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  • 26/05/2025

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Notícias
Transcrição
00:00Olá, bom dia, bem-vindos e bem-vindas ao Ponto de Vista.
00:13No programa de hoje, vamos falar sobre os perigos que o excesso de telas pode causar no desenvolvimento de nossas crianças e adolescentes.
00:22Para debater o assunto, nossa convidada é a educadora Paula Carneiro Leão, especialista em comunicação e inovação.
00:31Paula, seja muito bem-vinda e muito obrigado por ter aceitado o nosso convite.
00:35Eu que agradeço, Fernanda. É um prazer, uma alegria estar aqui podendo conversar um pouquinho sobre um tema tão importante, né?
00:43É importante mesmo, Paula. Eu queria começar falando dessa facilidade que a gente tem hoje de acesso à internet, né?
00:49As crianças têm, os adolescentes têm também. E, para o bem ou para o mal, é motivo sempre de preocupação.
00:57No seu dia a dia, você é uma educadora, você sente essa preocupação também?
01:01Com certeza, Fernanda. Assim, a tecnologia veio para ficar, a gente não pode negar os atributos tão positivos que a tecnologia, o celular,
01:13ou essa facilidade de interação nos trouxe. Mas a gente precisa também trazer momentos como esse para a gente refletir sobre o quanto pode ser preocupante
01:25como as crianças e os adolescentes estão, a quantidade de horas que eles estão ficando com acesso às telas, né?
01:33E quanto isso tem impactado na vida deles?
01:36É, hoje a gente tem tudo na ponta dos dedos, né? No celular, você está ali passando e o tempo vai passando, né?
01:43Você nem percebe. E isso, eu acho que prejudica, eu acho não, a gente tem lido sobre o assunto,
01:50e isso prejudica até a concentração das pessoas, né?
01:52Você quer que tudo seja muito imediato e às vezes prejudica até a capacidade de aprendizagem,
02:00porque o aluno vai perdendo aquela capacidade de se concentrar, de aprender, né?
02:08Porque ele está sempre na tela ali, acha que tem que ser tudo muito rápido, muito imediato,
02:16e a vida não é assim também, né? A gente sabe que a vida está cada vez mais corrida,
02:21mas para você aprender e assimilar as coisas exige concentração, estudo.
02:27Isso.
02:27Isso é sentido no dia a dia de uma escola, né?
02:30Com certeza. O desafio é como a gente ajuda essas crianças e esses adolescentes a equilibrarem isso aí, né?
02:38Porque como você começou falando, é fato de que toda essa aceleração que a gente vive
02:46e essa aceleração digital, ela tem impacto no cérebro e no aprendizado, né?
02:54No processo de aprendizagem das crianças e dos adolescentes.
02:58Então, existem pesquisas que trazem hoje, assim, o aumento de, por exemplo,
03:03transtornos psíquicos que vem acontecendo, né?
03:07Para citar um deles aqui, um transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
03:14Hoje está muito confundido, assim, os próprios diagnósticos demoram a acontecer,
03:19porque em muitos casos as pessoas já estão dizendo assim,
03:22ah, essa criança deve ter transtorno de TDAH, né?
03:26E muitas vezes, na verdade, não existe ali um transtorno.
03:29Existe uma hiperestimulação daquele cérebro, porque ele esteve muito tempo exposto a todas essas telas.
03:39Então, é muito importante a gente ajudar, sim, essas crianças e jovens
03:44a que a gente comece a reduzir esse tempo de tela,
03:48para que a gente possa ajudar esse cérebro a começar a se concentrar melhor e mais,
03:54porque é um grande desafio para a escola e para os professores, né?
03:57E para as famílias e para essa juventude de como desenvolvê-los fora desse ambiente.
04:02Agora, como fazer isso, Paula?
04:05Para que as pessoas, tanto as crianças quanto os adolescentes,
04:10entendam que não precisa ficar tanto tempo.
04:14O celular, ele pode te ajudar, pode ser uma coisa benéfica,
04:19mas não precisa ficar tanto tempo ligado nas telas, né?
04:22Como diminuir esse tempo de exposição às telas?
04:25Fernando, na verdade, a gente acredita que é o seguinte, né?
04:31A decisão é um tema bem polêmico, assim, né?
04:34Um tema não.
04:35A minha resposta, talvez, ela seja polêmica,
04:38porque ela mexe em algum lugar que não é muito confortável para as famílias, né?
04:43Que é o seguinte, a gente escolheu, né?
04:48Muitas vezes, ter os filhos, a gente tem o desafio de educar os nossos filhos
04:53e filhos demandam tempo, demandam dedicação.
04:58Então, assim, alguns especialistas colocam que não dá para a gente simplesmente cortar o tempo do celular de uma criança
05:05e, tá bom, eu tirei o celular dele e ele vai fazer o quê?
05:08Eu preciso trocar.
05:11Então, são trocas.
05:12Não dá para a gente simplesmente só tirar o celular.
05:15E essa troca pode ser pelo quê, Paula?
05:16Então, ela pode ser pelo meu tempo com você.
05:20Vamos jogar um jogo, vamos assistir, vamos brincar juntos.
05:24O que eu estou falando do tempo da família, o tempo de que a gente precisa, né?
05:29Então, a gente cresceu, assim, até o ócio que a gente fala, o ócio, o tédio.
05:36Não sei se você escuta, mas, assim, lá na escola a gente costuma escutar assim,
05:40ai, que estou entediado.
05:42E a gente brinca.
05:43Vamos exercitar, então, a capacidade de trabalhar com esse estar entediado, de ter tédio.
05:49De brincar, buscar na natureza, buscar nos outros elementos, né?
05:53A gente não é dar brinquedo pronto, eu brinco que é melhor que a gente dê uma caixa de papelão,
06:00colher de pau, vamos montar um carrinho, vamos fazer coisas assim,
06:04para a gente estimular essa criatividade que está muito travada,
06:07do que a gente entregar um brinquedo pronto e caro para uma criança, né?
06:12Que outros males estão mais associados a esse uso excessivo de telas?
06:16Ansiedade, depressão, que outros males são mais comuns de serem percebidos num aluno,
06:25seja criança, seja adolescente?
06:27Então, o celular é um mundo que esse adolescente, ele vai ficando extremamente,
06:35pode ir ficando extremamente solitário, né?
06:38Por quê?
06:39Ele começa solitário do olho no olho, na verdade.
06:43Ele vai, ele sente que ele tem, às vezes, comunidades de amigos,
06:49eles constroem comunidades de amigos virtuais,
06:52eles constroem um mundo paralelo, imaginário, imaginário da vida real,
06:59mas que acontece ali.
07:00Então, eles vão se distanciando, eles começam a não ter,
07:05não ter capacidade de resolver conflitos presencialmente, de brincar, de ter companhias.
07:13Então, a gente...
07:14Tudo é mais fácil pelo celular, né?
07:16Veja, eu... a sociedade em geral, eu tenho dificuldade de dizer, às vezes, algumas coisas assim.
07:23Imagina aqui, eu e você.
07:24Eu não sei se eu diria assim,
07:25Fernando, eu te acho isso, eu te acho aquilo, eu vou buscar...
07:28Mas é muito fácil eu te criticar do outro lado de um telefone que você não está me vendo,
07:34que eu posso te xingar, coisas desse tipo.
07:36Se isso acontece para adultos, imagina para crianças e adolescentes,
07:41que tem uma ferramenta muito perigosa ali nas mãos.
07:44Então, o que é que está acontecendo?
07:48A gente tem jovens ficando deprimidos, ansiosos, com modelos de comparativos, né?
07:57De... as meninas.
07:59Eu vi uma reportagem, uma especialista, Carolina Delboni,
08:04que é especialista em comportamento de adolescentes, que dizia assim outro dia,
08:08Os meninos estão nessa coisa dos incels, né?
08:14Que a série da Netflix trouxe recentemente, da adolescência,
08:18que é de odiar mulheres, essa coisa toda, essa comunidade.
08:23E as meninas, então, os meninos estão odiando as meninas,
08:27e as meninas, elas estão se odiando.
08:30Por quê?
08:31Ela traz esse dado muito, né, assim, impactante.
08:34Porque os perfis, essa coisa de eu só postar foto perfeita,
08:39super maquiagens, um milhão de filtros que eu coloco.
08:44Então, é muito difícil se aceitar.
08:47Veja o que é o desafio de ser adolescente, hoje em dia,
08:53e aí, adolescente convivendo no dia a dia, pessoalmente, no ambiente escolar.
08:59Então, quando a gente...
09:00Quando você fala, né, assim, são muitos os impactos negativos,
09:03a gente viu que o suicídio já é a terceira maior causa de morte de adolescente no Brasil.
09:12É muito chocante, porque antigamente a gente ouvia falar assim,
09:17alguém se suicidou, se soube uma coisa agora...
09:21Uma coisa muito distante, né?
09:22Muito distante da nossa casa.
09:24Agora é assim, Fernando, você conhece...
09:27Você tem algum amigo que soube, ou perto dele, teve alguma história de suicídio?
09:33E aí a gente começa a pensar, opa, na minha casa eu tenho uma amiga de uma filha na sua casa.
09:39Então, isso está chegando muito próximo, né, a gente.
09:42Eu acho que a série Adolescência, ela trouxe, foi um grito ali,
09:46de chamada de atenção para as famílias, para a sociedade, para a escola,
09:51porque não dá para ninguém se eximir disso, assim, a gente precisa dar as mãos
09:55e cuidar dos nossos filhos, dos nossos alunos, se comprometer com eles.
10:01Porque senão a gente...
10:02Que tipo de futuro...
10:05Quem são as pessoas que vão cuidar desse nosso próximo futuro?
10:10Quem são essa geração que vai estar lá, né?
10:12Agora, professora, no ano passado começou a valer de modo mais intenso, né?
10:17Pelo menos, foi sancionada esse ano, mas no ano passado já se começou a discutir muito
10:21a questão da proibição do celular em sala de aula, no ambiente escolar mesmo.
10:27Isso, que tipo de efeito isso trouxe, essa medida, né, para as escolas?
10:33Eu sei que a sua escola já adotava, inclusive.
10:36Mas, de um modo geral, o que a senhora tem sentido quando conversa com outras educadoras,
10:41outros educadores, de qual foi o impacto dessa medida de proibir o celular no ambiente escolar?
10:48A gente acredita, do ponto de vista dos profissionais, essa medida foi extremamente benéfica
10:55e importante para os adolescentes, né?
10:58Primeiro, a gente, o ano passado lá na escola, a gente recebeu um especialista,
11:03é um físico, o Guilherme Brockington, que ele veio falar para os pais lá da vila
11:08sobre o impacto da emoção na aprendizagem.
11:12E eu brinco que tinha que ser um físico para deixar de ser mimimi, né?
11:17Porque quando a gente fala sobre emoção, muita gente tem aquela coisa de,
11:21ah, isso é mimimi, e não é, é ciência que está aí hoje ajudando a gente.
11:25E aí, quando ele chegou lá na escola, ele foi muito bonito,
11:29porque ele foi professor muitos anos, inclusive de escola pública,
11:32ele falou assim, meu Deus, fazia tanto tempo que eu não escutava
11:36o barulho de criança e jovem no parque, criança suada.
11:40E foi lindo para a gente ouvir aquilo, porque a gente não fazia ideia
11:45do que estava acontecendo em outros lugares.
11:46Como a gente nunca houve a permissão lá na escola,
11:51as crianças foram crescendo nesse cenário que não existia essa permissão,
11:56para a gente isso era muito natural.
11:57A gente não viveu aquele silêncio, né?
12:01Que a escola silenciosa, ela é uma tristeza, né?
12:05Assim, não dá.
12:07Não tem coisa, você entra, quando a gente está de férias, a gente fala assim,
12:09gente, que saudade, porque escola é vida, é barulho, é troca.
12:14Então, quando ele entrou lá e falou isso para a gente,
12:16e um especialista de educação, foi muito forte esse depoimento.
12:21Mas aí depois a gente começou a escutar, então, do ano passado para cá,
12:25esses relatos das escolas, onde falam exatamente sobre isso.
12:30As crianças voltaram a brincar no parque, a suar, a jogar.
12:35Então, isso tem tantos ganhos de socialização, né?
12:40Da própria endorfina no corpo, do exercício físico que está lá correndo,
12:44jogando futebol, enfim, que está reaprendendo a conviver.
12:50Agora, num primeiro momento, quando houve essa proibição,
12:53houve uma reação por parte dos alunos?
12:56A senhora sabe dizer se teve aluno que, como é que eu vou fazer?
12:59Com certeza.
12:59Longe do meu celular, né? Como é que eu vou ficar?
13:02Com certeza, assim, de novo, lá na escola, a gente nunca teve,
13:08mas não quer dizer que em alguns momentos também,
13:11os meninos não tentassem levar, ou não levassem escondido,
13:15e a gente conversava, a gente alertava, a gente explicava.
13:19Então, isso foi visto por muitas instituições.
13:22Muitos alunos completamente dependentes, Fernando.
13:27Então, assim, como é que eu, de repente, vou ficar sem aquele aparelho?
13:33Alunos que iam para banheiro com o celular escondido
13:36para ficar muito tempo no banheiro para poder usar o celular.
13:39Então, foi um processo.
13:42Eu acredito que vem sendo um processo,
13:44mas que as pesquisas também mostram já resultados de ganhos
13:50sobre, inclusive, você me dizia aqui um pouquinho antes,
13:55de uma notícia que a gente saiu outro dia falando
13:59de que as crianças, aumentou o número de crianças e jovens
14:03dentro das bibliotecas escolares.
14:05Então, é um benefício, é isso.
14:07A gente já está vendo, percebendo esse impacto positivo desse movimento.
14:14A notícia era exatamente essa,
14:16que os alunos com a proibição do celular,
14:18eles estão indo mais à biblioteca das escolas,
14:21alugando livros ou até passando tempo ali na biblioteca,
14:25lendo ali mesmo.
14:26Um tempo que antes ele poderia estar ali no celular,
14:29e agora estava utilizando esse tempo para ler,
14:33para estar ali na biblioteca lendo.
14:35Perfeito.
14:37Eu vejo de duas formas até esse dado, né?
14:41Eu sou uma otimista de carteirinha,
14:43mas nesse aspecto eu vejo assim,
14:45tem duas informações.
14:48Tem uma informação real, que é,
14:49aumentou o número de jovens indo para a biblioteca,
14:52que maravilha, independente de qual seja, maravilha.
14:55Mas me preocupa também de que se eu não estou procurando a biblioteca,
14:59porque é um lugar que eu pego um livro
15:01e fico quieto, sozinho, com o meu livro.
15:05Então, assim, a gente tem, precisa ainda olhar
15:08sobre, do ponto de vista dos relacionamentos,
15:12da convivência, que é o que a gente,
15:14esse, para nós, é o maior desafio dessa geração, né?
15:19Assim, a gente precisa ajudar os jovens a aprenderem,
15:22a voltar a conviver.
15:24Muito bem, professora, vamos fazer um rápido intervalo.
15:26Você que está em casa assistindo,
15:28não saia daí.
15:29A gente volta já, já.
15:30Estamos de volta.
15:43Hoje, o Ponto de Vista recebe a educadora Paula Carneiro Leão.
15:48Professora, e os professores, como foi que reagiram a essa determinação
15:52de que o aluno não ia poder ficar com o celular em sala de aula?
15:56Eu imagino que eles gostaram, né?
15:58Eu acredito que foi um alívio, né, Fernando?
16:00Assim, tem sido um desafio para o professor
16:03a sala de aula, né?
16:06Assim, a gente vem num movimento
16:08de que a educação no Brasil precisa,
16:13ela vem sendo igual há quantos anos, né?
16:16Então, muitas coisas mudaram e muitos formatos na educação continuam os mesmos.
16:25Deveriam estar caminhando para um futuro e um formato de sala de aula diferente,
16:33mas, infelizmente, não é o que a gente vê na maioria das escolas, né?
16:37E aí, dar conta dessa sala de aula,
16:40desse número de uma sala cheia de alunos e que, ainda por cima, tinha ali um concorrente
16:49muito, como é que a gente fala, não leal, né?
16:52Porque era uma concorrência desleal.
16:55Você ter o professor lá na frente, tentando dar um assunto,
16:58tentando trazer um repertório, uma aula mais prática,
17:01e um celular, muitas vezes, pelo amor de Deus, né?
17:05Um WhatsApp que mandava uma mensagem,
17:07um Instagram que ele postou uma foto e ele precisava ver se ia chegar,
17:11chegou uma notificação de quantas curtidas ele recebeu.
17:14Então, não era leal, não era leal isso aí.
17:17E o professor, com certeza, já vem recebendo os efeitos positivos também
17:23desse movimento dentro de sala de aula,
17:26apesar de ainda ser muito desafiador, porque é isso.
17:28Nem tudo ficou perfeito, ainda é um desafio para o professor
17:32conseguir que todos deixem realmente, não traga, está desligado,
17:38porque isso é um processo, né?
17:40A gente sabe que não acabou de vez.
17:42Como foi a reação dos pais?
17:44Porque eu imagino que alguns pais gostaram,
17:46outros podem ter achado que ficaram sem comunicação com os filhos.
17:51Sei lá, tem de tudo, né?
17:52Tem.
17:52Como foi a reação, como os pais receberam essa notícia
17:56de que os filhos não iam estar mais conectados, plugados a qualquer momento?
18:01Pois é. O que a gente escuta dos colegas de instituições,
18:07como a gente já disse lá na escola, a gente não teve esse tipo de novidade,
18:13porque a gente já não funcionava com celular,
18:15mas o que a gente vê é que as famílias,
18:18algumas em menor proporção, tiveram um pouco de dificuldade.
18:22Como eu me comunico com o meu filho,
18:24como é que eu falo com ele por alguma coisa ou outra,
18:27mas grande parte das famílias, elas gostaram, elas ficaram felizes,
18:34porque, na verdade, o que acontecia é que os pais estavam se sentindo
18:38sem força, sozinhos.
18:41Eles sabiam que não era ideal que o filho tivesse com o celular na sala de aula,
18:45mas eles não conseguiam, sem essa ajuda,
18:49fazer com que os adolescentes não usassem.
18:51Até porque eu peço para o meu filho não levar,
18:54eu não dou o celular para o meu filho, mas o coleguinha leva,
18:57a família do coleguinha dá,
18:59então como é que eu reúno forças para dizer os nãos que eu preciso dar?
19:04É, porque depois o filho vai chegar em casa dizendo,
19:06ó, mas o meu colega estava lá com o celular dele, né?
19:09Exatamente, exatamente, Fernanda.
19:11Mas a forma como a lei está sendo implantada,
19:14está proibindo mesmo, né?
19:16O aluno, eu acho que ele desliga o celular quando chega na escola,
19:20tem algum local para guardar o celular,
19:22como é que tem acontecido nas escolas, de modo geral.
19:25Algumas escolas estão fazendo lockers, né?
19:28Você tem que deixar lá nos armários,
19:30você tem que...
19:31É um desafio, porque, veja,
19:34as relações entre as escolas e os adolescentes,
19:41aí é que a gente, talvez,
19:45poderia até estender mais e conversar mais
19:49sobre alguns aspectos que se entrelaçam nisso aí, né?
19:53Como é que estão as relações de escolas e adolescentes?
19:57A gente viu recentemente naquela minissérie que a Netflix passou, né?
20:02Que nessa minissérie, por exemplo,
20:05o que mais me chamou a atenção foi sobre a escola que aparecia naquela minissérie.
20:11E naquela escola, eu fiquei chocada pessoalmente, assim,
20:16porque quando eu parei, que assisti e tudo mais,
20:21eu disse assim, meu Deus,
20:22será que essa escola é uma escola de quantos anos atrás?
20:25Porque é uma escola onde ela parece um presídio.
20:28As relações frias, um ambiente completamente tóxico,
20:33onde não há escuta, onde não há intimidade, vínculo,
20:38e a aprendizagem precisa de vínculo para acontecer.
20:42Muitos alunos, né?
20:44O bullying acontecendo, os professores são...
20:47É um caos aquilo ali.
20:49E quando acabou aquela minissérie,
20:53que a gente para e reflete um pouco,
20:55deu um desespero de dizer assim,
20:57meu Deus, isso foi lançado agora.
21:00E não era algo que estava retratando no passado, né?
21:04Retratava uma escola no presente, na Inglaterra, nesse momento.
21:10Então, para mim, foi extremamente chocante assistir aquilo.
21:14De certa forma, é um alívio perceber
21:17que a gente tem feito um trabalho, modéstia à parte,
21:20completamente diferente do que estava posto ali,
21:24do que está posto na educação.
21:26Mas somos uma gotinha no oceano.
21:29Mas é o que a gente precisa ter coragem de fazer,
21:33enquanto gestor, enquanto família,
21:36precisa solicitar, fazer escolhas,
21:39enquanto políticos e governantes,
21:42cuidar dessa geração que está aí,
21:44cuidar desses professores, né?
21:46Assim, a gente está...
21:48Todas as notícias diariamente falam sobre a ameaça
21:50que a gente tem de um apagão de profissionais na educação.
21:53Porque quem quer estar, como naquela série,
21:58dentro da sala de aula,
21:59vivendo num ambiente tão insalubre, Fernando?
22:04Eu vi uma matéria, eu não sei dizer exatamente onde foi esses dias,
22:08que falava que a saúde mental no Brasil, né?
22:12Está...
22:13Os números são muito elevados, né?
22:16De pessoas com afastamentos,
22:19de doença mental do ambiente de trabalho.
22:21E um dos ambientes onde esses números são maiores,
22:24são nas escolas.
22:26Então, quem vai cuidar desses jovens?
22:29Como é que a gente...
22:30Como é que a gente se dá as mãos para mudar esse cenário?
22:33Então, aquela escola realmente chamou muito a atenção,
22:35porque é um retrato do que está acontecendo hoje.
22:39E a gente precisa fazer algo para mudar.
22:42Quais são as consequências desse excesso de telas
22:45na vida das pessoas, de um modo geral,
22:47não só dos alunos, né?
22:48A gente está ali toda hora recebendo novas informações,
22:52muitas que podem ser úteis, muitas inúteis, né?
22:56E estamos ali o tempo todo.
22:59São telas que prendem a nossa atenção
23:02e a gente muitas vezes não consegue se concentrar por um minuto sequer, né?
23:06Está sempre...
23:08Você começa a ler qualquer coisa e já passa adiante para a próxima.
23:11Quais as consequências disso para a sociedade, de um modo geral?
23:15Então, eu não sou psicóloga, né?
23:18Então, eu acredito que a gente vai ouvindo especialistas.
23:22O que eu posso dizer muito é sobre o desenvolvimento que a gente tem visto
23:28das pessoas, das organizações, né?
23:30Particularmente, antes de educação, eu trabalhei...
23:34Eu vim do mercado de indústria e varejo,
23:37depois trabalhei como RH com bastante tempo,
23:40com desenvolvimento de pessoas, ainda faço um trabalho pontual ali.
23:43Eu digo que é uma oportunidade de oxigenar, ampliar repertório,
23:49entender o que está acontecendo no mundo,
23:51para que aqui dentro da escola a gente possa trabalhar com as crianças e os jovens
23:56as necessidades e as demandas que eles vão precisar para o ambiente de trabalho.
24:00E aí, a gente tem a oportunidade de ouvir o tempo inteiro
24:03sobre essa funcionalidade do celular na vida da gente, né?
24:09Lá na escola, a gente fica com os adolescentes das 8 às 15
24:12e a gente costuma almoçar com eles e almoçar com a equipe inteira.
24:17Então, assim, é uma grande família almoçando juntos e tal.
24:20E, vez ou outra, a gente pega um colaborador, né?
24:25Que está ali, que eles podem usar.
24:27E aí, a gente vê um colaborador na hora do almoço,
24:29naquela grande família ali, vendo alguma coisa no celular.
24:34E aí, é preciso que a gente trabalhe isso com todos nós.
24:40Porque nós estamos numa escola que cuida das pessoas,
24:44que desenvolve.
24:44A gente tem uma preocupação enorme com isso.
24:47A gente faz esporte, oferece esporte lá dentro,
24:51para que os funcionários também possam fazer.
24:54Enfim, tem um ambiente, eu acredito, muito bacana.
24:58Mas a gente precisa conversar o tempo inteiro
25:00sobre esse assunto aqui, como a gente está fazendo.
25:03Grupos de apoio, de dizer assim...
25:05Isso afeta a nossa capacidade de concentração, né?
25:07Porque a gente vê, por exemplo, você pega o Instagram, né?
25:11O TikTok, seja lá o que for.
25:13Você vai passando as telas e você não se detém muito tempo em nenhuma delas.
25:18Mas, hoje, para parar, para ler um livro,
25:22você passa facilmente no celular, 40 minutos, uma hora.
25:26Mas, para parar, para ler um livro por meia hora,
25:29você muitas vezes não consegue, né?
25:30Você acaba se distraindo, indo fazer outra coisa.
25:34A leitura, a concentração, parece que deixaram de ser prioridades, né?
25:39Isso.
25:40É o pensamento acelerado, na verdade, como a gente fala.
25:43E, toda hora, você está recebendo esse impulsionamento, né?
25:48Aquela atividade cerebral muito agitada,
25:50que é o que a neurociência vem falando para a educação,
25:53desse impacto, ela não acontece só para a criança e o adolescente.
25:58E tem mais, né?
26:00Tanto do impacto na nossa vida,
26:03quanto como é que eu falo para o meu filho
26:05reduzir o uso do celular, se eu sou o exemplo do meu filho.
26:10Então, assim, ó, filho, não fica no celular, não, tá?
26:12Mas eu estou aqui.
26:14Então, existe um trabalho a ser feito em conjunto.
26:18Família, sociedade, né?
26:20Eu costumo dizer que está na hora da gente se desconectar.
26:24Sabe quando aqueles lugares que você vai e aí tem aquelas plaquinhas...
26:27Proibido o celular.
26:28É, aqui não tem Wi-Fi, conecte-se com a natureza.
26:31É muito por aí.
26:32A gente precisa voltar a enxergar a beleza na natureza,
26:38a contemplar, porque isso também faz,
26:42gera para o nosso cérebro informações que vão estimular áreas que estão desestimuladas
26:49para que a própria criatividade aconteça,
26:52para que a gente desenvolva áreas cerebrais
26:54que serão muito importantes.
26:55O relacionamento entre as pessoas também, né?
26:57Amizades.
26:57Com certeza, é o que a gente falou da própria biblioteca.
27:00Se ela não estivesse sendo usada com um fim,
27:03realmente, se ela estivesse servindo, às vezes, como fuga.
27:06Então, o conversar, veja,
27:11eu vejo, a gente percebe que, principalmente as famílias, os pais,
27:15a gente sofre com dores muito parecidas, Fernando,
27:19mas a gente não senta para conversar.
27:22A gente fica no celular, vendo o Instagram, o TikTok,
27:26de pessoas verdadeiras ou não, né?
27:29Que saem daquele sorriso perfeito e depois estão em depressão,
27:32mas a gente não fica sabendo.
27:34E a gente esquece de compartilhar as histórias reais.
27:37Então, assim, a dor que eu estou tendo,
27:39da dificuldade com o meu filho adolescente, você com o seu,
27:42o que você está fazendo, eu também,
27:44ou sobre qualquer assunto que seja.
27:47Mas a gente troca isso por uma vida perfeita
27:50que gera para a gente uma sensação de frustração
27:55e só deprime a gente em relação ao resto, né?
28:01Sem dúvida, esse é um assunto que daria para a gente conversar muito ainda,
28:06mas, infelizmente, o nosso tempo está acabando.
28:08Eu agradeço demais a sua participação aqui no Ponto de Vista, Paula.
28:12Eu que agradeço. Foi um grande prazer, Fernando. Obrigada.
28:15Obrigado a você.
28:15E obrigado a você também pela audiência e companhia.
28:19A gente volta na semana que vem.