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  • 20/06/2025
Ex-presidente da Academia Nacional de Medicina, o Prof. Dr. Jorge Alberto Costa e Silva conversa com Felipe Moura Brasil sobre a pandemia de coronavírus e conta sua experiência na Organização Mundial da Saúde.
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Transcrição
00:00Salve, salve, leitores e espectadores de O Antagonista.
00:04Eu, Felipe Moura Brasil, aqui em mais uma entrevista
00:08para esclarecer as questões em torno do coronavírus.
00:11Recebo o professor doutor Jorge Alberto Costa e Silva,
00:15ex-presidente da Academia Nacional de Medicina,
00:17da qual, obviamente, é membro titular.
00:20Boa tarde, doutor. Muito obrigado pela sua participação.
00:24Boa tarde, Felipe. É um prazer, uma honra estar aqui com você.
00:27Professor, o senhor já teve uma relação com a Organização Mundial da Saúde,
00:31que está tendo um protagonismo nesse momento,
00:34principalmente depois da declaração de emergência mundial.
00:37Qual foi essa relação?
00:40A minha relação, eu antes dirigi o centro da OMS aqui no Brasil,
00:47mas depois eu me mudei para Genebra,
00:50onde, durante mais de uma década, eu fui diretor internacional,
00:55onde, entre outros programas, eu me ocupava também do setor de comportamento humano.
01:04E aí nós tivemos um protagonismo muito grande
01:07nas epidemias que surgiram depois dos anos 80,
01:12com a época que eu estive lá, até os anos 90, final dos anos 90.
01:15Começamos com o HIV, com o Jonathan Zeman,
01:18que foi o grande criador do programa do HIV na OMS.
01:21Essa pessoa extraordinária que, infelizmente, morreu com a esposa no desastre,
01:26um avião da Suíça entre Nova York e Genebra.
01:30E aí o nosso protagonismo foi muito grande,
01:33porque eu acompanhei de perto dentro dos programas,
01:38ocupando-me da parte relacionada a uma das minhas diretoria,
01:42que era como é que as epidemias influenciavam para o bem ou para o mal
01:50e de que maneira o comportamento humano, a reação das pessoas.
01:55Essa foi o protagonismo.
01:56Então, eu posso dizer que, em termos dessas gripes todas,
02:00o H1N1, tipo A, H1N5, H5N7,
02:06todas essas que nós ouvimos falar, gripe do porco, do frango, do camelo,
02:13todas elas eu tive uma participação muito grande
02:18e agora estou tendo também, de alguma maneira.
02:22Então, o senhor tem bastante experiência em epidemias,
02:26para falar agora da pandemia do coronavírus.
02:29E o que a gente mais tem visto nesse momento,
02:31até porque envolve questões políticas,
02:33é um debate a respeito do isolamento social
02:37em contraste com a volta do funcionamento da economia.
02:43E, como eu tenho abordado os meus artigos,
02:45os meus comentários,
02:46até na entrevista que eu fiz com o doutor Barros Franco,
02:49eu vejo aí uma dicotomia que é falsa, muitas vezes,
02:54até porque se omite à escala temporal.
02:58Há um processo no isolamento social inicial
03:02que depois pode ir sendo relaxado conforme vai se medindo
03:06o impacto do coronavírus no país,
03:09com as suas peculiaridades e também no sistema de saúde.
03:13Eu estava lendo até um artigo americano agora,
03:16em que um professor de Harvard diz que esse é o debate mais idiota
03:19que ele já viu na vida.
03:21Qual é a opinião do senhor a respeito disso?
03:23Primeiro, concordo plenamente com esse professor de Harvard, certo?
03:30Aliás, é difícil ser professor de Harvard e dizer besteira, certo?
03:34Mas eu digo sempre,
03:37é uma coisa que eu estou vendo essa discussão,
03:40que foi o homem, o ser humano,
03:43que criou a economia e todas as coisas que aí existem.
03:46E não o contrário, não nasceu antes a economia
03:49e aí ela resolveu criar um ser humano, certo?
03:51Então, em ordem de prioridade,
03:54sinto muito desapontar aqueles que acreditam
03:57que o mais importante na vida é a economia.
03:59Não, o mais importante é existir um ser humano
04:02que dá origem a isso.
04:04É como as pessoas falam de inteligência artificial.
04:07A inteligência artificial nunca vai prescindir,
04:10pelo menos num prazo, vamos dizer assim,
04:13dos próximos 20 anos, 30 anos, 40 anos,
04:16do ser humano, porque na realidade ela precisa do ser humano
04:20para levar a informação a essa chamada inteligência artificial
04:26e processá-la e ele utilizar.
04:28É como se chamar um telescópio ou uma luneta
04:32de olho humano, de olho artificial.
04:34Não é um olho artificial coisa nenhuma.
04:36O olho que olha é os nossos olhos.
04:39Se não tiver você, não tiver eu para olhar através da luneta,
04:43não existe nada.
04:44A luneta está ali, não está mostrando nada a ninguém.
04:46Ela tem que mostrar algo a alguém.
04:49Esse alguém somos nós, certo?
04:51Então, nós somos o primeiro da fila.
04:54Quer dizer, para manter a economia funcionando,
04:57é preciso manter as pessoas vivas em primeiro lugar, né?
05:00Não somente funcionando, mas existindo.
05:03Porque se nós desaparecemos, ela desaparece também,
05:06por maior importância que ela pode ter.
05:09Ela só pode ter importância se nós estivermos vivos.
05:11Certo.
05:13E a gente publicou no site aqui os dados relativos à Itália.
05:17Os novos casos registrados foram 6.153, um aumento de 8,3%.
05:24E em terapia intensiva entraram mais 123 pacientes.
05:28E aqui o comentário do antagonista foi de que o regime de confinamento total
05:32conseguiu diminuir a curva, mas o pico ainda não foi atingido.
05:36E a Itália, portanto, vive esse drama.
05:40Eu também vi aqui alguns dados a respeito da taxa de letalidade,
05:44da taxa de morte.
05:46Lá nos países da Europa, por exemplo,
05:49no norte da Europa a taxa de morte é menor.
05:53Fica ali 0,65% dos casos.
05:57Mas no sul da Europa, eu imagino que tem o fator da densidade demográfica também,
06:03essa taxa é bem maior.
06:04Ficou em 8,34% dos países Itália, França e Espanha.
06:08Sendo que na Itália 10,09%, que é uma taxa muito alta.
06:14Eu dou esse panorama para perguntar para o senhor, professor,
06:17como é que o senhor acha que vai ser o impacto aqui no Brasil?
06:22O que o senhor já sabe que está acompanhando?
06:24Como é que o senhor vê a chegada do coronavírus aqui?
06:28Olha, há uma coisa que é sabida.
06:32Eu, quando isso começou, eu estava até em Genebra.
06:36Eu, ex-diretor, faço parte de um grupo lá.
06:39Eu trabalho junto à Uniteits, que é a agência da ONU,
06:42que ajuda principalmente essas endemias, epidemias também,
06:48na África, nas regiões mais carentes do mundo.
06:50Mas eu fazia uma pergunta, quando apareceu o vírus.
06:54Que se ele é um vírus tão agressivo, tão perigoso,
06:59por que ele não está matando nenhuma criança de menos de 10 anos?
07:02São as primeiras vítimas.
07:03Nas outras epidemias, H1N1, dizem, morra para a população infantil também.
07:07Porque são os mais frágiles, junto dos mais velhos.
07:11Então, essa era uma pergunta que eu tinha e agora começaram a surgir a resposta.
07:17Outra pergunta que eu tinha é por que nem todas as pessoas idosas morrem.
07:23Se ele fosse uma coisa que matasse o idoso, devia matar todos, certo?
07:27Se o dado fosse, a deficiência do sistema imunológico do idoso somente, né?
07:33Bom, então, o que se descobriu?
07:35O vírus tem um alto poder de contaminar.
07:39Se você está com alguém portador sadio e tal,
07:42você falou meia hora com ele, você vai se contaminar.
07:47Mas nem todos expressam a doença, certo?
07:50E hoje se sabe que 85%, é mais ou menos a estimativa que a OMS tem,
07:56não vão expressar uma doença e se expressar de uma maneira não muito forte.
08:04Qualquer jovem pode expressar.
08:07Então, aí começamos a pergunta.
08:10Então, se o vírus não é tão letal,
08:13porque se você pega o vírus H1N1, a gripe tipo A,
08:18ela é muito letal.
08:21Felizmente, o Tamiflu salvou as pessoas.
08:24Felizmente, a vacina agora, eu estou com ela aqui,
08:27já tomei a minha, você está entendendo?
08:30Contra todos esses últimos tipos, a vacina,
08:33quase, contra H1N1, a influenza, está tudo aqui.
08:38Já tomei e aconselho todo mundo a tomar.
08:40Então, na realidade, elas outras foram muito mais letais.
08:44O que está acontecendo?
08:46O problema é que quanto mais gente contaminada,
08:50mais a população vulnerável pode morrer.
08:54E essa população vulnerável é o idoso, não porque ele é idoso,
08:58mas por causa da comorbidade que ele apresenta.
09:02É muito raro que tenha o idoso que não tenha diabetes, hipertensão,
09:06que não tenha doenças de insuficiência renal,
09:10que não tenha insuficiência respiratória.
09:11Mas outro caso, por exemplo, é o fumante.
09:14Quando eu dirijo a MS, eu participei da luta contra o tabaco na MS
09:18e participei da luta para terminar de fumar nos aviões,
09:22porque eu nunca fumei na minha vida e achava horrível.
09:25Você, lado direito, fuma, lado esquerdo, não fuma.
09:28A frente fuma, atrás não fuma.
09:30Balela, você está aí dentro, todo mundo fuma,
09:32ali de segunda mão, dentro do avião.
09:34Mas foi uma luta que vencemos, a Convenção Quadro está aí no mundo inteiro.
09:40Então, o fumante, em geral, começa aos 15 anos, para ficar dependente.
09:44É aí que a indústria do tabaco sempre centralizou.
09:48O pulmão do indivíduo de 45 anos é pior do que o pulmão de um que nunca fumou de 80 anos.
09:55O pulmão dele é o ponto fraco.
09:57E nós estamos sabendo que, por exemplo, mais do que o vírus,
10:03o que ataca o pulmão dessas pessoas são as citocinas,
10:08que são substâncias que o objetivo delas é o sistema imunológico reagindo a algo estranho ao corpo.
10:16As citocinas são produzidas em tamanha quantidade,
10:20que elas quase que destroem o pulmão do indivíduo todo.
10:23Então, na realidade, esses indivíduos com comorbidade têm muito mais dificuldade
10:29de reagir a essa agressão externa do que qualquer outra pessoa com menos idade.
10:36Quanto mais idade, mais isso é grave.
10:39Então, na realidade, o vírus, não tenha dúvida, está por trás disso tudo,
10:45mas não é ele que mata.
10:46São as comorbidades que matam.
10:48O sujeito morre de insuficiência respiratória.
10:51O sujeito morre de insuficiência renal.
10:54O sujeito morre de uma série de outras coisas.
10:57Porém, qual é o nosso problema agora?
11:01O nosso problema é impedir que a população se contamine rapidamente
11:07de uma velocidade muito grande, portanto,
11:10porque ela vai atingir os mais vulneráveis, que são os idosos, não tenha dúvida,
11:15por causa das múltiplas patologias e também por causa da idade, não tenha dúvida.
11:19E isso acontecendo, você vai implodir os leitos hospitalares,
11:26não vai ter respirador, máquinas para o indivíduo respirar o suficiente,
11:31não vai ter leito.
11:32E, além do mais, você vai matar muita gente que não tem nada a ver com isso,
11:35que teve um infarto, que teve uma insuficiência renal por outra doença qualquer,
11:40que não vai ter acesso ao hospital.
11:41E se ele for para o hospital, aí é pior ainda, ele vai ter um vírus ali.
11:45Então, a situação hoje é o seguinte, por que alguns países têm uma resposta,
11:52outras outras?
11:54Porque o vírus foi se disseminando, ele começou em final de novembro,
11:58nós estamos em final de março, o vírus está no mundo inteiro, podemos dizer,
12:03está em 208 países, mais ou menos, uma coisa assim.
12:07Olha a velocidade com que ele atingiu, tudo bom, o avião hoje,
12:11a rede aérea é muito maior do que foi no passado,
12:14mas não interessa, ele disseminou.
12:15disseminou, é pandemia, pandemia é uma epidemia no mundo inteiro,
12:20que não tem praticamente nenhum país que escapou.
12:23E aí, tudo vai defender do sistema de saúde que eles têm,
12:27da atenção que essas pessoas têm.
12:28Aqui no Brasil, a minha preocupação é que o número de pessoas
12:32que não são servidas para um serviço médico adequado,
12:38quando surgir nas comunidades,
12:40eu não sei o que isso pode dar.
12:43na Índia agora, eles fecharam a Índia.
12:45Como é que fecharam um país de um bilhão?
12:47Eu quero ver também, é uma coisa muito nova.
12:50Então, o que está acontecendo é que tudo é novo.
12:53Aí, eu costumo, aprendi na vida, eu costumo ter uma frase que eu digo,
12:57que a minha idade me permite dizer,
12:59que o diabo sabe das coisas, não é porque ele é mau,
13:02é porque ele é velho, certo?
13:03Então, ele já viu de tudo, já viu todas as balandralhas possíveis,
13:08todas as coisas, então ele acaba aprendendo.
13:10Então, ele está aí desde o início, segundo disse.
13:13Acaba tentando surpreender.
13:15Exatamente.
13:16Então, o que eu costumo dizer?
13:19Situações novas, pensamentos novos.
13:23Pensa fora da caixa, out of the box.
13:26Se você pensar igualzinho, você vai chegar aonde todo mundo sabe que você vai chegar,
13:32mas não vai solucionar aquilo.
13:33Só Einstein dizia, certo?
13:35Se você pensar sobre a solução de um problema da mesma maneira que o problema foi criado,
13:41você vai chegar ao problema.
13:43Então, essa é a verdade.
13:44Então, o que eu vejo é o seguinte,
13:47tem muita gente boa dizendo coisas que são opostas,
13:52cientistas, que estão dizendo coisas que são contraditórias,
13:56porque é uma situação muito nova.
13:57Então, isso é normal.
13:59É normal acontecer.
14:00Agora, o que não pode acontecer é o que não é da ciência,
14:05ousar a confrontar-se com a ciência, você está entendendo?
14:12Aí, realmente, reside o perigo.
14:15Eu vivo na sociedade onde eu tenho que respeitar as regras da sociedade,
14:21as leis da natureza e as leis do universo.
14:23Imagina se eu moro no vigésimo andar e eu resolvi voar,
14:27vou me atirar lá de cima, a gente sabe o que vai acontecer,
14:30vai esborrachar lá embaixo.
14:32Então, é grave quando o indivíduo pensa que pode voar.
14:36Aí começa a coisa a ficar séria.
14:39Imagino que o senhor se refira indiretamente a decisões políticas
14:43que não estão embasadas em pareceres científicos,
14:47mas consensuais dentro das dúvidas que existem diante dessa pandemia.
14:52Agora, o senhor tocou no assunto do H1N1 e o presidente da Câmara dos Deputados,
14:58Rodrigo Maia, acabou de dar uma entrevista sobre as medidas sendo tomadas
15:02para conter a pandemia e ele disse que ninguém pode dizer que esse vírus
15:05é igual ao H1N1.
15:07São coisas diferentes, tem que esperar.
15:09O senhor estava apontando só para a gente deixar claro aqui para o público
15:12que o H1N1 tem uma taxa de letalidade alta, ele é forte.
15:18No entanto, já existe uma vacina contra ele e ele não tem o índice de contágio
15:24tão alto quanto o coronavírus.
15:26Pode-se dizer isso?
15:27Pode dizer isso.
15:29E o melhor, ele tem um remedinho, o Tamiflu, que é um antiviral,
15:35que foi lançado exatamente junto com ele, foi o que possibilitou de salvar o mundo.
15:40Quer dizer, o Tamiflu, eu era diretor da OMS, eu ajudei a lançar no mundo.
15:45Nunca viajei sem ter uma caixa de Tamiflu junto de mim,
15:50porque os antivirais, quanto mais cedo você começa, melhor o resultado.
15:56O Tamiflu você tem que tomar nas 72 primeiras horas.
15:59Mesmo que você não tenha tomado vacina, se tiver uma gripe,
16:03qual é a recomendação que a OMS sempre deu para os países em desenvolvimento,
16:07e desenvolvidos? Começa o Tamiflu e espera o resultado.
16:11Se não for, suspende.
16:13Para os países em desenvolvimento, para impedir a automedicação,
16:16para impedir que o médico prescreva de qualquer maneira,
16:19o que a OMS recomenda?
16:22Espere o resultado.
16:2324 horas sai o resultado, aí você decide sim ou não.
16:28Entendeu por que da diferença?
16:30Então, nós temos pelo menos um medicamento.
16:32Estão vários medicamentos sendo testados aí para agora essa gripe.
16:41E o curioso é que os dois são coronavírus.
16:43Nós temos seis coronavírus já conhecidos.
16:46Esse é o sétimo, que a gente não conhece, mas é um coronavírus.
16:50Então, hoje, a busca de uma vacina, cujo núcleo seja da coronavírus,
16:55que possibilite toda a mutação dele.
16:58Porque o coronavírus lá no Brasil saiu ontem, aqui, se não me engano, foi a Fiocruz,
17:03viu que ele já teve uma mutação.
17:05Será que vai a vacina, quando descobrir, funcionar para ele, para a segunda mutação?
17:10Será que a segunda mutação é mais atenuada ou ela é mais agressiva?
17:15A gente não sabe.
17:16Porque, por exemplo, como é que explica na Itália essa agressividade do vírus na Espanha?
17:22Eu acho estranho.
17:23Agora, nos Estados Unidos também, em outros países, o vírus parece que é muito menos agressivo.
17:29Parece, eu não sei se é, mas estamos cheios de perguntas e buscando respostas.
17:35Mas vamos escutar a ciência, não é?
17:37É.
17:38Nos Estados Unidos, agora, o epicentro lá é Nova York,
17:42que é bastante cosmopolita, evidentemente.
17:45A densidade demográfica também é alta.
17:46E eles estão tentando, justamente, avaliar por que isso está acontecendo.
17:50E mesmo lá, que tem hospitais de primeiro mundo, é a capital do mundo, como se diz por aí,
17:57eles estão tendo dificuldade para absorver a demanda hospitalar nesse momento.
18:04E o senhor falou aqui sobre a questão dos equipamentos, dos respiradores.
18:08Hoje, o Diego Amorim, repórter de um antagonista, fez um post no nosso site
18:13dizendo que ouviu de lideranças partidárias justamente que a preocupação de prefeitos
18:17pelo país, pelo Brasil, nesse momento,
18:19continua sendo em garantir o maior número de respiradores o mais rápido possível.
18:24Algumas prefeituras dizem que até darão conta de atender a esperada demanda por leitos,
18:29mas o problema está, de fato, na falta de respiradores
18:32que garantem a ventilação pulmonar nos casos mais graves do novo coronavírus.
18:37As autoridades locais de saúde foram alertadas pelo Ministério da Saúde
18:41para alta probabilidade de pico de contágio da Covid-19 daqui entre 15 e 20 dias.
18:49Como é que o senhor analisa essa dificuldade, pelo que o senhor conhece também,
18:54do sistema de saúde, em relação aos equipamentos?
18:57O que o senhor acha que deve ser feito para resolver esse problema?
19:04Aí que está.
19:05O dinheiro existe para servir o ser humano, mantê-lo vivo, né?
19:10É a hora de investir no ser humano.
19:13Ora, se o indivíduo chega a essa fase final da doença,
19:18que é a insuficiência respiratória aguda,
19:20e o senhor vai morrer, além do mais, vai morrer sofrendo muito,
19:25morrer de falta de ar, que é o pior, deve ser o pior tipo de morte,
19:29toda morte.
19:29Tem morte que são tranquilos, ele deita e tem um infarto agudo e morre,
19:34nem sabe que morreu, né?
19:36Agora, falta de ar, o sujeito que passar os últimos dias é até uma coisa desumana.
19:42Porém, o mundo não estava preparado e não está preparado,
19:46todos os hospitais são preparados para atender uma determinada demanda.
19:51O sujeito não vai botar 200 aparelhos chamados pulmão artificial
19:56para respirar pelo indivíduo, para o respirador,
19:59quando ele não tem a demanda que não passa, vamos dizer, por mês a 20 casos.
20:04Ele vai ter 25 aparelhos, né?
20:07Mas a demanda agora está gigantesca.
20:10A Alemanha fez um hospital agora e botou nos hospitais,
20:13a Merck anunciou com 35 mil aparelhos de respirar, 35 mil, certo?
20:20Porque é isso que ela espera que aconteça agora,
20:23mas ela meteu a mão no bolso e tirou o dinheiro, né?
20:28Então, permite um parêntese, professor.
20:31O sistema de saúde da Alemanha é excelente, né?
20:34Dizem que é bem melhor do que o Brasil,
20:35inclusive a Merck, no discurso que ela deu,
20:38pedindo para a população levar a sério a pandemia do coronavírus,
20:43ela falou, nós temos um sistema de saúde excelente,
20:45isso nos dá alguma segurança,
20:47mas mesmo assim precisamos tomar todas as precauções.
20:51Exatamente, então, se nós não estamos preparados,
20:55nós devemos nos preparar, porque o que vai acontecer
20:57é que esses doentes vão acontecer, você está entendendo?
21:01Não há dúvida nenhuma, porque o final é a insuência respiratória, né?
21:04Não há dúvida.
21:06Quanto mais tiver gente contaminada,
21:09há uma proporção entre o índice de pacientes graves e agudos,
21:14letalidade e o número de pacientes contaminados, evidente.
21:18Se você tem 10 contaminados, você vai provavelmente ter um ou dois
21:22que chegam nesse ponto, mas se você tiver 100, você vai ter 20,
21:27se você tiver 1.000, vai ter 200, se você tiver 10.000, vai ter 2.000,
21:33você está entendendo?
21:33Então, você tem que tentar diminuir essa quantidade de pacientes contaminados,
21:40esse aí é o planejamento que tem que ser feito.
21:43Eu estou dizendo isso, vou fazer um parêntese aqui,
21:48é o traje cômico, né?
21:51Pessoas podem me ouvir assim,
21:53quem é esse grande epidemiologista, infectologista que está falando?
21:58Eu não sou nenhum nem outro, sabe o que eu sou?
22:00Psiquiatra, você está entendendo?
22:02Mas eu digo, acho que o mundo enlouqueceu de tanta maneira
22:05que hoje precisa mais de psiquiatra, hoje que de infectologista.
22:08Então, que eu vou falar daqui a pouco um pouquinho disso aí.
22:12Mas eu fui um diretor da OMS, hoje sou uma pessoa de saúde pública,
22:18que aprendeu isso dirigindo e sendo responsável por a parte comportamental
22:24de todas as doenças, desde doenças cardíacas, doenças pulmonares,
22:29doenças infecciosas.
22:31O meu tema é comportamento, e o que mata é o comportamento.
22:35Por quê? O sujeito que tem diabetes, o sujeito que tem hipertensão,
22:39o sujeito que tem doenças pulmonares, eles tiveram problema de estilo de vida.
22:46Não tenha dúvida que é o comportamento do indivíduo que adoece ele,
22:50que vai levar ele a ser mais frágil ou mais forte.
22:53Não fez esporte, não fez atividade física.
22:56Daí, eu, evidente, participo disso, isso tudo que eu estou dizendo,
23:01porque eu não posso entender um pedaço só de uma doença.
23:04Ou eu tendo a maneira global, ou eu vou entender um pedaço de uma coisa
23:10que eu não sei o que é.
23:12Professor, acabou de sair dados aqui a respeito do Rio de Janeiro,
23:16das 332 pessoas contaminadas pela Covid-19 na cidade do Rio,
23:21que aí é onde o senhor está, né? Minha cidade.
23:24Até essa quarta-feira, dia 25, a maior parte tinha entre 30 e 39 anos,
23:30segundo o G1.
23:31Tem uma lista aqui do levantamento feito pela prefeitura.
23:33Então, de 0 a 9 anos foram 13 casos, 10 a 19, 10 casos, 20 a 29, 52 casos,
23:4130 a 39, 117 casos, que foi a taxa maior, 40 a 49, 87 casos, 50 a 59, 62 casos,
23:5160 a 69, 68 casos, 70 a 79, aí começa a aumentar o risco, 25 casos, 80 a 89 anos, 9 casos.
24:04E de 90 anos ou mais, 2 casos.
24:06O maior número da incidência do contágio nas pessoas não é o grupo de idosos,
24:13no entanto, é aquele grupo mais vulnerável.
24:16E as outras pessoas, obviamente, podem acabar contaminando os idosos,
24:20o que gera uma gravidade maior, né?
24:24Hoje, o idoso está tomando muito mais cuidado.
24:28Hoje, a gente se precaver.
24:30O jovem é do jovem achar que é imortal, tá entendendo?
24:34Lá na academia, na medicina, nós brincamos.
24:37Eu costumo dizer que somos imortais, mas não imorríveis, né?
24:40É diferente.
24:42Então, o imortal é a memória, é o que eu sei,
24:45mas o imorrível é a matéria, né?
24:49Então, o jovem, ele toma muito menos cuidado.
24:52Ele é informado disso tudo, isso tudo,
24:55mas ele não lava por dia, tantas vezes, a mão quanto eu lavo.
24:59Eu me isolei, realmente.
25:01Estou aqui só com a minha família, que mora comigo,
25:04e não vem nenhum outro filho, nenhum outro neto.
25:08Se vem, ele tem que deixar o sapato, entrar, tomar um banho, tirar a roupa,
25:12você está entendendo?
25:12Eu obrigo a fazer isso, o ritual todo.
25:14Se não...
25:15E vai falar de três metros de mim, né?
25:18É filho, é neto, mas vai entrar na regra.
25:21O jovem de 30 anos, 28, não vai fazer isso, você está entendendo?
25:26Há muito poucos que vão fazer isso.
25:28Eu tenho filhos e netos, então, não sei muito bem como é a ação de potência.
25:32Então, é normal que no Brasil, essa juventude, ela assuma muito mais
25:40a postura de risco, se é descuidado, com lavagem de mão,
25:45põe a mão na boca, no olho, no nariz, muito mais,
25:48porque o idoso, ele está...
25:51Como disseram, tanto que é ele que morre.
25:54Ele falou, estou velho, mas não quero morrer, você está entendendo?
25:57E aí ele toma mais conta.
25:58Eu acho que está muito ligado a isso.
26:01A população de risco de morte é a juventude.
26:06Você vê o que morre de jovem no Rio de Janeiro,
26:08por acidente de automóvel, para violência, drogas, álcool, você está entendendo?
26:14É muito maior, né?
26:15Então, isso faz sentido, mas é preocupante, né?
26:19Exatamente.
26:20Acabou de sair dados aqui da França, subiu para 1.696 o número de mortos na França,
26:26vítimas de Covid-19, dos quais 365 nas últimas 24 horas.
26:33Na Itália, na Espanha também, estão morrendo centenas de pessoas por dias.
26:37E entre essas pessoas mortas na França, uma adolescente de 16 anos,
26:42a primeira jovem a morrer da doença no país.
26:45Em geral, professor, eu sei que estou dando a notícia que o senhor está ouvindo pela primeira vez,
26:51mas em geral, quando morrem pessoas mais jovens,
26:55normalmente já tinha alguma patologia detectada ou às vezes não detectada.
27:00Essa é a tendência, né?
27:01Mas é claro que tem mutação e tudo a gente está estudando ainda, né?
27:06Olha, não tem dúvida, morrer aos 16 anos, morre aos 16 anos, qualquer idade,
27:14mas é difícil morrer sem uma explicação, você está entendendo?
27:18Eu acho que ou eles tiveram uma doença, uma comorbidade importante, né?
27:27Ou, a essa altura, é de se perguntar se houve alguma mutação no jovem lá
27:35que gerou, no jovem, no vírus, que gerou isso.
27:39Não sei, porque o vírus aqui apresentou uma mutação.
27:42E quando ele apresenta uma mutação, ele pode atenuar ou pode aumentar a virulência dele, né?
27:49Então, você vê que mais a coisa avança, mais perguntas surgem.
27:55Não é um vírus para a gente brincar com ele e nem para fazer política com ele.
28:03Esse vírus, se você quiser ser eleito com ele, você pode não estar vivo para tomar posse,
28:07você está entendendo?
28:08Então, é bom alertar os que estão pensando em ser eleito, para pensar em ser eleito,
28:14mas com vida, né?
28:15Porque se ele continua...
28:18Você agora me colocou algumas questões que realmente me fez pensar
28:23e eu vou ver o que houve, porque não é explicável até agora pelas informações
28:29e pelo conhecimento que a gente tinha do procedimento desse vírus.
28:34Mais uma.
28:3516 anos, tem que descobrir por que ela morreu.
28:39Porque aí passa a abrir um outro V0 aí, uma outra situação, né?
28:43Professor, para a gente encerrar, e eu estou torcendo para que tudo tenha sido gravado,
28:48porque essas videoconferências às vezes enganam a gente, qualquer coisa,
28:53vou acionar o senhor de novo a qualquer momento para achar...
28:56É um prazer, estou em quarentena.
28:58É, mas qual é a recomendação que o senhor dá aos brasileiros?
29:03Bom, em conclusão, nós temos um assunto realmente que irá mudar muita coisa na ciência e no mundo,
29:16em tudo, porque nós estamos, depois de quatro, cinco meses de epidemia,
29:24quando já deveríamos conhecer muito mais do que conhecemos,
29:28porque essa foi a história em todas as epidemias, até o HIV foi muito mais rápido,
29:33dependendo oporcionalmente, as outras gripes foi muito rápido.
29:38E nós estamos com algumas perguntas novas, você me trouxe umas outras situações
29:44que eu vou ligar para o meu pessoal lá em Genebra, vou ver o que está ocorrendo.
29:51Então, a cada dia, quando eu acho que eu conheço,
29:54surge uma notícia de uma coisa que é nova, que eu tenho que descobrir.
29:59Então, nesse momento, a única coisa que eu espero
30:04é que as pessoas envolvidas e responsáveis por ditarem políticas de saúde,
30:13projetos de saúde, ações de saúde,
30:16sejam pessoas que tenham, acima de tudo, a importância da vida e da saúde da população.
30:26Acima de tudo.
30:27Por que eu digo isso?
30:28É óbvio eu dizer isso, certo?
30:30Mas não é tão óbvio assim, nós sabemos.
30:33Muitas vezes as pessoas misturam o interesse social com o interesse pessoal.
30:38Infelizmente, é da natureza humana.
30:40Mas agora o risco é muito grande, é muito grande dessa mistura poder ser uma mistura explosiva.
30:48E aí não temos nem eleitores, nem eleitos, se continuarmos com essa situação.
30:57Você vê que as eleições já estão sendo postergadas em várias partes do mundo.
31:01Segundo turno na França, eleições em outros países.
31:05Em suma, o que eu aconselho nesse momento, a população,
31:12já dei o recado para os responsáveis, os políticos aí,
31:17mas a população que ela tem a consciência que estão diante de um problema
31:28que é muito desconhecido ainda, muito sério,
31:32que a gente sabe que ele pode matar,
31:33e agora população mais jovem, de zero a dez, um dado total novo.
31:37Se isso continuar assim, ele pode ter se transformado num vírus letal.
31:42Vírus letal é aquele que você pegou, morre, você está entendendo?
31:45Então, o que nos resta é nós nos protegermos.
31:49Vamos tomar conta de nós, lavando mão, batendo higiene,
31:55mantendo ainda, nos mantendo dentro de casa,
31:59nos protegendo, porque se eu não me proteger,
32:04não vai ser o outro que vai me proteger.
32:06Não vamos cobrar só do sistema que nos proteja,
32:09mas que nós também nos protejamos
32:12e pedimos ao sistema que sejam parceiros nossos.
32:16Muitíssimo obrigado, professor doutor Jorge Alberto Costa e Silva,
32:20membro titular e ex-presidente da Academia Nacional de Medicina,
32:24por essa excelente entrevista que o senhor me concedeu.
32:26E até breve, espero.

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