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Transcrição
00:00E vamos repercutir a cúpula dos BRICS com uma participação extra dele, que é colunista do Olhar Digital News,
00:09professor da Unifesp, neurocientista e futurista.
00:14Vamos receber o doutor Álvaro Machado Dias aqui ao vivo para falar um pouco com a gente sobre essa declaração do BRICS.
00:23Olá, doutor Álvaro Machado Dias, uma participação especial aqui hoje. Boa noite.
00:28Boa noite, Marisa. Tudo ótimo, doutor Álvaro. Vamos falar sobre essa declaração tão importante.
00:38Bom, em relação ao que o mercado e os governos vêm apresentando em termos de uso e regulamentação da inteligência artificial,
00:46doutor Álvaro, como que nós podemos avaliar essa declaração que foi divulgada hoje?
00:51Olha, a declaração conjunta da cúpula do BRICS, ela defende algumas coisas que a gente pode dizer que elas transmitem mensagens muito claras,
01:07vamos dizer assim, do ponto de vista de mercado e governo.
01:11Então, o primeiro ponto é o seguinte, né?
01:14Há uma defesa do uso do código aberto, com compartilhamento global de tecnologias, faz papo todo,
01:20que é o oposto do que quer, por exemplo, a Microsoft, o Google, a OpenAI, a Antropic.
01:27Mas, olha que interessante, é exatamente aquilo que empresas como o DeepSeek, Baidu,
01:34também a meta, vem pleiteando, né?
01:37Então, assim, é algo, é uma maneira de ver as coisas, né?
01:42A abordagem focada em código livre, que é muito mais da linha chinesa do que americana,
01:48mas não deixa de ser verdade que nos Estados Unidos há essa vertical também, né?
01:52Eu acho que a meta é o exemplo paradigmático aí.
01:56Entre os trechos específicos, quando a gente vai para aspectos mais pontuais, assim,
02:02da declaração, eu acho que um que eu achei interessante é a ideia de uma governança global
02:11norteada pela ONU, tá?
02:13Então, eu achei que essa é uma ideia válida, é uma ideia, assim, para reduzir a fragmentação
02:20e, ao mesmo tempo, manter a autonomia dos países, é uma lógica boa.
02:27Mas vale lembrar que, uma coisa que a gente já discutiu aqui,
02:31no caso das armas autônomas, nenhuma das grandes potências bélicas quis assinar uma resolução da ONU
02:39favorável à eliminação da produção de armas autônomas.
02:44Então, assim, a ONU, ela não está passando por um bom momento, por assim dizer.
02:49Então, eu sou cético em relação a essa possibilidade ser implementada na prática,
02:55ainda que eu acho que, enquanto manifestação de boas intenções, ela é válida.
03:00Eu acho também que chamou minha atenção o destaque à punição de erros algorítmicos e vieses também, tá?
03:08Inclusive, seleção profissional, um enfoque em direito das minorias.
03:14É a típica coisa que, no final das contas, ela é meio vazia quando a gente vai olhar em termos de implementação.
03:23Tipo, na prática, quer dizer o quê?
03:25Direito das minorias.
03:26Um dos BRICS é o Irã, entendeu?
03:30Mesmo outros países também estão aí na linha de que as minorias não têm lá muitos direitos.
03:39Mas o ponto é que, como estratégia discursiva, é claramente uma estratégia que vai na linha contrária da defesa das empresas americanas, tá?
03:53Então, eu acho que tem muito das dominantes, das big techs, tá?
03:58Então, eu acho que tem isso.
04:00Outro ponto importante, Marisa, e aí eu fecho esse comentário do ponto de vista de mercados e governo.
04:05Houve uma manifestação em sentido ao combate à produção e veiculação de fake news.
04:15E, se a gente parar para ver, o Brasil acabou, a gente, inclusive, repercutiu aqui, discutiu longamente
04:21a declaração de inconstitucionalidade do artigo 19 do marco civil da internet,
04:29que, em última análise, vai ter um efeito grande sobre isso.
04:33E, enfim, tem aspectos muito positivos, mas também tem aspectos negativos,
04:39porque, afinal de contas, no limite, as big techs começam, as redes sociais, a derrubar conteúdos
04:45de maneira preventiva, independentemente da sua natureza,
04:49porque não vão gastar com humanos fazendo análise, então vão derrubar com tecnologia mesmo.
04:55Então, no final das contas, essa é mais uma declaração que, na prática,
05:00ela tem um sentido ambíguo, assim, até que ponto ela é boa, até que ponto ela é ruim.
05:06É difícil de determinar em si, porque não é determinável em si.
05:10E também, contextualmente, né?
05:12Pensa no que é considerado fake news no Irã, por exemplo,
05:17pegando como exemplo, mesmo na China, entendeu?
05:20Onde a liberdade de expressão, ela claramente não existe.
05:24Então, aí a gente vê que muito dessa declaração,
05:28ela tem algo de manifestação de princípios,
05:32ela dá uma cutucada nas empresas americanas,
05:35mas, na prática, não há tanta sustentabilidade, assim, por trás,
05:41como um exemplo de se discutir fake news,
05:44quando a gente está falando da liberdade de expressão
05:47de países membros do grupo, como a gente sabe quais são.
05:52Pois é, e falando nisso, inclusive, o grupo do BRICS, lembrando,
05:56ele é muito diverso, como você mesmo está dizendo, né, doutora Alva?
05:59Porque nós temos a China, por exemplo,
06:01que está na dianteira da corrida de inteligências artificiais.
06:05Mas também temos países que estão muito atrás,
06:08tecnologicamente falando.
06:10Essa união entre diferentes países e grandes populações
06:14pode movimentar essa corrida de alguma forma, doutor Álvaro?
06:19Olha, eu acho que é importante a gente evitar,
06:23idealizar a coesão desse bloco, tá?
06:26Inclusive, vale a pena lembrar a origem do bloco.
06:29Primeiro era BRICS, sem o S, tá?
06:32Então, esse acrônimo surgiu em 2001,
06:35com a ideia de que alguns países emergentes
06:39mereciam uma atenção especial dos investidores, tá?
06:44Então, Brasil, Rússia, China e Índia.
06:48Depois entrou a África do Sul.
06:50E aí, depois, o bloco foi se expandindo,
06:52o que, aliás, nunca foi do interesse brasileiro,
06:55porque a autoridade brasileira, o protagonismo brasileiro,
06:58foi sendo diluído também.
06:59Mas, enfim, o bloco surgiu a partir de uma percepção
07:06do mercado descentralizada e não o contrário, né?
07:10Nunca houve aí uma manifestação de interesse de base e tudo mais.
07:13Então, eu diria que é um bloco que,
07:16na sua essência, ele nunca foi muito coeso.
07:19E eu acho que isso é particularmente importante
07:22quando a gente analisa do ponto de vista
07:25dos regimes governamentais em voga nesses países,
07:29de como esses países tratam política interna e externa
07:34e assim por diante.
07:35O Brasil é diferente de muitos outros BRICS.
07:40E eu acho que a corrida tecnológica também,
07:44ela se expressa através dessa coesão apenas parcial,
07:49para dizer o mínimo, tá?
07:51Então, por exemplo, hoje em dia,
07:53quando a gente pensa do ponto de vista de LLMs,
07:56de modelos de linguagem, Transformers, né?
07:58Então, essas tecnologias de ponta, de IA,
08:02a gente vê que os Estados Unidos e a China
08:05dominam essa corrida, essa disputa,
08:09praticamente de igual para igual, quase isso.
08:12E a Europa tem uma participação menor
08:14e o resto do mundo não é protagonista de verdade.
08:18E aí a gente vê que o Xi Jinping estrategicamente
08:21nem participou desse encontro,
08:24entre outras razões,
08:24para não criar suscetibilidade com os americanos, entende?
08:28Então, acho que a gente tem que relativizar isso.
08:31Já está claro que há um resumo da ópera
08:34que há um alinhamento do bloco
08:37muito mais com o modelo chinês
08:39do que com o modelo americano.
08:41Mas isso é de se entender,
08:42porque o modelo chinês é um modelo mais open source.
08:44É óbvio que está no interesse de quem não desenvolve
08:46diretamente a tecnologia, não é nem por alinhamento ideológico algum.
08:50Muito pelo contrário,
08:50é pragmaticamente interessante
08:53apoiar essa estratégia,
08:56porque é a estratégia que permite a gente
08:57customizar muito mais
08:58e gerar nossas próprias versões locais,
09:01nosso próprio deep-seek, por assim dizer.
09:03Mas tirando isso,
09:04eu acho que os interesses são muito diversos no bloco.
09:08Se você quiser comentar isso,
09:09discutir esse assunto especificamente, a gente pode.
09:11Mas para mim é muito claro,
09:12isso é um exemplo,
09:13vai indo direto ao ponto,
09:15é o da Rússia.
09:16O que a Rússia quer,
09:17do ponto de vista de IAR,
09:19é bastante distinto daquilo que o Brasil quer.
09:23Entendo.
09:24Agora, inclusive, essa discussão,
09:26por exemplo, com o apoio da China,
09:28como você mesmo diz,
09:29é tão diverso,
09:31de alguma forma,
09:33os outros países ganham com essa proeminência,
09:37digamos assim, da China na inteligência artificial,
09:40de alguma forma?
09:40Então, eu acho que não necessariamente,
09:45eu não estou vendo isso,
09:48muito pelo contrário,
09:49eu vejo que o investimento chinês é bastante endógeno,
09:52agora, não por causa do apoio chinês,
09:55mas eventualmente até a revelia da relação com a China,
10:00é bastante claro que há países aqui,
10:04membros do BRICS,
10:05que estão fazendo um esforço sério
10:08para se posicionar dentro da corrida da inteligência artificial.
10:12Então, eu citei a Rússia,
10:14no caso,
10:16qual que é, assim,
10:17uma indústria que está sendo fortemente investida na Rússia,
10:21nesse momento,
10:22é o do desenvolvimento de armas autônomas,
10:24sobretudo drones,
10:25em função da invasão da Ucrânia,
10:28isso está muito claro,
10:29ele é um celeiro de desenvolvimento de IA,
10:31também porque é um país que,
10:34historicamente,
10:34tem programadores fantásticos,
10:36matemáticos computacionais,
10:38de primeiríssima linha,
10:39então,
10:40isso é muito importante,
10:41então,
10:42há essa base já para trabalhar,
10:44do ponto de vista de formação,
10:45de capacity.
10:47Os Emirados Árabes,
10:48que são outro membro,
10:50estão numa posição oposta,
10:52participando de grandes projetos de energia,
10:55servidores americanos,
10:56americanos,
10:56com contratos bilionários,
10:58assinados com o Open AI,
10:59e outros,
11:00e fundos de investimento,
11:01aliás,
11:01a gente repercutiu isso aqui,
11:03naquela viagem,
11:04da cúpula do governo americano,
11:08e de empresas americanas,
11:10ao Oriente Médio.
11:11A Índia,
11:12por sua vez,
11:12tem seu próprio desafio,
11:14os indianos querem competir com os chineses,
11:17de igual para igual,
11:17mas,
11:18falta bastante,
11:19assim,
11:20e,
11:20aliás,
11:20uma das suas grandes vantagens competitivas,
11:22no setor,
11:23que é uma quantidade massiva,
11:25de programadores,
11:26de nível médio,
11:27ela está evaporando,
11:28em função da própria inteligência artificial,
11:30olha isso.
11:31E,
11:31para fechar,
11:32eu vejo que o Brasil,
11:34ele tem oportunidades em hidrelétricas,
11:36potencialidades setoriais,
11:38como na aviação,
11:39etc,
11:39e tal,
11:39e tal,
11:39mas,
11:40eu vejo que,
11:41assim,
11:42a nossa grande oportunidade aqui,
11:44e,
11:44aí,
11:45eventualmente,
11:46o aporte,
11:47o apoio,
11:48o chineses pode ser interessante,
11:50é de promover a alfabetização massiva,
11:53redução das desigualdades,
11:54por meio do letramento tecnológico,
11:57enfim,
11:58reduzir,
11:59essas assimetrias internas,
12:01que existem no país,
12:02muito mais,
12:03do que pensar em ser pioneiro,
12:05e tal,
12:05não,
12:06é fortalecer o mercado interno,
12:07fortalecer a classe média,
12:09é elevar a capacidade,
12:11é o entendimento médio da população,
12:15é tornar o brasileiro muito mais apto a processar e produzir em alto nível,
12:21ou pelo menos em nível médio,
12:22em oposição a um modelo antigo,
12:24muito mais analógico,
12:26e de baixa qualidade na transformação informacional.
12:29Bom,
12:30só vendo os próximos capítulos mesmo,
12:32as ações reais,
12:33para ver as reais intenções,
12:35até de coesão,
12:36de conseguir uma coesão de um grupo tão heterogêneo assim.
12:41Doutor Álvaro,
12:42mais uma vez,
12:43muitíssimo obrigada por participar aqui com a gente,
12:46para trazer todo esse pensamento a respeito desse tema,
12:49que é muito importante nesse momento.
12:52Muitíssimo obrigada,
12:53e aliás,
12:54e nos encontramos ainda essa semana,
12:56é claro,
12:56com o olhar do amanhã.
12:57Muito obrigada,
12:58um beijo e boa noite.
13:00Agradeço,
13:01até quarta.
13:01Até.
13:02É isso aí,
13:04pessoal,
13:04está aí uma participação especial e extra,
13:06o doutor Álvaro Machado Dias,
13:08que é neurocientista futurista,
13:10colunista do olhar digital,
13:12e ele volta na quarta-feira,
13:14com mais um quadro da semana,
13:16no olhar do amanhã.
13:18Bom,
13:19e na capa do nosso site,
13:21inclusive,
13:22pessoal,
13:22vocês acompanham,
13:24encontram matérias,
13:26com mais desdobramentos,
13:28da cúpula do BRICS,
13:29um assunto importante e pontual.
13:32O grupo destacou,
13:33inclusive,
13:33os riscos das mudanças climáticas,
13:36e a necessidade de investimentos,
13:38para frear a crise global.
13:40O texto classifica esse momento,
13:42como um dos maiores desafios,
13:44do nosso tempo.
13:45Vale a pena,
13:46conferir em,
13:47olhardigital.com.br.
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