Confira a análise do embaixador e colunista de A Tribuna, José Vicente de Sá Pimentel.
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NotíciasTranscrição
00:00Multilateralismo é um conceito do direito internacional, das relações internacionais,
00:11que pressupõe que as tomadas de decisões sobre política e economia sejam de forma coletiva,
00:18que vários países participem dessas decisões. Sinal dos tempos modernos, quem diria que a China
00:24seria uma defensora do multilateralismo e os Estados Unidos não. Estamos aqui com o embaixador
00:29José Vicente Sapimentel para tentar entender, nos ajudar a decifrar esses nossos tempos.
00:36Um fio da meada, embaixador, poderia ser as viagens internacionais do presidente Lula
00:41e o que elas significam nesse contexto. Ele esteve no funeral do Papa Francisco,
00:46esteve no Japão com o primeiro-ministro japonês, esteve no Vietnã com o presidente Xi Jinping na China
00:52e, por fim, esteve no funeral do ex-presidente Pepe Mujica.
00:55Embaixador, o que significa esse cenário internacional que nós vivemos?
01:00É uma pergunta muito boa, que vai ao cerne das relações internacionais dos nossos dias.
01:07Mas, para explicar o meu ponto de vista, é necessário voltar um pouco atrás para o início do século XX,
01:15em que o mundo estava atolado em questões terríveis, como a Primeira Guerra Mundial,
01:22seguida da crise de 1929, por sua vez seguida da Segunda Grande Guerra, destruição, milhões de mortos.
01:31E é nesse momento que se sentam à mesa as lideranças mundiais para passar limpo o sistema de segurança
01:36que já havia naquele momento, o sistema da Liga das Nações, e criam a Organização das Nações Unidas.
01:43Essa organização é baseada em regras e tem dois objetivos fundamentais, evitar a eclosão de um novo conflito de proporções mundiais
01:52e gerar prosperidade a partir de regras previsíveis, seja no comércio, seja nas relações econômicas internacionais em geral.
02:03A coisa funcionou, são 80 anos sem nenhuma guerra mundial e com uma prosperidade que nunca houve no passado do mundo.
02:14Os Estados Unidos foram os grandes beneficiários desse sistema, do qual eles eram os garantes
02:22e faziam tudo para manter as regras do jogo e foi assim que amelharam um PIB que hoje é da ordem de 30 trilhões de dólares.
02:36Agora, muitos países aprenderam a lidar com as regras do jogo e um deles foi a China.
02:43Embora a China hoje tenha um PIB de 18 trilhões, ela está crescendo, crescendo muito,
02:49se apresentando como uma possível ameaça aos Estados Unidos.
02:56Nessa hora, os americanos elegem um cidadão que, como se fosse o dono da bola de um jogo de criança,
03:05ele diz que não, desse jeito não quero mais, não gostei das regras, a bola é minha, vou embora.
03:10E quer acabar com o jogo multilateral.
03:14Isso aí, para um país como o Brasil, que também aprendeu a jogar, aprendeu as regras do jogo,
03:19tem algumas desvantagens.
03:22E o que é o Brasil?
03:24Precisamos parar, porque tem gente que fala muito mal do Brasil, que está tudo errado, etc.
03:30Mas é o teu negócio.
03:32Essas coisas têm que se ver de uma maneira menos emocional.
03:37O Brasil é o quê?
03:38É a oitava maior economia do mundo.
03:42Pela última vez que eu vi, a ONU tinha o quê?
03:46193 países-membros.
03:48Ou seja, 184 países que geram renda inferior à do Brasil.
03:53Não é pouca coisa.
03:55O Brasil tem também várias áreas de excelência, uma das quais é a diplomacia.
03:59Essa diplomacia, que conhece as regras do jogo, quer jogar.
04:03Quer fazer com que as regras sejam bem jogadas, para que os defeitos que a ONU certamente tem,
04:11sejam corrigidos.
04:12Nós queremos melhorar o sistema, nós queremos aperfeiçoar as regras.
04:17E não acabar com elas, porque não tem interesse para o resto do mundo.
04:23Muito bem.
04:25Nessa posição do Brasil, nós amelhamos o respeito de muita gente.
04:30Haja vista a agenda atual da diplomacia brasileira.
04:36Como você disse, nós fomos ao Japão, negociamos um acordo importantíssimo lá.
04:46Fomos ao Vietnã, o que demonstra também a amplitude dos interesses econômico-comerciais brasileiros.
04:53Depois, fomos convidados ao velório do Papa Francisco, a que comparecemos, evidentemente,
05:04tínhamos que ir, até porque somos a maior nação católica do mundo.
05:09E dali fomos também convidados.
05:11Comparecemos ao dia da vitória sobre a Alemanha nazista na Rússia,
05:16que é o maior feriado, a maior data, a data nacional russa.
05:21Bom, aí por aí a gente vê que nós estamos cumprindo o papel que nos toca,
05:28porque, inclusive, nós somos, no momento, os presidentes do BRICS,
05:32e a Rússia é um dos principais países integrantes do BRICS.
05:36Mas tem gente que acha que não, que não devia ir na Rússia.
05:40Como não?
05:41Fomos e não criamos nenhum tipo de constrangimento para nós.
05:45Pelo contrário, fomos lá para defender com toda a calma e com toda a capacidade diplomática que nós temos,
05:54fomos lá para dizer que o nosso ponto de vista com relação a esse conflito terrível da guerra da Ucrânia
06:00é que ele deve ser concluído com negociações bilaterais,
06:06com negociação entre russos e ucranianos.
06:10Essa é a nossa posição, é simples assim, e não tem mal nenhum em você dizer isso para ambos os lados.
06:20Daí saímos para ir à China,
06:23quinto encontro entre os presidentes Lula e Xi Jinping.
06:28Não é pouca coisa.
06:29E muito se ganha ao estabelecer esse tipo de vínculo.
06:38E nós temos, em seguida, a visita do presidente Lula ao velório,
06:46mais um velório dessa vez do presidente José Mujica, do Uruguai,
06:54que também é uma coisa importante de fazer, além da amizade pessoal,
06:59que é um gesto importante para um país muito próximo a nós, um país do Mercosul.
07:08Então, nós estamos jogando as regras.
07:12As regras estão querendo...
07:13Os Estados Unidos estão querendo abrir mão dessas regras,
07:18saindo constantemente de várias organizações multilaterais,
07:24abandonando espaços que ele não deveria, a meu ver, abandonar,
07:30como se isso fosse acabar com essas organizações todas.
07:36Eu acho que é uma aposta em que eu não faria essa aposta.
07:43Eu acho que o resto do mundo tem interesse em manter o sistema multilateral.
07:49O resto do mundo tem interesse em impedir que um país só comande tudo,
07:54dê as cartas e faça o que quer.
07:57De maneira que esse é o momento que nós temos nas relações internacionais.
08:01E é um momento para ter muito cuidado, para ter muita sabedoria,
08:07para ter muito discernimento naquilo que nós vamos fazer.
08:10Mas é isso, é preciso seguir adiante, é preciso continuar
08:15implementando as regras diplomáticas que nós aprendemos muito bem.
08:40Obrigado.
08:41Obrigado.
08:42Obrigado.