros
29:53proibiu
29:54um filme de Godard,
29:55a exibição,
29:56ele conseguiu
29:57lembra disso?
29:59O disco
30:00Je vous salue Marie,
30:03isso mesmo,
30:05que é o filme
30:05sobre a Virgem Maria.
30:10É,
30:11do jeito dele,
30:11Godard,
30:12mas é,
30:14aí que está,
30:15a música fala sobre isso,
30:16acho que um ou dois anos antes,
30:18o Jânio Quadros,
30:19que era o prefeito
30:19de São Paulo na época,
30:21conseguiu,
30:21não me lembro como,
30:22mas com instrumentos
30:23jurídicos,
30:25proibir a exibição do filme,
30:27o filme não foi exibido
30:28em São Paulo,
30:29é um absurdo,
30:30ele inclusive trata disso,
30:32entendeu?
30:34Fala inclusive
30:35daquela crise
30:37que acontecia,
30:39eu não me lembro
30:40em que música que é,
30:41mas tem no disco,
30:42fala inclusive
30:42da crise do Irã
30:43com os Estados Unidos,
30:44entendeu?
30:45Herbert fala sobre isso
30:46também nesse disco,
30:47naquele período,
30:48momentos difíceis,
30:49o Irã é sempre,
30:51a partir daquela época,
30:52quando o Irã
30:54se transformou
30:54no Estado Islâmico,
30:55a partir do momento
30:56que se transformou
30:57no Estado Islâmico,
30:58meu telefone,
31:00deixa eu desligar,
31:04olha,
31:04isso aqui é o seguinte,
31:05isso aqui, pessoal,
31:06é telemarketing,
31:07que não para de ligar
31:08para o meu celular,
31:09que fique registrado
31:10isso aqui,
31:11eles me importunam
31:12a partir das oito
31:13da manhã,
31:14ficam me ligando,
31:14me acordam,
31:15eu vou dormir,
31:15eles ficam me ligando,
31:16eu preciso desligar o celular,
31:18eles não param de ligar,
31:19bloqueiam o número,
31:20aparecem dez,
31:22é uma coisa,
31:23é um vírus isso,
31:24é viral.
31:26Eu vou cortar esse trecho
31:27do vídeo,
31:27vai virar meme isso.
31:30Por favor,
31:31eles não param
31:32de me importunar
31:33esse telemarketing,
31:34vou processar,
31:35não sei nem quem processar,
31:36mas alguém será processado
31:37por isso.
31:38Espero que não seja eu,
31:39por favor,
31:40que não se volte contra mim.
31:43Pois é.
31:45Deixa eu te perguntar
31:46uma coisa,
31:47deixa eu fechar o foco.
31:49Claro.
31:49Eu sei que você
31:51e o Barone
31:52são compadres,
31:54então não vou causar
31:55nenhuma treta.
31:56Fala desse momento
31:581986 aí
31:59do ponto de vista
32:00dos bateristas,
32:02você está elogiando
32:03o disco deles,
32:06vocês são a sessão rítmica
32:07ali da banda de rock e tal,
32:10o que vocês estavam tentando
32:11fazer nesse momento?
32:13O baterista
32:14era um cara que
32:15conseguia impor
32:17uma visão de música,
32:18conseguia contrabandear
32:19alguma coisa
32:20para dentro
32:20das músicas
32:21de vocês
32:22ou não?
32:24Olha,
32:25no caso do
32:27João Barone,
32:28que eu considero
32:29o maior baterista
32:30da minha geração,
32:31um dos maiores
32:32da música brasileira,
32:33eu acho que até ali
32:34não tinha nem
32:36o que fazer
32:37em relação
32:37aos produtores.
32:39Quando eu vi
32:39o João Barone
32:39tocando,
32:41era muito óbvio
32:42que ele tinha
32:44que ter o espaço
32:44que precisava
32:45para mostrar
32:47e para tocar
32:48o que ele tocava.
32:49Eu me lembro
32:49já na primeira música
32:50que eu ouvi
32:51dos Paralunas
32:51no rádio,
32:53Vital e Sua Moto,
32:54eu ainda estava
32:54no Ira nessa época,
32:55não era dos ditantes,
32:57me chamou muito
32:57a atenção.
32:58Eu me ouvi,
33:00quem é esse cara,
33:01quem é esse baterista?
33:02Na primeira música,
33:02o João já dizia
33:04quem era
33:05e eu que veio,
33:06um baterista extraordinário
33:08que incorporou
33:09batidas dos anos 80,
33:13tanto da Jamaica
33:15quanto da Inglaterra,
33:17batidas do rock britânico
33:18dessa época,
33:20com o que se fazia
33:21na Jamaica
33:21e trouxe isso para o Brasil
33:23e deu uma cara brasileira.
33:24Se você olhar
33:25o que o João fez
33:26e faz nos Paralamas,
33:28é bastante brasileiro,
33:30com a assinatura dele,
33:30obviamente,
33:31que é o que eu também
33:32tentei fazer
33:33aqui do meu lado.
33:35A gente,
33:36nós os bateristas,
33:37principalmente da nossa geração,
33:38a gente não tinha
33:39muito acesso
33:39a informação,
33:40não havia internet
33:41para a gente.
33:42Os professores
33:43eram os nossos discos
33:45ou então
33:46os discos
33:46eram os nossos professores.
33:48Não havia muito
33:49material em vídeo,
33:50então o que nos restava?
33:53Desenvolver
33:54a percepção auditiva,
33:55você ouvia
33:55e ficava ouvindo
33:56até entender
33:57o que o baterista
33:57estava fazendo,
33:58trazia para a sua mão,
34:00praticava,
34:00exercitava
34:01e modificava.
34:04Naturalmente,
34:04quando você tenta copiar
34:06alguma coisa
34:07que você gosta,
34:07naturalmente,
34:08aquilo vai se modificando,
34:10que é o caso
34:11da minha geração.
34:12Então,
34:12a música pop funciona assim,
34:14o Ringo Starr
34:15também ouviu
34:15grandes bateristas
34:16norte-americanos,
34:18foi assim
34:18com os grandes bateristas
34:19ingleses dos anos 70,
34:21ouviram Buddy Rich
34:22e Cheney Krupa,
34:24os messes
34:24das big bands
34:25dos Estados Unidos.
34:26A música funciona assim,
34:27você vai se olhando,
34:28você vai se baseando
34:30dos seus messes
34:30e vai fazendo algo seu.
34:32No nosso caso,
34:32na nossa geração,
34:33o que a gente tentava fazer
34:34era colocar para dentro
34:37do nosso trabalho
34:38elementos que nos influenciaram,
34:40e naquela época
34:41a gente estava influenciado
34:42pelo rock inglês
34:43para caramba,
34:43também não vou mentir,
34:44então a gente ouvia muito
34:46The Clash,
34:47The Police,
34:48The Jam,
34:50Susan Bench,
34:51The Cure,
34:52Ultravox,
34:54The Pest Mode,
34:56Gang of War,
34:57bandas absolutamente geniais,
34:59estou esquecendo várias aqui,
35:00mas bandas,
35:00ou até Talking Heads,
35:04bandas que eram muito importantes
35:06para a gente,
35:07e que também apontavam
35:08para uma outra direção
35:09dentro da música,
35:10uma coisa completamente diferente
35:12do que se estava fazendo
35:13nos anos 70,
35:14sobretudo no final
35:15da segunda metade
35:16dos anos 70,
35:17onde se chamava
35:17as grandes bandas
35:18do rock britânico
35:19de dinossauros.
35:21Então,
35:21tentando responder
35:23a sua pergunta,
35:23a gente tentou trazer
35:24essas informações
35:25que a gente recebia de fora,
35:28traduzir isso
35:29para uma coisa brasileira.
35:30Eu acho,
35:31na verdade,
35:33a gente começou
35:34meio que se baseando
35:35nos mestres,
35:36mas depois a gente
35:37se parece com a gente mesmo,
35:38a gente inventou
35:39um rock brasileiro.
35:40Toda a nossa geração,
35:41de alguma forma,
35:42eu acho que esse foi
35:42o método de trabalhar
35:44tanto para a região,
35:45tanto para o Barão Vermelho,
35:48para a Capital Inicial,
35:51para Engenheiros Novaí,
35:53para todos os nomes
35:54da nossa geração,
35:54Ira, por exemplo,
35:55a gente partia
35:56de um modelo
35:56que a gente gostava
35:58e se identificava.
35:59E mesmo assim
36:00se identificava
36:01com gente também brasileira,
36:03por que não?
36:04Mas vamos lembrar
36:04que no final dos anos 70
36:06o tempo fechou
36:07para o rock brasileiro.
36:09Se você era músico
36:11dentro de casa,
36:12sua família...
36:14Ninguém queria um músico
36:16dentro de casa
36:16nos anos 70.
36:19A real é essa.
36:20Músico era sinônimo
36:21de pessoa que não tem talento
36:23para fazer nada,
36:24então vai tocar um instrumento.
36:25Aquele que não quer estudar
36:27ou aquela que não quer estudar,
36:28aquela que não quer trabalhar,
36:30que não quer fazer nada.
36:31Então, música é diversão.
36:33Ele fica ali...
36:33Ela ou ele,
36:35são vagabundos,
36:35não querem estudar nem trabalhar.
36:37Era assim...
36:38Jornalista também era um pouco assim,
36:39viu?
36:40Como?
36:41Desculpe?
36:42Jornalista também era um pouco assim.
36:44Totalmente assim.
36:44Eu andava na PUC
36:45com o pessoal de jornalismo
36:46e o pessoal de jornalismo
36:48era alternativo.
36:50Era visto como outsider também.
36:51Era uma profissão
36:53que não dava em nada,
36:54que você não podia ganhar honruda
36:55escrevendo ou reportando.
36:57Um absurdo.
36:58Essas distorções
36:59que a gente trouxe nos anos 70.
37:00Mas eu me lembro exatamente.
37:02Quem fazia história
37:03e jornalismo na PUC
37:04ou geografia
37:05era a pior coisa do mundo.
37:07Era um certo alternativo
37:11da minha faculdade.
37:12Geografia, você foi longe demais.
37:15Mas era.
37:16E eu andava com essa turma,
37:17porque eu já tocava com eles
37:18e eu fazia administração.
37:21Eu não tinha muito a ver com aquilo.
37:22Eu entrei porque eu precisava
37:23fazer faculdade de qualquer jeito.
37:25Foi o curso que me restou.
37:26Eu queria fazer odontologia.
37:28Tentei três anos,
37:28não entrei.
37:29No quarto ano,
37:31eu falei,
37:31eu preciso entrar numa faculdade.
37:32Os meus amigos já estão se formando.
37:34Eu sou a ovelha negra da turma.
37:36Entrei a administração na PUC.
37:38Fui até o quarto ano.
37:39No quarto ano,
37:40eu tranquei a matrícula.
37:41Mas eu andava com o pessoal
37:42na PUC de São Paulo.
37:44Eu andava com o pessoal
37:46de geografia,
37:47de história e jornalismo.
37:48Essa era a minha turma.
37:50Meu Deus.
37:52Fico nisso aqui.
37:54Muito bom.
37:55Olha só,
37:55vamos pular para o próximo, então.
37:5694.
37:5794.
37:58Chico Science,
37:59Nação Zumbi.
38:00Da Lama ao Caos.
38:01Por que que ele é uma leitura
38:04do momento
38:05começo dos anos 90 ali?
38:09Chico Science e Nação Zumbi,
38:11da Lama ao Caos,
38:12de 94,
38:14estamos falando já
38:14de uma outra geração
38:15de compositores músicos,
38:18por que não,
38:19artistas brasileiros,
38:21uma visão já,
38:21uma outra visão diferente
38:22da geração anterior,
38:23que é a minha,
38:24dos anos 80,
38:25onde ali,
38:27no universo deles,
38:28já existem outros gêneros
38:29que estão influenciando
38:30todo mundo,
38:31por exemplo,
38:31hip-hop,
38:32e quando entrevistei
38:34o Chico Science,
38:36e também Nação Zumbi,
38:37e outros jornalistas
38:38de Recife,
38:40para entender
38:40o momento cultural,
38:41era interessante
38:42esse caudo cultural
38:43de Recife naquela época.
38:45Se não me engano,
38:46em 92 ou 93,
38:48houve um censo,
38:52feito,
38:53não me lembro
38:53por que organização também,
38:54mas sobre as condições
38:56de vida
38:57de algumas cidades
38:58no mundo.
38:58Na verdade,
38:59eles queriam saber
38:59quais eram as melhores
39:00cidades para se morar
39:01e as piores.
39:02E Recife,
39:03me parece,
39:04que ficou ranqueada
39:05entre as piores cidades
39:06do mundo para se viver,
39:08os piores índices
39:09nesse tipo de avaliação.
39:12Recife estava lá,
39:13ranqueada,
39:13top five,
39:14uma coisa assim.
39:15Isso para a autoestima
39:17das pessoas,
39:18dos recifenses,
39:19foi uma coisa horrorosa.
39:21Nós moramos
39:21na pior cidade do mundo.
39:23Muito se falou
39:24sobre isso,
39:25a imprensa,
39:27a música
39:27de Pernambuco,
39:28ficaram chocados
39:30com a cidade,
39:30mas foi o que essa pesquisa
39:32apontou.
39:34E me lembro
39:34que talvez
39:35uma parcela
39:37da classe artística
39:39de Recife
39:39quis reagir a isso.
39:41Falei,
39:41não,
39:41espera aí,
39:42aqui não tem só miséria,
39:43não tem só desigualdade,
39:45aqui tem cultura também.
39:47Espera aí.
39:48Então,
39:48houve um movimento,
39:49um contra-movimento
39:51a esse resultado,
39:52que muita gente
39:54acabou
39:54rotulando isso
39:57de Mangue Beach,
39:58que eram os caras
39:59que se assumiam
40:00sendo os caras
40:02do Mangue,
40:02ou seja,
40:02aquele pessoal
40:03que não tem nada,
40:04não tem dinheiro
40:04para nada,
40:05tem tudo que sair
40:06do nada,
40:07da miséria.
40:08Produzir música
40:09sem condição nenhuma.
40:11São pessoas
40:11que,
40:12nessa leitura
40:14Mangue Beach,
40:14com uma leitura,
40:16uma visão da música
40:17muito interessante,
40:18totalmente
40:19pós-tropicalista,
40:20e o tropicalismo
40:22é a base
40:23do rock brasileiro,
40:24não existia rock brasileiro
40:25se não fosse tropicalismo,
40:26o rock brasileiro
40:26como a gente conhece.
40:28Então,
40:28é uma leitura interessante
40:30que o Mangue Beach,
40:30eu acho muito,
40:31de certa forma,
40:32é um manifesto,
40:33não um movimento,
40:34um manifesto,
40:35assim,
40:36que tem muito a ver
40:36com o tropicalismo
40:37no seguinte sentido,
40:38para a música,
40:39para você produzir,
40:41compor,
40:42gravar e fazer
40:42música brasileira,
40:44você pode,
40:45tudo é possível,
40:46qualquer elemento
40:47é possível
40:48dentro da música brasileira.
40:49tudo é possível.
40:52Samba,
40:53hip-hop...
40:53Isso era tropicalismo,
40:54também, certo?
40:56Tropicalismo era essa...
40:57Essa leitura,
40:58deglutição,
40:59deglutição,
40:59é um liquidificador
41:01de cultura
41:02e de informações
41:03de cultura pop.
41:04O Mangue Beach,
41:05de certa forma,
41:06é isso,
41:06porque ele fala,
41:07a gente trouxe,
41:08isso o Chico Sá,
41:09isso o pessoal da nação,
41:10fala,
41:10nós trouxemos,
41:12nós trouxemos
41:13para o rock brasileiro
41:14e para a música pop brasileira
41:15as batidas de Maracatu,
41:17que naquela época
41:18eram consideradas
41:19uma coisa assim
41:20inaceitável
41:21pela sociedade
41:21pernambucana.
41:22Música de macumbeiro,
41:24basicamente é isso,
41:24batida de macumbeiro,
41:27traços de macumbeiro.
41:28Então,
41:28eles foram buscar
41:28essas batidas
41:29que são,
41:30que vêm
41:30das religiões
41:32de lá mesmo,
41:34são batidas relacionadas
41:35aos orixás,
41:36aos guias,
41:37enfim,
41:37às entidades religiosas,
41:39né,
41:40das crenças que existem,
41:41afro-crenças,
41:42afro-brasileiras,
41:43crenças afro-brasileiras
41:44que existem lá
41:45na sociedade
41:45pernambucana,
41:47e o Maracatu
41:48é exatamente isso,
41:49eles trouxeram
41:50essas batidas
41:50para dentro
41:51da música pop,
41:51misturando isso,
41:53hip-hop,
41:55rock,
41:56punk,
41:57pós-punk,
41:57e aí uma coisa interessante,
41:58Chico Sainz falava
41:59que esse estalo
42:00deu de trazer tambores
42:02para dentro
42:02da cultura hip-hop,
42:04que é o que ele gostava
42:04também de ouvir,
42:05que ele exercitava,
42:06quando ele viu
42:07o Holodun,
42:08quando ele viu
42:09o Holodun
42:09tocando,
42:10ele falou,
42:10peraí,
42:11esse é um outro jeito
42:12de fazer música,
42:13um outro de compor
42:14as batidas,
42:14eu achei absolutamente
42:15genial,
42:16quando também ouviu
42:17alguma,
42:18se não me engano,
42:19outros elementos
42:20da música baiana,
42:21mas basicamente
42:21quando ele viu
42:22o Holodun,
42:23viu o Michael Jackson
42:24gravando o Holodun,
42:24ele falou,
42:25cara,
42:25é isso,
42:26a gente tem que fazer isso,
42:27isso é nosso,
42:28isso é absolutamente genial,
42:29daí surgiu a ideia
42:30de juntar,
42:31uma orquestra de percussão,
42:33eu chamo assim,
42:34a nação zumbi,
42:35com um baixo
42:36e guitarra elétrica,
42:38e o vocal
42:38é meio falado,
42:40Chico Sainz
42:40era um rapper,
42:41então esse disco,
42:42além dessa estética musical
42:44ser muito pré-época,
42:48muito inovadora,
42:50muito especial
42:51na sua forma
42:52de ver a música brasileira,
42:53tem todo também
42:54o discurso dele,
42:55os textos dele,
42:56sobre o Brasil,
42:57sobre a sociedade
42:57pernambucana,
42:58sobre as injustiças sociais,
43:00esse abismo social
43:01que a gente vive,
43:02então um disco
43:03muito interessante
43:03para entender
43:04o Brasil
43:05daquele momento,
43:06dos anos 90,
43:06já começa
43:07uma virada econômica,
43:08a ditadura
43:09já foi deixada
43:10para trás,
43:11a gente está
43:11se redemocratizando,
43:13é uma democracia
43:14jovem,
43:15é um bebê,
43:16com todos os seus erros
43:18e diossincrasias
43:20que a nossa democracia
43:23tem até hoje,
43:24então esse,
43:24para mim,
43:25da lama ao caos,
43:26é um retrato
43:26muito interessante
43:28do Brasil,
43:28sobretudo por estar
43:29fora do eixo
43:30do Rio São Paulo,
43:31também tem isso,
43:31entendeu?
43:32Que tudo era
43:33concentrado aqui
43:33de alguma forma
43:34pelo nosso poder econômico,
43:36tudo é gravado
43:37no Rio e São Paulo,
43:38produzido,
43:38falado aqui,
43:39se a pessoa mora
43:40fora desse eixo,
43:42tem que se mudar
43:42para São Paulo,
43:43para o Rio de Janeiro,
43:44Chico Sainz não,
43:45ele era...
43:46O disco foi gravado
43:47lá mesmo?
43:48Você sabe?
43:48O disco foi gravado
43:49no Rio de Janeiro,
43:50no estúdio onde a gente
43:50gravava,
43:51no estúdio de nós,
43:52não foi produzido
43:52pelo Liminha,
43:53inclusive o produtor
43:54dos Titãs e dos Paralambos,
43:55o Liminha,
43:56que está com a gente
43:56na estrada,
43:58é um disco
43:58absolutamente genial,
44:00trouxeram os rapazes
44:00aqui para o Rio de Janeiro,
44:01não foi fácil
44:02para eles saírem
44:02vir para o Rio de Janeiro
44:05para um dos melhores
44:06estúdios do país
44:07e gravar
44:09sobre o rígido,
44:10o rígido da avaliação
44:11dos maiores produtores
44:12da música brasileira,
44:14que é a Liminha.
44:15Então, o Liminha,
44:15de alguma forma,
44:16teve que também
44:16se adaptar ao jeito
44:17dos rapazes tocarem.
44:19No palco,
44:20eles se apresentam assim,
44:21como vai ser isso
44:22dentro do estúdio?
44:23É muito diferente
44:24o jeito de você tocar,
44:26quando você está em estúdio,
44:27quando você está ao vivo,
44:28tem procedimentos
44:28que você tem que adaptar,
44:30dependendo do lugar.
44:30mas é um disco tão importante,
44:33eu acredito,
44:33por isso,
44:34ele é um disco
44:35que tem uma base rítmica
44:37fortíssima,
44:38que são as batidas
44:38de Maracatu,
44:40tem o texto
44:42de Chico Sainz,
44:44a forma de Chico Sainz
44:45cantar,
44:46a forma de rap,
44:47tem guitarra e baixo,
44:49guitarra e baixo elétricos,
44:51que faz um link
44:52com o pós-funk,
44:53também,
44:53por que não,
44:54com o rock dos anos 70,
44:55Led Zeppelin,
44:56e tem também,
44:57se você olhar no disco,
44:58já o começo
44:58da música eletrônica,
44:59tem muita coragem,
45:00trechos de áudio
45:03que você coloca
45:04dentro da sua música,
45:05esse disco é um marco,
45:06na verdade,
45:07dos anos 90,
45:08diria assim,
45:08é um disco muito original mesmo,
45:10é muito diferente de tudo,
45:12é um disco singular,
45:13é um disco singular,
45:14eu acho assim,
45:15da década de 90,
45:17eu diria assim,
45:18não consigo,
45:19eu não gosto de dizer
45:19se é o melhor
45:20ou se é o pior,
45:21não é por aí,
45:22mas esse é um dos mais
45:23importantes,
45:24absolutamente,
45:25se não o mais importante,
45:26dentro do nosso segmento
45:27aqui do rock pop brasileiro.
45:29bom,
45:31e daí a gente chega
45:32ao seu último disco,
45:33que é um disco
45:33do Caetano Veloso,
45:35de 2021,
45:36recentíssimo,
45:38que é o meu pouco,
45:40é...
45:41Que disco?
45:42Caetano Veloso,
45:43né?
45:45Rapaz!
45:46Eu tenho tido dificuldade
45:48com os outros discos
45:49mais recentes
45:50do Caetano Veloso,
45:51eu acho...
45:51É mesmo?
45:52É, tenho,
45:54não estou julgando,
45:56não,
45:57não,
45:57ruins ou bons,
45:58não é nada disso,
45:59mas não consigo mergulhar
46:01como eu já mergulhei muito
46:03em disco do Caetano Veloso.
46:05Ah, sim.
46:06O que é que você acha
46:07esse especial?
46:10Eu compreendo assim,
46:11algumas pessoas dizem
46:12isso para mim,
46:13assim,
46:13que acham os discos
46:14recentes do Caetano
46:15muito diferentes
46:16do que ele já fez,
46:18nem todo mundo
46:19consegue entender
46:20ou se identificar,
46:22é porque ele é...
46:23Ele é um...
46:25Um compositor,
46:26cantor,
46:27artista,
46:28performer,
46:30sempre em transformação,
46:31ele nunca fez um disco
46:32igual ao outro
46:33na sua carreira,
46:34se você parar para pensar,
46:35ele é para a extensa
46:36discografia do Caetano,
46:38pode até ter discos
46:39de um período
46:40um pouco parecido,
46:41mas nem um disco
46:41é igual ao outro,
46:42ele nunca fez isso,
46:43né?
46:44Nem ele,
46:44nem os outros
46:45nomes da geração dele,
46:48são pessoas, assim,
46:50em processo de transformação
46:51constante.
46:53Esse disco,
46:54eu acho,
46:55diferentemente
46:56dos discos mais recentes
46:58dele,
46:59que ele fez
47:00com a banda C,
47:01que é um projeto,
47:03ele queria ter uma banda
47:03de rock para trabalhar,
47:05já falou isso,
47:06uma banda menor,
47:07diferentemente
47:08do que ele tinha antes,
47:10né?
47:10Antes ele tinha,
47:12ele vinha com uma banda
47:13gigante,
47:13nos tempos
47:14do disco-livro,
47:16ele tinha
47:17Jacques Morellenbaugh
47:18como diretor musical
47:19da banda dele
47:19no violoncelo,
47:20e muita percussão,
47:22uma banda muito grande,
47:24depois de muito tempo
47:24trabalhando nesse formato,
47:26ele quis trabalhar
47:27num formato diferente
47:28e migrou
47:30para ver esse formato
47:31de trio,
47:32baixo, guitarra,
47:33bateria.
47:34E ele,
47:35muito interessante
47:35ver o Caetano
47:36desse formato,
47:37e rende uma outra
47:37sonoridade,
47:38músicos diferentes,
47:39composições diferentes,
47:40gravações diferentes,
47:41diferentes de,
47:42por exemplo,
47:44de cinema transcendental
47:46ou de cores e nomes,
47:49talvez disso que você
47:50entenda com mais facilidade,
47:53ou de bicho,
47:56ou de,
47:58enfim,
47:58ou de um estrangeiro até,
48:00ou de circulador,
48:01são discos extraordinários
48:02do Caetano.
48:04O meu coco,
48:05eu acho que,
48:07desse Brasil recente,
48:08desse Brasil
48:10que elegeu
48:11o governo anterior,
48:12não esse que está agora,
48:14ele é uma leitura
48:14muito precisa
48:15desse Brasil,
48:16do que o Brasil passou,
48:17inclusive,
48:18da pandemia.
48:19Foi um momento difícil,
48:21já vivíamos debaixo
48:22de um governo
48:22dificílimo,
48:23antidemocrático.
48:25Só queria aproveitar
48:26que estou aqui
48:27num veículo
48:29tão importante
48:29para a política brasileira
48:31e para a cultura brasileira,
48:33que é a revista
48:33e também o site,
48:35cruzou aí o antagonista.
48:36Muito obrigado.
48:38É um site importantíssimo,
48:40porque, assim,
48:41também faz contraponto
48:43a outros veículos
48:44da imprensa.
48:45Eu sempre digo
48:46nas entrevistas,
48:47a coisa mais normal
48:48do mundo
48:49e natural
48:50é ser de direita,
48:52ser de centro
48:53e ser de esquerda.
48:54É assim que funciona.
48:56O que não é natural
48:57e o que não é bom
48:57para todos nós
48:58é o radicalismo,
49:00tanto de esquerda
49:00quanto de direita.
49:01Esse é o nosso problema.
49:03Isso está fora,
49:04está fora do jogo.
49:06Agora,
49:06da direita
49:08até a esquerda
49:08é isso,
49:09é isso a sociedade.
49:10Troca,
49:10governo,
49:11entra esse,
49:12entra aquele,
49:13substitui
49:14ou continua.
49:15É assim que funciona.
49:17O radicalismo
49:17só vem
49:19para destruir
49:20o que já existe,
49:21tanto de um lado
49:21como de outro.
49:22E nós vivemos
49:23um período
49:23em que isso aconteceu.
49:26A população elegeu
49:27um radical de direita
49:28e a gente viu
49:29o que a gente viu.
49:30acho que esse disco
49:32tem uma leitura
49:33muito precisa
49:34não só
49:36do que aconteceu
49:37politicamente no Brasil,
49:38mas também
49:39do que aconteceu
49:39politicamente no mundo.
49:41Vamos dar uma olhada
49:43de que isso
49:43não é uma coisa
49:44especialmente do Brasil,
49:46essa ascensão
49:46da extrema direita.
49:48Isso é um fenômeno mundial
49:49extremamente complexo
49:50e talvez até
49:51certo ponto cíclico.
49:53Talvez no futuro
49:54os historiadores
49:54possam nos explicar melhor
49:56esse movimento cíclico
49:58que se alterna esquerda
49:59com direita no poder
50:00e no meio disso
50:01gera-se uma satisfação
50:02e entra um radical.
50:04Às vezes de esquerda,
50:05às vezes de direita.
50:06No caso do Brasil,
50:07um radical de direita.
50:08No caso da Argentina,
50:09um radical,
50:10sei lá do que é,
50:11que Javier Millet
50:13é uma incógnita
50:13e vamos ver.
50:15Eu estou torcendo,
50:16obviamente,
50:16para que o governo dele
50:17de fato consiga tirar
50:19a Argentina
50:20desse estado
50:21catastrófico
50:23em qual ela se encontra
50:23há muitos anos.
50:24Os governos...
50:25Esperamos que isso seja
50:25da lama ao caos.
50:27Da lama ao caos.
50:28Apesar de ele ser
50:29uma pessoa
50:30extremamente difícil
50:33e facilmente odiável
50:34pelas declarações
50:37que ele deu,
50:39eu torço
50:40para que o governo dele
50:41funcione,
50:42dê certo,
50:43que resgate o país
50:44desse caos
50:45em qual ele se encontra.
50:47Mas, enfim,
50:48voltando para cá,
50:49nós tivemos
50:50quatro anos dificílimos,
50:51entendeu?
50:52Então,
50:52esse disco do Caetano
50:53faz uma análise
50:54um pouco
50:54desse painel
50:56aqui no Brasil
50:57e de outros líderes
50:59mundiais
50:59que são, sim,
51:00antidemocráticos,
51:01entendeu?
51:03Diferentemente
51:04de ser conservador,
51:05Carlos,
51:05acho que esse é o lugar
51:06para a gente debater isso,
51:07são populistas
51:09que se vestem
51:10nesse manto
51:10de conservadorismo,
51:12de puritanismo,
51:13para influenciar pessoas
51:15e chegar onde quer chegar
51:16e destruir tudo
51:17que não está alinhando
51:18com aquilo
51:19aquilo que ele pensa.
51:21O Caetano fez
51:22esse disco,
51:23quando ouvi o disco
51:24e me aprofundei nele
51:25e entrevistei o Caetano,
51:27existe uma entrevista
51:27que eu fiz com o Caetano
51:28que está no YouTube
51:29no canal dele,
51:30onde ele resenha
51:31e explica
51:32cada música,
51:33cada texto
51:34e são textos
51:35muito complexos
51:36que o Caetano escreveu
51:37para esse disco,
51:37foi um disco gravado
51:38na pandemia,
51:40eles construíram
51:41um estúdio
51:41dentro da casa dele
51:42aqui no Rio de Janeiro,
51:43não dava para sair
51:44na época,
51:45conseguiram,
51:45de alguma forma,
51:46se equipar
51:47e fazer um estúdio,
51:48uma espécie de garagem
51:50que ele tem aqui,
51:51nós somos quase vizinhos,
51:52ele mora no bairro ao lado.
51:54Fizeram esse estúdio
51:55e ele,
51:56com os amigos de Moreno,
51:57filho dele,
51:58pessoas que estavam próximas,
51:59ele fez esse disco
52:00da forma mais artesanal possível,
52:03cada um grava na sua casa,
52:05você vai articulando,
52:06vai armando,
52:07enfim.
52:10Então,
52:10é um texto,
52:12os textos desse disco
52:13são primorosos,
52:17por isso que eu escolhi
52:18esse disco aqui
52:19para esse bate-papo.
52:21Vou tentar de novo,
52:22ouvir o disco.
52:24Eu recomendo o seguinte,
52:25não querendo fazer
52:26auto-propaganda,
52:27mas a entrevista
52:28que eu fiz com o Caetano
52:29é muito boa,
52:30se você tiver curiosidade,
52:32veja essa entrevista,
52:33veja essa entrevista,
52:34está no canal dele
52:36no YouTube
52:36e acho que ela vai
52:37conduzir uma boa audição
52:39no meu corpo,
52:41entendeu?
52:41E aí,
52:42tem uma coisa interessante
52:43que ele fala,
52:46Tom Zé já falava isso
52:47em outras músicas
52:48um pouco,
52:49anos atrás.
52:51Fatos que acontecem
52:52ao longo da nossa vida,
52:54estamos aqui filosofando,
52:56mas é verdade,
52:56fatos que acontecem
52:57na nossa vida
52:58e que vão para um lado
53:00da memória
53:01que a gente às vezes
53:02nem tem acesso mais,
53:03fica lá guardado,
53:04você descarta
53:05do dia a dia
53:06e você acaba achando
53:07que se esqueceu,
53:08mas está guardado
53:08em algum lugar.
53:10Então,
53:10o Caetano fala,
53:11meu corpo é exatamente isso,
53:12são fatos e coisas
53:13que eu vi no passado
53:14que de alguma forma,
53:15pela pandemia,
53:17pelo processo
53:17que eu vivi
53:18naquele período,
53:19eles voltaram,
53:21voltaram,
53:21e eu vou colocar
53:22isso no seu texto.
53:24Então,
53:24tem,
53:24por exemplo,
53:25na faixa que abre
53:26o meu coco,
53:28tem uma menção
53:29a Carmen Miranda ali,
53:31né?
53:32E eu só entendi
53:33porque ele me explicou
53:34que aquilo que,
53:35nem fala a Carmen Miranda,
53:36mas ele fala
53:37Rio Canaveses.
53:39Canaveses é o vilarejo
53:42em que Carmen Miranda nasceu,
53:44e eu esqueci,
53:45não lembrava disso,
53:46obviamente,
53:47mas aí quando eu falei
53:48para ele,
53:48o que é Canaveses?
53:49Ele falou,
53:49isso aí quer dizer
53:50Carmen Miranda.
53:51Eu falei,
53:51caramba,
53:52ela fazia uma reação
53:53de pessoas importantes
53:54na vida dele,
53:56Carmen Miranda é uma delas,
53:57de todos nós,
53:58porque não.
53:59É uma coisa típica
54:00de livros,
54:03discos que foram feitos
54:04durante a pandemia,
54:05né?
54:05As pessoas estavam
54:06mais fechadas,
54:07acabaram usando
54:07mais seu repertório
54:09próprio, né?
54:12estavam menos voltadas
54:14para fora, né?
54:15Sim,
54:15é o caso dele também.
54:16É um disco fantástico,
54:18assim,
54:18eu acho,
54:19dos últimos anos,
54:20é um dos discos mais
54:21interessantes do Caetano,
54:24assim,
54:24né?
54:25Tentarei de ouvir
54:26a sua entrevista.
54:27E tem a faixa,
54:28que eu acho,
54:28a faixa magistral,
54:29que foi single,
54:30chama Anjos Tronchos,
54:31que fala exatamente
54:33dos horrores
54:35que nós vivemos aqui
54:36nesses quatro anos,
54:37entendeu?
54:38De governo radical.
54:39que, inclusive,
54:40eu acho que foi tema
54:41de vestibular,
54:43não foi?
54:43Anjos Tronchos.
54:44Eu acredito que sim,
54:46os vestibulares do Brasil,
54:48olha,
54:50o nível da música brasileira,
54:52apesar de muita gente
54:53falar que o nível agora
54:54é ruim,
54:54eu discordo radicalmente,
54:55eu acho que os textos
54:57da música brasileira
54:58são tão poderosos,
55:00são tão bons,
55:01que eles são material
55:02de vestibulares,
55:03acabam caindo em vários
55:04vestibulares do Brasil,
55:05é muito,
55:05não tem como ignorar
55:07a música brasileira,
55:08feita hoje e feita antes.
55:10Acho que foi esse
55:11que ele tentou interpretar
55:13naquele vídeo
55:14que ele estava de pijama,
55:16recente agora,
55:17do Enem.
55:18Acho.
55:18Acho que nem ele conseguiu
55:23acertar a alternativa,
55:24mas a graça é exatamente essa,
55:27você lança,
55:27você lança um livro,
55:29lança um disco,
55:31aí não é mais seu,
55:32é dos outros,
55:32cada um faz com aquilo
55:33que bem entende,
55:35tem uma compreensão,
55:37um entendimento,
55:37totalmente pessoal,
55:38a graça é essa.
55:40Muito bom.
55:41Bom,
55:42eu passei o tempo
55:43que eu tinha dito a você
55:44que eu ia preocupar,
55:46mas muito obrigado
55:47pela conversa,
55:48vocês estão vindo
55:49para São Paulo
55:49para fazer shows aqui,
55:50não é isso?
55:52Sim,
55:52estaremos em São Paulo,
55:54no Allianz Parque,
55:5621, 22 e 23,
55:58que é praticamente
55:59o final desse projeto,
56:01barra turnê,
56:02titãs encontro,
56:03teremos mais alguns shows
56:04a fazer,
56:05mas é o último disco
56:06que a gente vai passar
56:06para o São Paulo,
56:07sim,
56:08e é um marco
56:10na nossa história,
56:10nas nossas vidas,
56:11poder tocar
56:12para um estádio
56:14da capacidade
56:14do Allianz Parque,
56:15lotado,
56:17e é o que vai acontecer
56:18agora, Carlos.
56:20Muito bom.
56:20Um privilégio.
56:22Então,
56:22muitíssimo obrigado
56:23pela conversa,
56:23foi uma conversa
56:24muito interessante,
56:26acho que a gente fez
56:26um passeio legal
56:27para quem for assistir
56:28o programa,
56:28e ótimos shows
56:30agora aqui em São Paulo,
56:31hein?
56:32Feliz fim de ano.
56:35Sim, sim, sim,
56:35estamos finalizando
56:36o ano muito bem,
56:37eram 10 shows
56:38no começo,
56:39viraram quase 50 shows,
56:41devido à demanda
56:43e aceitação do projeto,
56:44enfim,
56:45eu que agradeço
56:45aqui a vocês,
56:46muito obrigado
56:47pelo convite,
56:48também adorei o bate-papo,
56:49muito obrigado.
56:50Um abraço,
56:50até a próxima.
56:51Um abraço.
56:54É isso então,
56:55a gente conversou
56:55com o Charles Gavan,
56:57baterista do Titã,
56:58pesquisador da música
57:00brasileira,
57:00antiga,
57:01apresentador de programa
57:03de TV,
57:04enfim,
57:04um cara que tem
57:04várias habilidades,
57:06que falou com a gente
57:07sobre cinco discos
57:09que oferecem leituras
57:11do momento
57:12em que eles foram lançados.
57:14Um grande abraço
57:14para vocês,
57:15até o próximo Ilha de Cultura.
57:28e aí,
57:30e aí,
57:30e aí,
57:31E aí

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