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Psiquiatra explica as diferenças entre os transtornos e as opções de tratamento.
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Transcrição
00:00Oi gente, olha só, vamos falar agora de saúde, porque cresce o diagnóstico tardio do TDAH,
00:07o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
00:11Os casos também incluem o autismo.
00:14Os profissionais fazem um alerta e reforçam, nunca é tarde para iniciar o tratamento.
00:20Vamos ver.
00:21A Camila sempre foi uma aluna exemplar e por isso os sinais passavam despercebidos.
00:27A minha mãe pedia para mim e na minha tia pegar o açúcar, por exemplo.
00:31Aí eu chegava lá e isso aconteceu mais vezes do que eu posso contar.
00:34E eu tinha esquecido, eu olhava para a cara da minha tia, nossa, eu preciso voltar, eu não lembro o que eu vim fazer aqui.
00:39Era transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, TDAH, só de coberto quando ela chegou ao mercado de trabalho.
00:46Foi difícil, porque começou as cobranças, você tinha que lembrar de tal coisa que o cliente pediu.
00:51E eu não tinha essa questão de me organizar, eu sou péssima com organização, estou tentando melhorar isso em mim.
00:57O diagnóstico tardio do transtorno de déficit de atenção é comum.
01:02Como os sintomas podem ser facilmente confundidos com traços de personalidade,
01:07as dificuldades e as limitações de uma criança podem ser interpretados até como um mau comportamento.
01:14O mesmo acontece com o transtorno do espectro autista.
01:17Um levantamento realizado nos Estados Unidos revela o salto no número de diagnósticos.
01:23Há 20 anos, havia um caso de autismo a cada 150 crianças no país.
01:28Agora, um caso a cada 36.
01:32No Brasil, já são quase 2 milhões e meio de pessoas, segundo o censo do IBGE,
01:37o que aponta também melhor capacitação dos profissionais para o diagnóstico.
01:42A descoberta pode ser um alívio.
01:44Conhecer as suas limitações e suas potencialidades.
01:47E a terapia, ela vem auxiliar como?
01:50Para ela se conhecer como essa condição se manifesta nela e como isso impacta o seu dia a dia,
01:59para que aí juntos vamos construindo o quê?
02:02Ferramentas de apoio.
02:04A Isabela só descobriu que tem TDAH e autismo nível 1 de suporte aos 23 anos.
02:10Dois anos depois, ela sente melhora na rotina.
02:13Ah, está muito mais fácil.
02:14Consigo me respeitar muito mais.
02:16Consigo ter o meu planejamento diário muito mais fácil para fazer as atividades, né?
02:22Mas eu tenho que monitorar muito mais para não perder o foco das coisas.
02:27Olha, gente, é uma curiosidade, né?
02:30E a pergunta que a gente faz é como identificar se a gente tem,
02:34se você e de casa tem autismo ou TDAH agora adulto.
02:39Nós estamos aqui com a psiquiatra, doutora Letícia Mameri, sempre bem-vinda aqui no TN.
02:44Doutora, muito obrigado pela sua participação.
02:46Obrigada pelo convite.
02:47Doutora, pergunta direta.
02:50Como que eu sei que eu sou um adulto com TDAH ou autismo?
02:56Então, a gente pode desconfiar que tem alguma coisa na gente que é diferente das outras pessoas.
03:05Agora, saber com certeza o diagnóstico é um diagnóstico médico.
03:10Então, não tem exame que dê diagnóstico confirmatório, né?
03:15A gente tem o teste neuropsicológico, que é aplicado por neuropsicólogo, mas que é de apoio.
03:22Ele serve de apoio para que o médico dê o diagnóstico.
03:26Então, eu recomendo que procure um especialista qualificado.
03:30É importante, tá, gente?
03:31Checar no site do Conselho Federal de Medicina e fazer uma busca pelo profissional
03:36para saber se aquele profissional que você vai, ele é devidamente registrado como um psiquiatra
03:43ou como um neurologista para poder fazer esse diagnóstico e procurar para que seja feita essa avaliação.
03:49Eu queria perguntar sobre os sinais, não é?
03:52Mas antes de falar os sinais de uma pessoa com autismo ou TDAH,
03:57eu gostaria que a senhora diferenciasse, né?
04:01Que são transtornos, não são doenças, né?
04:03Não, eles são transtornos, né?
04:05A gente tem um grupo de transtornos, que são os transtornos do neurodesenvolvimento.
04:12Tanto o autismo como o TDAH são transtornos do neurodesenvolvimento.
04:16O que quer dizer isso?
04:17A gente nasce com ele.
04:20Então, é uma forma...
04:22A forma com que o nosso cérebro processa as informações já vem de fábrica diferente.
04:30O processamento é outro.
04:31Então, você vê a mesma coisa, mas processa de outra forma.
04:37Então, aquela coisa assim, às vezes você fica se questionando.
04:40Poxa, mas fulano, eu falo as coisas, parece que ele não entende, parece que a gente...
04:44Tipo, eu falo A, fulano fala B.
04:46É, pode ser.
04:47Se ele tiver um desses transtornos do neurodesenvolvimento, isso vai acontecer.
04:54Porque a forma com que um processa a informação é diferente da forma com que o outro processa a informação.
05:01Não existe...
05:02Ah, eu desenvolvi isso depois que eu fiquei grande.
05:05Então, talvez esse seja um dos pulos do gato, assim, se você pensa...
05:08Não, eu fiquei assim depois da pandemia.
05:10Então, não é.
05:12Os transtornos do neurodesenvolvimento, eles nascem com a gente.
05:17Então, é aquela coisa que, para a gente fazer um diagnóstico no adulto, a gente tem que remontar a época da infância, como que foi na escola.
05:27Se der para conversar, às vezes, com o pai ou com a mamãe.
05:31Então, eu faço muito diagnóstico de adulto jovem, que está para entrar na faculdade, está entrando na faculdade.
05:37Então, os pais costumam estar mais presentes, né?
05:41E aí, a gente consegue identificar que já tinha sintoma lá atrás.
05:46O que acontece na prática?
05:48Os diagnósticos na infância, eles muitas vezes, muitas vezes, eles são feitos em pessoas que têm um prejuízo maior.
05:56O que é o prejuízo maior?
05:58Tem nota pior, dá problema na escola, dá problema de relacionamento, aonde está.
06:06Então, quando você tem um prejuízo na vida maior, os pais tendem a procurar atendimento, procurar ajuda.
06:14Agora, quando a pessoa tira nota boa, querendo ou não, ela se relaciona, mais ou menos tem um amigo.
06:24Então, ao invés de ter cinco, tem um...
06:27As famílias não acham isso muito estranho, porque, às vezes, não há uma criança que dá trabalho.
06:32Criança que dá trabalho, os pais costumam...
06:34Tem problema.
06:35É, costumam procurar antes.
06:37E aí, com isso, a gente tem um atraso no diagnóstico.
06:40Outra coisa que atrasa o diagnóstico é o sexo feminino.
06:44As meninas, elas têm diagnóstico tardio.
06:47É muito comum elas chegarem na idade adulta sem diagnóstico ainda.
06:52Por quê?
06:53Quando a gente fala de autismo, a gente tem o espelhamento que a menina faz.
06:59Então, a menina aprende a copiar o comportamento do outro mais rápido.
07:04Então, ela copia o comportamento de alguém que ela vê que funciona.
07:09Isso tudo, gente, é muito no automático.
07:11Ela percebe que ela tem uma dificuldade, mas que a coleguinha não tem.
07:16Então, ela copia o comportamento.
07:18Ela vai fazendo esse espelhamento.
07:20E, no caso do TDAH, as meninas, na maior parte das vezes,
07:25elas têm um transtorno atencional.
07:28Porque o TDAH, a gente tem três tipos.
07:31O hiperativo, que é aquela criança super agitada.
07:34Você tem o atencional, aquela criança que vive no mundo da lua.
07:37E você tem o misto, que junta os dois.
07:39A menina, a maior parte das vezes, ela é do tipo atencional.
07:45É mais prevalente menina.
07:46Então, ela não dá trabalho.
07:49Ela é boazinha, aquela menina quietinha.
07:51O pai e a mãe quase não percebem ela.
07:54Às vezes, eu costumo perguntar assim,
07:55mas quando você era pequena, você...
07:57Às vezes, batia a cara no vidro.
07:59Às vezes, tropeçava e caía.
08:02Deixava entornar as coisas na mesa.
08:04São coisas muito sutis.
08:06Então, o diagnóstico, ele é feito muitas vezes no adulto.
08:11Não é porque começou no adulto.
08:13E isso, a gente está tendo uma grande questão.
08:17A pandemia, ela veio deixar as pessoas exaustas.
08:20E com isso, a gente está tendo mais dificuldade com atenção.
08:25A demanda é muito maior e você tem uma dificuldade para conseguir ter atenção para tudo isso.
08:32Então, as pessoas acham que elas estão começando a ter TDAH na idade adulta.
08:38E não.
08:39A maior parte das vezes, não.
08:41Agora, doutora, quais são as implicações desse diagnóstico tardio?
08:46O que, por exemplo, um adulto perdeu e o que ele tem a ganhar com esse diagnóstico agora de TDAH ou de autismo?
08:55Então, vou dar um exemplo na prática.
08:57Primeiro, eu queria fazer um parênteses.
09:00TDAH e o autismo são dois transtornos do neurodesenvolvimento,
09:03mas com manifestações clínicas bem diferentes.
09:06E que, às vezes, a gente mistura eles porque eles podem coabitar.
09:12Então, não é incomum pessoas com autismo terem TDAH também.
09:18Mas são características bem diferentes.
09:22E aí, eu vou dar um exemplo para vocês no caso do TDAH.
09:26Eu tenho uma amiga, muito minha amiga, que é minha paciente.
09:29E aí, a gente estava, eu fiz o diagnóstico do TDAH dela e as crianças dela, um deles, tem um diagnóstico também.
09:39E ela falou assim, nossa, mas que bom que ele não me puxou, porque ele é tão inteligente e eu era tão burrinha.
09:46Aí, eu ri e falei para ela assim, você é super inteligente, você é extremamente inteligente.
09:51Só que ele tem o diagnóstico e ele está sendo medicado.
09:54Você não teve o diagnóstico e está tendo o seu diagnóstico agora.
09:58Então, você vê que ela ficou, ela ficou a vida toda com a impressão de que ela era burra.
10:05Porque as notas dela na escola não eram boas, mas ela é super inteligente.
10:12Eu achei, eu vou falar um caso aqui que é do meu sobrinho, que ele foi fazer, que ele não estava tendo uma concentração.
10:19E a médica, a psiquiatra, falou exatamente assim.
10:21Falou assim, a diferença, por exemplo, do meu sobrinho para uma criança que não tem um tipo de transtorno,
10:27é que se você colocá-lo para subir o Everest, é como se essa criança estivesse com muitos equipamentos e conseguisse subir.
10:36E o seu sobrinho está subindo sem nenhum equipamento no morro.
10:40Ou seja, ele já não consegue porque falta A.
10:42Isso tem a ver com essa situação também, a falta de diagnóstico?
10:45Sim, a gente vai ter casos e casos, né?
10:49Esses transtornos do neurodesenvolvimento, eles se apresentam em vários graus.
10:55Então, você vai ter o TDAH, aonde você tem uma dificuldade muito maior,
11:01e você vai ter o TDAH de alto rendimento, que são crianças extremamente inteligentes,
11:06e que têm uma dificuldade, muitas vezes, mais até comportamental do que de nota.
11:14Assim como o autismo, a gente vai ter autistas não verbais, autistas com prejuízos imensos,
11:20e você vai ter autistas que estão aí ocupando cargos e são bilionários.
11:26Então, depende, vai depender muito até do que aquela pessoa escolhe para fazer na vida.
11:32Doutora, para a gente ir encaminhando aqui para o fim, né?
11:34A gente poderia ficar a tarde inteira falando desse tema.
11:38Então, assim, a gente está falando de adultos, mas lembrando de criança,
11:42porque, como a senhora disse, começa lá na infância.
11:44Então, assim, uma dica final para o adulto que está assistindo a gente,
11:48que acha que está com falta de atenção, que tem TDAH, o que a senhora diria para ele?
11:52Eu diria o seguinte, que para o adulto, quando a gente fala de um TDAH,
11:57quando a gente fala do autismo, muitas vezes a gente está falando de um iceberg,
12:03onde isso seria a base do iceberg, só que você passou a vida toda construindo camadas desse iceberg.
12:10Então, é muito importante que você procure um profissional qualificado,
12:15para que possa te ajudar a ter um diagnóstico correto,
12:18porque, em muitos casos, a gente precisa, primeiro, ir tratando de cima do iceberg até chegar na base,
12:27porque esses quadros, eles vão ter transtorno de ansiedade associado,
12:31eles podem ter transtorno depressivo associado,
12:34e se a gente começa tratando o TDAH sem prestar atenção em outros transtornos,
12:40a medicação, ao invés de ajudar, pode atrapalhar.
12:43Doutora Letícia Mamere, sempre lúcida aqui, muito obrigado pela sua participação.
12:47Eu que agradeço.
12:49Por compartilhar todo o seu conhecimento com a nossa audiência. Obrigada.
12:52Obrigada.

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