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  • 24/06/2025
Rafael Silva de Oliveira, preso por matar outro homem em Confresa (MT), tem esquizofrenia e há dois anos apresentou quadro de surto psicótico grave, com delírio persecutório e ideias homicidas. O diagnóstico médico consta de um pedido de tutela de urgência para internação involuntária, apresentado em abril de 2020 pela irmã Nathalia Annika Silva de Oliveira.

O pedido, feito via Defensoria Pública, foi negado pelo juiz José Luís Leite Lindote, da 1a. Vara Especializada de Várzea Grande. Ele considerou não haver urgência para a internação. Após recurso, o caso se arrastou na Justiça do Mato Grosso até março deste ano, quando a sentença foi confirmada. 

Na quinta-feira, Rafael matou Benedito Cardoso dos Santos, após uma discussão política. Ele teve a prisão preventiva decretada.

Nos autos do processo, revelado pelo site RepórterMT e também obtido por O Antagonista, a Defensoria Pública alertou na ocasião que Rafael apresentava comportamento agressivo com "agitação psicomotora" e que o quadro colocava em risco a vida do próprio e de terceiros, "necessitando internação hospitalar urgente, conforme laudo médico redigido pelo médico Werley S. Peres".

"O surto psicótico é tão grave, que o levou a registrar boletim de ocorrência mencionando o desaparecimento da sua irmã, documento anexo, mesmo tendo ela o acompanhado diariamente para seu tratamento, o que vem causando grave prejuízo ao autor e a terceiros (...) Ressalta-se que o requerido foi atendido pelo CAPS II, entretanto não surtiu efeitos desejados, tanto que, o próprio medico Dr. Werley prescreveu a sua internação em nosocômio de acordo com sua necessidade. Atualmente no Estado temos apenas o Hospital Adauto Botelho. O requerido corre risco de vida, coloca os familiares em riscos e a população em geral, devendo ser internado com urgência. Apesar do médico ter encaminhado a solicitação de internação no Hospital Público, contudo, até a presente data não houve nenhum atendimento do Estado ou Município para cumprir a obrigação, restando o requerido à mercê de seus surtos psicóticos."

A Defensoria informava também que Rafael seria usuário de drogas e vivia perambulando pelas ruas de Cuiabá. "O mesmo utiliza de psicoativos, fato que o afetou sobremaneira, levando-o a atitudes agressivas e descontroladas." 

Em sua sentença, o juiz José Luís Lindote alegou restrições à internação por causa da pandemia e também por ausência de urgência. "Evidencia-se imprudente e desarrazoado ordenar a internação do paciente em estabelecimento médico, contra a sua vontade, em meio a uma pandemia viral, colocando-se em risco a sua vida, em cenário na qual o mesmo sequer pôde optar pela medida."

"Ainda, embora entenda plausível a demanda proposta pelo autor, tenho entendimento firmado no sentido de que não se poder admitir que a ação judicial seja utilizada como burla à lista de espera instituída pelo SUS para internação e/ou realização de procedimentos cirúrgicos, exames e tratamentos médicos. Ainda, em soma ao não fornecimento do tratamento de internação compulsória através no Sistema Único de Saúde no âmbito do Estado de Mato Grosso, constato, através das informações fornecidas pelo Núcleo de Apoio Técnico, que não há urgência."

A reportagem conversou com o médico psiquiatra Werley Peres, que confirmou o diagnóstico. "O paciente já tinha um quadro com ideação homicida e delírio persecutório. Diante do surto psicótico, recomendei a internação." Segundo ele, o transtorno mental precede motivações políticas. O crime poderia ter sido cometido por qualquer outra razão.

"É mais comum pacientes com ideação suicida. Neste caso, ele também apresentava ideação homicida. Por isso, o pedido de internação compulsória, devido ao risco para ele e para terceiros, que foi o que fiz na época." O médico alerta para a necessidade de um debate sobre a incapacidade do SUS de atender a esse tipo de demanda no contexto das doenças mentais. "Não é só em Mato Grosso, é no Brasil inteiro, a gente tem um SUS insuficiente para o quadro psiquiátrico grave."

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Transcrição
00:00É muito bom a gente descortinar as coisas, para isso que serve o jornalismo.
00:03No fim da semana passada, a parte da nossa imprensa, que parece um pouco mais histérica,
00:12publicou que um rapaz teria morto, um homem teria morto um outro,
00:19numa discussão lá no Mato Grosso, e que isso seria por motivo político, tá certo?
00:25Então, assim, isso já foi utilizado por todos os candidatos,
00:28o Lula pegou essa notícia também, fez politicagem, todo mundo usou essa notícia.
00:37Eu publiquei ontem, até aqui em função de uma matéria inicialmente publicada num site local,
00:46eu fui atrás da documentação e mostrei o seguinte, que o assassino, há dois anos,
00:52ele foi diagnosticado com esquizofrenia e ideias homicidas.
00:57O Rafael Silva de Oliveira, vejam só, Rafael Silva de Oliveira foi preso, né?
01:05Acabou sendo preso, prisão preventiva.
01:09Ele tem esquizofrenia e apresentou um quadro de surto psicótico grave há dois anos,
01:15com delírio persecutório e ideias homicidas.
01:19O diagnóstico médico consta de um pedido de tutela de urgência para a internação involuntária dele,
01:26apresentado em abril de 2020 pela irmã, a Natália Silva de Oliveira.
01:32O pedido, feito via defensoria pública, foi negado pelo juiz José Luiz Leite Lindote,
01:39da primeira vara especializada de Várzea Grande.
01:41Ele considerou não haver urgência para a internação.
01:45Após recurso, o caso se arrastou na justiça do Mato Grosso até março deste ano,
01:49quando a sentença foi confirmada.
01:52Na quinta-feira, Rafael matou o Benedito Cardoso dos Santos após uma discussão política.
01:56Sim, mas o perfil do sujeito poderia ser sobre ele.
02:00A discussão poderia ser sobre futebol,
02:02poderia ser discussão sobre o que ele comeu no almoço.
02:06O sujeito tem tendência homicida e delírio persecutório, pode ser por qualquer coisa.
02:15Aliás, me lembrou o caso do Adélio, né?
02:17O Adélio, que está preso, está lá ainda no manicômio.
02:21Pode baixar de novo aí.
02:25Então está lá, nos autos do processo, foi revelado pelo site repórter Mato Grosso
02:29e também obtido por o antagonista,
02:31a Defensoria Pública alertou na ocasião que Rafael apresentava comportamento agressivo
02:36com agitação psicomotora e que o quadro colocava em risco a vida do próprio e de terceiros,
02:43necessitando internação hospitalar urgente, conforme o laudo do médico Werley Pérez.
02:50Eu falei com o Werley.
02:52Falei com ele.
02:53Aqui, o que consta do pedido lá da Defensoria,
03:00feito pela irmã através da Defensoria.
03:02Olha só.
03:03O surto psicótico é tão grave
03:05que o levou, levou o Rafael a registrar na ocasião
03:09um boletim de ocorrência mencionando o desaparecimento da sua irmã,
03:14mesmo tendo ela o acompanhado diariamente para o seu tratamento.
03:18Olha só.
03:19O que vem causando grave prejuízo ao autor e a terceiros.
03:22Ressalta-se que o requerido foi atendido pelo CAPS-2,
03:25que é um atendimento para esse tipo de situação de doença mental.
03:31Entretanto, não surtiu o efeito desejado,
03:33tanto que o próprio médico, o doutor Werley,
03:35prescreveu a sua internação em nosocômio, de acordo com a sua necessidade.
03:40Atualmente, no Estado, temos apenas o hospital Adalto Botelho.
03:43O requerido corre risco de vida, coloca os familiares em risco
03:46e a população em geral, devendo ser internado com urgência.
03:50Apesar do médico ter encaminhado a solicitação de internação no hospital público,
03:54contudo, até a presente data não houve nenhum atendimento do Estado ou município
03:57para cumprir a obrigação,
03:59restando o requerido à mercê de seus surtos psicóticos, fecha aspas.
04:02A Defensoria informava também que Rafael seria usuário de drogas
04:05e que vivia perambulando pelas ruas de Cuiabá.
04:08O mesmo utiliza de psicoativos, fato que o afetou sobremaneira,
04:13levando a atitudes agressivas descontroladas.
04:16Em sua sentença, o juiz Lindotti alegou restrições à internação por causa da pandemia
04:21e também por ausência de urgência.
04:24Abre aspas.
04:25Ainda embora entenda plausível a demanda proposta pelo autor,
04:43tem o entendimento firmado no sentido de que não se pode admitir
04:47que a ação judicial seja utilizada como burla à lista de espera instituída pelo SUS
04:53para a internação ou realização de procedimentos cirúrgicos, exames e tratamentos médicos.
04:57Ainda em soma, ou seja, ignorou a urgência,
04:59ainda em soma o não fornecimento de tratamento de internação compulsual
05:02através do SUS no âmbito do Estado.
05:04Constato através das informações fornecidas pelo Núcleo de Apoio Técnico
05:07que não há urgência.
05:08Então está aí.
05:09A reportagem, no caso aqui, eu conversei com o médico psiquiatra
05:12que confirmou o diagnóstico.
05:14O que ele me disse?
05:15O paciente já tinha um quadro com ideação homicida e delírio persecutório.
05:21Diante do surto psicótico, recomendei a internação.
05:24Segundo ele, o transtorno mental precede motivações políticas.
05:28Não está relacionado a elas.
05:29O crime poderia ter sido cometido por qualquer outra razão.
05:33É mais comum pacientes com ideação suicida.
05:36Neste caso, ele também apresentava ideação homicida.
05:39Por isso, o pedido de internação compulsória devido ao risco para ele
05:43e para terceiros, que foi o que eu fiz na época.
05:45O médico faz um alerta importante aqui para a necessidade de um debate
05:49sobre a incapacidade do SUS de atender a esse tipo de demanda
05:53no contexto das doenças mentais.
05:55Olha só que importante.
05:56Não é só em Mato Grosso.
05:58É no Brasil inteiro.
05:59A gente tem um SUS insuficiente para o quadro psiquiátrico grave.
06:03Está aí a cópia do laudo médico.
06:06Então, infelizmente, tivemos isso.
06:09A orientação, a solicitação não foi atendida.
06:13Dois anos depois, o Rafael matou outra pessoa.
06:18No caso, o Benedito, que deixa a família.
06:22Então, muito grave esse tipo de situação.
06:25Só que, infelizmente, como nós estamos politizando tudo,
06:29as pessoas que ficam na superfície do debate, elas querem colocar determinada notícia na sua caixinha ideológica
06:41e foi o que fizeram nesse caso.
06:44Em vez de se debruçarem, eu não vi essa matéria sendo repercutida em órgão nenhum de imprensa nacional,
06:49da imprensa nacional.
06:50O que é grave.
06:52Por quê?
06:53Porque aqui não se está tentando justificar o crime.
06:55O crime é bárbaro, precisa ser punido.
06:58Mas ele poderia ter sido evitado.
07:01E é um crime que não tem relação com a política.
07:05Não é porque o sujeito discutiu sobre política e matou o outro.
07:09Poderia ter sido sobre futebol ou sobre qualquer outra questão.
07:12Ele poderia ter matado outra pessoa até sem discussão, como a própria irmã chegou a alertar.
07:19Então, isso aqui que deveria estar sendo discutido.
07:23Primeiro, a superficialidade, a histeria de boa parte da imprensa,
07:28o uso politiqueiro de situações graves,
07:32o dano que isso pode causar, quer dizer, um erro ou uma má avaliação da justiça,
07:38uma incapacidade do Estado de atender, de acolher uma pessoa que pode fazer mal a ela mesma e a terceiros.
07:49Então, gente, não é brincadeira.
07:52É por isso que é preciso ter muita responsabilidade nessa nossa lida de jornalista.
08:08Então, gente, não é brincadeira.

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