O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou o decreto que impõe tarifas de 50% aos produtos brasileiros, mas o texto inclui exceções. Setores como petróleo, laranja e aviação, que estavam entre os mais preocupados, foram isentados. Ao todo, 694 produtos brasileiros ficaram fora da sobretaxa. Cristiano Vilela e José Maria Trindade comentaram. Reportagem: Matheus Dias Comentaristas: Cristiano Vilela e José Maria Trindade
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00:00O tarifaço de Donald Trump sobre o Brasil poupou produtos importantes como aviões, petróleo e o aço.
00:08Essas isenções animaram o mercado, mas os setores mais atingidos pretendem negociar com os Estados Unidos.
00:15Matheus Dias.
00:16O Ibovespa encerrou a quarta-feira em alta de 0,95% após a Casa Branca confirmar exceções no tarifaço, promovido pelo presidente americano Donald Trump.
00:27O presidente dos Estados Unidos assinou um decreto implementando uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o valor total da taxa para 50% a partir de 6 de agosto.
00:39Entre as exceções estão o suco de laranja e outros produtos agrícolas, petróleo e derivados, metais e aeronaves civis.
00:47Isso fez as ações da Embraer dispararem mais de 10%, já que os americanos compram 45% dos jatos comerciais e 70% dos jatos executivos da fabricante brasileira.
01:00Analistas de mercado consideram que Trump fez jus à fama que recebeu em Wall Street de amarelar na última hora, mesmo após meses de ameaças e promessas de uma negociação dura.
01:11Avaliação que é reforçada por Bruna Alleman, head de investimentos internacionais na Nomos.
01:16Essa medida foi muito forte no discurso, mas os principais produtos de exportação foram protegidos, evitando então um impacto econômico imediato mais severo aqui no Brasil.
01:31O mercado também interpretou como um recado político e não um ataque comercial.
01:37Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, os itens protegidos da nova tarifa de Trump representam 18,4 bilhões de dólares em exportações do Brasil aos Estados Unidos em 2024.
01:50O valor corresponde a 43,4% do total de 42,3 bilhões de dólares exportados pelo Brasil para o mercado americano no ano passado.
02:02De acordo com a Anchan, 694 produtos ficaram de fora do decreto de Trump.
02:08No entanto, setores importantes como carne bovina e café, dois dos produtos mais vendidos aos americanos, além de frutas, etanol, máquinas e equipamentos,
02:18Outros manufaturados e itens com grande relevância para a pauta exportadora brasileira ficaram de fora da lista de exceções e enfrentarão o aumento da tarifa.
02:28O secretário do Tesouro adotou um tom cauteloso ao analisar o decreto da Casa Branca.
02:33Para o Rogério Seron, as exceções amenizam o tarifaço, mas o impacto não é pequeno.
02:39Dentro dos cenários possíveis, é um cenário que não está no pior cenário possível.
02:44A decisão de aplicar a tarifa foi tomada por Donald Trump, que assinou uma ordem executiva e declarou uma nova emergência nacional para justificar a medida.
03:12O presidente americano considera que as ações do governo Lula constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos.
03:24Em comunicado, Washington cita perseguição política e processos politicamente motivados do governo do Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e milhares de apoiadores dele.
03:35Para a Casa Branca, as práticas são graves violações dos direitos humanos que minaram o Estado de Direito.
03:41O comunicado afirma ainda que membros do governo brasileiro tomaram medidas sem precedentes para coagir de forma tirânica e arbitrar empresas americanas a censurarem o discurso político,
03:54expulsarem usuários de suas plataformas, entregarem dados confidenciais de usuários americanos ou modificarem suas políticas de moderação de conteúdo.
04:04O presidente Lula, que participava de um evento após o anúncio do tarifaço, ironizou a decisão do governo americano.
04:10Eu estou saindo daqui com preta porque eu vou me reunir ali para defender outra soberania, a soberania do povo brasileiro em função das medidas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos.
04:23Enquanto o governo discute medidas para compensar as tarifas, empresários já se movimentam.
04:29O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil informou que seguirá em tratativas com seus pares dos Estados Unidos,
04:36com o intuito de que o produto passe a integrar a lista de exceções elaboradas pelo governo americano.
04:41Há uma necessidade de negociação e é essa agenda que nós vamos trabalhar daqui para frente.
04:45Nossos esforços agora é criar um ambiente para iniciar a negociação.
04:51Vários países foram taxados e a negociação aconteceu após essas tarifas.
04:57Então, não é novo o assunto de negociar após a imposição de tarifas.
05:02O que a gente está correndo contra o tempo, com senso de urgência,
05:05foco na pauta econômica de forma pragmática para que esse tempo da tarifa seja o menor possível.
05:10Então, essa é a nossa agenda, seguir com o Washington, seguir com o nosso governo,
05:15buscar a negociação com senso de urgência.
05:18Ações semelhantes serão tomadas por representantes de outros segmentos afetados.
05:23Hora de análise aqui no Jornal da Manhã.
05:25José Maria Trindade e Cristiano Vilela já conosco para que a gente possa repercutir os principais temas
05:31desta quinta-feira e, claro, começando aí pelo tarifaço.
05:35Zé, vou começar por você.
05:37Bom dia, aliás, para os dois. Sejam bem-vindos.
05:39Com essa nova data, ainda existe uma esperança de conseguir negociar e trazer para essa lista de exceções
05:46itens que ficaram de fora dela e também trabalhar agora com o que foi posto à mesa, de que forma.
05:57Acho que a gente não está com o áudio do Zé.
06:00Vilela, vou deixar você começando essa análise enquanto o Zé ajusta o áudio
06:05para que a gente possa também ouvir a análise dele.
06:07Bom dia para você também.
06:09Bom dia, Soraya.
06:11Bom dia, Nonato.
06:12Bom dia, Zé Maria.
06:13E todos que acompanham o Jornal da Manhã.
06:16Olha, agora pelo menos nós temos mais claramente o contorno em que deve se dar o tarifaço a partir agora do dia 6 de agosto.
06:24É evidente que quando se trata de uma sobretaxação de itens importantes para o Brasil,
06:31como a carne, por exemplo, itens como café, itens valiosos do ponto de vista comercial,
06:38de fato a notícia não é boa e não deve ser comemorada.
06:42Mas o que eu vejo de positivo é que nós temos um hall bastante significativo de itens que ficaram de fora dessa sobretaxação
06:51e especialmente o fato de que agora está posto à mesa uma relação muito mais comercial,
06:57muito mais pautada em termos comerciais, o que se não facilita, mas pelo menos permite que as partes envolvidas possam sentar e promover acordos de natureza comercial.
07:09Enquanto o tema estava envolvido muito mais em aspectos políticos, ficava difícil promover qualquer tipo de negociação.
07:17A partir do momento em que nós já temos os contornos mais bem definidos e o aspecto econômico mais claramente colocado à mesa,
07:26aí sim, isso facilita e o que a gente espera é que a partir de agora o governo brasileiro consiga promover negociações,
07:35de alguma forma dialogar com o governo americano para que a gente possa melhorar a situação,
07:42fazer com que esse tarifácio atinja o menos possível a economia brasileira.
07:47Porque mesmo diante dessas restrições que foram estabelecidas no decreto de ontem,
07:53ainda assim vai afetar em cheio os setores expressivos da nossa economia.
07:58José Maria Trindade, queria te ouvir também.
08:01Sim, como diz o Vilela, acerta em cheio vários setores, outros foram poupados, ao menos por enquanto.
08:08Saiu menos grave do que se imaginava, Zé? Qual é a tua avaliação? Bom dia.
08:13Pois é, são as estratégias de negócio, as relações continuam tensas, viu?
08:17Muito bom dia, Nonato. Bom dia, Soraya, bom dia, Vilela e bom dia a você que nos acompanha aqui no Jornal da Manhã.
08:23É isso mesmo, Vilela. Há uma separação agora do debate político, ideológico de negócios.
08:29Isso não combina, a emoção não combina com o negócio. O negócio tem que ser pragmático.
08:34E os Estados Unidos tem que ser pragmáticos na ideia de que tem lucros com o Brasil.
08:40O café, por exemplo, que está fora da lista de exceção, ele é importado in natura pelos Estados Unidos,
08:47processado e depois vendido. E os Estados Unidos ganham muito com esse processamento do nosso café,
08:54que chega lá in natura. Então, é uma grande vantagem para os norte-americanos.
08:59Donald Trump sofreu uma pressão muito grande de empresários americanos que levaram,
09:05olha, isso aí não é vantagem para nós aqui nos Estados Unidos fazer esse tipo de embargo aos produtos brasileiros.
09:12Então, assim, essa pressão funcionou.
09:15E outras medidas políticas de Donald Trump indicam que as relações não estão boas.
09:21Me disseram no Ministério da Fazenda de que há um trabalho do governo para redirecionar as exportações hoje
09:28para os Estados Unidos, para outros países.
09:31E que pelo menos ali 40% a 50%, esse redirecionamento será mais fácil.
09:37Mas isso é demanda tempo, de três a quatro meses.
09:40É preciso contratos, aspectos legais que demoram.
09:44Não é assim de uma hora para outra.
09:46Mas acendeu uma luz.
09:48O Brasil não pode ficar dependendo de nenhum país.
09:53Porque me disse a ministra do Planejamento, Simone Tevitt, o seguinte,
09:59de que antes, há 15 anos atrás, 20 anos atrás,
10:02Se houvesse um embargo assim, o Brasil estaria numa situação caótica.
10:08Mas agora já há uma redivisão.
10:10Mas atenção, hein?
10:11O Brasil está ficando dependente da China?
10:14Se houver um embargo da China, nós sofreremos muito.
10:18Então, é preciso mesmo diversificar ali os caminhos das exportações brasileiras.
