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Transcrição
00:00A participação dos Estados Unidos no conflito entre Israel e Irã aumentou os temores relacionados ao risco de uma contaminação nuclear.
00:11A Casa Branca usou bombas especiais para atacar três das principais instalações nucleares iranianas neste fim de semana.
00:20O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, afirmou nesta segunda-feira que o Irã informou que não houve aumento nos níveis de radiação em nenhuma das regiões.
00:36Um dos pontos bombardeados foi o complexo subterrâneo de Fordow.
00:41O local é considerado estratégico porque foi projetado para produzir graus mais puros de urânio.
00:49Segundo Grossi, ninguém está em condições de avaliar os reais danos no local neste momento.
00:56A gente pediu uma análise ao Gerardo Portela, que é engenheiro especialista em risco e segurança.
01:03Ele explicou que neste momento, ao que tudo indica, não há indícios de vazamentos das instalações nucleares.
01:10Contudo, num cenário mais pessimista, em que os conflitos cresçam, essa é uma possibilidade bem preocupante.
01:20Vamos acompanhar.
01:21Muitas pessoas entendem que uma guerra nuclear só pode ser assim chamada se houver armas nucleares.
01:29No meu entendimento técnico, à luz de proteção radiológica, de engenharia nuclear, eu entendo que nós estamos numa guerra nuclear no sentido de que estão sendo atacadas instalações que foram construídas justamente com a robustez para evitar esse ataque,
01:50porque há risco de liberação de liberação de radioatividade.
01:52No cenário atual, nesse presente momento, as três usinas que foram atacadas, elas aparentemente não liberaram radioatividade, ou porque não estavam carregadas com combustível, ou o combustível não estava dentro da usina.
02:10Mas o fato é que o Irã possui material radioativo, inclusive com concentrações diversas, tanto para operar um reator de potência para produzir energia elétrica,
02:24como também em enriquecimentos muito mais elevados, que poderiam até chegar muito próximos daqueles valores de enriquecimento capazes de levar à construção de uma bomba nuclear, de uma bomba atômica.
02:37Então, esse material, se não está dentro da instalação, onde está? Ele está se deslocando num comboio nuclear, que é a forma correta de se deslocar durante uma guerra, durante uma situação como essa?
02:50Esse comboio pode ser atacado, sim ou não? Esse material, qual o nível de radioatividade dele? Qual o impacto de contaminação que ele pode trazer para as pessoas, para o meio ambiente, para a água?
03:02Algumas dessas usinas estão próximas a estações de desalinização. O que é isso? Retirada do sal da água, para produzir água para beber.
03:16Aquela região do Oriente Médio, ela é carente de água, então ela precisa usar a água do mar.
03:21E algumas usinas, elas são refrigeradas pela água do mar. Então, a água do mar entra através de dutos, refrigera a usina, então essa água acaba aquecendo e sendo devolvida para o mar.
03:37Isso é feito com todo cuidado para evitar qualquer tipo de contaminação do mar.
03:42E o controle é extremamente rigoroso numa operação de uma usina nuclear, principalmente no Ocidente.
03:47Então, durante uma guerra, essa usina é atacada, tudo isso fica ameaçado.
03:53Toda essa segurança, todos os critérios operacionais ficam ameaçados.
03:58E pode sim acontecer de um vazamento numa usina atacada, bombardeada, permitir que se alcance a água do mar, radioatividade.
04:08Em Fukushima, por exemplo, questões naturais, de fenômenos naturais, isso aconteceu e a água do mar ficou contaminada e ainda está contaminada, trazendo consequências para a pesca, para os humanos.
04:21Então, é uma situação muito ruim, muito perigosa e, no momento, não é esse o cenário.
04:31Mas pode vir a ocorrer porque existem usinas que estão, sim, com esse potencial de risco e, ainda por cima, utilizam a água do mar para fazer refrigeração.
04:43Um cenário um pouco pessimista, porque acreditamos sempre na inteligência das pessoas, porque isso requer, é um exercício também de inteligência superando a emoção, ou a raiva, ou o ódio,
05:00porque é uma atitude insana criar um ataque nuclear em instalações nucleares, seja onde for no planeta,
05:06porque a pluma nuclear, ela não fica estacionada, ela acaba se espalhando por todo o planeta, mesmo do outro lado do mundo, ao longo do tempo,
05:17se for uma grande liberação de radioatividade, material radioativo, isso acaba afetando o background de radioatividade da atmosfera.
05:27Nas camadas mais elevadas da atmosfera, essa pluma acaba viajando e ela também acaba se depositando.
05:34Algumas partículas podem se depositar, atingir o solo, atingir a vegetação, os alimentos, os animais, é toda uma cadeia ambiental que é afetada.
05:47Então, é um cenário pessimista, quando a gente pensa na possibilidade de um ataque progressivo,
05:57chegando mesmo a uma liberação de radioatividade nesse nível que eu estou expondo aqui.
06:04A princípio, até agora, isso não aconteceu.
06:09Somente um líder insano daria ordens para fazer algo nesse nível de potencial de impacto para o planeta.
06:18E a nossa expectativa é que isso não aconteça, mas está sobre a mesa e, por isso, é uma questão que reforça ainda mais aquele entendimento
06:32que nós já estamos, sim, vivendo uma guerra nuclear, sem armas nucleares, mas já com o risco nuclear presente.
06:39Gente, esse é o ponto que preciso reforçar.
06:43Existe agora um risco nuclear aumentado.
06:46Então, isso é que caracteriza um cenário onde os países, e isso está acontecendo,
06:51inclusive o Brasil está fazendo isso, teve alterações na sua configuração das forças militares,
06:58no sentido de melhorar a sua resposta a emergências nucleares.
07:02E outros países também estão se preparando, porque é possível que a gente tenha acidentes de grande impacto,
07:11mais de um acontecendo em períodos curtos e com um escalonar imprevisível a essa altura,
07:21dependendo da inteligência e da sanidade das lideranças mundiais.
07:26Pois é, está aí, preocupante.
07:30Nós agradecemos e muito a participação especial do Gerardo Portela,
07:35que é engenheiro especialista em risco e segurança.
07:40Vamos acompanhando bem de perto o desenrolar dessa história, pessoal.
07:44Obrigado.
07:45Obrigado.
07:46Obrigado.

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