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00:07Agora com a gente Mauro César Pereira, diretamente de Miami, nos Estados Unidos, que acompanhou em loco essa partida, Flamengo 2, Bayern de Munique 4.
00:18Mauro César, a sua análise dessa derrota no Flamengo e esse grande jogo do Bayern de Munique, Mauro. Boa noite.
00:25Boa noite, Guilherme. Boa noite a todos. O que vimos aqui hoje, acho que é aquele chamado choque de realidade, né?
00:30O começo da competição, e aí o bom desempenho de times brasileiros em jogos de fase de classificação, despertou, até de forma oportunista em parte da imprensa brasileira,
00:40essa ideia de que não, não são tão poderosos, vão ganhar, pode dizer uma coisa muito clara, fosse qualquer time sul-americano jogando aqui contra o Bayern hoje,
00:48da maneira que jogou a equipe alemã, o destino não seria muito diferente. O roteiro poderia ser outro, a forma como iria perder.
00:55Mas ia perder. Porque o Bayern jogou hoje como ele joga um jogo da Champions League, um jogo do Campeonato Alemão contra um Dortmund,
01:01contra um Leverkusen, contra um RB Leipzig, contra uma equipe que o desafia, né?
01:07Claro, ele teve momentos na temporada que perdeu. Perdeu para o Mainz, né? Por exemplo, perdeu para o Borrum, que foi repaixado,
01:12em jornadas infelizes, jornadas ruins. Perdeu por 3x0 para o Feyenoord, porque nenhum time joga bem em todas as partidas.
01:18E foi o que aconteceu. Nessa competição, fez um jogo não muito bom contra... O primeiro jogo nem quanto?
01:23Quanto o time lá da Nova Zelândia, o Alckmin, não dá. Mas fez um jogo não muito bom contra o Boca,
01:27fez um jogo com reservas e perdeu para o Benfica, que dispensa até maiores comentários.
01:31Mas hoje acionou o modo jogo à vera. E tanto que no final do jogo, você vê o Muziala, o Kane,
01:38e teve mais um que tomou cartão amarelo no final, o Leimer.
01:41Os três tremaram o cartão amarelo por entradas duras.
01:44Quando o jogo estava 4x2, o Flamengo já estava entregue no jogo.
01:47Ou seja, levaram o jogo realmente a sério. E quando um time desse nível leva a sério,
01:51praticamente você não consegue competir. É muito difícil.
01:54Os erros foram muito graves, mas eu entendo também que assim, não é minimizar os erros.
01:59Erros são erros e tem que ser criticados.
02:01Mas a competência do Bayern nessa pressão alta é um negócio impressionante.
02:06Eles estão em fim de temporada, gente.
02:08Já estão mais desgastados. Estava calor aqui, está calor aqui.
02:11Mas ainda assim, a organização da equipe, a maneira como pressiona, como reduz os espaços e as opções de passe,
02:18é algo que a gente não vê nos confrontos aqui.
02:20Você pode simbolizar isso no segundo gol, primeiro do Kane.
02:24O Arrascaeta vai receber uma bola na intermediária, ele está de costas para o campo ofensivo.
02:28E o Pamecano toma a bola dele com uma facilidade impressionante. Por quê?
02:32Rotações diferentes. Rotações diferentes.
02:35Isso explica um pouco por que o Arrascaeta, com tanto talento, nunca foi jogar na Europa.
02:40O ritmo dele, a cadência, é incompatível com esse tipo de jogo.
02:44Acho que aí é um erro do Felipe Luiz, tê-lo colocado de saída.
02:47Acho que deveria começar com o Bruno Henrique, que pressiona mais, tem mais força física, mais velocidade.
02:51Houve bolas no jogo em que ele não conseguiu chegar em contra-ataque, ele não tem velocidade, não tem arrancado a explosão.
02:57Não estou aqui culpando o jogador, só ilustrando, né?
03:00Para você perceber a diferença que há. O Luiz Araújo teve culpa direta em dois gols.
03:06Esse último e o terceiro gol.
03:08Mas o que acontece? Ele tentou sair jogando e perdeu a bola, porque o Flamengo estava toda hora dando bico para frente, isolando a bola.
03:15Não dá para jogar assim. E o bairro recuperava todas as bolas e venenciava novos ataques.
03:19A diferença entre o futebol de elite europeu e o futebol, podemos chamar assim, de elite da América do Sul, foi exposta hoje aqui.
03:25Foi colocado aqui em campo. Como foi, por exemplo, no Fluminense e o Manchester City, naquele Mundial que o Manchester City ganhou de 4 a 0.
03:32E em outros jogos que já vimos também.
03:34Alguém poderá dizer, ah, se o Flamengo jogasse fechado, como o Botafogo jogou contra o PSG.
03:38Eu posso dizer o seguinte, se o PSG jogasse contra o Botafogo, como jogou hoje contra o Miami,
03:42que o Palmeiras suou para empatar com o Miami, não foi isso?
03:45Alguém acha que o Botafogo venceria aquele jogo? Sério?
03:48É sério que acha que venceria aquele jogo?
03:49Se o PSG tivesse de uma outra jornada, com força máxima, jogando a Vera?
03:53Não ia adiantar. Uma hora ia tomar o gol e depois ia acontecer o quê?
03:57Ia acontecer que ia ser derrotado. Porque a diferença é muito grande.
04:01E hoje a gente teve uma oportunidade, estou usando muito essa palavra há muito tempo, porque eu acho que é isso.
04:05Para quem quer observar futebol, tirar conclusões, analisar, esse jogo de hoje mostrou muito bem.
04:10O Flamengo não, fora esses erros forçados, muito forçados pelo Bayern, tem muito mérito do Bayern,
04:14mas são erros, repito, tem que ser criticados e questionados, erros do Flamengo.
04:18O que se viu hoje foi o Flamengo até fazendo uma boa partida em vários momentos.
04:21teve reação, fez um gol, chegou a 2x1, aí tomou um terceiro, aí faz um outro gol,
04:27teve que entrar no jogo, mas simplesmente não consegue, não consegue.
04:31O que você percebe aqui, olhando para o campo, é que o time não consegue.
04:35Então começa a rifar a bola, começa a mandar a bola para longe,
04:38e o Bayern sempre com o jogador bem colocado para recuperar e reiniciar um ataque.
04:42E outro ataque, e outro ataque.
04:43O controle foi todo o time alemão, todo o tempo, é outro nível de futebol,
04:47e a gente tem que enfrentar essa realidade.
04:49E parar com essa bobagem de, ah, porque não sei o que, não é...
04:53O Felipe Luiz definiu muito bem em uma entrevista, depois do jogo contra o Chelsea, se não me falo em memória.
04:59Ou o Los Angeles.
05:00O Chelsea.
05:01Quando ele disse, existe uma elite do futebol europeu que é muito difícil competir, né?
05:06O Chelsea, que o Flamengo derrotou, não está hoje nessa elite, está um pouquinho abaixo.
05:09Mas o Bayern faz parte dessa elite, e a gente viu hoje como é.
05:13Jogando sério, jogando de uma outra maneira, diferente do que foi o jogo do Bayern contra o Boca, por exemplo,
05:18nesse estádio, quando lutava no modo preguiça, tomou até um empate, mas aí apertou um pouquinho e fez o gol.
05:23Hoje a gente viu o time jogando a vera.
05:25E aí realmente fica muito difícil competir.
05:27Nós, futebol sul-americano, temos de muito atrás.
05:30E não acho que seja só uma questão individual, não.
05:32Acho que é mais coletiva do que individual.
05:35O Flamengo tem bons jogadores, mas coletivamente o nível é muito mais alto.
05:38Muito mais alto.
05:39E é disso que a gente tem que questionar, cobrar dos treinadores, dos jogadores.
05:44Isso exige, gente, preparação.
05:46Também calendário melhor, claro, mas preparação, condição física.
05:49O atleta tem que ser dedicado, ele tem que estar voltado, sim, para a vida do corpo dele o tempo todo,
05:54para ter força física para jogar aqui em campo da maneira que é necessária,
05:58para ganhar os duelos físicos, para ter arrancado em velocidade das bolas que exigem isso.
06:02Tem impulsão para ganhar uma jogada pelo alto.
06:04O atleta tem que ser, eles são muito bem remuneráveis, eles têm que trabalhar no talo.
06:08No talo, a vida deles tem que ser o futebol.
06:10Senão, não consegue jogar no alto nível.
06:12Não consegue.
06:13Acabou a era lá do cara que enchia a cara de madrugada e fazia o gol no domingo no clássico
06:16e isso virava falculado.
06:18Isso não existe mais.
06:18E os técnicos precisam evoluir.
06:20Precisam buscar lições em jogos como esse.
06:23Jogos como esse.
06:24Então, o que vimos hoje aqui foi a diferença abissal que existe
06:27entre o futebol brasileiro, sul-americano e o futebol de elite da Europa.
06:31Com um time um pouco mais abaixo, você consegue competir.
06:33Mas com essas equipes assim, do nível do Bayern, a não ser que ele tivesse uma jornada ruim.
06:38E pro azar do Flamengo, hoje o Bayern já estava no modo Bayern de Munique.
06:42O Piper não quer falar, né?
06:44Que o Mauro citou.
06:46O Mauro, boa noite.
06:50Não, aqui, Mauro, às vezes a gente brinca, né?
06:53Tira uma onda um do outro aqui e tal.
06:54Mas os amigos aqui na mesa...
06:57Mas você tocou num ponto que eu acho essencial, porque é o seguinte.
07:00Às vezes, aqui no Brasil, se condiciona a análise do futebol às individualidades.
07:06Ah, quem é melhor?
07:06O João, o José, o Mário, o Mané?
07:09É o cara-a-cara, Piperno.
07:11Exato, esse maldito cara-a-cara.
07:12Isso não é assim.
07:13Porque eu falo sempre que não serve pra nada, mas é ótimo você falar isso.
07:16O cara-a-cara é só uma coisa lúdica, uma brincadeira.
07:18Isso.
07:19É uma bobagem, o cara-a-cara.
07:20Não se tira a conclusão por ali.
07:21Exato.
07:22O cara-a-cara, ele é bacana pra, enfim, animar discussão de bar.
07:26Porque, veja, se você pega o time do Flamengo e você pega o time da Inter de Milão
07:33e coloca, vai, a camisa da Bélgica em um e da Holanda no outro e mandam os dois jogarem
07:40a uma Copa do Mundo, então você tá montando duas seleções que individualmente elas são
07:47mais ou menos equivalentes.
07:48Só que a Inter de Milão, ela joga toda semana contra o PSG, a Juventus, o Manchester
07:56United, o Ajax, o Bayern e tal.
07:59Então, é óbvio que...
08:01Exato.
08:03Então, o ritmo de competitividade vai ser muito maior.
08:06Então, assim, o nível de exigência em cima desse time, pra que ele vá até os seus
08:13últimos limites técnicos, táticos, pra que o time melhore coletivamente é outro.
08:19Então, é aí que tá, muitas vezes, a grande diferença.
08:24A Inter de Milão, por exemplo, ela não tem, assim, quatro, cinco jogadores espetaculares,
08:31mas é um time que jogou duas das três últimas finais de Champions.
08:34Por quê?
08:35Porque tem alguns ótimos jogadores e, coletivamente, é um time muito forte.
08:40E joga contra time bom toda semana.
08:44Às vezes, duas vezes em uma única semana.
08:47Então, ela é obrigada a ter um outro repertório tático, inclusive, né, outras variações.
08:53Não é como aqui, que o cara liga lá o piloto automático e toda semana a mesma coisa.
08:58O time não muda.
09:00E aí, o fato do time não mudar aqui, muitas vezes é elogiado, porque aí o carinha que
09:06tá lá assistindo o jogo, acha bonito o time jogar sempre...
09:09Ah, mas isso é o padrão.
09:11O time tem um padrão.
09:12Não!
09:13Time bom é o time que tem mais de um estilo.
09:16Esse é o time que vai ser grande.
09:18Se ele jogar toda vez do mesmo jeito, se o Joãozinho driblar toda vez pro mesmo lugar,
09:23ele vai ficar previsível.
09:26Esse é o empobrecimento intelectual do jogo que fez com que o nosso futebol piorasse muito.
09:35Eu concordo plenamente.
09:36Eu acho que é isso.
09:37E você usou um termo que eu acho que se encaixa muito bem, Piperno, que é a questão
09:41do empobrecimento intelectual.
09:43O jogo hoje exige nível intelectual mais alto dos técnicos e dos jogadores, dos dirigentes
09:49também, evidentemente, pra entender as minúcias do jogo, pra entender a importância da seriedade
09:55na carreira, de cuidar do corpo, de sempre estar voltado para o trabalho, para a profissão.
10:02Então, fica muito claro, assim, um jogo como o de hoje, que há uma diferença muito grande.
10:07Isso explica por que alguns atletas brasileiros vão pra Europa e voltam.
10:11Alguns porque não se adaptaram por outras razões, mas alguns também porque não se adaptaram
10:14ao nível de cobrança de exigência de times dessa elite que você citou.
10:18E eu concordo totalmente com relação à Inter de Milão.
10:20De fato, a Inter tá jogando sempre sendo desafiada.
10:23Então, você tem que elevar o nível.
10:25O técnico tem que elevar seu nível, senão não consegue competir.
10:28E a gente não tem esse intercâmbio.
10:30A gente tem, no Brasil, os times jogando meses do Campeonato Estadual contra equipes
10:34que seriam hoje de qual prateleira do futebol mundial?
10:38Décima, décima segunda, décima oitava?
10:40Não sei nem medir.
10:41Times muito modestos, né?
10:42Que não desafiam tecnicamente, que você ganha sem tanto esforço.
10:45De vez em quando, até perde pra essas equipes.
10:47E no nosso campeonato, que você vê, é isso.
10:49São times que estão muito distantes desse nível.
10:51Mas muito distantes.
10:52Até os pequenos da Europa, muitas vezes, são forçados a evoluir um pouco mais
10:57porque eles jogam contra essas equipes nos seus respectivos campeonatos nacionais,
11:01mesmo sem disputar competições internacionais.
11:03Então, eles são exigidos também.
11:05O técnico do Bayern, o Kompany, treinou o Burnley.
11:08Subiu, chegou na Premier League, tentou fazer um jogo mais ofensivo.
11:11O Burnley, tradicionalmente, é um time retranqueiro, né?
11:13Caiu e foi contratado pelo Bayern porque o Bayern enxergou nele um técnico com uma ideia de jogo
11:19que se encaixa naquilo que o time alemão, que o clube alemão quer pra sua equipe de futebol.
11:24E ele tá lá, ganhou o campeonato alemão.
11:26Não foi até a final da Champions, ficou pelo caminho eliminado pela Inter, né?
11:30Mas mostrou hoje a sua força.
11:32E é um técnico jovem, da mesma idade do Felipe Luiz.
11:36Então, acho que hoje a gente viu aqui exatamente o que é a diferença entre os dois.
11:40E o Flamengo, apesar dos erros cometidos defensivos, né?
11:44Que eu acho também que tem muito, repito, muito mérito também do Bayern, né?
11:47Não foram erros cometidos gratuitamente, mas foram erros e por isso tem que ser registrados e criticados.
11:52O Flamengo fez um jogo até possível aqui.
11:54Possível.
11:54Contra o Bayern, nesse modo, mais do que isso seria muito difícil.
11:58Porque se não errasse numa bola ou outra, se o Rascaeta não perdesse aquela bola,
12:01e ia errar numa outra, numa outra ou numa outra.
12:04Porque o Bayern, quando quis, ele aumentou o ritmo e fez os gols.
12:07O Flamengo errou muito nessa partida, Piper, no adversário qualificadíssimo,
12:14um dos melhores times da Europa, um dos maiores clubes do futebol internacional.