- 12/05/2025
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00:00Olá, bom dia, bem-vindos a mais um Ponto de Vista.
00:14Hoje eu tenho a honra de receber aqui no programa um grande representante das artes cênicas do Estado.
00:20Estou falando do ator Germano Rayucci.
00:24Além do teatro, Germano também tem atuação no cinema nacional.
00:28Germano, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite.
00:31É uma honra receber você aqui. Muito bem-vindo também.
00:36Hernando, muito obrigado, digo eu, pela oportunidade.
00:42Afinal de contas, eu sempre digo na minha vida que tudo é a penúltima vez.
00:50Então, essa oportunidade é muito importante para mim, para alguns amigos
00:56e até em especial uma amiga minha, que eu gosto muito.
01:00Tá certo. Germano, eu queria começar por uma das últimas coisas que você fez,
01:05que foi uma participação na série, né, Maria e o Cangaço.
01:11Você fez o papel do médico, que socorre tanto Lampião quanto Maria Bonita, né,
01:16e foi uma participação que você teve, uma série de quatro ou cinco episódios, né?
01:21Exato.
01:22E você teve essa participação. Como foi essas...
01:25Eu sei que as filmagens foram em Cabaceiras, né, na Paraíba, e também em Piranhas, em Alagoas.
01:32Mas a sua participação foi na Paraíba.
01:35Como é que foi?
01:36É um lugar mágico. Vale a pena conhecer.
01:39Eu já tinha feito um filme com o diretor Sérgio Machado e surgiu uma chamada para que eu pudesse fazer um teste.
01:51Eu fui, fiz o teste, passei e o papel era muito grande, tão grande que eu dizia à minha família
01:59quando eu assisti, que ninguém saísse para nada, porque naquele minutinho eu já saía de cena.
02:07Mas eu acho, Fernando, que o fato de um cara como eu, com 87 anos, que faço o teste, passei e fiz,
02:17e na mesma hora eu estou trabalhando com grandes atores, uma produção que me deixou, assim,
02:27eu nunca vi nada igual, centenas de pessoas trabalhando.
02:32Uma estrutura profissional da Disney, que em bancou, parece, todo esse...
02:39E é impressionante o número de jovens, todos eles com computadores,
02:44sete horas da manhã já tinha trinta e tantas pessoas, setor de roupa, setor de cavalo, setor de maquiagem, impressionante.
02:53O que mostra que a pujança da qualidade daquilo que a gente tem capacidade de fazer.
03:04Principalmente quando você se reporta a um tema que é quase muito comum,
03:11eu sou um privilegiado, porque eu fiz baile perfumado,
03:17que é uma forma de ver o cangaço,
03:24e fazer agora Maria, o cangaço, em que vê a pujança da mulher dentro do cangaço.
03:32Então, eu sou realmente um privilegiado,
03:35porque eu vi as duas etapas claramente para mim.
03:39E para mim isso foi muito bom.
03:41Germano, você fez muitos outros filmes,
03:43mas eu queria falar um pouquinho sobre um que a gente já estava falando antes de começar a entrevista,
03:48que é o ano em que meus pais saíram de férias.
03:51Que você faz o papel de um zelador de sinagoga, o xilomo,
03:55que passa a cuidar de um menino de 10 anos,
03:59porque esse menino foi deixado praticamente nas suas mãos.
04:03O menino foi deixado pelos pais com o avô,
04:07e o avô morreu no mesmo dia,
04:09e vamos usar um termo assim,
04:11sobrou para o xilomo criar o menino.
04:14Como é que foi a sua participação nesse filme,
04:17que foi uma participação muito importante,
04:19você tem um papel bem importante na história, né?
04:23Sem dúvida.
04:24E a grande oportunidade minha no cinema brasileiro me descobriu.
04:31Eu me lembro que quando eu entrava para...
04:33Esse filme é de 2006.
04:35Foi realmente uma grande oportunidade.
04:39Eu tive a felicidade de ter uma pessoa que me viu em teatro aqui,
04:44e estava participando do filme,
04:46pediram a sugestão de alguém que falasse Ides,
04:52e que fosse ator.
04:54Ela tinha me visto em teatro,
04:56eu estava fazendo Galileu,
04:58a peça estava indo muito bem,
05:00a gente realmente fez um papel muito bom naquela época.
05:03E aí me chamaram,
05:06e eu achei estranho,
05:08comecei a discutir por que eu e tal,
05:10até que eu fui.
05:12E cheguei lá,
05:14eu expliquei que eu era absolutamente analfabeto em Ides.
05:19Eu não sabia uma letra.
05:21Você só sabia falar,
05:22porque foi uma língua que você aprendeu com seus pais judeus,
05:25que vieram da Europa.
05:26Eu falava da Europa e falava entre ninguém.
05:29Por força das circunstâncias, eu aprendi.
05:35E aí fiz o filme.
05:38Teve um sucesso muito grande.
05:41O filme foi escolhido para representar o Brasil no Oscar.
05:47A gente chegou,
05:50morreu na praia,
05:51como eu digo,
05:52entre 98, 89 filmes.
05:56A gente chegou aos nove,
05:59mas eram cinco naquela época,
06:01ficamos.
06:02E o filme me deu uma oportunidade muito boa,
06:05porque eu viajei muito.
06:07Biarris,
06:09Cartagena,
06:10Paris,
06:11Berlim.
06:13Berlim,
06:13a gente entrar naquele tapete vermelho,
06:17e todo mundo tirando fotografia,
06:20todo mundo passando.
06:22Abre-se uma porta,
06:23tinha mais de 200 fotógrafos.
06:26E não é mentira, não.
06:27Tinha quase 200.
06:29Fotografia,
06:30um painel imenso com o nome da gente,
06:33a gente assinava.
06:35Depois de terminar o filme,
06:38eu sou entrevistado,
06:40além de Fernando Rego,
06:41a Sassanet Press,
06:44Paris,
06:45Portugueses,
06:48Espanhóis,
06:50República Popular da China
06:52e Al Jazeera.
06:57Curiosamente,
06:58e aí eu vou fazer um...
07:01Em todos os lugares,
07:02eu dizia que eu era
07:03pernambucano,
07:05nascido no Nordeste Brasileiro,
07:08não,
07:09no eixo Rio-São Paulo,
07:11filho de imigrantes judeus,
07:13e que vivia na minha comunidade e tal.
07:17E aí eu vou entrar um pouco de política,
07:19e todo mundo me perguntava,
07:21e o tradutor já ia,
07:24já sabia do meu texto melhor do que o que eu dizia.
07:27O último foi Al Jazeera.
07:29Aí eu,
07:32pois não.
07:33Aí Al Jazeera me faz a seguinte pergunta,
07:35todo mundo pergunta sobre o filme,
07:38ele disse,
07:40a comunidade judaica lá foi muito perseguida?
07:46Eu disse, não,
07:47foi perseguida porque a comunidade é plural,
07:51tem todo tipo de pensamento,
07:52e, aliás,
07:55é muito diferente
07:57de alguns países
07:59que você não tem direito nem de falar.
08:02Aí ele bateu nas minhas costas
08:05e disse ao tradutor
08:06que eu era muito simpático.
08:08Aí encerrou.
08:10Mas o filme deu uma repercussão
08:12que rende até hoje, Fernando.
08:16Em cursos, por exemplo,
08:17da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
08:20porque é um momento
08:21crítico de 1970
08:24em que você tem
08:25uma grande repressão
08:27no país
08:28por conta da ditadura.
08:30Por falar nisso,
08:31eu nem expliquei no início, né?
08:32Falei do filme,
08:33o ano que meus pais saíram de férias,
08:35na verdade,
08:36eram pais
08:37que estavam sendo perseguidos
08:38pela ditadura
08:39e
08:39fugiram do país
08:42e disseram para o filho
08:43que iam sair de férias.
08:45Iam deixar o menino com o avô.
08:47Com o avô.
08:48Mas, na verdade,
08:49não eram férias.
08:50Eles estavam fugindo do regime militar.
08:52Não, eles estavam fugindo, exatamente.
08:52E, na realidade,
08:56foi um momento pesado, difícil.
08:58Eu fazia teatro naquela época,
09:01sei exatamente o que era censura,
09:03eu sabia o que era amigo meu preso.
09:07Enfim,
09:07momento do filme.
09:10Mas,
09:11eu acho que o filme tem um fator
09:13muito mais interessante.
09:14se você for ver
09:16na entrelinha do filme
09:18a adaptação
09:20das comunidades
09:22do prédio,
09:24um é japonês,
09:26o outro é judeu,
09:27o outro é,
09:29faz o feijão,
09:30o outro chama para comer,
09:31comida japonesa,
09:33a judia lá,
09:35a Patrícia,
09:37comida judaica,
09:39quer dizer,
09:39a integração,
09:41isso é muito importante
09:42naquele filme,
09:44de como a imigração,
09:46ela é absorvida no Brasil.
09:49A gente não pode ver
09:50só o lado puramente ideológico,
09:53político,
09:54mas sim,
09:55todo esse lado.
09:56eu olho isso muito
09:58da importância
09:59da absorção
10:00do imigrante
10:02no Brasil.
10:03Germano,
10:04falamos já do cinema
10:06na sua vida,
10:07que teve uma participação
10:08muito maior
10:09do que esses dois filmes
10:10que nós estamos falando,
10:11mas eu queria falar também
10:12do teatro.
10:13Vamos voltar um pouco
10:15no tempo,
10:15como foi que o teatro
10:17entrou na vida
10:18de Germano Hayut,
10:19que é um comerciante,
10:21é um dono de loja,
10:23é um lojista,
10:23e de repente
10:26se destacou
10:27no teatro
10:28aqui em Pernambuco.
10:29Como foi que começou
10:30o teatro?
10:31Que momento
10:32você sentiu
10:33que queria ser ator?
10:35Eu participava
10:37de um movimento juvenil
10:38dentro da comunidade
10:39e a gente criava
10:41todo o shabat,
10:44a gente fazia
10:45esquetes,
10:46escrevia
10:46e todo mundo
10:47foi aparecendo
10:49do seu lado
10:49histriônico.
10:50de repente
10:53esse grupo
10:53todinho
10:54se preparava
10:55quando tinha
10:5619 anos,
10:57mais ou menos,
10:59ia para Israel,
11:01morar num kibbutz.
11:04E eu não pude ir
11:05porque
11:05questão familiar,
11:07minha mãe não podia ir,
11:08eu era arme de família
11:09e eu tive que sair
11:12do movimento
11:13porque ou você ia
11:14ou saía.
11:16e eu fui
11:18condicionado,
11:20minha vida
11:21era dos 11 anos
11:23aos 19,
11:25mais ou menos,
11:2520,
11:26eu não tinha
11:27nenhum posicionamento
11:29na vida
11:29a não ser.
11:31Para você ter ideia,
11:33esse grupo
11:34era muito ligado
11:35a uma esquerda
11:36e a gente pensava
11:38em ser proletário
11:39em Israel.
11:40as pessoas
11:42que estavam
11:43na universidade
11:44deixavam o curso
11:45para isso.
11:47Eu não fui fazer
11:49as provas
11:50do terceiro científico
11:51porque eu ia viajar
11:53para ela,
11:53eu fui aprender
11:55a ser marceneiro.
11:57E não fui,
11:59de repente saí
12:00e aí eu
12:02tive um problema,
12:05eu não tinha
12:05horizonte,
12:06não tinha norte
12:07nenhum,
12:07só isso.
12:09Até que um dia
12:10um pessoal
12:12da comunidade
12:12estava criando
12:14um grupo
12:14chamado
12:15Teatro dos Estudantes
12:17da Elita
12:17de Pernambuco,
12:18que foi fruto
12:20do primeiro
12:21Festival Nacional
12:22de Teatro
12:23de Estudantes
12:23que foi realizado
12:25em Recife
12:26pelo Ministério
12:27da Cultura
12:28na pessoa
12:29de Pascoal
12:29Carlos Magno.
12:31Isso refletiu
12:32na comunidade
12:33como um todo,
12:35todo mundo
12:36queria ser
12:36artista de teatro,
12:37que foi um festival
12:38maravilhoso
12:39e aí me chamaram,
12:41eu disse,
12:42meu Deus do céu,
12:43aí me deram um papel
12:44numa peça
12:46de Stenberg,
12:47Ratz,
12:47e aonde?
12:49Ih, Fernando,
12:50eu me agarrei
12:51com aquilo
12:51que eu já não comia
12:53nem bebia
12:54como germano,
12:55mas como
12:56o personagem.
12:59E aí,
13:00um belo dia,
13:01há uma seleção
13:02e a gente vai
13:04para o Festival Nacional
13:06de Teatro de Estudantes
13:07em Santos.
13:10E aí,
13:11era Enrete Morinot,
13:14Glaucio Rocha,
13:15Pagu,
13:16essa era a seleção
13:19que escolheu
13:20os melhores
13:21e eram militantes
13:24atores,
13:25Juca de Oliveira,
13:27Ette Fraser,
13:28Renato Borg,
13:29Otton Barr,
13:31era,
13:32minha gera,
13:32Zé Celso
13:34Martinez
13:34Corrêa,
13:35com a incubadora,
13:37e a gente ganhou
13:40melhor espetáculo,
13:42melhor direção,
13:44melhor cenário,
13:47entre os melhores
13:48atores,
13:50seu amigo.
13:52E a gente
13:52recebeu
13:53o prêmio
13:53dessa
13:54Enrete Morinot,
13:57por ser um bom
13:58ator,
13:58que ela era francesa.
14:00E aí,
14:02a gente emendou.
14:02Germano,
14:03a gente tem
14:03umas fotos aí
14:05de um tempo,
14:06dos anos 50,
14:07você no teatro.
14:08Vamos rodar
14:09essas fotos aí
14:10para você.
14:11Eita.
14:12Aí é de 59.
14:14Ratos e Homens.
14:15Essa peça
14:16que você acabou
14:17de falar, né?
14:17Essa aí eu...
14:19Essa rendeu.
14:22Nós ganhamos
14:23muito prêmio
14:24com essa peça.
14:24E essa aqui agora?
14:25Essa é
14:26Assim,
14:27essa lhe parece,
14:28de direção
14:30de Bacarelli,
14:32Pirandello.
14:35E aqui?
14:36Aqui,
14:36inspetores.
14:38O primeiro foi
14:39no Teatro
14:40Popular do Nordeste,
14:42foi a inauguração
14:43do teatro.
14:44E nós montamos
14:45com a direção
14:46do Dr. Hermilo,
14:47que pegava
14:48um texto
14:48de Gogol
14:49e adaptava
14:51para o espetáculo
14:53nordestino,
14:54que esse era
14:55o princípio.
14:56E aí a gente
14:56usava a máscara
14:58e a máscara
14:59representava
15:00a personalidade
15:02de cada...
15:04de cada um
15:05dos personagens,
15:08o ator
15:08representando.
15:10E eu tinha
15:11a máscara
15:13do governador
15:14e, com todo o respeito,
15:15ele era corrupto.
15:17Coisa rara,
15:17mas...
15:17Com todo o respeito.
15:18Coisa rara,
15:20mas ele...
15:21Eu usava
15:22essa máscara
15:24e a gente
15:25trabalhava
15:26com esse tipo de...
15:28E era uma experiência
15:29maravilhosa.
15:31Foi um espetáculo
15:32marcante
15:33na produção
15:34do TPN,
15:36que foi uma grande
15:37experiência minha
15:38de teatro
15:39com o Dr.
15:39Hermilo Balba Filho,
15:40que me deu
15:42aulas
15:43como ser humano,
15:45caráter
15:45e outras coisas.
15:47Aqui é eu,
15:48Maurício de Nassau.
15:50Fiz muitos anos
15:51na Batalha dos Guararapes,
15:54que é uma das coisas
15:54mais importantes
15:56e que não se leva
15:57em consideração
15:59no Estado.
16:00A própria criação
16:02do povo brasileiro
16:04foi feita
16:05nesse momento
16:06e não se consegue
16:08verba
16:09para manter
16:10um espetáculo
16:11desse,
16:12lamentavelmente.
16:14Germano,
16:14vamos fazer
16:15uma breve pausa.
16:16Você que está
16:16acompanhando,
16:17não saia daí.
16:18A gente volta
16:19já já.
16:34Ponto de Vista
16:35está de volta.
16:36Hoje estamos
16:36entrevistando
16:37o ator
16:37Germano
16:38Raiuti.
16:40Germano,
16:40quando você começou
16:41a fazer teatro,
16:43quem eram
16:43os seus atores
16:44referência?
16:46Aqueles atores
16:47que você tomava
16:48como exemplo
16:48na carreira?
16:50O meu grande
16:50referencial
16:51à vida
16:51toda
16:52foi o Teatro
16:53de Amadores
16:54de Pernambuco.
16:56Eu
16:56tive a oportunidade
16:58de ver
16:58os grandes momentos,
17:00os grandes momentos
17:01do Teatro
17:02de Amadores.
17:02Ricardo,
17:05Reinaldo
17:05de Oliveira,
17:07Dona Diná,
17:08Geninha
17:09Rosa Borges,
17:11Janice,
17:13Renato
17:14Failante.
17:16Para mim,
17:17aquilo foi
17:17uma aula
17:18e eu aprendi,
17:19eu gostava,
17:20adorava,
17:21não perdia uma.
17:23Porque havia
17:23uma efervescência
17:24no Teatro
17:25Pernambucano
17:26muito grande.
17:27Havia uma
17:28associação
17:29de críticos
17:30e você
17:31tinha grupos
17:32de teatro.
17:33Teatro
17:34universitário,
17:35teatro
17:35adolescente,
17:36teatro
17:36do Banorte,
17:37teatro
17:37de amadores,
17:39teatro
17:39de servidores
17:41públicos.
17:43É quando
17:44você tem
17:45muita oferta,
17:47você vai assistir
17:47uma peça,
17:48gosta,
17:49vai assistir outra,
17:50isso criava.
17:51Não tinha
17:52shopping,
17:53não tinha
17:53televisão,
17:54não tinha
17:54Netflix,
17:55não tinha
17:56Mubi,
17:57não tinha...
17:58A vida
17:59da gente era
17:59as grandes
18:02músicas
18:02passavam
18:03para o
18:03Pernambuco,
18:04os grandes
18:05grupos de
18:05teatro
18:06passavam
18:06para o
18:06Pernambuco.
18:08Então,
18:08a gente,
18:09para mim,
18:10o grande
18:10referencial
18:11de minha
18:12vida,
18:12de querer
18:13fazer teatro
18:14e a oportunidade
18:16não era boa
18:17para mim,
18:17na época,
18:18eu não era
18:18Oliveira.
18:20Mesmo assim,
18:21eu tive o
18:21privilégio
18:22de fazer
18:23Macbeth,
18:25fiz um
18:25personagem
18:26muito bom,
18:27Macbeth,
18:28fiz
18:29Jogo na Hora
18:31da Sesta,
18:32dirigido
18:32por
18:33Geninha
18:33Osabós,
18:35e fiz
18:36uma peça
18:36muito boa,
18:38ainda na época
18:38do Arena,
18:40que era
18:41na Conda
18:41Boa Vista,
18:43mais ou menos
18:44perto da Rua
18:44do Hospício,
18:45havia um teatro
18:46que era
18:47de
18:48Alfredo
18:49de Oliveira,
18:51de
18:52Hermilo
18:52Bova Filho
18:53e Graça
18:54Bela.
18:54Foi a hora
18:55que eu me
18:55encontrei com
18:56Hermilo,
18:57ele me
18:58chamou
18:58para fazer
18:59uma peça
18:59inédita
19:00de Ariane
19:00A Farsa
19:01da Boa
19:02Preguiça.
19:03E eu
19:03fiquei,
19:04porque eu
19:04era do
19:05Teatro
19:06de Santelita
19:06de Pernambuco,
19:08que tinha
19:08montado
19:09o último
19:09Brecht,
19:10o primeiro
19:11Brecht em Recife
19:12foi montado
19:13pelo Teatro
19:14de Santelita
19:14de Pernambuco,
19:16o primeiro
19:17Arrabal
19:18foi montado
19:19em Pernambuco
19:20pelo Teatro
19:20de Santelita
19:21de Pernambuco.
19:22Quando
19:23Hermilo
19:23me chamou
19:24para fazer
19:24a Farsa,
19:26eu fiquei
19:26direção
19:28de Hermilo,
19:30texto
19:30de Ariano,
19:32música
19:32de Capiba
19:33e cenário
19:34de Francisco
19:35Brenan.
19:37Que riqueza,
19:38hein?
19:38Germano,
19:39deixa eu
19:39perguntar,
19:40com tanta
19:40experiência
19:41já no teatro,
19:42no cinema,
19:43você participou
19:44de séries
19:45de TV
19:45também,
19:47o que
19:47significa
19:48representar
19:49para você?
19:51A gente
19:51lia muito,
19:52a gente
19:52só via
19:53filmes
19:54de ótima
19:54qualidade
19:54e discutia.
19:57Eu me lembro
19:57que naquela época
19:58você falar
19:59em
19:59os Tibor,
20:01em Roger
20:01Martins
20:02do Garra,
20:03isso eu estou
20:04falando,
20:05toda a obra
20:07de Jorge Amado,
20:09havia uma
20:10efervescência
20:10cultural
20:11dentro da
20:11comunidade
20:12e era um
20:13grupo socialmente
20:14muito bem
20:15preparado.
20:18O teatro
20:18para mim
20:18foi uma forma
20:20de eu dizer
20:21tudo aquilo
20:22que o meu
20:23personagem
20:24pode dizer
20:25e eu
20:26vendendo roupa
20:27consegui fazer
20:29grandes amigos,
20:31mas socialmente
20:32do ponto de vista
20:34até de participação,
20:37eu fui um cara
20:37que inclusive
20:38nunca fui ligado
20:40a nenhum partido
20:41de nenhum tipo,
20:43mas sempre fui
20:43bem posicionado
20:44para o meu
20:46ponto de vista,
20:47de minha forma
20:48de ver as coisas,
20:50ver o mundo
20:51e a sociedade.
20:52E esse grupo,
20:54ele criou
20:55essa geração.
20:58Eu hoje leio
20:58depoimento
21:00de pessoas
21:02da minha geração
21:03e como a gente
21:04de tão longe,
21:06de Porto Alegre,
21:08do Rio Grande,
21:10de Belo Horizonte,
21:11de Manaus,
21:11nós tínhamos
21:12a mesma mentalidade
21:14de se eu chegar
21:15hoje no kibbuto,
21:16se for falar
21:17com os meus amigos,
21:17tem esses princípios
21:20eu diria éticos,
21:24eu diria que isso
21:25ajudou muito
21:26na minha forma
21:28de ser.
21:30Germano,
21:31falando ainda
21:31de teatro,
21:32você em 2017
21:34fez uma peça
21:35com Estela Mares,
21:37Terror e Miséria
21:38do Terceiro Reich,
21:40O Delator
21:41é uma peça
21:42do Bertolt Brecht.
21:44Bertolt Brecht.
21:45Como foi
21:46apresentar
21:47esse espetáculo
21:48junto com a Estela Mares?
21:50Foi muito bom.
21:51Primeiro,
21:52porque faziam,
21:53acho que,
21:54vinte e tantos anos
21:55que eu não ia
21:55para o palco.
21:57Segundo,
21:58Zé Francisco
21:59chamou
21:59e eu tive a felicidade
22:01de ter uma grande
22:02companheira
22:02com a Estela Mares.
22:05Uma pessoa
22:05extremamente especial,
22:07é um trabalho
22:09que a gente fez
22:10com muita seriedade,
22:12inclusive foi
22:13muito discutido
22:14do ponto de vista
22:15inclusive político,
22:17porque era um momento
22:18em que no Brasil
22:20estava acontecendo
22:22eleições
22:23e,
22:25de certo modo,
22:27essa peça
22:28alertava
22:28ou lembrava
22:29situações
22:31que poderiam
22:32surgir,
22:33eu diria que
22:34era quase
22:34uma pré-munição.
22:35e foi muito bom,
22:38porque de qualquer forma
22:39a gente conseguiu
22:40um teatro pequeno,
22:41mas muito bom
22:42o teatro
22:43da Ariane Soassuna
22:45e nós montamos
22:47durante seis,
22:48sete dias
22:48e lotamos
22:50praticamente
22:51cem pessoas
22:52no espetáculo
22:54por dia.
22:56Ainda tentamos
22:57voltar,
22:59mas passou
23:00e eu
23:01tenho
23:02a felicidade
23:03de dizer
23:04que isso
23:05deixou
23:05sementes
23:06e a gente
23:07vai tentar
23:08fazer
23:09um trabalho
23:10eu e Estela
23:11provavelmente
23:12agora.
23:14Germano,
23:14eu queria perguntar
23:15já quase chegando
23:16no fim
23:16da nossa entrevista,
23:17você é uma referência
23:18na comunidade judaica
23:20aqui do Recife
23:21e do Estado.
23:22como é que a comunidade judaica
23:24está vivendo
23:25esse momento
23:26tão difícil
23:26que a gente tem
23:27acompanhado
23:28em Israel,
23:29na faixa de Gaza,
23:30o ataque do Hamas
23:32à comunidade israelense
23:33em outubro
23:34de 2023,
23:36depois a represália,
23:38o contra-ataque,
23:39digamos,
23:40de Israel.
23:42A comunidade daqui
23:43do Estado,
23:44como é que está
23:44vivendo esse momento?
23:45A comunidade
23:46é muito plural.
23:49Você vai encontrar
23:49gente que
23:51apoia
23:53um governo
23:54como
23:55Benjamin,
23:55Benjamin,
23:56Netanyahu.
23:57Benjamin Netanyahu.
23:58É,
23:58é porque eu chamo
23:59de Bibi.
24:01Mas tem muita gente
24:04que esquerda
24:07ou progressista
24:08que critica.
24:11Israel já foi um país
24:13que teve durante
24:14quase 40 anos
24:16um governo
24:17de centro-esquerda.
24:19Todas as entidades
24:21eram cooperativas.
24:23A Estraduta
24:23era a grande central,
24:25era dona de transportes,
24:27de transportes,
24:28tudo que você
24:29possa imaginar.
24:31A comunidade aqui
24:32tem posicionamento
24:33diverso.
24:35A grande
24:36surpresa
24:38que alguns têm,
24:40e eu não tive nenhuma,
24:41é a relação
24:42da esquerda
24:43em relação
24:44ao processo
24:46que acontece
24:48em Gaza.
24:49O engajamento
24:50da esquerda
24:51em relação.
24:52Eu digo isso
24:53A esquerda brasileira,
24:54você diz.
24:54A esquerda brasileira.
24:55Muito a favor
24:56do Ramage,
24:57digamos.
24:57Eu não diria
24:58que é a favor,
24:59eu acho que ela já
25:00transpôs, inclusive,
25:02só o favor.
25:03E hoje
25:05eu vejo,
25:06por exemplo,
25:07pessoas que eu lidava
25:09e participava,
25:10participo com grupos
25:12de esquerda,
25:14em que antigamente
25:15se começava
25:16com israelense,
25:19delicadamente
25:20já se fala
25:21o judeu,
25:22o que demonstra
25:23naturalmente
25:24aquela,
25:28talvez o Corão
25:29esteja certo,
25:30nós somos
25:30os demônios.
25:32E aí eu me pergunto,
25:3416 milhões
25:35de judeus
25:36no mundo inteiro.
25:37o que é que a arte
25:39pode ensinar
25:40a vida
25:41numa situação
25:41como essa?
25:42Eu diria
25:43que o mundo
25:44está numa virada
25:45muito grande.
25:47Os setores
25:47hoje que
25:48o mundo
25:50está mudando
25:50de posicionamento.
25:53A gente pode
25:54querer discutir
25:55Trump,
25:56ele é doido,
25:56ele é louco,
25:57o que faz?
25:58É uma mudança,
26:00eu diria
26:00que ali
26:01é o tiro
26:02da sobrevivência
26:03e outros caminhos
26:05começam a se criar.
26:08Hoje se fala
26:09em rota da China,
26:11o capitalismo
26:11hoje talvez
26:12tenha nomes
26:13diferentes
26:14e de formas
26:14diferentes.
26:16Então,
26:16essa mudança
26:17começa
26:19com o antissemitismo.
26:24E isso
26:25começa a refletir
26:26nas outras
26:28a tendência
26:30das grandes
26:31formas
26:33de direito
26:34na Hungria,
26:35na Áustria,
26:36na França.
26:38Milhares
26:39e milhares
26:39de judeus
26:40saem da França
26:41e vão
26:42para Israel.
26:46Qual é o sentido
26:47de você
26:47que vive na França?
26:49O antissemitismo
26:50chegou ao extremo.
26:53Você não pode
26:54mais viver
26:55com transilim,
26:58não pode usar
26:59mais que pá,
27:00você não pode
27:01tirar a mesa
27:01e usar
27:02da parede
27:02porque você
27:04pode ser atacado.
27:07Própria
27:07coisa,
27:08isso,
27:11pessoas
27:11que vão
27:12falar
27:12sobre algum
27:14aspecto
27:15em universidade
27:16aqui no Brasil,
27:18como no Ceará,
27:19como no Rio de Janeiro,
27:21foram obstruídas
27:22de falar,
27:24foram agredidas
27:25por se falar,
27:26porque iam falar
27:27não de Israel,
27:29porque eram,
27:30inclusive,
27:31pessoas do Instituto
27:32Brasil-Jahel
27:34que são
27:35contra esse tipo
27:36de regime.
27:38Então,
27:40eu acho
27:41que isso
27:41passou somente
27:43do fato
27:44de Gaza.
27:45Germano,
27:46a situação é muito
27:47complexa,
27:47a gente sabe,
27:48né?
27:48Muita.
27:49eu agradeço
27:50demais
27:50a sua
27:51entrevista,
27:51sua participação
27:52aqui no Ponto
27:53de Vista,
27:54muito obrigado.
27:55Eu é que agradeço
27:56e de coração
27:57sucesso
27:59para você,
28:00muito obrigado.
28:02Obrigado
28:02e obrigado a você
28:03também que está em casa.
28:04a gente volta
28:05na semana que vem.
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