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  • 17/06/2025
Transcrição
00:00E a gente falou aqui no Olhar Digital News sobre o estudo de um cientista brasileiro da NASA
00:06que revela como tempestades solares podem acelerar a queda de satélites na Terra.
00:14Em instantes, nós vamos receber ao vivo o físico Dene Oliveira
00:18para dar mais detalhes sobre esse importante trabalho.
00:22Mas antes, fizemos um resuminho para lembrar alguns detalhes da pesquisa.
00:28Vamos ver.
00:30A atividade solar é um fenômeno natural que varia em ciclos de aproximadamente 11 anos.
00:39Durante períodos mais intensos, nossa estrela libera explosões de partículas carregadas
00:44e radiação que interagem com a magnetosfera e a atmosfera da Terra.
00:50Essas interações provocam as chamadas tempestades geomagnéticas,
00:55que podem alterar significativamente as condições atmosféricas em altitudes próximas à órbita baixa da Terra,
01:03onde milhares de satélites circulam, incluindo os 6.750 satélites da mega constelação Starlink.
01:13E isso pode encurtar a vida útil desses equipamentos.
01:17O estudo de Dene Oliveira acompanhou mais de 500 eventos de reentrada de satélites da Starlink entre 2020 e 2024.
01:27Esse aumento das reentradas associadas às temperaturas solares
01:31representa um desafio crescente para o controle do tráfego espacial.
01:36Voltas rápidas e inesperadas dificultam o monitoramento e a prevenção dos riscos.
01:43A pesquisa também destaca que a diversidade de modelos da Starlink
01:46torna as previsões ainda mais complexas.
01:50Existem variações no tamanho, no peso e no formato,
01:54que influenciam diretamente a resistência ao arrasto.
01:57A localização das reentradas é outro ponto de atenção.
02:01Afinal, se a queda for em áreas habitadas, poderíamos ter acidentes.
02:05A importância desse trabalho vai além da constelação Starlink,
02:09pois qualquer satélite em órbita baixa está sujeito aos mesmos efeitos,
02:14tornando o estudo fundamental para o futuro da navegação, comunicação e monitoramento espacial.
02:26E agora temos o prazer de receber aqui ao vivo Dene Oliveira,
02:31que é físico formado pela Universidade de São Paulo,
02:35com doutorado em Física Espacial e atualmente pesquisador do Centro Espacial Godard da NASA.
02:42Vamos então colocar o Dene Oliveira aqui na nossa tela.
02:46Vamos lá.
02:49Olá, boa noite Dene Oliveira.
02:51Muitíssimo obrigada por participar aqui conosco no Olhar Digital News.
02:55É um prazer recebê-lo.
02:57Olá, Marisa. Boa noite e obrigado por me ter aqui hoje.
03:02Dene, vai ser um prazer a gente poder conversar um pouquinho aqui ao vivo com você,
03:07começando até com uma pergunta básica de como foi feita,
03:11como foi realizada essa pesquisa ao longo dos anos,
03:15e mais, como que você fez esse monitoramento,
03:18tanto dos satélites quanto da atividade solar?
03:21Bom, eu tenho trabalhado nessa pesquisa por mais ou menos uns 10 anos,
03:30e essa pesquisa em particular,
03:33nesse artigo que a gente publicou a semana passada,
03:36duas semanas atrás,
03:38a gente olhou em dados da posição de satélites,
03:44que são providenciados pela força espacial dos Estados Unidos,
03:52a gente chama de Space Force.
03:54E esses dados são públicos,
03:56e desses dados a gente pode obter a posição dos satélites
04:00como função do tempo.
04:03E a gente escolheu em particular os satélites do Starlink,
04:07porque eles são a grande maioria no espaço agora.
04:11Então, essa pesquisa é especial,
04:16porque nos últimos 20 anos,
04:20os pesquisadores usam um ou dois satélites,
04:24mas nesse estudo,
04:27foi o primeiro que a gente utilizou mais de um ou dois ou três satélites.
04:32A gente usou mais de 500 satélites.
04:34Então, a gente foi capaz de observar como a atividade geomagnética
04:40causada pela atividade solar
04:43fez com que os satélites entrassem mais rápido na atmosfera.
04:49Só um detalhe,
04:51são duas coisas.
04:54Primeiro, os satélites da Starlink,
04:56eles já são projetados para queimar na atmosfera.
05:00Eles não são feitos para atingir o solo.
05:05Então, eles são descartáveis.
05:08Eles são projetados para durar de três a cinco anos,
05:13e na reentrada eles queimam na atmosfera.
05:16E segundo,
05:18quando a gente tem a tempestade geomagnética,
05:22a reentrada é mais rápida.
05:24E o impacto na vida útil do satélite é mínimo.
05:30Uma redução de dez dias é mínimo
05:33na vida útil do satélite de três a cinco anos.
05:39Mas tem outras coisas também que eu posso falar, né?
05:43Mas foi assim que a gente fez a pesquisa.
05:49A gente fez um download dos dados do Space Force
05:54e a gente olhou na posição da altitude
05:58como função do tempo e da atividade geomagnética.
06:04Dênia, você mencionou os satélites da Starlink,
06:07mas você diria que nós temos,
06:09estamos num momento preocupante,
06:11porque não somente a Starlink tem os seus satélites,
06:14temos outros satélites também ao redor da Terra.
06:18Você diria que esse volume de satélites,
06:22eles oferecem hoje em dia,
06:24com essa maior quantidade,
06:26mais risco para nós?
06:31Sim, teoricamente sim,
06:34mas como eu disse,
06:35os satélites já são projetados para queimar
06:38na atmosfera.
06:41Mas o problema é que agora nós temos
06:43mais e mais satélites.
06:45O SpaceX está lançando cada vez mais satélites no espaço
06:49e como consequência,
06:52nos próximos meses e anos,
06:54a gente vai ter satélites reentrando
06:57praticamente todos os dias.
06:59E isso é um problema,
07:01porque a gente precisa saber com precisão
07:06onde os satélites estão
07:08para evitar a colisão entre satélites
07:11satélites e outros objetos,
07:12como por exemplo a Estação Espacial Internacional,
07:17e também outros foguetes que estão levando
07:21mais satélites para o espaço.
07:23E isso que a gente chama de reentrada controlada.
07:28E outro problema é que agora,
07:31cada vez mais,
07:32os satélites da SpaceX,
07:34SpaceX,
07:35Starlink,
07:36eles estão ficando cada vez maiores
07:38e isso dificulta
07:40o processo de desintegração
07:46enquanto eles reentram na atmosfera.
07:50Então nós temos dois problemas,
07:52os satélites estão ficando maiores
07:54e a reentrada está ficando mais rápida,
07:58o que diminui o tempo de interação
08:01do satélite com a atmosfera
08:03e possivelmente o processo de desintegração
08:07fica mais comprometido,
08:09levaria mais tempo.
08:11Então possivelmente isso aumenta
08:13a probabilidade de debris,
08:18do resto dos satélites atingirem o solo.
08:22Até hoje, SpaceX reconheceu
08:25que somente um objeto da Starlink
08:28chegou a atingir o chão, o solo.
08:31E foi no Canadá no ano passado,
08:34mais ou menos em abril.
08:36Mas a gente não tem relatos concretos
08:39de muitas peças atingindo o chão até agora.
08:43Agora, Deni,
08:44numa possibilidade de ter mais objetos
08:47chegando até o solo,
08:49entre aquele momento em que se percebe
08:52que o satélite está apresentando
08:53já problemas para perder a sua atividade
08:56e fazer a sua reentrada,
08:59qual é a janela de tempo que se tem
09:01para avaliar se ele vai se desintegrar,
09:04onde vai cair e o tempo que isso vai levar?
09:07Qual é essa janela?
09:09Isso é uma grande pergunta.
09:12Aqui nos Estados Unidos,
09:14a Força Aérea, Air Force,
09:18eles recomendam uma janela de 72 horas,
09:22três dias.
09:24A gente tem que saber
09:25onde os satélites ou os debris
09:28vão estar em 72 horas.
09:32Mas o problema é que os modelos matemáticos
09:35que a gente tem
09:36para fazer previsão
09:39durante altas condições
09:43de atividade geomagnética,
09:47eles são muito pobres
09:48as previsões até agora.
09:50A gente precisa melhorar muito.
09:52Então, um dos objetivos dessa pesquisa
09:53que a gente está fazendo aqui na NASA,
09:56no Goddard,
09:57e SpaceX está ajudando a gente
09:59com dados,
10:00é que a gente quer melhorar
10:02essas previsões
10:03durante períodos de alta
10:06atividade geomagnética.
10:10E só para lembrar,
10:12uma coisa que eu tenho escrito
10:13bastante nos meus papers
10:14é que nunca na história
10:16moderna,
10:19ou na história humana,
10:20a gente observou
10:21tantos satélites no espaço
10:24voando na atmosfera
10:26durante a atividade geomagnética
10:31tão alta.
10:31isso é uma coisa inédita
10:33na história
10:34da era espacial.
10:38Agora,
10:39Dany,
10:39como não poderia deixar de ser
10:41aqui no Olhar Digital,
10:42a gente fala muito
10:43sobre pesquisas espaciais
10:45e trabalhos
10:46da Agência Espacial
10:48Norte-Americana.
10:49Então,
10:50eu queria aproveitar
10:51a sua presença aqui,
10:52essa presença tão especial,
10:54para você contar
10:55um pouquinho para a gente
10:56como que é o seu trabalho,
10:57o seu dia a dia,
10:58como que você chegou
10:59até aí à NASA
11:00para desenvolver esse trabalho,
11:01que eu tenho certeza
11:02que as pessoas em casa
11:03vão estar perguntando
11:05sobre a sua presença
11:06aí nesse trabalho
11:07tão importante.
11:08Conta um pouco para a gente.
11:09como você disse,
11:12eu fiz a minha graduação em Física
11:17na USP,
11:18no Brasil,
11:19e fiz um mestrado em Física Teórica,
11:22também na USP,
11:23e mudei completamente
11:25de campo,
11:26de área de pesquisa,
11:28e fui para a Universidade
11:29de New Hampshire,
11:30que é
11:31uma hora
11:32ao norte de Boston,
11:34Massachusetts,
11:34e eu fiz lá
11:37meu PhD
11:38em Geofísica Espacial.
11:41E isso foi há 10 anos atrás,
11:43e quando eu terminei
11:44meu PhD,
11:44eu vim aqui para a NASA,
11:46Goddard Space Flight Center,
11:48que fica aqui perto
11:49de GDC,
11:50da capital,
11:52e eu comecei
11:53a fazer
11:54um postdoc.
11:56Aí do postdoc
11:57vira pesquisador
11:58e vai ficando,
12:00e eu estou aqui
12:00já há 10 anos,
12:02e eu faço
12:05bastante coisa
12:06na área
12:06de Geofísica Espacial,
12:09tempestades
12:10geomagnéticas,
12:11interação
12:11de perturbações
12:13solares
12:14com a magnetosfera,
12:15que é o campo
12:16magnético terrestre,
12:18e basicamente
12:20o que eu faço
12:20todo dia
12:21é pesquisa,
12:23eu converso
12:24com outros
12:24pesquisadores,
12:25estudantes,
12:26que a gente tem
12:27bastante
12:27universidades
12:29aqui na área,
12:31e a gente escreve
12:32projetos
12:32para a NASA,
12:33para a Força Aérea,
12:36para o Departamento
12:37de Defesa
12:37dos Estados Unidos,
12:39e a gente conversa
12:40com outros
12:41pesquisadores
12:43locais,
12:45também
12:45em outros estados,
12:46aqui nos Estados Unidos
12:47e outros países
12:49em todos os continentes,
12:52eu já
12:52interagi,
12:53publiquei
12:54artigos
12:55com muitos
12:55pesquisadores,
12:56de outros
12:58países,
13:00e a gente
13:02atende
13:03conferências,
13:04a gente viaja,
13:06e a gente
13:06interage
13:08com outros
13:08pesquisadores,
13:09e a gente tem
13:10bastante
13:10divertido
13:12o meu trabalho,
13:13eu gosto muito
13:13do meu trabalho,
13:14porque
13:14eu interajo
13:16com gente
13:17que pensa
13:18de maneiras
13:18muito diferentes,
13:20de diferentes
13:22backgrounds,
13:23e isso é
13:24muito interessante.
13:25muito bacana,
13:27é, pois é,
13:28infelizmente no Brasil
13:29nós não temos
13:29tanto incentivo
13:30à pesquisa,
13:31tanto é que
13:32nós temos
13:33essa demanda
13:34de pesquisadores,
13:35demanda não,
13:36essa evasão
13:37de pesquisadores
13:38brasileiros
13:38que vão até
13:39para outros países,
13:40você tem contato
13:41e você encontra
13:42brasileiros
13:43nesse seu ambiente
13:43de trabalho,
13:45também desbravando
13:46esse segmento
13:47de pesquisas
13:48fora do país,
13:49Denis?
13:49Sim,
13:51tem bastante
13:53brasileiros
13:54que vêm
13:54aqui
13:54no Goddard
13:57do IMP,
13:59que é
13:59em São José
14:00dos Campos,
14:01na minha área
14:02que chama
14:02geofísica espacial,
14:04ou mais
14:05abrangente,
14:08como é que fala
14:09isso em português,
14:10é heliofísica,
14:12acho que é assim
14:13que vai falar
14:14em português,
14:15e antes do
14:17Covid
14:17tinha bastante
14:18gente que vinha
14:19aqui
14:19do IMP,
14:20mas recentemente
14:22não tenho
14:23visto muita
14:23gente,
14:25e eu conheço
14:25bastante gente
14:26que trabalha
14:27lá,
14:27a gente interage
14:28de vez em quando,
14:29mas a gente
14:30não tem nenhum
14:31projeto
14:32específico
14:34trabalhando
14:34junto,
14:35mas às vezes
14:36eles vêm
14:37para cá,
14:37eu vejo eles
14:38em conferências
14:39aqui na Europa,
14:41outros países
14:41também,
14:42mas a gente
14:44tem um certo
14:45nível de interação
14:46sim,
14:46e a gente
14:47interage às vezes.
14:48Muito bacana,
14:49Dene,
14:50foi um prazer
14:51imenso tê-lo
14:51recebido aqui
14:52no nosso
14:52Olhar Digital News,
14:54desejo muito
14:55sucesso nas suas
14:56pesquisas e espero
14:57encontrá-lo em outros
14:57momentos,
14:58muitíssimo
14:59obrigada pelo
14:59seu tempo.
15:01Ok,
15:01muito obrigado
15:02pelo convite.
15:03Boa noite.
15:04Boa noite.
15:06Tá aí,
15:06pessoal,
15:07muito bacana
15:08a entrevista
15:08com o Dene
15:09Oliveira,
15:10brasileiro,
15:11e que como
15:11vocês viram,
15:12formado em física
15:14aqui na Universidade
15:15de São Paulo
15:15e doutorado
15:16em física
15:17espacial e atualmente
15:19pesquisador do Centro
15:20Espacial Godard
15:22da NASA.
15:23Muito bacana,
15:24espero que vocês
15:24tenham gostado
15:25da nossa entrevista
15:27especial aqui hoje.
15:28dê-lo.

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