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  • 25/05/2025

Categoria

Pessoas
Transcrição
00:00Vivemos em gaiolas, gaiolas modernas, gaiolas com senha, com portaria, remota, com alarme, com fechadura digital.
00:07Gaiolas com condomínio caro, que vendem segurança, status, isolamento, como se fossem virtudes.
00:13Não temos mais trancas de ferro visíveis, mas estamos mais trancados do que nunca.
00:18Em nome da proteção, aceitamos a prisão. Em nome da praticidade, trocamos o mundo por uma caixa.
00:24Essas gaiolas são pequenas, mas nos fazem acreditar que são tudo o que precisamos.
00:27São chamadas de estúdios, lofts, kitnets, apartamentos compactos. Não importa o nome.
00:33A lógica é a menos. Menos espaço, menos mundo, menos liberdade.
00:38E mais, controle. Controle sobre onde pisamos, sobre como vivemos, sobre o quanto produzimos.
00:44Chamam de lar, mas é apenas a zona de recarga de um corpo exausto, preparado para mais um ciclo de entrega, consumo e sobrevivência.
00:51Antes, as casas tinham alma. Eram vividas, abertas, orgânicas.
00:56Tinham vida. Tinha um cheiro de madeira, som de pássaros, poeira da estrada, horizonte visível da varanda.
01:02Hoje, temos luz fria, eco de silêncio, concreto pintado com tinta antimofo.
01:07A paisagem é a parede do prédio do vizinho.
01:09O som é o compressor do ar-condicionado. O cheiro é do elevador.
01:13E o tempo? Tempo é cronometrado para que ninguém veja o outro por mais de dez segundos.
01:18Tudo é cronometrado. Tudo extremamente controlado.
01:22Nos disseram que isso era revolução e que não passava de uma mera evolução do tempo.
01:27Que morar no centro, perto do trabalho, uma torre com academia, lavanderia coletiva, mercadinho no térreo, é o auge da praticidade.
01:35Nos convenceram de que o contato com a natureza, com o céu aberto, com o tempo lento, era coisa de gente do passado.
01:42Que liberdade é ter o wi-fi rápido, não o vento no rosto.
01:46Que sucesso é morar em 24 metros quadrados a três quadras do metrô.
01:50E nós? Nós acreditamos.
01:52Fizemos fila no estande de vendas, aplaudimos o decorado,
01:56assinamos contratos de décadas com lágrimas nos olhos, convencidos de que finalmente estávamos conquistando algo.
02:02E de fato, estávamos conquistando uma cela mais confortável do que a do vizinho.
02:08Mas ninguém pergunta, onde foi parar o espaço?
02:11O espaço interno, o espaço externo, o espaço de respirar, de pensar, de existir.
02:16Onde foi parar a liberdade que não cabe entre quatro paredes?
02:20Antigamente o tempo passava devagar.
02:22As tardes eram longas, os encontros eram reais, as conversas tinham silêncio no meio.
02:27Hoje tudo é urgente. Tudo precisa ser entregue, monetizado, justificado.
02:32Até o lazer virou tarefa. Até o descanso precisa ser merecido.
02:36Vivemos em um estado constante de justificativa.
02:40Justificamos o que sentimos, o que compramos, o que postamos, o que desejamos.
02:44E essa justificativa precisa de cenário.
02:46E o cenário é a gaiola moderna.
02:49Mobiliada com o mínimo possível, otimizada para caber tudo e um pouco mais.
02:53Sem jamais transbordar.
02:55Porque transbordar é feio, sentir demais é estranho, falar alto incomoda o vizinho.
03:00Ouvir música fora do fone é uma afronta.
03:02Ser espontâneo, então, é inadequado.
03:05Dentro dessas caixas, moldamos a alma para caber no espaço.
03:09E quanto mais ela se molda, mais ela se esquece do que era antes.
03:13O ser humano que já construiu catedrais, que navegou em oceanos, que cruzou desertos,
03:18agora vive em cima de um piso vinílico, esperando a notificação do delivery chegar.
03:22É assim que nos transformaram.
03:24É assim que nos condicionaram.
03:25E o mais assustador, é assim que nos convenceram de que deveríamos estar felizes.
03:30Mas a felicidade virou mercadoria.
03:32E como toda mercadoria, ela precisa de embalagem.
03:35A embalagem da felicidade moderna.
03:38É clean, organizada, minimalista.
03:41Uma estante branca com poucos livros.
03:43Uma planta artificial ao lado da TV.
03:46Um difusor de aromas que mascara o vazio.
03:49Uma iluminação de LED que imita o pôr do sol.
03:52Mas o sol, o sol mesmo, ninguém mais vê.
03:55E o corpo sente.
03:56A alma sente.
03:57Mesmo que não digamos nada.
03:58Mesmo que o feed esteja cheio de sorrisos falsos.
04:02De conquistas que muitas vezes não são conquistas reais.
04:05De antes e depois.
04:06Mesmo que tudo pareça perfeito.
04:08A alma sente.
04:10Sente que o mundo ficou pequeno.
04:12Sente que o céu sumiu.
04:13Sente que existe mais.
04:15Mesmo quando nos dizem que não.
04:16Às vezes, essa sensação aparece no meio da noite.
04:20Quando o silêncio pesa demais.
04:21Quando o teto parece mais próximo do que deveria.
04:24Quando a parede parece respirar com a gente.
04:27É nesse momento que a consciência sussurra.
04:29Isso aqui.
04:30Não era pra ser tudo?
04:31E não era.
04:32Mas ninguém quer ouvir isso.
04:33Porque ouvir isso dói.
04:35E dói porque exige mudança.
04:36E mudar custa.
04:37Custa caro.
04:38Custa energia.
04:39Custa tempo.
04:40Custa coragem.
04:41Então continuamos.
04:42Continuamos apertados.
04:44Anestesiados.
04:45Distraídos.
04:46Continuamos conectados e sozinhos.
04:48Continuamos olhando para telas.
04:50Deslizando o dedo.
04:51Comprando coisas inúteis que não precisamos.
04:54Simplesmente para preencher espaços que não temos.
04:56E no fundo.
04:57No fundo sabemos.
04:59Sabemos que vivemos em gaiolas.
05:01Mas preferimos não pensar nisso.
05:03Se esse conteúdo fez sentido pra você.
05:05Então não deixe de se inscrever no canal Mente Além.
05:08Que aqui nós não estamos interessados em camuflar a realidade.
05:13A gente mostra e fala realmente o que é a coisa do dia a dia.
05:18O que é a realidade.
05:20Doa quem doer.
05:20Não importa se a pessoa vai chorar ou não.
05:23Aqui nós não estamos interessados em camuflar a mente.
05:27Mas sim fazer com que ela seja mostrada e expandida para a realidade.

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