- 20/06/2025
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Em entrevista exclusiva a Claudio Dantas, o procurador aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima reage à ofensiva de Augusto Aras para acabar com a Lava Jato e analisa as diferentes frentes de ataque ao ex-ministro Sergio Moro, que, segundo ele, "foi ingênuo" ao aceitar participar do governo de Jair Bolsonaro.
Segundo ele, "todo mundo sabia que Bolsonaro nunca teve compromisso com o combate à corrupção".
Lima chama Augusto Aras de leviano por lançar acusações contra procuradores, sem apresentar provas. Diz que PGR "é quem compra papel higiênico e define as férias dos procuradores, não tem que interferir em investigações", e alerta para a estratégia de controle total do governo Bolsonaro.
"Há um desejo de Bolsonaro de controlar as investigações. Fala-se de uma nova agência de inteligência, de controlar a PF e você vê essa movimentação contra o MP, você tem que se preocupar com o que está acontecendo." Lima ressalta que muitas delações fechadas pela PGR de Rodrigo Janot estão eivadas de problemas, mas Aras finge não ver.
Lima também rebate versões mentirosas, disseminadas por bolsonaristas, que o acusam de barrar investigações da CPI do Banestado para proteger sua ex-mulher, que trabalhava numa agência do banco em Foz do Iguaçu. "Nós fomos vítimas de uma campanha totalmente mentirosa que veio da CPI contra nós, porque estávamos mexendo com interesses muito poderosos. É a indústria da fake news."
O procurador alerta para medidas recentes do Banco Central que podem facilitar crimes de lavagem, como ocorreu com as CC5. Como registramos, dias atrás o Conselho Monetário Nacional ampliou os limites obrigatórios para declaração, tanto de transações para o exterior (de US$ 10 mil para US$ 100 mil), como de investimento lá fora (de US$ 100 mil para US$ 1 milhão).
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Em entrevista exclusiva a Claudio Dantas, o procurador aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima reage à ofensiva de Augusto Aras para acabar com a Lava Jato e analisa as diferentes frentes de ataque ao ex-ministro Sergio Moro, que, segundo ele, "foi ingênuo" ao aceitar participar do governo de Jair Bolsonaro.
Segundo ele, "todo mundo sabia que Bolsonaro nunca teve compromisso com o combate à corrupção".
Lima chama Augusto Aras de leviano por lançar acusações contra procuradores, sem apresentar provas. Diz que PGR "é quem compra papel higiênico e define as férias dos procuradores, não tem que interferir em investigações", e alerta para a estratégia de controle total do governo Bolsonaro.
"Há um desejo de Bolsonaro de controlar as investigações. Fala-se de uma nova agência de inteligência, de controlar a PF e você vê essa movimentação contra o MP, você tem que se preocupar com o que está acontecendo." Lima ressalta que muitas delações fechadas pela PGR de Rodrigo Janot estão eivadas de problemas, mas Aras finge não ver.
Lima também rebate versões mentirosas, disseminadas por bolsonaristas, que o acusam de barrar investigações da CPI do Banestado para proteger sua ex-mulher, que trabalhava numa agência do banco em Foz do Iguaçu. "Nós fomos vítimas de uma campanha totalmente mentirosa que veio da CPI contra nós, porque estávamos mexendo com interesses muito poderosos. É a indústria da fake news."
O procurador alerta para medidas recentes do Banco Central que podem facilitar crimes de lavagem, como ocorreu com as CC5. Como registramos, dias atrás o Conselho Monetário Nacional ampliou os limites obrigatórios para declaração, tanto de transações para o exterior (de US$ 10 mil para US$ 100 mil), como de investimento lá fora (de US$ 100 mil para US$ 1 milhão).
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NotíciasTranscrição
00:00:00Muito boa noite, bem-vindo ao Gabinete de Crise, doutor Carlos Fernando dos Santos Lima,
00:00:06procurador aposentado, ex-integrante da Força Tarefa da Lava Jato no Paraná.
00:00:12Bem-vindo.
00:00:13Obrigado pelo convite, é um prazer estar com você.
00:00:16Lembrando que o Carlos Fernando também é colunista da nossa revista Cruzoé, não é isso?
00:00:22Sim, hoje eu tenho que entregar, hoje é um deadline, tem que entregar.
00:00:25Opa, então estou atrapalhando, vamos fazer a rápida entrevista aqui.
00:00:30Bom, doutor Carlos Fernando, é uma entrevista com o senhor realmente muito oportuna,
00:00:36justamente porque nós estamos vivendo, estamos testemunhando aí um ataque ao Ministério Público,
00:00:44a princípios basilares do Ministério Público, e esse ataque vem do chefe do Ministério Público,
00:00:49que é o PGR Augusto Aras.
00:00:52Ele recentemente participou de uma live com advogados criminosos, petistas,
00:00:59o pessoal envolvido na Lava Jato até o pescoço.
00:01:02Inclusive, essa live foi transmitida pela TV do PT.
00:01:07E ele parecia muito à vontade ali, fez uma série de acusações,
00:01:11acusou a Lava Jato de fazer extorsão, chantagem com os dados que tem lá armazenados.
00:01:17E aí a gente fala justamente dessa outra iniciativa, que foi barrada agora pelo Fachin,
00:01:23de impedir o acesso, que eles querem ter o acesso total a toda a base de dados da investigação da Lava Jato,
00:01:32de seis anos de investigação.
00:01:35E outras coisas que a gente tem visto aí.
00:01:37Então, primeira coisa, o que está acontecendo com o Ministério Público e por que esse ataque vindo diretamente do PGR?
00:01:50Primeiro, eu creio que Augusto Aras não representa realmente o Ministério Público que a Constituição de 1988 instituiu.
00:01:59Ele é um procurador da República que pode advogar, o que significa, na verdade,
00:02:07que era um advogado que dava, eventualmente, pareceres no Ministério Público.
00:02:12Não é um procurador da República realmente militante na instituição,
00:02:19não tinha nenhum histórico significativo e foi colocado lá por esta sua característica.
00:02:25muito mais de ser uma pessoa muito leviana nas suas afirmações,
00:02:31porque fez uma série de afirmações nos últimos tempos, completamente destituídas de base fática,
00:02:38somente em suposições da cabeça dele.
00:02:41Não entende como funciona o Ministério Público, não entende como funcionam as investigações,
00:02:45não entende como funciona a competência dos juízes,
00:02:49que fez toda esta confusão querendo uma base de dados,
00:02:53que ele não tem direito se não houver um interesse nas investigações que ele mantém
00:02:59ou deveria manter lá na PGR em Brasil.
00:03:02Isso é muito importante, porque a decisão do Fachin não entrou no mérito, justamente.
00:03:07Foi uma decisão em cima, vamos dizer assim, da forma,
00:03:12porque todo o recurso, toda a reclamação apresentada pelo RIS PGR,
00:03:17a manda do PGR, ela foi precária.
00:03:19Então, o Fachin destruiu toda a argumentação jurídica que foi colocada.
00:03:25Não precisou entrar no mérito.
00:03:28Nessa questão de mérito, por quê?
00:03:30Até para que os nossos leitores, nem todos têm conhecimento aprofundado
00:03:34de como funciona, dos princípios da independência funcional dentro do Ministério Público,
00:03:40que muita gente pode achar que, por ser o Procurador-Geral da República,
00:03:44ele tem essa autoridade, essa hierarquia,
00:03:47essa autoridade para acessar as investigações dos procuradores.
00:03:52Explica para a gente.
00:03:55Primeiro que a ideia de hierarquia é completamente estranha ao Ministério Público.
00:04:01Ele é uma instituição em que, se existe alguma hierarquia,
00:04:06ela é meramente administrativa, é quem é que determina a compra de papel higiênico
00:04:12ou determina as férias dos procuradores.
00:04:15Entretanto, na sua atividade final, cada procurador é dono da sua atribuição.
00:04:22Ele pode e deve fazer a sua investigação de maneira compartimentada.
00:04:27É assim que funciona na Polícia Federal e é assim que funciona no Ministério Público.
00:04:31As investigações estão sujeitas ao controle do Judiciário
00:04:36e somente em casos de compartilhamento requerido a este juiz
00:04:42pode ser entregue a uma terceira pessoa.
00:04:45O Procurador-Geral da República não tem qualquer hierarquia sobre a Força-Tarefa Lava Jato.
00:04:50Ele deve, sim, se necessário, pedir o compartilhamento daquilo
00:04:56especificamente necessário para as suas investigações.
00:05:00De outra forma, ele não pode ter acesso.
00:05:02Isso é uma garantia não do Ministério Público, mas inclusive do investigado,
00:05:07de modo a que se garanta a cadeia de custódia dessas provas
00:05:12e que não hajam vazamentos descontrolados.
00:05:16É isso, quer dizer, esse é o risco, né?
00:05:18Quando você tem acesso a toda, você abre todo um banco de dados,
00:05:24ele mesmo falou ali de 38 mil pessoas investigadas,
00:05:26que não é bem isso, não é verdade?
00:05:28É, uma série de afirmações completamente distorcidas,
00:05:33que inclusive embasaram a própria reclamação ao Supremo,
00:05:39afirmações a respeito de comportamentos da Lava Jato,
00:05:44que na minha opinião foram completamente levianas
00:05:47por parte do Vice-Procurador-Geral.
00:05:50Não há na Operação Lava Jato nada fora do controle da nossa Corregedoria
00:05:55e do próprio Poder Judiciário.
00:05:58E esses órgãos, sim, eles têm o dever de fiscalizar o que está acontecendo nos feitos.
00:06:05Agora, o Procurador-Geral da República, não.
00:06:08Sequer tem poder disciplinar sobre os procuradores.
00:06:12Então, o que nós temos hoje é um grande equívoco,
00:06:16que me preocupa muito, porque está inserido, de certa forma,
00:06:20num desejo, na minha opinião, do governo Bolsonaro,
00:06:24de controlar informações e controlar investigações.
00:06:28Quando fala-se uma nova agência de inteligência,
00:06:32fala-se em controlar a Polícia Federal,
00:06:34e você vê essa movimentação do Ministério Público,
00:06:38você tem que se preocupar com o que efetivamente está acontecendo.
00:06:42O senhor falou de uma coisa que me lembrou uma outra,
00:06:45nós, inclusive, registramos ontem com exclusividade.
00:06:47ele fez uma modificação, o Augusto Tuara fez uma modificação,
00:06:52no sistema de registro, no procedimento,
00:06:56você faz um sistema de registro de procedimentos investigatórios internos ali,
00:07:01ou seja esse procedimento uma negociação de uma delação premiada,
00:07:08seja um PIC, que seja uma investigação preliminar.
00:07:10Quer dizer, antes, o procurador natural é que registra isso com sigilo
00:07:18e só abre o acesso para aqueles que ele quer,
00:07:22quer dizer, as pessoas que estão ali integradas numa força-tarefa,
00:07:25as pessoas da equipe.
00:07:26E o Augusto Tuara obrigou, determinou,
00:07:29que agora isso seja feito no sistema para que todo mundo tenha acesso.
00:07:33e mandou para a Corregedoria um pedido de investigação
00:07:38de 50 mil procedimentos que são considerados, na opinião dele, invisíveis.
00:07:44É mais uma iniciativa dentro desse projeto de controle?
00:07:49É evidente, mesmo porque está invisível para ele,
00:07:53mas jamais para a Corregedoria, quando ela visita a unidade
00:07:57e solicita a verificação, normalmente de maneira aleatória, dos procedimentos.
00:08:04Este controle é feito por um órgão próprio.
00:08:07O que me preocupa é que movimentações,
00:08:10e são movimentações às vezes perigosas,
00:08:13como, por exemplo, a negociação de uma colaboração premiada.
00:08:17Nós não estamos falando de nada mais do que a vida de uma pessoa.
00:08:21O colaborador e sua família estão muito expostos.
00:08:24E esta informação, o simples fato de haver movimentações
00:08:29de colaboração premiada abertos ao controle ou ao descontrole
00:08:35dentro da instituição, coloca em risco muito mais a pessoa,
00:08:40do colaborador, e isso me preocupa muito mais,
00:08:43do que os controles administrativos.
00:08:46Nós temos que repensar isso.
00:08:47Isto foi feito por um bom motivo durante a gestão Janot,
00:08:51e deve ser mantido.
00:08:53De outra forma, o sistema vai acabar sendo uma fonte de vazamentos
00:08:58para interessados e colocando em risco pessoas,
00:09:04especialmente familiares, e a vida do próprio colaborador.
00:09:07É muito mais difícil de identificar um vazamento,
00:09:10quando todo mundo tem acesso.
00:09:12Se aquilo está restrito àquela equipe de investigação,
00:09:14se vazou alguma coisa, ou foi deles, ou foi do advogado,
00:09:17de algum lugar foi, perfeito?
00:09:19Você controla sobre os acessos, evidentemente.
00:09:24Perfeito.
00:09:24Quando o senhor fala, justamente, do investigado, do risco,
00:09:27porque, claro, está envolvendo, às vezes, a pessoa,
00:09:29familiares, relações,
00:09:33justamente nessa questão do acesso ao banco de dados,
00:09:37o compartilhamento do banco de dados.
00:09:39A gente sabe que a 13ª e outras varas federais que estão cuidando
00:09:45desses casos da Lava Jato, já fizeram compartilhamento com o PGR,
00:09:49o PGR já fez compartilhamento com essas varas,
00:09:51emprestamento de provas, dentro, justamente, de investigações específicas.
00:09:57Então, você tem lá o processo tal, certinho,
00:09:59a demanda, aquilo é feito com anuência do advogado,
00:10:03perfeito?
00:10:04Do investigado.
00:10:06Então, me surpreende que, até agora, os advogados,
00:10:10talvez até para não entrar em choque,
00:10:12não criar algum tipo de constrangimento com o PGR,
00:10:14mas os advogados não podem concordar com um compartilhamento geral
00:10:20que pode expor o seu cliente.
00:10:23Afinal, uma das prerrogativas dos advogados
00:10:25é, justamente, defender os interesses do seu cliente.
00:10:28É, me parece claro que há um risco específico,
00:10:32especialmente nos casos das colaborações.
00:10:36Não se pode permitir o descontrole.
00:10:40Se o PGR necessita de dados, ou nós necessitamos de dados,
00:10:45nós pedimos, e esse pedido deve ser, daí, repassado
00:10:49ao judiciário que autoriza.
00:10:51Só depois dessa autorização é que ele é repassado
00:10:54para o órgão que solicitou.
00:10:55Os advogados têm que fazer esse controle.
00:10:59Infelizmente, é muito comum nós termos garantistas a soldo no Brasil,
00:11:06mas não garantistas efetivos.
00:11:08Está na hora de nós voltarmos a ter efetividade
00:11:11nas garantias, que incluem garantias do bom resultado
00:11:16de uma investigação, mas também da garantia de vida
00:11:20e de garantia do bom fim de uma colaboração premiada.
00:11:24Nós não podemos expor essas pessoas aos riscos
00:11:28que, eventualmente, elas possam correr,
00:11:31além da colaboração vir à tona.
00:11:35Nesse âmbito de iniciativas também,
00:11:38contra a atuação do Ministério Público,
00:11:40nós estamos, inclusive, acabamos de noticiar
00:11:43um acordo que está sendo negociado
00:11:45por iniciativa do ministro Dias Toffoli,
00:11:48presidente do STF,
00:11:49que, já de cara, a gente já fica com o pé atrás,
00:11:51negociando com a CGU, com a AGU,
00:11:53e agora também o TCU parece que vai entrar nessa brincadeira,
00:11:57um acordo para a negociação dos acordos de leniência,
00:12:00que, para quem não sabe, são os acordos de colaboração
00:12:02com a pessoa jurídica, com as empresas.
00:12:05E há o risco de que o Ministério Público Federal,
00:12:08que também está concordando, através da PGR,
00:12:11obviamente, concordando com esse acordo,
00:12:12há o risco de que ele saia desse processo?
00:12:16Eu fico bastante preocupado,
00:12:21eu tenho acompanhado isso de fora,
00:12:24essas discussões,
00:12:25fomos nós que criamos os acordos de leniência
00:12:28no âmbito do Ministério Público Federal.
00:12:31O primeiro foi com o acetal óleo e gás,
00:12:35na Operação Lava Jato mesmo.
00:12:37É muito preocupante,
00:12:40porque nós vimos na Operação Lava Jato,
00:12:42é claro, no dia a dia dos pequenos casos,
00:12:45as coisas podem até funcionar razoavelmente.
00:12:48Mas quando você tem um grande caso,
00:12:50em que envolve a grande política,
00:12:52e que o próprio governo,
00:12:53como aconteceu no início da Lava Jato,
00:12:56estava inserido no problema em si,
00:12:58no problema criminal em si,
00:13:01você vê que os acordos podem significar
00:13:04muito mais um atrapalhamento para as investigações
00:13:09do que realmente um auxílio.
00:13:11Por isso, durante a Operação Lava Jato,
00:13:13foram tomados uma série de cuidados.
00:13:16Nós alertamos a CGU,
00:13:17nós estamos encaminhando acordos,
00:13:20mas o conteúdo desses acordos
00:13:21só vai ser revelado ao final do processo.
00:13:25Por quê?
00:13:25Porque nós não poderíamos revelar
00:13:28o que estava acontecendo
00:13:29sobre riscos de vazamento.
00:13:31Então, a minha preocupação é que se monte
00:13:33um arcabouço que não ingeste investigações,
00:13:38que dê possibilidade, por exemplo,
00:13:40do Ministério Público em casos extremos,
00:13:43em que haja a contaminação do próprio governo
00:13:47nas investigações,
00:13:49que se permita que o Ministério Público
00:13:51faça os acordos independentemente.
00:13:54Revele isso a posteriori.
00:13:56Inclusive, há o risco de que eles determinem
00:13:59que o Ministério Público que estiver investigando
00:14:02determinado caso e que encontre algum ilícito
00:14:05envolvendo uma empresa, uma pessoa jurídica,
00:14:07tenha de informar, tenha de comunicar imediatamente isso
00:14:10a esses órgãos, a AGU e o CGU,
00:14:13que são subordinados ao Presidente da República.
00:14:15Quer dizer, mais ou menos dentro dessa linha,
00:14:17dessa estratégia, desse plano de controle absoluto
00:14:20de tudo que está acontecendo.
00:14:22Nós não podemos admitir,
00:14:24em certas hipóteses,
00:14:27que as investigações deixem de ser sigilosas.
00:14:31Há casos sempre que a investigação deve ser sigilosa,
00:14:34especialmente quando ela envolve interesses poderosos
00:14:38que poderão tomar conhecimento daquela investigação
00:14:41através dessas comunicações.
00:14:43Eu acho que o princípio geral será sempre esse.
00:14:46Mesmo que haja um grande acordo
00:14:48no sentido de comunicação,
00:14:50a comunicação só poderá ser feita
00:14:52se não houver perigo às investigações.
00:14:56Bom, nós temos visto,
00:14:58o senhor pode até citar aí os exemplos
00:15:00que o senhor considera mais relevantes,
00:15:01nós temos visto alguns avanços da Lava Jato,
00:15:07alguns avanços institucionais conquistados pela Lava Jato,
00:15:10eles se perderem justamente agora,
00:15:14nesse governo atual,
00:15:16seja por omissão, seja com apoio,
00:15:19também por iniciativa do Congresso.
00:15:21Nós temos visto aí o pessoal
00:15:22tentando colocar no lixo da história
00:15:27a possibilidade de você retomar a prisão
00:15:30após condenação em segunda instância.
00:15:32A gente vê,
00:15:33tanto no âmbito do Congresso,
00:15:34como também,
00:15:35seja no STF,
00:15:38você tentar recuperar o foro privilegiado
00:15:41para aquele mais amplo,
00:15:44para parlamentares e autoridades afins.
00:15:47A gente tem visto uma série,
00:15:49aquela história do juiz das garantias também,
00:15:52que acabou criando um bróglio jurídico enorme.
00:15:55Como é que o senhor vê
00:15:57justamente todos esses avanços
00:16:01que vocês conquistaram,
00:16:02que tiveram aí esse trabalho imenso de conquistar,
00:16:05que são conquistas históricas
00:16:07e conquistas para toda a sociedade.
00:16:09Qual o teu sentimento?
00:16:10E fica à vontade para enumerar
00:16:13as que o senhor considera mais importantes,
00:16:17se perderem,
00:16:19esses avanços institucionais se perderem
00:16:22depois de tanto esforço,
00:16:24de tanto trabalho.
00:16:25Eu tendo a achar que isso faz parte
00:16:29de um grande pacto nacional
00:16:31que aconteceu depois das eleições de 2018,
00:16:35com o impacto que ela teve
00:16:38sobre a classe política.
00:16:39A classe política percebeu
00:16:41que se não fizesse alguma coisa,
00:16:43ela estaria diante,
00:16:45nos próximos eleições,
00:16:48de uma situação talvez incontornável.
00:16:51e de repente certas lideranças,
00:16:54que incluem até lideranças do próprio judiciário
00:16:57e do Congresso Nacional,
00:16:59passaram a fazer medidas para dificultar as investigações.
00:17:05Nós tivemos reversões de jurisprudências,
00:17:08como no caso do segundo grau,
00:17:10a execução após a condenação em segundo grau.
00:17:15Nós tivemos reversão de uma jurisprudência
00:17:17que separava os crimes eleitorais
00:17:20dos crimes não eleitorais.
00:17:21O Supremo, revertendo a sua própria jurisprudência,
00:17:25determinou a prevalência da justiça eleitoral.
00:17:28Nós tivemos, de certa forma,
00:17:32uma retirada de uma série de processos
00:17:36de Curitiba, especialmente,
00:17:39que eram, naquele momento,
00:17:41as investigações mais adiantadas e mais eficientes.
00:17:44Então, o Supremo Tribunal,
00:17:46nós vimos agindo de uma forma
00:17:48a conter o avanço da Operação Lava Jato.
00:17:52De outro lado, nós temos o Congresso Nacional,
00:17:55com ameaças implícitas aos procuradores,
00:17:58ou melhor dizendo, explícitas,
00:18:00a procuradores com a lei de abuso de autoridade,
00:18:02porque é uma lei que,
00:18:05na sua grande maioria dos artigos,
00:18:07visa procuradores e juízes,
00:18:09policiais também.
00:18:11Então, nós tivemos uma série de derrotas
00:18:14no projeto de lei do governo federal,
00:18:17o projeto Moro,
00:18:18que acabou se transformando em um projeto
00:18:21pelo combate à corrupção e ao crime organizado,
00:18:25em um projeto que dificultou ainda mais este combate.
00:18:29Nós temos esses setores,
00:18:33agora envolvidos também pelo próprio governo federal,
00:18:37com o problema das rachadinhas dos filhos de Bolsonaro,
00:18:40esses setores também mancomunados,
00:18:43de alguma forma,
00:18:45com Augusto Aras,
00:18:46que está destruindo internamente
00:18:49a própria instituição,
00:18:51que faz parte,
00:18:53o que é muito grave,
00:18:54porque hoje em dia nós não estamos falando mais
00:18:56simplesmente da destruição da Operação Lava Jato.
00:18:58Nós estamos falando da destruição do Ministério Público
00:19:02como instituição independente.
00:19:04Então, tudo isso é muito preocupante.
00:19:07E eles fazem isso apenas para salvar a velha política.
00:19:13O PGR, Augusto Aras,
00:19:16ele disse o seguinte,
00:19:17que o Lava Jatismo há de ser superado
00:19:20pelo antigo enfrentamento à corrupção.
00:19:24O que é o antigo enfrentamento à corrupção?
00:19:26Se não me engano,
00:19:28a frase era o natural,
00:19:30bom e velho
00:19:31enfrentamento,
00:19:33combate à corrupção.
00:19:34Está aqui a frase completa.
00:19:36O Lava Jatismo há de ser superado
00:19:37pelo natural,
00:19:38bom e antigo enfrentamento à corrupção.
00:19:40Perfeitamente.
00:19:41Obrigado pela atenção.
00:19:43Em outras palavras,
00:19:44o Lava Jatismo vai ter que ser superado
00:19:47pela volta da impunidade,
00:19:48porque não existe bom e velho
00:19:51enfrentamento à corrupção.
00:19:52antes da operação Lava Jato,
00:19:56nós tivemos pequenos sucessos
00:19:58na Operação Banestado,
00:20:01aqui no Paraná mesmo,
00:20:02e alguma coisa no TRT de São Paulo,
00:20:05que também é um exemplo
00:20:06de uma boa investigação.
00:20:08O Mensalão,
00:20:10mas nada com o tamanho
00:20:12e eficiência
00:20:14que a Operação Lava Jato trouxe.
00:20:16Nada que fosse minimamente razoável
00:20:19para enfrentar a corrupção no Brasil,
00:20:23porque a corrupção no Brasil
00:20:23está nos três níveis da federação.
00:20:27Aqueles que não estão no governo federal,
00:20:30eles tentam a corrupção
00:20:32nos governos estaduais,
00:20:33nos governos municipais.
00:20:35O que nós temos é uma corrida pela corrupção,
00:20:37uma corrida pelo dinheiro ilícito
00:20:38para equilibrar as eleições,
00:20:41porque as eleições e o controle dos partidos
00:20:43só existem com dinheiro ilícito.
00:20:46Então, a minha preocupação
00:20:47é que o que Aras deseja
00:20:49é simplesmente a volta da impunidade,
00:20:52porque eu não sei
00:20:53de onde ele tirou
00:20:54que houve, em algum momento do passado,
00:20:57um bom enfrentamento à corrupção.
00:21:00O senhor fica decepcionado
00:21:01com presenciar essa situação,
00:21:05visto que o Bolsonaro se elegeu
00:21:07pegando carona na bandeira da Lava Jato,
00:21:09falando de combate à corrupção?
00:21:12Eu não era, em nenhum momento,
00:21:15uma pessoa que tinha Bolsonaro
00:21:18entre as suas escolhas políticas.
00:21:21Infelizmente, o segundo turno
00:21:23nos leva a fazer escolhas
00:21:25entre o menos e o pior.
00:21:27E, às vezes, o menos pior
00:21:28não se revela menos pior,
00:21:30mas tão pior quanto.
00:21:32E, no caso de Bolsonaro,
00:21:33ele é tão ruim quanto
00:21:35as opções que nos foram oferecidas
00:21:40no segundo turno.
00:21:41Mas eu não tenho essa sensação,
00:21:45porque, realmente,
00:21:46eu não acreditava nele.
00:21:48Talvez o Sérgio Moro
00:21:50tenha acreditado efetivamente
00:21:52em Bolsonaro,
00:21:54saiu de uma carreira de 20 anos
00:21:56como magistrado,
00:21:58de certa forma,
00:21:59foi ingênuo,
00:22:00porque a trajetória de Bolsonaro
00:22:02não indicava, de maneira alguma,
00:22:05qualquer tipo de plano efetivo
00:22:08contra a corrupção.
00:22:09Mas, ao explodir o escândalo
00:22:12das rachadinhas,
00:22:13qualquer pejo foi para o espaço,
00:22:17a vergonha sumiu.
00:22:19Ele assumiu, hoje,
00:22:20claramente,
00:22:21o papel de articulador
00:22:23de um grande acordo nacional
00:22:24e, infelizmente,
00:22:27o Brasil vai ter que esperar
00:22:28a próxima eleição
00:22:29para corrigir os seus fundos.
00:22:32Vou falar de rachadinhas
00:22:33daqui a pouco.
00:22:35O presidente do Supremo,
00:22:37Dias Toffoli,
00:22:37defendeu um dia desse
00:22:39uma quarentena política
00:22:41para juízes e procuradores
00:22:44que deixem as suas carreiras
00:22:45justamente para concorrer
00:22:46na política,
00:22:48concorrer a algum cargo eletivo.
00:22:50Oito anos.
00:22:50Eu fui lá,
00:22:51peguei a lei da ficha limpa,
00:22:52vi que a condenação
00:22:53de um corrupto
00:22:54pela lei da ficha limpa
00:22:56são oito anos
00:22:56da perda de direitos políticos.
00:22:57como que a gente encara
00:23:02um negócio desse?
00:23:03A gente sabe, inclusive,
00:23:04que tem projetos de lei
00:23:05já correndo
00:23:06e variam ali
00:23:07quatro anos,
00:23:08seis anos.
00:23:09Quer dizer,
00:23:10como encarar,
00:23:12como entender
00:23:13uma iniciativa dessa?
00:23:14Isso está dentro
00:23:16daquelas manifestações
00:23:20de Toffoli
00:23:21que desagradam,
00:23:24na verdade,
00:23:26desagradam o próprio direito,
00:23:27porque é completamente
00:23:29infeliz
00:23:31por todos os aspectos.
00:23:33Veja bem,
00:23:34nós temos um problema sério
00:23:35nas quarentenas repetidas.
00:23:37Nós devíamos ter quarentenas
00:23:39para procuradores-gerais
00:23:41da República
00:23:42ou advogados-gerais
00:23:43da União
00:23:44em serem
00:23:45ministros do Supremo.
00:23:48Isso é uma questão séria,
00:23:49porque hoje
00:23:49o que nós vemos
00:23:50é a cooptação
00:23:52destes cargos
00:23:53pelo interesse,
00:23:55pela oferta,
00:23:56às vezes explícita,
00:23:58do presidente
00:23:58de uma cadeira
00:23:59no STF.
00:24:01Isso é muito mais preocupante,
00:24:03porque se um juiz
00:24:04ou um procurador
00:24:04tem que abandonar
00:24:06a sua profissão
00:24:07com um ano
00:24:08de antecedência
00:24:09pelo menos
00:24:10um ano antes.
00:24:11E depois vai ter
00:24:12que enfrentar
00:24:12as urnas,
00:24:13ele vai ter que se submeter
00:24:15ao voto popular.
00:24:16Isso é menos grave
00:24:17do que
00:24:18uma pessoa
00:24:19ter que ser
00:24:21sabujo
00:24:23de um presidente
00:24:24da República
00:24:25e de congressistas
00:24:26para ser aprovado
00:24:27e ser ministro
00:24:28do Supremo.
00:24:28Nós temos que falar
00:24:29de quarentena,
00:24:30mas não como
00:24:30Dias Soffoli quer.
00:24:32Segundo,
00:24:34se ele pretende
00:24:35atingir Sérgio Moro,
00:24:36então ele faltou
00:24:37na aula
00:24:37sobre retroatividade
00:24:39da lei.
00:24:41Não é possível,
00:24:42porque hoje
00:24:43Sérgio Moro
00:24:43não é juiz.
00:24:45Então,
00:24:45não há uma enorme
00:24:46possibilidade técnica
00:24:48de esta lei
00:24:50ou até uma emenda
00:24:51constitucional
00:24:51retroagir
00:24:53para atingir
00:24:54alguém que já
00:24:55não é juiz
00:24:55há algum tempo,
00:24:56há mais de anos.
00:24:57Então,
00:24:58por todos os motivos,
00:24:59eu não acredito
00:25:00que seja possível
00:25:04ou razoável
00:25:05esta ideia
00:25:06de Toffoli.
00:25:07A gente tem ouvido
00:25:08algumas interpretações
00:25:09justamente em função
00:25:11dessa questão
00:25:11da retroatividade
00:25:12e no caso,
00:25:13por exemplo,
00:25:14da lei da ficha limpa,
00:25:15você justamente,
00:25:16na hora de você registrar
00:25:17a candidatura,
00:25:18é que você pega
00:25:19a lei da ficha limpa
00:25:20e vê lá,
00:25:20olha,
00:25:20está aqui,
00:25:21o cara entrou
00:25:22porque ele foi condenado
00:25:23há dois anos
00:25:24e tal também.
00:25:25Quer dizer,
00:25:25você tem um enquadramento
00:25:27que ele é quase retroativo.
00:25:29Não haveria esse risco
00:25:31de você tentar
00:25:32enquadrar o Sérgio Moro
00:25:33ou até o senhor mesmo,
00:25:35não sei se o senhor tem
00:25:35pretensão política,
00:25:37mas saiu há pouco tempo
00:25:38e se aposentou
00:25:39há pouco tempo,
00:25:40também não correria
00:25:41esse risco aí?
00:25:42Não há esse risco?
00:25:44Há uma diferença
00:25:45muito grande
00:25:46em ser um condenado,
00:25:48então,
00:25:48portanto,
00:25:49você está num Estado
00:25:50determinado pela lei
00:25:53como uma consequência
00:25:56de uma condenação judicial
00:25:58de você ser
00:26:00ou ter sido juiz,
00:26:03a menos que agora
00:26:04ser juiz ou procurador
00:26:05seja equivalente
00:26:06a ser condenado
00:26:08até mesmo porque
00:26:09você disse
00:26:10que os oito anos
00:26:11configuram a pena
00:26:13da condenação
00:26:16muito mais,
00:26:18da ficha limpa,
00:26:19muito mais,
00:26:20então,
00:26:20nós estamos cada vez mais
00:26:21condenando juízes
00:26:23e procuradores
00:26:24pelo fato de serem
00:26:25juízes e procuradores,
00:26:27isso parece um absurdo,
00:26:29que não tenha
00:26:29a menor razoabilidade,
00:26:32a retroatividade
00:26:33não pode
00:26:34determinar
00:26:36uma mudança
00:26:38do Estado atual
00:26:39da pessoa,
00:26:40e
00:26:40um condenado
00:26:42é condenado
00:26:43no mesmo
00:26:45um ano
00:26:45ou dois anos
00:26:46da condenação,
00:26:47mas o ex-juiz
00:26:48não é mais juiz,
00:26:49e isso não pode
00:26:51configurar
00:26:52de maneira alguma
00:26:53um impeditivo
00:26:55à sua candidatura.
00:26:57Ontem eu comentei
00:26:58até no meu vídeo
00:26:58que eu gravo à noite
00:26:59que em função
00:27:00da decisão do STF
00:27:01que também fez
00:27:02ali uma interpretação,
00:27:03STF não,
00:27:04segunda turma
00:27:05com dois ausentes,
00:27:06só o Gilmar
00:27:07e o Lewandowski
00:27:08acolheram
00:27:09o recurso
00:27:10do Lula,
00:27:11retiraram ali
00:27:12o termo 1
00:27:13da delação
00:27:13do Palocci,
00:27:14que a defesa
00:27:15mesmo do Lula
00:27:16tinha pedido
00:27:17para colocar
00:27:17dentro do encano,
00:27:18agora disseram
00:27:19que a colocação
00:27:20disso
00:27:20é que foi
00:27:21uma tentativa
00:27:23de politizar
00:27:23o processo,
00:27:24enfim,
00:27:26foram acolhidos
00:27:28esses argumentos
00:27:29e a gente percebe
00:27:30claramente
00:27:31uma pavimentação
00:27:32de um caminho
00:27:32para o julgamento
00:27:35de outro recurso,
00:27:37que o Lula
00:27:37pede inclusive
00:27:38para anular
00:27:39até a sentença dele
00:27:40do triplex,
00:27:41do sítio e tal,
00:27:42acusando o Moro
00:27:43de parcialidade,
00:27:44suspensão.
00:27:44Na hora que a gente
00:27:45vai ver o Lula
00:27:46recuperando os direitos
00:27:47políticos dele,
00:27:48concorrendo
00:27:49na próxima eleição
00:27:50de 2022
00:27:51e o Moro
00:27:52se der sorte
00:27:53não vai estar preso,
00:27:55se der sorte.
00:27:58É muito preocupante
00:27:59que o Brasil
00:28:00esteja caminhando
00:28:01nesse sentido,
00:28:03infelizmente
00:28:04este é um risco
00:28:05evidente
00:28:06porque esta votação
00:28:08ao que tudo indica
00:28:09será determinada
00:28:11por Celso de Mello,
00:28:12porque já existem
00:28:13dois votos
00:28:14contra a suspeição
00:28:16de Sérgio Moro
00:28:18e possivelmente
00:28:19agora
00:28:20a indicação
00:28:20que eu não esperava
00:28:22muito diferente
00:28:22de Lewandowski
00:28:24e Gilmar
00:28:24no sentido
00:28:25da suspeição
00:28:27de Sérgio Moro.
00:28:28Então,
00:28:29isso é muito
00:28:29preocupante
00:28:30porque
00:28:31nos transmite
00:28:33a ideia
00:28:33de que realmente
00:28:34não vale a pena
00:28:35para procuradores
00:28:37e juízes
00:28:38processar
00:28:39nada além
00:28:40que seja
00:28:41os tradicionales
00:28:42negros,
00:28:43pobres
00:28:44e prostitutas,
00:28:45porque
00:28:46de qualquer forma
00:28:47hoje
00:28:47você está
00:28:48correndo o risco
00:28:50de ser
00:28:51criminalizado
00:28:52na sua atividade
00:28:54pelos políticos.
00:28:56Nós estamos
00:28:57vivendo um momento
00:28:58de municipalização
00:28:59do Brasil,
00:29:00aquele velho
00:29:03discurso
00:29:03que o prefeito
00:29:04vai tirar
00:29:04o promotor
00:29:05da cidade
00:29:05está agora
00:29:07acontecendo.
00:29:08Talvez
00:29:09nesse meio
00:29:09do mês
00:29:10nós tenhamos
00:29:10um caso
00:29:11em que o CNMP
00:29:12vai tirar
00:29:13o Deltan Dallagnol
00:29:14do caso.
00:29:15Dia 18.
00:29:17É,
00:29:18numa decisão
00:29:19que seria
00:29:19por todos os motivos
00:29:21absurdos.
00:29:22As pessoas
00:29:22podem não gostar
00:29:23de Deltan,
00:29:24podem achar
00:29:24que ele é
00:29:24evangélico,
00:29:26alguns,
00:29:26ou que ele
00:29:27tem um jeito
00:29:27de falar
00:29:28exagerado,
00:29:30ou que ele não
00:29:30devesse falar
00:29:31assim ou assado,
00:29:32mas os motivos
00:29:33disso
00:29:33nada mais
00:29:34são
00:29:35do que o velho
00:29:36político
00:29:36vai tirar
00:29:37o promotor
00:29:38porque está
00:29:38incomodando.
00:29:39É isso que está
00:29:40acontecendo no Brasil.
00:29:41nós estamos
00:29:41querendo punir
00:29:43juízes
00:29:44e procuradores
00:29:45porque eles
00:29:46fizeram
00:29:46o seu trabalho
00:29:47e pela primeira
00:29:48vez um trabalho
00:29:49eficiente.
00:29:51Infelizmente,
00:29:52isso tem
00:29:52que acabar
00:29:53de uma maneira
00:29:55radical
00:29:58no Brasil
00:29:59com a implantação
00:30:00do Estado
00:30:01de Direito
00:30:01efetivo.
00:30:02Não é possível
00:30:03mais admitir
00:30:04esse Estado
00:30:05de coisas.
00:30:07O senhor
00:30:08está falando
00:30:08isso tudo,
00:30:09eu estou aqui
00:30:09me perguntando,
00:30:10o senhor até
00:30:11mencionou
00:30:11a questão
00:30:11da rachadinha.
00:30:13Tem muita gente
00:30:13que relativiza
00:30:14a rachadinha,
00:30:15diz que é um crime
00:30:16menor e etc.
00:30:18Mas a gente
00:30:19tem visto aí,
00:30:20o Flávio
00:30:20escancarou,
00:30:21o presidente
00:30:21escancarou,
00:30:22o Aras
00:30:22escancarou,
00:30:23todo mundo
00:30:23escancarou,
00:30:24aí parece que o STF
00:30:26se sentiu mais à vontade
00:30:26também,
00:30:27tem ministro do STJ
00:30:28escancarando também,
00:30:29está todo mundo
00:30:30no Congresso,
00:30:31todo mundo
00:30:31escancarando
00:30:32o seu sentimento
00:30:33anti-lava-jato,
00:30:35o que eu entendo
00:30:35como um sentimento
00:30:36pró-corrupção,
00:30:38pró-libera-geral.
00:30:40Por que está acontecendo
00:30:41isso?
00:30:43Olha,
00:30:44veja bem,
00:30:44eu tenho para mim
00:30:47que o sistema
00:30:49de contrapesos,
00:30:50de freios e contrapesos
00:30:52no Brasil,
00:30:53que seria
00:30:54o modelo constitucional
00:30:55que a Constituição
00:30:57americana nos trouxe
00:30:58no século XVIII ainda,
00:31:01é um modelo
00:31:03que no Brasil
00:31:03se transformou
00:31:05em uma mão
00:31:05lava a outra
00:31:06e as mãos
00:31:06lavar o rosto.
00:31:09Na verdade,
00:31:10pelo sistema
00:31:10ser tão intrincado,
00:31:13o que nós temos
00:31:13é que
00:31:14um sistema,
00:31:15uma instituição
00:31:17garante
00:31:18a impunidade
00:31:19da outra
00:31:20e todos
00:31:22se o completam
00:31:23nesse processo.
00:31:25O processo
00:31:26é comandado
00:31:27pela velha classe
00:31:28política
00:31:29que usa
00:31:30dinheiro ilícito
00:31:31para se manter
00:31:34no poder
00:31:34dentro dos partidos,
00:31:35para se manter
00:31:36no poder
00:31:36através de
00:31:38campanhas
00:31:38eleitorais
00:31:39milionárias
00:31:40e quando ela
00:31:42se sente
00:31:42ameaçada,
00:31:43ela usa
00:31:44as suas
00:31:45diversas
00:31:46relações
00:31:47de poder
00:31:47dentro dos
00:31:48diversos órgãos
00:31:49e instituições
00:31:50para manter
00:31:51o status quo.
00:31:53Infelizmente,
00:31:53é isso que está
00:31:54acontecendo
00:31:54e eu fico
00:31:56muito preocupado
00:31:57e sempre digo
00:31:57não me assusta
00:31:59isso,
00:32:00mas me assusta
00:32:02que nós
00:32:02estamos
00:32:03num relativismo
00:32:04moral
00:32:04e os bons
00:32:05estão silenciosos.
00:32:07A imprensa
00:32:08trata tudo
00:32:09como se fosse
00:32:10uma guerra
00:32:10de versões,
00:32:12como se fosse
00:32:13um relatório.
00:32:15Agora,
00:32:15não faço mais
00:32:16super
00:32:17falar isso,
00:32:18estou falando
00:32:18para o jornalista,
00:32:19mas vocês...
00:32:21Há jornalistas
00:32:22e jornalistas
00:32:23como há
00:32:23procuradores e procuradoras.
00:32:25Mas,
00:32:26de qualquer maneira,
00:32:26o que eu vejo
00:32:27é que,
00:32:28hoje em dia,
00:32:29os jornais fazem
00:32:30relatórios
00:32:31de posições.
00:32:34Eles não
00:32:35são capazes
00:32:36de questionar
00:32:37efetivamente
00:32:38o que está
00:32:39por trás.
00:32:40Veja o caso
00:32:40do Doutor
00:32:41Dalléu,
00:32:41que me preocupa
00:32:42muito.
00:32:43Nós sabemos
00:32:43que, em setembro
00:32:44do ano passado,
00:32:44o Senado
00:32:45não reconduziu
00:32:47conselheiros
00:32:49ao CNMP,
00:32:51porque esses
00:32:51conselheiros
00:32:52eram pró
00:32:53Doutor Dalléu.
00:32:53E nós denunciamos
00:32:54isso aqui.
00:32:56Exatamente.
00:32:56Havia uma
00:32:58encomenda
00:33:00de punição.
00:33:02Ora,
00:33:03se em qualquer
00:33:04país do mundo
00:33:05eu dissesse
00:33:05que há uma
00:33:06encomenda
00:33:06do poder político
00:33:08para uma punição
00:33:10de um procurador
00:33:12ou de um juiz,
00:33:13isso aí
00:33:14seria crime.
00:33:14No Brasil,
00:33:16isso é tratado
00:33:17pela imprensa
00:33:17como mais
00:33:18um fato
00:33:19normal
00:33:22dentro dessas
00:33:23relações
00:33:24escúrias
00:33:24de poder.
00:33:25Isso me preocupa
00:33:26muito.
00:33:27Nós temos
00:33:28que dizer
00:33:28que o que está
00:33:29acontecendo
00:33:29no Brasil
00:33:30é criminoso.
00:33:32Muitos
00:33:32desses fatos
00:33:34que nós estamos
00:33:34vendo
00:33:35são criminosos
00:33:36e nós não
00:33:37podemos aceitar,
00:33:38nós temos
00:33:38que denunciar,
00:33:39mas os procuradores
00:33:40estão sendo calados.
00:33:42O Ministério
00:33:43Público
00:33:44está sendo calado.
00:33:45A magistratura
00:33:46já,
00:33:47por sua natureza,
00:33:48não falava.
00:33:50Tentou-se até
00:33:51calar a imprensa.
00:33:52Vocês
00:33:52da Cruzoé
00:33:54foram vítimas
00:33:55disso.
00:33:56Esse inquérito
00:33:57de Alexandre
00:33:58Moraes
00:33:58é um absurdo.
00:33:59Por mais
00:34:00que eu não
00:34:00goste
00:34:00dos bolsonaristas
00:34:01e das bobagens
00:34:02que eles falam,
00:34:03a punição
00:34:04para uma pessoa
00:34:05pelo que fala
00:34:06só pode ser feita
00:34:06depois que ela falar.
00:34:08Claro.
00:34:08E não previamente
00:34:10calando o seu canal
00:34:11de acesso
00:34:12à população.
00:34:14Então,
00:34:14nós estamos
00:34:14vendo
00:34:15um sistema
00:34:16que está
00:34:17de maneira
00:34:19autoritária
00:34:20impondo
00:34:21o seu ponto
00:34:22de vista
00:34:22a toda a população.
00:34:24E,
00:34:24infelizmente,
00:34:25com a pandemia,
00:34:26pelo cansaço
00:34:27e pelo relativismo moral,
00:34:29a população
00:34:29também está
00:34:30muito quieta.
00:34:31Bom,
00:34:32a gente tem
00:34:32alguns golpes
00:34:33finais
00:34:34sendo preparados.
00:34:35Em setembro,
00:34:36o limite
00:34:37do mandato
00:34:38à força-tarefa
00:34:39normalmente
00:34:40é renovado.
00:34:41Pelo que a gente
00:34:41tem ouvido,
00:34:42ele não será renovado.
00:34:43O Aras
00:34:44está querendo
00:34:45criar um novo
00:34:46tipo,
00:34:47um novo sistema,
00:34:49mudar o nome,
00:34:50núcleo de não sei o quê,
00:34:51fazer uma outra coisa.
00:34:53Mas,
00:34:53atacar
00:34:54justamente o modelo,
00:34:56ele já deixou claro,
00:34:56acabar com o Lava Jatismo,
00:34:58acabar com o modelo.
00:34:59Eu imagino
00:35:00que ele queira acabar,
00:35:01inclusive,
00:35:01com esse modelo
00:35:02de sucesso
00:35:03das forças-tarefas
00:35:05e de todo esse processo,
00:35:09o uso de delações premiadas,
00:35:10tudo aquilo que fez
00:35:12a Lava Jato
00:35:12um sucesso.
00:35:16O que isso tem aí
00:35:17como os pilares
00:35:20da Lava Jato,
00:35:22como conceito?
00:35:24E o que a gente
00:35:24tem para manter?
00:35:26a partir de setembro?
00:35:27A partir de setembro.
00:35:27Então,
00:35:27atualmente,
00:35:29nós temos,
00:35:30primeiro,
00:35:30o trabalho em equipe,
00:35:31o trabalho em forças-tarefas.
00:35:33Eu não sou
00:35:34o defensor
00:35:36do modelo
00:35:36das UNACs,
00:35:38que eu poderia
00:35:38chamar de GAECOS,
00:35:40porque são os modelos
00:35:41estaduais.
00:35:43Para mim,
00:35:45há um problema sério
00:35:46no controle
00:35:48do procurador-geral,
00:35:50porque ele não está
00:35:51só pretendendo
00:35:52criar
00:35:52essa unidade,
00:35:55mas ele quer
00:35:56escolher
00:35:57a pessoa
00:35:58que vai
00:35:58gerenciar
00:36:00todos os
00:36:01grandes casos
00:36:02do país.
00:36:03Isso me preocupa.
00:36:05O modelo
00:36:06das forças-tarefas
00:36:08é um modelo
00:36:08democrático,
00:36:09descentralizado.
00:36:11Nenhuma tem
00:36:11grande poder,
00:36:13além do seu caso.
00:36:14Agora,
00:36:14se nós tivermos
00:36:15uma UNAC
00:36:16sob o comando
00:36:18de um procurador
00:36:19escolhido
00:36:21pelo procurador-geral,
00:36:23e se não houver
00:36:24uma democracia
00:36:25interna
00:36:25dessa unidade
00:36:26entre os diversos
00:36:28procuradores
00:36:29que a compõem,
00:36:30nós corremos
00:36:30o risco
00:36:31de entregar
00:36:32tudo
00:36:33o que há
00:36:34de mais importante
00:36:35no país
00:36:35ao controle
00:36:37efetivo,
00:36:38a última palavra,
00:36:39do poder político,
00:36:40que controla
00:36:41a indicação
00:36:41do procurador-geral.
00:36:43O pilar
00:36:43das forças-tarefas,
00:36:45trabalho em equipe,
00:36:46é um deles.
00:36:46O segundo
00:36:47é das técnicas
00:36:48colaborativas,
00:36:50colaboração premiada
00:36:52e leniência.
00:36:53Nós tivemos
00:36:53as primeiras
00:36:55colaborações,
00:36:56nós fizemos
00:36:56em 2003 ainda
00:36:57no Banestado,
00:36:59eu e o doutor
00:36:59Vladimir Aras,
00:37:00depois nós tivemos
00:37:01em 2016
00:37:04as leniências
00:37:09das empresas
00:37:10e isso
00:37:11se desenvolveu
00:37:12de uma maneira
00:37:13extremamente
00:37:14eficiente
00:37:15para alavancar
00:37:17investigações
00:37:17de forma exponencial.
00:37:19Então,
00:37:20de uma range rover
00:37:21em 4, 5 ou 6 anos,
00:37:23nós chegamos
00:37:24a este mundo
00:37:25de informações.
00:37:26Isso é graças
00:37:27às técnicas
00:37:27colaborativas.
00:37:29E terceiro ponto
00:37:30essencial
00:37:31é a comunicação.
00:37:35Os procedimentos
00:37:36da Lava Jato
00:37:37por estarem
00:37:38em um ambiente
00:37:39eletrônico,
00:37:40propiciarem
00:37:41que a própria imprensa
00:37:42fosse atrás
00:37:43das suas informações.
00:37:46Elas estavam
00:37:46acessíveis
00:37:47a qualquer um
00:37:48do povo
00:37:48porque o juiz
00:37:50só entendia,
00:37:51no caso Sérgio Moro,
00:37:53que sigilo
00:37:54é necessário
00:37:55enquanto útil
00:37:56à investigação.
00:37:57Senão,
00:37:58o princípio
00:37:59é o da transparência.
00:38:01Nós,
00:38:01da Lava Jato,
00:38:02sempre levamos
00:38:03a nossa opinião
00:38:04ao que estava acontecendo,
00:38:06explicamos
00:38:06para a população
00:38:07diretamente
00:38:08quais eram
00:38:09as nossas acusações.
00:38:10Por quê?
00:38:11Porque, de outro lado,
00:38:11nós teríamos somente
00:38:12a versão
00:38:13da defesa.
00:38:16Claro.
00:38:17Então,
00:38:17esses são
00:38:18os três grandes pilares.
00:38:19Você pode notar
00:38:21que são os três
00:38:22pilares atacados.
00:38:23Eles fizeram,
00:38:24obviamente,
00:38:25a lição de casa
00:38:26e compreenderam
00:38:27a natureza
00:38:29da eficiência
00:38:30da Lava Jato
00:38:31e agora
00:38:32estão tentando
00:38:33destruir
00:38:33justamente
00:38:34os pilares
00:38:35dessa operação.
00:38:37O senhor fala
00:38:37de transparência,
00:38:38eu me lembro,
00:38:38inclusive,
00:38:39porque muitos
00:38:39advogados
00:38:40desses investigados
00:38:41conseguiam alimentar
00:38:44a narrativa
00:38:44durante muito tempo
00:38:45na imprensa
00:38:46de que havia
00:38:47vazamentos
00:38:48diários
00:38:48na Lava Jato
00:38:49e, na verdade,
00:38:50o que havia
00:38:50era o acesso
00:38:51imediato
00:38:53às peças
00:38:54das investigações,
00:38:56às representações
00:38:56do Ministério Público,
00:38:58aos inquéritos,
00:38:59às decisões,
00:38:59aos despachos
00:39:00dos juízes.
00:39:02Então,
00:39:03claro,
00:39:03nós, por exemplo,
00:39:05que sempre tivemos
00:39:05interesse especial
00:39:06na cobertura
00:39:07dessa que é
00:39:08a maior operação
00:39:09anticorrupção
00:39:10do planeta,
00:39:11justamente,
00:39:12nós tínhamos
00:39:12uma velocidade
00:39:13incrível
00:39:14em obter
00:39:15essas informações
00:39:16que já estavam
00:39:17sem sigilo,
00:39:18disponibilizadas
00:39:18no sistema eletrônico,
00:39:20no IPROC.
00:39:20É outra coisa também
00:39:21que querem
00:39:22destruir,
00:39:23o IPROC.
00:39:25A gente disponibilizava
00:39:27isso para o público
00:39:27e éramos atacados
00:39:30como se
00:39:31tivéssemos
00:39:32compactuado
00:39:33com vazamentos.
00:39:34Bom,
00:39:36quando o senhor
00:39:38mencionou
00:39:39uma coisa aí,
00:39:40já falou
00:39:40diversas vezes
00:39:41do Banestado.
00:39:44Do Banestado.
00:39:46Eu gostaria
00:39:46que o senhor
00:39:46pudesse sintetizar
00:39:48rapidamente,
00:39:49porque muita gente
00:39:49agora voltou
00:39:51a essa história
00:39:51do Banestado.
00:39:53Banestado,
00:39:53Banestado,
00:39:54CC5,
00:39:55até um dia desse
00:39:55vou até lhe perguntar,
00:39:58porque antes
00:39:59da gente entrar
00:40:00no Banestado,
00:40:01eu queria
00:40:01sua opinião
00:40:03sobre o seguinte.
00:40:04O Banco Central,
00:40:06já que a gente
00:40:07está falando
00:40:07do Libera Geral,
00:40:09o Banco Central
00:40:10aumentou
00:40:12o valor mínimo
00:40:13de transações
00:40:15em reais
00:40:16no exterior,
00:40:17que devem ser
00:40:17informadas,
00:40:18obviamente,
00:40:18ao Banco Central,
00:40:19de 10 mil
00:40:20para 100 mil dólares.
00:40:22E aumentou
00:40:23também
00:40:23de 100 mil
00:40:24para 1 milhão
00:40:25o valor
00:40:27que precisa
00:40:28ser declarado
00:40:28de investimento
00:40:29no exterior.
00:40:30na sua opinião,
00:40:33o senhor que tem
00:40:33longa experiência
00:40:35em investigação,
00:40:36já investigou
00:40:36a CC5,
00:40:38quando eu vi isso
00:40:39aí,
00:40:39eu fiquei,
00:40:39mas será,
00:40:40parece,
00:40:41tem um cheiro
00:40:42de CC5,
00:40:42até brinquei
00:40:43no meu programa,
00:40:43no meu último programa.
00:40:46O senhor que trabalha
00:40:47com a questão
00:40:48do compliance,
00:40:50como é que o senhor
00:40:50vê isso?
00:40:51O senhor acha
00:40:51que essa decisão
00:40:53abre espaço
00:40:55para...
00:40:57A gente viu
00:40:57o COAF
00:40:58também sendo
00:40:58marretado,
00:40:59saiu,
00:41:00tiraram dali,
00:41:00jogaram para um lado,
00:41:01jogaram para dentro
00:41:02do Banco Central,
00:41:03nunca mais vimos
00:41:03o COAF.
00:41:04O fato é o seguinte,
00:41:05dentro desse contexto,
00:41:07essas decisões
00:41:07preocupam
00:41:08essa mudança?
00:41:10Preocupa?
00:41:10O senhor acha
00:41:11que isso pode ser
00:41:12utilizado
00:41:12para fins ilícitos?
00:41:16Ela preocupa,
00:41:17sim,
00:41:17porque na Operação
00:41:19Banestado,
00:41:20uma das formas
00:41:21mais eficientes
00:41:22de nós construirmos
00:41:24uma linha
00:41:25de acusação
00:41:27era justamente
00:41:28a evasão
00:41:28de divisas,
00:41:30que era
00:41:30a não informação
00:41:32do Banco Central
00:41:33de qualquer valor
00:41:35depositado
00:41:36acima do limite
00:41:38de 10 mil.
00:41:39Então,
00:41:39naquele momento
00:41:40histórico,
00:41:41a evasão
00:41:42de divisas
00:41:43foi o principal
00:41:44carro-chefe
00:41:45das investigações,
00:41:47porque não era
00:41:47uma investigação
00:41:48de corrupção,
00:41:49mas sim uma investigação
00:41:50de lavagem de dinheiro
00:41:51e evasão de divisas.
00:41:52agora,
00:41:54essas mudanças,
00:41:55talvez até
00:41:56com alguma razoabilidade
00:41:58em termos inflacionários,
00:42:00mas não
00:42:00com razoabilidade
00:42:02de momento.
00:42:04Eu acho
00:42:04que às vezes
00:42:04falta muito
00:42:05ao Banco Central
00:42:06fazer essa discussão
00:42:08de uma maneira
00:42:10mais clara
00:42:10e ampla
00:42:11com a participação
00:42:12inclusive
00:42:13do Ministério Público,
00:42:15porque no final
00:42:15das contas
00:42:16esse tipo
00:42:16de criminalidade
00:42:18precisa ser construída
00:42:20em cima
00:42:21de dados
00:42:21que estão
00:42:22no Banco Central.
00:42:23Saber esses dados
00:42:24do Banco Central
00:42:25é essencial
00:42:26para nós
00:42:28do Ministério Público
00:42:30ou para o Ministério Público
00:42:31agora,
00:42:32já que eu não sou
00:42:32mais do Ministério Público.
00:42:35Me preocupa também
00:42:36o próprio lançamento
00:42:37da nota de 200.
00:42:40Ele perguntou
00:42:40disso também.
00:42:42Na contramão
00:42:43de toda
00:42:43tentativa
00:42:45que tem sido
00:42:46feita há anos
00:42:47e com resistência
00:42:48do Banco Central
00:42:49de determinar
00:42:50que dinheiro vivo
00:42:52não possa ser usado
00:42:53mais no Brasil
00:42:54em determinadas transações
00:42:56acima de um determinado valor.
00:42:59E isso era importante
00:43:00por quê?
00:43:00Porque a transação
00:43:02eletrônica
00:43:02hoje é facilmente
00:43:04rastreável
00:43:05e tornaria
00:43:06os negócios
00:43:07muito mais
00:43:08transparentes
00:43:09para as investigações
00:43:12e para o próprio
00:43:13interesse privado.
00:43:14Então,
00:43:15tudo isso
00:43:15nos preocupa
00:43:16sobre maneira,
00:43:17porque
00:43:17às vezes
00:43:20o Banco Central
00:43:20age,
00:43:21na minha opinião,
00:43:22até com boa vontade,
00:43:24mas ele ouve
00:43:25muitos setores
00:43:26econômicos
00:43:27e deixa
00:43:28de ouvir
00:43:29os setores técnicos
00:43:31de combate
00:43:32à lavagem
00:43:32de dinheiro
00:43:33e a persecução penal
00:43:34da criminalidade
00:43:35organizada.
00:43:36Nós temos que ter
00:43:37um sistema eficiente
00:43:38porque a criminalidade
00:43:40organizada gera
00:43:41muito dinheiro vivo.
00:43:42Nós precisamos
00:43:43controlá-lo
00:43:44e com uma nota
00:43:46de 200
00:43:46nós vamos ter
00:43:47muito mais
00:43:48dificuldade
00:43:48para controlar
00:43:49o dinheiro
00:43:51indo e vindo
00:43:52em maletas
00:43:53ou sendo depositado
00:43:54em apartamentos.
00:43:56Isso é muito
00:43:56preocupante.
00:43:57Aproveitando,
00:43:58o senhor pode fazer
00:43:58uma síntese
00:43:59rapidamente
00:44:00da Operação
00:44:01Banestado,
00:44:02da esconta
00:44:03em CC5?
00:44:05A Operação
00:44:05Banestado
00:44:06surge através
00:44:08de notícias
00:44:09de Operações
00:44:09em CC5,
00:44:10uma autorização
00:44:11que, na minha opinião,
00:44:13foi uma forma
00:44:14pela qual o governo
00:44:14Fernando Henrique
00:44:15achou
00:44:16de liberar
00:44:18a pressão
00:44:18sobre o câmbio.
00:44:19Naquele tempo
00:44:20havia uma paridade
00:44:22artificial
00:44:22entre o dólar
00:44:23e o real
00:44:24e de uma forma,
00:44:27vamos dizer assim,
00:44:28tipicamente econômica,
00:44:29porque há moral
00:44:30completamente contra a lei
00:44:31e foi dada
00:44:32essa autorização
00:44:34para que dólares,
00:44:36supostamente gastos
00:44:37em Cidade Leste,
00:44:39entrassem no Brasil
00:44:40e fossem permitidas
00:44:41a conversão
00:44:41e a remessa
00:44:42ao exterior
00:44:43na forma de dólares,
00:44:44quando, na verdade,
00:44:45era uma permissão
00:44:46para que o mercado
00:44:47ilegal de câmbio
00:44:49utilizasse
00:44:50Foz do Iguaçu
00:44:52como uma válvula
00:44:53de escape
00:44:54do dinheiro
00:44:56ilícito
00:44:59no Brasil.
00:45:00Nós vimos isso,
00:45:01então,
00:45:01e isso estourou
00:45:02e nós fizemos
00:45:04uma investigação
00:45:05que durou
00:45:06alguns anos
00:45:07e esta investigação
00:45:09mostrou
00:45:10uma cadeia extensa
00:45:12de doleiros.
00:45:13Nós fizemos a prisão
00:45:14de Alberto Youssef,
00:45:15nós fizemos
00:45:16o Toninho da Barcelona,
00:45:18destruímos
00:45:19o mercado
00:45:19de câmbio
00:45:20daquela época.
00:45:21Infelizmente...
00:45:22Os doleiros
00:45:22daquela operação
00:45:24voltaram a trabalhar.
00:45:25Eles voltaram
00:45:27a trabalhar.
00:45:28E por quê?
00:45:29Porque o nosso sistema
00:45:30penal,
00:45:31que vocês falam,
00:45:31o penal
00:45:32é ineficiente.
00:45:33Por mais que você
00:45:34tenha feito
00:45:35todo um bom trabalho
00:45:36naquela época,
00:45:37você,
00:45:37para conseguir
00:45:38um trânsito
00:45:40enjulgado,
00:45:41é quase impossível
00:45:42para alguém
00:45:43que contrate
00:45:43um advogado
00:45:45mediano.
00:45:46Não precisa nem
00:45:46ser um grande
00:45:47advogado.
00:45:48Então,
00:45:48o que aconteceu?
00:45:49Esses grupos
00:45:50de doleiros
00:45:51voltaram todos
00:45:52a trabalhar.
00:45:54Teve uma coisa
00:45:55que eu acho
00:45:55que talvez seja
00:45:56importante também
00:45:56a gente mencionar,
00:45:58que nós tivemos
00:45:58aqui no Banestado.
00:46:00684 denunciados
00:46:01e 97 condenados.
00:46:03Quer dizer,
00:46:04ainda não havia
00:46:05essa prática
00:46:06que foi adotada
00:46:07pela Lava Jato
00:46:07de você
00:46:08colocar em fases
00:46:10a investigação.
00:46:11Fecha um pacote,
00:46:13passa para a próxima
00:46:14investigação,
00:46:15fecha outro pacote,
00:46:16então você tem
00:46:16na Lava Jato
00:46:17mais 70 fases.
00:46:19Porque você pode,
00:46:21esses advogados
00:46:22podem tentar
00:46:23criar algum tipo
00:46:24de nulidade
00:46:24naquela fase,
00:46:25naquela investigação,
00:46:26pode até conseguir
00:46:27gerar algum tipo
00:46:28de problema.
00:46:30E essa operação
00:46:31ser cancelada,
00:46:32essa condenação,
00:46:33e tal,
00:46:33mas isso não afeta
00:46:34todas as demais.
00:46:38É por aí?
00:46:40Na verdade,
00:46:41nós tínhamos,
00:46:42de certa forma,
00:46:44um trabalho
00:46:45em fases
00:46:45naquela operação,
00:46:47não tantas fases,
00:46:49assim.
00:46:50Nós concentramos
00:46:51basicamente
00:46:52em três grandes fases.
00:46:55Houve uma fase
00:46:56muito importante,
00:46:57que foi a Farol da Colina,
00:46:59na qual foi a maior
00:47:01operação até recentemente
00:47:04da Polícia Federal,
00:47:05que nós fizemos
00:47:06em oito,
00:47:08se não me engano,
00:47:09oito estados
00:47:10ao mesmo tempo.
00:47:11Então,
00:47:12naquele tempo,
00:47:12nós talvez
00:47:13tenhamos pecado
00:47:15pelo gigantismo
00:47:16das operações,
00:47:18e não pela setorização.
00:47:20A Lava Jato,
00:47:21agora,
00:47:21foi mais setorial.
00:47:23Ela teve um aspecto,
00:47:26uma operação,
00:47:27gera uma busca
00:47:28e apreensão,
00:47:29que gera possivelmente
00:47:31uma colaboração,
00:47:32que vai gerar
00:47:33novas operações.
00:47:35E ela foi
00:47:35crescendo
00:47:36de maneira exponencial.
00:47:38Tudo isso,
00:47:38o embrião está
00:47:39no Banestado,
00:47:40mas o Banestado
00:47:41ainda não tinha
00:47:42desenvolvido
00:47:43completamente
00:47:44todas as técnicas.
00:47:45Vou aproveitar
00:47:46a oportunidade nossa
00:47:47aqui,
00:47:48para que o senhor
00:47:48possa rebater
00:47:49uma fake news
00:47:50que está ressurgindo
00:47:51nas redes sociais
00:47:52também,
00:47:52em função do Banestado,
00:47:54em função da ICC5,
00:47:55que tem a ver
00:47:56justamente com o seguinte,
00:47:57o que tem saído
00:47:59por aí,
00:48:00que a gente toda hora,
00:48:01inclusive na nossa
00:48:02tela aparece,
00:48:03etc.,
00:48:03vem até matéria
00:48:04da revista Isto É,
00:48:052003,
00:48:06colocam aqui,
00:48:08título da matéria,
00:48:08Raposa no Galheiro,
00:48:09aí menciona o senhor,
00:48:10Carlos Fernando Santos Lima,
00:48:12em função da sua esposa
00:48:13ter sido funcionária
00:48:15do Banestado,
00:48:16que o senhor teria atuado
00:48:17para barrar a quebra
00:48:18de sigilo
00:48:18de contas suspeitas
00:48:19por parte da CPI.
00:48:21Por favor,
00:48:21a oportunidade que o senhor
00:48:22tem também
00:48:23para esclarecer
00:48:24esse episódio.
00:48:25É,
00:48:26isso faz parte
00:48:27daquilo que nós,
00:48:28eu sempre digo,
00:48:29quem está na chuva
00:48:30é para se molhar,
00:48:31e você sendo líder
00:48:32de qualquer tipo
00:48:33de investigação,
00:48:35participando de uma
00:48:36investigação desse tipo,
00:48:37sempre surge
00:48:38esse tipo de notícia.
00:48:39O que eu posso dizer
00:48:40é que naquela época
00:48:42nós fomos vítimas,
00:48:44eu,
00:48:44minha família
00:48:45e outros procuradores,
00:48:47inclusive,
00:48:47fomos vítimas
00:48:48de uma campanha
00:48:50que veio da CPI,
00:48:52uma campanha contra nós,
00:48:53que veio da CPI,
00:48:55porque nós estávamos
00:48:56mexendo com interesses
00:48:57muito poderosos
00:48:59internamente.
00:49:01Eu posso dizer
00:49:03que era uma campanha
00:49:05totalmente mentirosa,
00:49:06eu processei a revista,
00:49:08ganhei essa indenização,
00:49:1170 mil reais
00:49:13desde 2003,
00:49:15e até hoje
00:49:15eu não vi a cor desse dinheiro,
00:49:18porque a revista
00:49:19está em recuperação judicial.
00:49:21O que eu posso dizer
00:49:23é que isso aí
00:49:23ressurge e surge,
00:49:25e eu sempre digo
00:49:26para a Deltan
00:49:27que é o tipo de coisa
00:49:28que você não controla,
00:49:29na verdade,
00:49:30porque é a indústria
00:49:32da fake news,
00:49:33é a indústria
00:49:33da maledicência,
00:49:34do assassinato
00:49:35de reputações.
00:49:37O que a gente pode dizer
00:49:38é que o trabalho
00:49:39foi bem feito,
00:49:41infelizmente,
00:49:42só não foi melhor,
00:49:43porque ele ainda
00:49:45tem os problemas
00:49:46naturais
00:49:47de qualquer processo
00:49:48no Brasil.
00:49:49nós nunca chegamos
00:49:51ao finalmente.
00:49:53E quando eventualmente
00:49:54chegamos ao final,
00:49:56o trânsito em julgado
00:49:57aconteceu no Banco do Estado,
00:49:59o acusado,
00:50:01o condenado,
00:50:02já está tão velho
00:50:03que ele acaba conseguindo
00:50:04prisão domiciliar.
00:50:05Como diz Deltan,
00:50:07o sistema foi feito
00:50:08para não funcionar.
00:50:09Para não funcionar.
00:50:10Mas dessas acusações,
00:50:12quer dizer,
00:50:13a acusação em si
00:50:14ela é mentirosa
00:50:17em função
00:50:17da tua atuação?
00:50:20É mentirosa
00:50:20a sua esposa
00:50:22trabalhar,
00:50:23trabalhava ou não
00:50:24trabalhava?
00:50:25A minha ex-mulher
00:50:28trabalhava.
00:50:29Ela já era
00:50:30minha ex-esposa,
00:50:31ela trabalhou realmente
00:50:32como escriturária,
00:50:34sem qualquer função
00:50:35comissionada,
00:50:36na agência
00:50:37que se localizava
00:50:39na Ponte da Amizade.
00:50:41Esse era o único fato
00:50:42efetivo.
00:50:44Ela não exerceu
00:50:45nenhum cargo
00:50:45de gerência
00:50:46em qualquer momento
00:50:49da sua carreira
00:50:50dentro do Banco do Estado
00:50:52do Paraná.
00:50:53Mas isso é suficiente
00:50:54para se criar
00:50:55teorias conspiratórias.
00:50:57Os fatos foram provados
00:50:58e depois
00:51:01gerou essa indenização.
00:51:03Não houve
00:51:04nem sequer
00:51:05uma sindicância administrativa
00:51:08de tão absurdo
00:51:09que eram as afirmações.
00:51:11Claro.
00:51:11Ou seja,
00:51:12ela não tinha
00:51:12nenhum tipo
00:51:13de acesso,
00:51:15de participação,
00:51:16nada que pudesse
00:51:16levá-la
00:51:17a ter uma
00:51:18conta disso aí.
00:51:19Ela é uma funcionária
00:51:19de atendimento
00:51:20a clientes
00:51:21na linha de frente
00:51:23do Banco.
00:51:25Vou aproveitar
00:51:25para arrebater
00:51:27uma outra fake news.
00:51:30Estão dizendo
00:51:31que a Lava Jato
00:51:32é tucana.
00:51:35O senhor até mencionou
00:51:36o Fernando Henrique,
00:51:37o Banestado
00:51:38teria poupado
00:51:39vários tucanos.
00:51:41por favor,
00:51:41se posicione
00:51:42sobre essas
00:51:42acusações.
00:51:44É tucana?
00:51:45O que, na verdade,
00:51:47o Banestado
00:51:48não foi uma investigação
00:51:49sobre corrupção política.
00:51:52Na verdade,
00:51:52foi uma investigação
00:51:53sobre lavagem de dinheiro
00:51:55e grandes doleiros.
00:51:57Em nenhum momento
00:51:58ela teve qualquer
00:51:59vinculação
00:52:00com atividade política.
00:52:03Eventualmente,
00:52:03algum político
00:52:04podia ter usado
00:52:05aqueles doleiros,
00:52:06mas a investigação
00:52:07em si
00:52:08não visava
00:52:09nenhuma
00:52:10atividade
00:52:11política
00:52:12partidária.
00:52:14Nem mesmo
00:52:15corrupção
00:52:15de grandes empresários.
00:52:16Nós remetemos
00:52:17todas as informações
00:52:18para a Receita Federal
00:52:20e a Receita Federal
00:52:20fez a autuação
00:52:22fiscal
00:52:22daqueles que usavam
00:52:23os esquemas
00:52:24criminosos.
00:52:25Foi basicamente
00:52:26o que foi feito
00:52:27em relação
00:52:28aos usuários
00:52:29do sistema
00:52:30de lavagem.
00:52:31eu tenho
00:52:33para mim
00:52:33e esse é
00:52:34um fato
00:52:37que eu tenho
00:52:38como justificativo
00:52:40é que o governo
00:52:41Frederico
00:52:42usou
00:52:43daquilo
00:52:43como medida
00:52:44econômica.
00:52:45Efetivamente.
00:52:47Uma válvula
00:52:47de escape,
00:52:49uma válvula
00:52:49da pressão
00:52:50que havia
00:52:51sobre o mercado,
00:52:52sobre o câmbio
00:52:53ilegal
00:52:54no mercado
00:52:55do dólar paralelo.
00:52:57Então,
00:52:58esse mercado
00:52:59do dólar paralelo
00:52:59precisava
00:53:00escapar
00:53:02da pressão
00:53:03que havia
00:53:04pela paridade
00:53:05artificial
00:53:06do câmbio
00:53:07do dólar oficial.
00:53:08E foi isso,
00:53:09salvo engano,
00:53:11no governo
00:53:12Fernando Henrique
00:53:13que se determinou
00:53:14a possibilidade
00:53:16de se usar
00:53:17as contas
00:53:17CC5
00:53:18para remessa
00:53:19ao exterior.
00:53:20O uso
00:53:20das contas
00:53:21CC5
00:53:21não tem nada
00:53:22de regular.
00:53:24Aquela autorização
00:53:25específica
00:53:26para as agências
00:53:28de Foz do Iguaçu,
00:53:29dos grandes bancos
00:53:30operarem
00:53:31em câmbio
00:53:32de dinheiro
00:53:33que vinha
00:53:34supostamente
00:53:35da Cidade Leste
00:53:36é que foi
00:53:37irregular.
00:53:38E foi uma decisão
00:53:39com objetivos
00:53:41econômicos.
00:53:42Mas isto é
00:53:43uma análise
00:53:44que eu faço
00:53:44sobre os motivos
00:53:46que o governo
00:53:47tomou.
00:53:48Isso não é
00:53:49criminoso
00:53:50em si.
00:53:51Perfeito.
00:53:52Isso não é criminoso
00:53:52em si,
00:53:53nem era objeto
00:53:54da nossa
00:53:54investigação
00:53:55em Foz do Iguaçu.
00:53:56Agora,
00:53:57Lava Jato não.
00:53:58Lava Jato revelou
00:53:59crimes de...
00:54:00Se não fosse Lava Jato
00:54:01nós não teríamos
00:54:01as investigações
00:54:03do metrô
00:54:03de São Paulo
00:54:04e nem
00:54:05do arco rodoviário
00:54:06em São Paulo
00:54:09ou das obras
00:54:10da Copa
00:54:11ou das Olimpíadas,
00:54:13eletronuclear,
00:54:14porque isso tudo
00:54:15foi revelado
00:54:15nas leniências
00:54:17e colaborações
00:54:18da operação
00:54:18Lava Jato.
00:54:19A gente tem
00:54:20Paulo Preto,
00:54:21vamos falar dos nomes
00:54:21para eles poderem
00:54:22identificar.
00:54:23Paulo Preto,
00:54:24operador dos Tucanos
00:54:25de São Paulo.
00:54:25Nós temos aí
00:54:27também a operação
00:54:28pegando Beto Richa,
00:54:29governador tucano,
00:54:30ex-governador tucano
00:54:31lá do Paraná.
00:54:33Sim,
00:54:33exatamente.
00:54:35A operação Lava Jato
00:54:35inclusive desbaratou
00:54:37algo que era
00:54:38aqui no Paraná
00:54:39muito dito
00:54:40a muitas eleições
00:54:42usadas por diversos
00:54:43políticos,
00:54:44que eram os esquemas
00:54:44das concessionárias
00:54:46de rodovias.
00:54:47Foi esta investigação
00:54:48que detonou
00:54:49uma série
00:54:50de acordos
00:54:51das concessionárias
00:54:52por todo o Brasil,
00:54:54revelando fatos criminosos
00:54:55envolvendo diversos
00:54:57governos,
00:54:58inclusive tucanos.
00:55:00E estas investigações
00:55:01estão espalhadas
00:55:02pelo Brasil.
00:55:04Infelizmente,
00:55:05em determinado momento,
00:55:07essas investigações
00:55:07foram sendo retiradas
00:55:09de Curitiba.
00:55:11E esse retirado
00:55:12não é culpa
00:55:13da Operação Lava Jato.
00:55:15Quem tem que responder
00:55:15por elas
00:55:16são os ministros
00:55:19do Supremo
00:55:19que fizeram
00:55:20essas decisões,
00:55:21tomaram essas decisões.
00:55:22por entenderem
00:55:23que não havia
00:55:24vínculo com o Petrolão.
00:55:25Então, resolveram...
00:55:27Se você tem
00:55:27uma investigação
00:55:28de concessionária
00:55:29de pedágio,
00:55:29isso não tem vínculo
00:55:30com o Petrolão.
00:55:30Então, manda
00:55:31para outra.
00:55:33Se você tem
00:55:33metrô de São Paulo,
00:55:34manda para São Paulo.
00:55:36Só que a gente viu
00:55:37na Lava Jato
00:55:38que as empresas,
00:55:40as empreiteiras,
00:55:41as grandes empreiteiras
00:55:42que atuavam
00:55:43na Petrobras,
00:55:43na verdade,
00:55:44elas se transformaram
00:55:45em grandes grupos
00:55:46empresariais
00:55:47com atuação
00:55:48em vários setores
00:55:49da economia,
00:55:50setor de energia,
00:55:51setor de infraestrutura,
00:55:53quer dizer,
00:55:54e o esquema
00:55:55dominava
00:55:56todo o Estado.
00:55:58Os esquemas
00:55:59em si,
00:56:00eles são
00:56:01exatamente
00:56:02o mesmo
00:56:03replicados
00:56:04para estados,
00:56:05municípios
00:56:06e outros
00:56:07órgãos públicos.
00:56:08Mas o esquema
00:56:09do Petrolão
00:56:09não tem nada
00:56:10de especial.
00:56:12Ele apenas,
00:56:13talvez,
00:56:14tenha sido
00:56:14o maior de todos,
00:56:16mas ele era
00:56:17replicado em tudo.
00:56:18eu posso dizer
00:56:19que no Brasil
00:56:21qualquer atividade
00:56:23estatal
00:56:24gerava recursos
00:56:25ilícitos
00:56:25até aprovar
00:56:27legislação
00:56:28no Congresso Nacional.
00:56:30Nós temos casos
00:56:31de,
00:56:31no caso
00:56:32de pleniência
00:56:33em que as empresas
00:56:34afirmam
00:56:35que compraram
00:56:36medidas provisórias,
00:56:37compraram
00:56:38aprovação
00:56:39de legislação,
00:56:40compraram
00:56:40CPIs
00:56:41dentro do
00:56:43Congresso Nacional.
00:56:44No Brasil
00:56:44se vendia
00:56:45tudo.
00:56:46Tudo.
00:56:47E se nós
00:56:47não mudarmos
00:56:48a forma
00:56:49de agir,
00:56:50logo vai
00:56:51se voltar
00:56:51a vender
00:56:52qualquer coisa.
00:56:53Se você
00:56:53entrar por esse
00:56:54debate,
00:56:54qual a legalidade
00:56:55de leis
00:56:57que foram
00:56:59aprovadas
00:57:00na base
00:57:00da propina?
00:57:01Realmente
00:57:02é uma discussão.
00:57:04Isso é muito
00:57:05interessante.
00:57:07Bom,
00:57:08só para finalizar
00:57:08essa questão
00:57:09dos tucanos,
00:57:09aproveitando a oportunidade,
00:57:10porque muita gente
00:57:11fala assim,
00:57:11o Alckmin
00:57:12só está sendo
00:57:13pego agora,
00:57:15o Aécio
00:57:15ninguém pegou,
00:57:16mas esse pessoal
00:57:18tinha foro
00:57:19privilegiado,
00:57:20não é isso?
00:57:20Quer dizer,
00:57:21quem tinha que pegar
00:57:21era o PGR,
00:57:23era o STF,
00:57:24era o STJ,
00:57:25não é isso?
00:57:26É,
00:57:27eu creio que você
00:57:27pode ser responsabilizado
00:57:29e, claro,
00:57:30uma operação como a
00:57:31Lava Jato vai ter,
00:57:33ainda mais se ela
00:57:33for encerrada
00:57:34artificialmente,
00:57:35ela vai ter milhares
00:57:37de investigações
00:57:38potenciais
00:57:39que não puderam
00:57:40ser feitas.
00:57:41mas você
00:57:42só pode ser
00:57:43responsabilizado
00:57:44por aquilo
00:57:44que está
00:57:45no seu alcance,
00:57:46não aquilo
00:57:47que lhe foi
00:57:47retirado
00:57:48ou que é
00:57:49da atribuição
00:57:50de competência
00:57:51de outro órgão.
00:57:53Então,
00:57:53o que o Lava Jato
00:57:54vai ter que responder
00:57:55são pelas suas omissões,
00:57:58mas não pelas omissões
00:57:59dos outros.
00:57:59É que o nome
00:58:00Lava Jato
00:58:00hoje,
00:58:01ele é um grande
00:58:02guarda-chuva,
00:58:03que às vezes
00:58:04envolve investigações
00:58:05que nem sequer
00:58:06são Lava Jato,
00:58:07como a JBL,
00:58:09não são nem sequer
00:58:13Lava Jato,
00:58:13mas tudo virou
00:58:14um grande guarda-chuva,
00:58:15porque hoje
00:58:16a Lava Jato
00:58:16é uma forma
00:58:18de se combater
00:58:19a corrupção,
00:58:20são técnicas
00:58:21de combate
00:58:22de corrupção.
00:58:23Então,
00:58:24sobre esse guarda-chuva,
00:58:25às vezes,
00:58:25as acusações
00:58:26também são fáceis.
00:58:28Eu sempre,
00:58:28quando alguém
00:58:29me pergunta,
00:58:30mas a Lava Jato
00:58:31não está sendo punida
00:58:33pelos seus abusos,
00:58:34eu falo,
00:58:34se você me especificar
00:58:35quais são os abusos,
00:58:36eu posso me defender.
00:58:38Mas nada mais
00:58:39é difícil
00:58:40do que você
00:58:41ser confrontado
00:58:43com palavras genéricas
00:58:44do tipo
00:58:44abusos e excessos.
00:58:46Eu posso explicar
00:58:47as investigações
00:58:48da Lava Jato
00:58:49em Curitiba,
00:58:50mas não posso explicar
00:58:51as omissões
00:58:52dos outros.
00:58:54Lembrando que,
00:58:55nesse esquema
00:58:56que investigou
00:58:57essencialmente,
00:58:58começou a investigar
00:58:59essencialmente
00:59:00a Petrobras,
00:59:01a Petrobras era
00:59:02dividida pelo PT
00:59:03com o PMDB,
00:59:04com o PP
00:59:05e outros partidos menores
00:59:06que integravam
00:59:07a base de sustentação
00:59:08do governo Lula
00:59:09e do governo Dilma.
00:59:11E o PSDB
00:59:11não fazia parte
00:59:12dessa base,
00:59:13então ele também
00:59:13não estava
00:59:14nesse esquema.
00:59:16Estava em vários
00:59:16outros esquemas,
00:59:17porque tinha governos
00:59:18estaduais aí,
00:59:19mas não especificamente
00:59:20nesse esquema,
00:59:23é bom
00:59:23aproveitar
00:59:25para esclarecer.
00:59:25Quando o senhor fala
00:59:26de abusos,
00:59:27aí me vem justamente
00:59:28em mente,
00:59:29já para a gente ir
00:59:29finalizando
00:59:30a nossa conversa,
00:59:31a frase
00:59:32do Augusto Aras
00:59:34dizendo
00:59:35que seria um risco
00:59:37vocês terem lá,
00:59:38quer dizer,
00:59:38vocês na Lava Jato
00:59:39ter essa base
00:59:40de dados lá
00:59:41de 350 terapais,
00:59:44mais de 38 mil
00:59:45pessoas envolvidas
00:59:46e tal,
00:59:47porque isso poderia
00:59:48ser utilizado
00:59:49para chantagem
00:59:50e extorsão.
00:59:52E aí,
00:59:52é uma acusação
00:59:53muito grave,
00:59:56ela vai na linha
00:59:57de uma narrativa
00:59:58levantada
00:59:58por vários advogados
00:59:59dizendo que
01:00:01os delatores
01:00:02eram presos,
01:00:04eram mantidos presos
01:00:06para poder
01:00:07negociar a delação
01:00:08e que poderia,
01:00:10então,
01:00:10nessas negociações
01:00:11acontecer
01:00:12algum tipo
01:00:12de chantagem,
01:00:13algum tipo
01:00:13de extorsão.
01:00:15Como que eram
01:00:16feitos os acordos,
01:00:17doutor Carlos Fernando,
01:00:19e se a presença
01:00:21do advogado
01:00:22era constante?
01:00:25Quer dizer,
01:00:26qualquer tipo
01:00:27de negociação
01:00:27com o réu,
01:00:28com o investigado,
01:00:29ela era feita
01:00:31na presença
01:00:32do advogado?
01:00:34Primeiro que as
01:00:35acusações
01:00:36de Augusto
01:00:37Arda
01:00:38são absolutamente
01:00:39libianas,
01:00:40eu tenho que usar
01:00:40essa palavra
01:00:41diversas vezes,
01:00:43porque são
01:00:44suposições,
01:00:46suposições
01:00:47que estão
01:00:47agredindo
01:00:48funcionários públicos
01:00:49exemplares,
01:00:51que fizeram
01:00:51o melhor possível,
01:00:53e eu desconheço
01:00:55qualquer advogado
01:00:56que tenha participado
01:00:58de um acordo
01:00:58de colaboração,
01:00:59que possa dizer
01:01:01que foi submetido
01:01:03a qualquer
01:01:03exigência
01:01:05absurda
01:01:06ou ilícita.
01:01:08Então,
01:01:08isso,
01:01:08para mim,
01:01:08é uma daquelas
01:01:10coisas que são
01:01:11incompatíveis
01:01:12com a figura
01:01:13do Procurador-Geral
01:01:14da República.
01:01:15Agora,
01:01:16nós tínhamos
01:01:16muitas regras,
01:01:17porque,
01:01:18eu lhe digo,
01:01:19nós começamos
01:01:19em 2003,
01:01:20eu e o Vladimir
01:01:22Aras fizemos
01:01:23a primeira
01:01:24colaboração
01:01:25no modelo
01:01:25clausulado,
01:01:26acordo,
01:01:27submetido
01:01:28à homologação
01:01:29judicial,
01:01:29que foi
01:01:29de Alberto
01:01:30Iussef.
01:01:31No Banestado
01:01:31foram feitos
01:01:3217.
01:01:33Isso aí,
01:01:34antes,
01:01:35muito antes,
01:01:36quase 10 anos
01:01:37antes,
01:01:37da própria lei
01:01:38criar o acordo
01:01:40no nosso
01:01:41arquétipo legal.
01:01:42Então,
01:01:43nós tínhamos
01:01:44muita técnica
01:01:46e muita
01:01:47estrutura
01:01:48a respeito
01:01:49de como
01:01:49se fazia acordo.
01:01:50Eu,
01:01:51inclusive,
01:01:52dei aulas
01:01:52sobre acordos
01:01:53de colaboração
01:01:54e leneença
01:01:55na Escola Superior
01:01:56do Ministério Público
01:01:57da União,
01:01:59enfatizando
01:02:00os perigos
01:02:01do acordo.
01:02:02E quando um acordo
01:02:03é bom
01:02:04e quando um acordo
01:02:05não é bom,
01:02:06quando um acordo
01:02:07deve ser feito
01:02:08e quando ele
01:02:08não deve ser feito.
01:02:10Então,
01:02:11jamais,
01:02:12isso,
01:02:13a Operação
01:02:14Lava Jato
01:02:14em Curitiba,
01:02:15enquanto,
01:02:16pelo menos,
01:02:16eu coordenava
01:02:17os acordos,
01:02:19ela foi
01:02:20atrás
01:02:20de um colaborador.
01:02:23Ela sempre
01:02:24esperou
01:02:24que houvesse
01:02:25manifestação
01:02:26do colaborador
01:02:28através
01:02:28de um advogado
01:02:30constituído
01:02:31para que
01:02:32nós iniciássemos
01:02:34uma conversa
01:02:35de colaboração.
01:02:36Primeiro,
01:02:36isso não é necessário,
01:02:37mas era uma forma
01:02:38de se garantir
01:02:39para nós
01:02:41a segurança
01:02:41do processo.
01:02:43Segundo,
01:02:44em nenhum momento
01:02:45você conversa
01:02:47sozinho
01:02:49com o colaborador,
01:02:50ele tem que estar
01:02:50sempre acompanhado
01:02:52da sua defesa
01:02:53técnica.
01:02:55É uma regra,
01:02:55né?
01:02:56Está escrita essa regra.
01:02:58Essa é uma regra,
01:02:59inclusive,
01:02:59consta atualmente
01:03:00nos manuais
01:03:01de procedimento
01:03:03interno.
01:03:05Terceiro,
01:03:06o procurador
01:03:07jamais vai
01:03:08sozinho
01:03:08numa reunião,
01:03:10ele também
01:03:10vai acompanhado
01:03:11de pelo menos
01:03:13um outro,
01:03:13um segundo colega,
01:03:15para que
01:03:15tudo que seja
01:03:16conversado
01:03:17nessa reunião
01:03:18seja
01:03:19testemunhado
01:03:21por outro
01:03:21mesmo
01:03:22do Ministério Público.
01:03:23Então,
01:03:24nós tínhamos
01:03:24muitos controles
01:03:26efetivos,
01:03:28jamais usamos
01:03:29as prisões,
01:03:30até porque
01:03:30mais de 80%
01:03:31das colaborações
01:03:32foram feitas
01:03:33com pessoas
01:03:34fora da prisão,
01:03:37com pessoas
01:03:37que tinham receio,
01:03:39obviamente,
01:03:39ninguém aqui
01:03:40está falando
01:03:41que eles estão
01:03:41vindo porque
01:03:42eles tiveram
01:03:42uma epifania
01:03:43cristã
01:03:44e agora
01:03:45estão arrependidos,
01:03:46estão querendo
01:03:47entrar para o reino
01:03:48dos céus.
01:03:49Não,
01:03:49eles estão vindo
01:03:50porque eles
01:03:50querem um benefício
01:03:51ou estão com medo
01:03:52de serem presos.
01:03:53O caso clássico
01:03:54de Barusco.
01:03:55Barusco veio
01:03:56com 100 milhões
01:03:57de dólares
01:03:57uma semana
01:03:59depois
01:03:59de nós termos
01:04:01pela primeira vez
01:04:02ouvido o nome dele
01:04:03numa conversa
01:04:06interna
01:04:07de um colaborador.
01:04:09Então,
01:04:09ele soube
01:04:10que tinha sido
01:04:11mencionado
01:04:11e veio.
01:04:12Por quê?
01:04:13Porque ele tinha
01:04:14receio.
01:04:14É claro
01:04:15que o receio,
01:04:16a questão
01:04:17de eventual
01:04:18envolvimento
01:04:19da família,
01:04:20tudo isso pesa.
01:04:21Eu não tenho
01:04:21que controlar
01:04:22esses fatos.
01:04:24Os motivos
01:04:24pelo qual
01:04:25a pessoa vem
01:04:26para colaborar
01:04:26são os mais
01:04:27diversos possíveis,
01:04:29inclusive a vingança
01:04:29eventualmente.
01:04:31Para o Ministério Público
01:04:32não faz diferença.
01:04:33Faz diferença
01:04:33se os fatos
01:04:34são críveis,
01:04:36se há possibilidade
01:04:37de fazer
01:04:38prova deles
01:04:39e se a pessoa
01:04:41realmente
01:04:42está entregando
01:04:43o grosso
01:04:44dos fatos,
01:04:45a maior parte
01:04:46dos fatos.
01:04:47Porque,
01:04:48eventualmente,
01:04:49nós não precisamos
01:04:50ter todos os fatos,
01:04:52porque se ele não
01:04:53falar toda a verdade,
01:04:54é ele que vai responder
01:04:55pela omissão.
01:04:58Mas nós precisamos
01:04:58pelo menos
01:04:59acreditar que ele
01:05:00está falando
01:05:00o grosso
01:05:01dos fatos criminosos.
01:05:02É importante
01:05:04deixar claro
01:05:04essa coisa
01:05:05da participação
01:05:05do advogado,
01:05:06porque se eles
01:05:08constroem uma narrativa
01:05:08de que havia extorsão,
01:05:09havia chantagem,
01:05:10o advogado presenciando
01:05:12qualquer tipo
01:05:13de proposta
01:05:15não republicana,
01:05:16ele deveria sair
01:05:16dali e representar
01:05:17contra o procurador
01:05:18e não se calar.
01:05:20Exatamente.
01:05:22Seria um absurdo.
01:05:23Seria um absurdo
01:05:25o advogado
01:05:25estar na presença
01:05:27de procurador,
01:05:28na presença
01:05:28do seu cliente
01:05:30e ouvir
01:05:30uma oferta
01:05:32qualquer,
01:05:33uma promessa
01:05:34qualquer,
01:05:35uma ameaça
01:05:35qualquer
01:05:36e não reagir.
01:05:37E não reagir
01:05:38e se calar.
01:05:39E eu posso lhe dizer
01:05:41que a força-tarefa
01:05:43é muito respeitada
01:05:45entre os advogados
01:05:47que fizeram acordo,
01:05:49que eles sabem
01:05:49da nossa lisura,
01:05:52a maneira como
01:05:52nós tratamos,
01:05:54especialmente
01:05:54da maneira
01:05:55muito cordata,
01:05:56porque nós
01:05:57não damos lição
01:05:58de moral,
01:05:59nós não ficamos
01:06:00com arte de superioridade
01:06:01e nós tratamos
01:06:02as pessoas
01:06:03como elas devem
01:06:03ser tratadas,
01:06:04com educação,
01:06:05tanto os advogados
01:06:07quanto os próprios
01:06:08colaboradores.
01:06:09Isso não se confunde
01:06:10com a dureza
01:06:11da negociação,
01:06:14da firmeza
01:06:15da negociação,
01:06:16de você não abrir,
01:06:17obviamente,
01:06:18e aceitar um acordo
01:06:19por qualquer
01:06:20oferta,
01:06:22que não entregue
01:06:23justamente o acionamento.
01:06:24Muitas vezes
01:06:25acontece
01:06:25de vir à família,
01:06:27por exemplo,
01:06:28eu recebi
01:06:29familiares e colaboradores
01:06:31e ouvi
01:06:32entristecido,
01:06:34porque qualquer pessoa
01:06:35com o mínimo
01:06:37de sentimento
01:06:41vai entender
01:06:42o que a família
01:06:42está passando,
01:06:44as dificuldades,
01:06:45e tive que muitas
01:06:46vezes dizer,
01:06:47olha,
01:06:48infelizmente nós
01:06:48não vamos fazer
01:06:49acordo
01:06:50com o seu familiar,
01:06:52porque ele
01:06:53não interessa
01:06:54ao Ministério Público,
01:06:55ele chegou atrasado,
01:06:57ele mentiu
01:06:57no momento que era
01:06:59para falar a verdade
01:07:00e agora
01:07:02eu entendo
01:07:03o problema
01:07:03de vocês,
01:07:04o sentimento
01:07:05de vocês,
01:07:05mas nós não
01:07:06fazemos acordo
01:07:07por pena,
01:07:08nós fazemos acordo
01:07:09porque ele é útil
01:07:10ao interesse público.
01:07:13Bom,
01:07:13a conduta de vocês
01:07:14não quer dizer
01:07:15que tenha sido
01:07:16a mesma adotada,
01:07:17por exemplo,
01:07:17pela PGR aqui,
01:07:18eu sou crítico
01:07:19de vários acordos
01:07:20que foram feitos,
01:07:20Sérgio Machado,
01:07:22sou crítico
01:07:23até ao acordo
01:07:24da Odebrecht,
01:07:25recentemente nós tivemos
01:07:26o Marcelo Odebrecht
01:07:28criando uma confusão,
01:07:29entrando numa briga judicial
01:07:30com o próprio pai
01:07:31e revelando
01:07:33que ele teria servido
01:07:36de bode expiatório,
01:07:38contando nessa versão
01:07:39de que teria servido
01:07:40de bode expiatório,
01:07:42assumindo a bronca
01:07:43de outros,
01:07:44até do pai,
01:07:45de crimes que ele
01:07:46não teria cometido.
01:07:48Seria o caso
01:07:49da PGR
01:07:50chamar
01:07:51para renegociar
01:07:53justamente
01:07:54os benefícios
01:07:54que foram concedidos,
01:07:56numa situação
01:07:57em que você
01:07:57tem o próprio colaborador
01:07:58desdizendo
01:08:00aquilo que ele disse,
01:08:02doutor Carlos Renato?
01:08:02Eu tenho,
01:08:03eu tenho assim,
01:08:05em relação
01:08:05ao Marcelo Odebrecht,
01:08:06eu até acredito
01:08:07que não seja o caso.
01:08:09Marcelo Odebrecht
01:08:10está no que nós chamamos
01:08:11a quinta fase
01:08:12dos colaboradores,
01:08:14no qual ele está
01:08:15querendo se vingar
01:08:16internamente
01:08:17por ter sido
01:08:19o grande punido
01:08:22em toda a situação
01:08:24e agora ele começa
01:08:25a revelar aquilo
01:08:26que outros
01:08:28não revelaram.
01:08:29E isso é muito interessante
01:08:31porque o poder público,
01:08:32essa desunião
01:08:33com a organização
01:08:35eventualmente criminosa
01:08:36é o objetivo
01:08:37dos acordos.
01:08:39Então,
01:08:39para mim,
01:08:40o acordo de Marcelo Odebrecht
01:08:41não tem esse caráter
01:08:42porque não me parece
01:08:43que o Marcelo Odebrecht
01:08:44tenha mentido
01:08:45a respeito.
01:08:46O que ele está trazendo
01:08:47são fatos novos.
01:08:48Isso é sempre
01:08:49de interesse público.
01:08:50Agora,
01:08:52em relação à PGR,
01:08:53eu sou muito crítico também
01:08:55porque a PGR,
01:08:58talvez pela má influência
01:09:00que o ex-procurador
01:09:02Marcelo Miller
01:09:03tinha na condução
01:09:05dos trabalhos,
01:09:07ela acabou fazendo
01:09:08acordos muito ruins.
01:09:10E não foi só
01:09:12Sérgio Machado,
01:09:15Eucídio Amaral,
01:09:17nós temos o próprio acordo
01:09:18da JBL.
01:09:22JBL é a caixinha de som.
01:09:28Infelizmente,
01:09:30em todos esses casos,
01:09:31nós vemos um elemento
01:09:32que talvez tenha,
01:09:34que a Lava Jardim Curitiba
01:09:36evitou muito,
01:09:37mas que foi muito comum
01:09:39nos casos da PGR.
01:09:40Foi as gravações ambientais.
01:09:42Delcídio Amaral
01:09:44havia gravação ambiental,
01:09:45Sérgio Machado
01:09:46havia gravação ambiental,
01:09:48a JBS havia gravação ambiental.
01:09:51E, às vezes,
01:09:52para tomar posse
01:09:54dessa prova,
01:09:57o entusiasmo
01:09:59tem obscurecido
01:10:01o bom julgamento,
01:10:02porque um acordo bom
01:10:04é como cozinhar
01:10:05um galo velho.
01:10:06Você precisa
01:10:07cozinhar em fogo brando
01:10:09e durante muito tempo.
01:10:11Esses acordos
01:10:12foram muito rápidos,
01:10:14acelerados
01:10:14pelo interesse
01:10:15que a PGR
01:10:17tinha sobre
01:10:18essas gravações
01:10:18ambientais.
01:10:20E, no final das contas,
01:10:21as gravações ambientais
01:10:22não eram
01:10:23a essência,
01:10:25o mais importante.
01:10:27Eu lembro
01:10:27do caso
01:10:28do Sérgio Machado,
01:10:29que houve até
01:10:30um pedido
01:10:30de prisão
01:10:32de José Sarney,
01:10:36salvo engano,
01:10:37de outros membros
01:10:38do Congresso,
01:10:40e depois
01:10:40sequer foram denunciados.
01:10:42Claro.
01:10:44Então,
01:10:44a minha preocupação
01:10:45é que você não pode
01:10:46tratar
01:10:47desta forma
01:10:48a colaboração.
01:10:49A colaboração
01:10:50deve ser feita
01:10:51com cuidado.
01:10:53Quando eu faço
01:10:53essa aula,
01:10:54eu digo que passam
01:10:55por diversas fases.
01:10:57Uma fase de negação,
01:10:59uma fase
01:10:59de eufemismos,
01:11:01até eventualmente
01:11:02chegar a uma fase
01:11:03de pós-delação
01:11:05em que ele começa
01:11:06a procurar provas,
01:11:08como é o caso
01:11:08do Comercial Libreste,
01:11:09contra os demais
01:11:10dentro da organização criminosa.
01:11:13Então,
01:11:13você tem que passar
01:11:14naturalmente,
01:11:15conforme o caso,
01:11:17com muita paciência
01:11:18por isso.
01:11:19Isso pode demorar
01:11:20meses.
01:11:21O Libreste demorou
01:11:21nove meses
01:11:22entre as primeiras
01:11:24reuniões
01:11:24e o acordo.
01:11:26Você precisa
01:11:26passar por isso
01:11:28porque é muito
01:11:29difícil fazer
01:11:30um acordo
01:11:30e justificar
01:11:31para a população
01:11:32porque você concedeu
01:11:33para uma pessoa
01:11:35que confessa
01:11:36crimes um benefício.
01:11:38A pessoa só vai
01:11:39compreender isto
01:11:40se esses fatos
01:11:43forem relevantes.
01:11:44E por falta
01:11:45de relevância,
01:11:46por falta de capacidade
01:11:47probatória,
01:11:48nós do Ministério Público
01:11:50não fizemos
01:11:50acordo com o Palocci.
01:11:53Infelizmente,
01:11:54foi feito
01:11:55com a Polícia Federal
01:11:56e que se revelou
01:11:57até hoje
01:11:58absolutamente inócuo.
01:12:00Eu não conheço
01:12:01uma única operação
01:12:02derivada
01:12:03dessa coisa.
01:12:04Eu tenho
01:12:05uma sensação,
01:12:06até porque,
01:12:07como trabalho
01:12:07com jornalismo
01:12:08investigativo
01:12:08há 20 anos
01:12:09e conheci
01:12:10de muito perto
01:12:11essas investigações
01:12:13da Lava Jato,
01:12:14acompanhei,
01:12:14li muito relatório
01:12:15que vocês produziram,
01:12:16muitas provas
01:12:17nos autos
01:12:18disponibilizadas
01:12:18para acesso
01:12:20da imprensa
01:12:21e, como jornalista
01:12:23também,
01:12:24eu tenho acesso
01:12:25a outras fontes,
01:12:26fontes humanas,
01:12:27etc.
01:12:28Eu fiquei
01:12:30com a impressão
01:12:30de que
01:12:31algumas linhas
01:12:32de investigação,
01:12:33algumas frentes
01:12:34de investigação
01:12:34ficaram para trás.
01:12:37Eu não sei,
01:12:38aí a minha dúvida,
01:12:39se isso aconteceu
01:12:41porque talvez
01:12:42a Lava Jato
01:12:42tenha se baseado
01:12:43muito nas delações
01:12:45ou por algum outro motivo
01:12:47ou porque
01:12:48é um gigantismo
01:12:49da operação
01:12:50tamanho
01:12:51que você tem
01:12:52que determinar
01:12:53prioridades e tal.
01:12:55Mas, nessa sensação
01:12:56de investigações
01:12:57que ficaram para trás,
01:12:59eu vi um movimento
01:13:00muito tardio
01:13:00de apurações
01:13:01em relação justamente
01:13:02ao mercado financeiro,
01:13:04aos bancos,
01:13:05às corretoras
01:13:05de investimento,
01:13:07muitas delas
01:13:08clientes
01:13:09dos doleiros
01:13:12que foram presos
01:13:13e também
01:13:14até da banda podre
01:13:16do judiciário.
01:13:17é isso?
01:13:20Qual é a sua impressão?
01:13:20Como é que o senhor
01:13:21responde
01:13:22a essa minha
01:13:23sensação?
01:13:25Você,
01:13:26quando você faz
01:13:27uma investigação,
01:13:28você tem milhares
01:13:29de hipóteses
01:13:30investigativas.
01:13:32Quando você
01:13:32vai conseguindo
01:13:34derrubar
01:13:35os dominós,
01:13:36porque nós chamamos
01:13:36isso
01:13:37de teoria
01:13:38dos dominós,
01:13:40você derruba
01:13:41um dominó,
01:13:41derrubam dois,
01:13:42derrubam quatro,
01:13:43derrubam seis,
01:13:44você tem um crescimento
01:13:45exponencial.
01:13:46A Lava Jato
01:13:46teve um crescimento
01:13:47exponencial,
01:13:49como eu disse,
01:13:49saiu de uma range rover
01:13:50e chegou em todas
01:13:52as grandes estatais
01:13:53e grandes eventos
01:13:54do Brasil
01:13:54nos últimos
01:13:5510, 15 anos.
01:13:57Isso só é possível
01:13:58você fazendo escolhas,
01:14:00não há possibilidade
01:14:01de você
01:14:02investigar tudo.
01:14:04Então,
01:14:04a ideia
01:14:04de que você esgota
01:14:06todas as investigações
01:14:08numa fase
01:14:08para passar
01:14:09para a outra
01:14:10tornaria
01:14:11essa investigação
01:14:12talvez ainda presa
01:14:13na terceira fase.
01:14:14nós não teríamos
01:14:15nem preso
01:14:16os executivos
01:14:18das empreiteiras
01:14:20que aconteceu
01:14:20só na sétima.
01:14:22Então,
01:14:23sempre são feitas
01:14:23as escolhas
01:14:24e as escolhas
01:14:25são aqueles
01:14:26caminhos investigativos
01:14:27que aparecem
01:14:28que são mais simples
01:14:29e mais impactantes.
01:14:32Então,
01:14:32você tem que fazer isso,
01:14:33você escolhe,
01:14:34de repente,
01:14:34você está olhando
01:14:36por um lado,
01:14:36mas vem um acordo
01:14:37ou vem uma prova
01:14:38numa investigação
01:14:40de que o caminho
01:14:42é este
01:14:42e isto aqui
01:14:43geraria
01:14:44uma nova fase
01:14:45com um potencial
01:14:46muito grande
01:14:47de cair em novas
01:14:48peças
01:14:48do dominó.
01:14:50Você vai
01:14:51focalizar
01:14:52nesta nova fase.
01:14:54Então,
01:14:55ao longo do caminho
01:14:56vão ficando
01:14:56pontas soltas.
01:14:59Por isso que eu digo
01:14:59que a Operação
01:15:00Lava Jato
01:15:00em Curitiba
01:15:01pode estar
01:15:02em declínio,
01:15:04mas ela não está
01:15:05em declínio
01:15:06por falta
01:15:07do que fazer,
01:15:08ela tem muito
01:15:08do rescaldo
01:15:09dessas pontas
01:15:11soltas,
01:15:12que são
01:15:13investigações
01:15:13normalmente menores.
01:15:15Agora,
01:15:16investigar o judiciário
01:15:17é uma das tarefas
01:15:19mais difíceis,
01:15:20porque ele
01:15:20dificilmente
01:15:21aparece em
01:15:22colaborações premiadas.
01:15:24Segundo,
01:15:25não existe
01:15:26maior dificuldade,
01:15:27nós estamos vendo
01:15:28isto,
01:15:29quando chegam
01:15:31nesses elementos,
01:15:32porque,
01:15:33de certa forma,
01:15:34o sistema
01:15:34não consegue
01:15:36trabalhar
01:15:36com o espírito
01:15:38de corpo
01:15:39e com a proteção
01:15:40interna
01:15:41dentro do
01:15:41Poder Judiciário.
01:15:43Infelizmente,
01:15:43são muito raras
01:15:44as colaborações
01:15:46que têm
01:15:46elementos concretos
01:15:48contra juízes
01:15:50ou desembargadores
01:15:51ou ministros.
01:15:53Agora,
01:15:53por exemplo,
01:15:54eu estou vendo
01:15:55alguns arquivamentos
01:15:57da delação
01:15:58de Sérgio Cabral,
01:16:01que não foi feita
01:16:03pelo Ministério Público,
01:16:05foi feita
01:16:05pela Polícia.
01:16:06Infelizmente,
01:16:08eu tenho
01:16:09para mim
01:16:09que a polícia
01:16:10ainda não
01:16:11aprendeu
01:16:11completamente
01:16:12a fazer
01:16:14acordos,
01:16:15porque o
01:16:16Ministério Público
01:16:17sabe que um
01:16:17acordo não é
01:16:18só entregar
01:16:19o relatório
01:16:20para o Judiciário
01:16:22e para o Ministério
01:16:23Público,
01:16:23ele sabe que ele
01:16:24vai ter que defender
01:16:24isto até o
01:16:25Supremo Tribunal
01:16:26Federal,
01:16:28dali a 20 anos,
01:16:29em recursos
01:16:30extraordinários.
01:16:31Então,
01:16:31ele tem muito
01:16:32cuidado sobre
01:16:33perspectivas futuras
01:16:35dos acordos.
01:16:36Sérgio Cabral
01:16:37disse que está
01:16:38entregando membros
01:16:39no Judiciário.
01:16:40Entretanto,
01:16:41está tudo sendo
01:16:41arquivado e
01:16:42ninguém sabe
01:16:42o que está
01:16:43acontecendo.
01:16:45E o controle
01:16:46interno,
01:16:46basicamente,
01:16:47é o desejo
01:16:48do Procurador-Geral
01:16:49e o arquivamento
01:16:50do Ministro Toffoli.
01:16:51Então,
01:16:52infelizmente,
01:16:53eu não sei
01:16:53exatamente
01:16:54que destino
01:16:56podem estar
01:16:56os foros
01:16:58privilegiados
01:16:59que tantas
01:16:59pessoas gostariam
01:17:00de ver
01:17:02sendo revelados
01:17:03no Brasil,
01:17:04dentro,
01:17:05inclusive,
01:17:05do Poder Judiciário
01:17:06nessas investigações.
01:17:08Mas o Poder Judiciário
01:17:09sempre foi
01:17:10uma caixa preta.
01:17:11É a mesma dificuldade
01:17:13de entrar
01:17:13nos bancos,
01:17:15por exemplo?
01:17:16Eu lembro que
01:17:16quando vocês começaram,
01:17:17quando começou
01:17:18a avançar
01:17:19nessa área
01:17:20até o Banco Central,
01:17:21resolveu negociar
01:17:23uma forma
01:17:25de leniência
01:17:26direta
01:17:26com os bancos
01:17:28para que eles pudessem
01:17:30negociar diretamente,
01:17:31pagavam uma multa
01:17:32e esqueciam o negócio.
01:17:33se a gente até hoje
01:17:33não sabe quem negociou,
01:17:35não tem transparência
01:17:36alguma.
01:17:38Na verdade,
01:17:40o que acontece
01:17:41nos bancos
01:17:41é muito mais
01:17:43uma atividade
01:17:43de varejo,
01:17:45uma atividade
01:17:46de gerentes
01:17:48de bancos
01:17:48e até
01:17:49um certo grau
01:17:50elevado
01:17:51dentro das instituições,
01:17:53de negociação
01:17:54de esquemas
01:17:55específicos
01:17:56de lavagem.
01:17:57os grandes bancos
01:17:58são responsáveis
01:17:59pelos seus gerentes,
01:18:01mas
01:18:01a Lava Jato
01:18:03procurou evitar
01:18:04o caminho
01:18:04do Banestado,
01:18:07que era
01:18:08perder muito
01:18:09da sua energia
01:18:10atuando
01:18:11em cima
01:18:11somente
01:18:12do âmbito
01:18:13da lavagem
01:18:14de dinheiro.
01:18:15Nós encaminhamos
01:18:16os fatos,
01:18:17por exemplo,
01:18:17para o Banco Central,
01:18:18as informações,
01:18:20mas nós
01:18:20focalizamos
01:18:21nos quatro
01:18:22principais
01:18:23articuladores
01:18:25do sistema,
01:18:26os lavadores
01:18:27de dinheiro,
01:18:28doleiros,
01:18:29normalmente,
01:18:31os funcionários
01:18:32públicos
01:18:32das estatais,
01:18:34os políticos
01:18:34e os empresários.
01:18:36Nós evitamos
01:18:37o caminho
01:18:38do Banestado,
01:18:40que foi retomado
01:18:41pelo Rio de Janeiro.
01:18:43O Rio de Janeiro
01:18:43fez investigações
01:18:44que tinham
01:18:45a mesma natureza
01:18:46das investigações
01:18:48do Banestado,
01:18:49em cima
01:18:49de doleiros.
01:18:51Foi com isso
01:18:52que eles conseguiram
01:18:52a prisão
01:18:53de Dario Messa.
01:18:54isso tem
01:18:55sua virtude,
01:18:57mas ela ocupa
01:18:57muito tempo
01:18:59e desgasta
01:19:00muito
01:19:01a produtividade
01:19:03das investigações
01:19:05quando ela está
01:19:05mais focada
01:19:06em corrupção.
01:19:09Essa coisa
01:19:09do judiciário
01:19:10também envolve
01:19:11um outro problema
01:19:11que são as grandes
01:19:12bancas de advocacia.
01:19:14Você falou
01:19:15da Lava Jato do Rio,
01:19:16lembrei que eles também
01:19:16têm uma frente lá
01:19:17bastante delicada
01:19:18nesse sentido.
01:19:19Até hoje,
01:19:20não conseguiram
01:19:20fechar a investigação.
01:19:22doutor Carlos
01:19:25Fernando,
01:19:26para encerrar,
01:19:27o senhor tem
01:19:28pretensões políticas?
01:19:31Não,
01:19:31não tenho.
01:19:32Eu gostaria
01:19:32de poder
01:19:35advogar
01:19:36com tranquilidade,
01:19:39abrir a minha
01:19:39banca,
01:19:40efetivamente,
01:19:41porque eu não consigo
01:19:41nem terminar
01:19:42minhas obras
01:19:43por conta
01:19:44da pandemia,
01:19:45e poder trabalhar
01:19:46com tranquilidade,
01:19:48que sempre foi meu plano
01:19:49quando eu me aposentasse.
01:19:50eu não tenho
01:19:51essa visão
01:19:54da política.
01:19:55Meu pai foi político
01:19:56e, por conta disso,
01:19:57eu tenho uma visão
01:19:58um pouco negativa.
01:19:59Não tenho
01:20:00condições financeiras
01:20:01de sustentar
01:20:03uma campanha
01:20:03e creio
01:20:05que outras pessoas,
01:20:06como o próprio
01:20:07Sérgio Moro,
01:20:08representarão melhor
01:20:09a Operação Lava Jato
01:20:10na política brasileira.
01:20:11Bom,
01:20:12dinheiro não é problema,
01:20:12tem que pegar a dica
01:20:13com o Bolsonaro,
01:20:14que diz que gastou
01:20:15muito pouco
01:20:15para fazer a campanha
01:20:17para ser eleito em 2018.
01:20:18seu pai...
01:20:19É, mas não quero
01:20:19fazer fake news também, né?
01:20:22Seu pai foi político?
01:20:25Foi deputado estadual,
01:20:26ele foi promotor
01:20:27de justiça
01:20:27na época,
01:20:29por dia,
01:20:29em 1970,
01:20:30em outra época,
01:20:31ele hipotecou
01:20:32a sua casa
01:20:33em Apucarana,
01:20:34Paraná,
01:20:35e usou esse dinheiro
01:20:36para fazer campanha,
01:20:37no tempo que bastava
01:20:38esse dinheiro
01:20:39para fazer uma campanha
01:20:40política.
01:20:41Ao final de quatro anos,
01:20:42ele chegou até
01:20:43vice-presidente
01:20:43da Assembleia Legislativa,
01:20:45era um político
01:20:45brilhante,
01:20:46só que ao final
01:20:47de quatro anos,
01:20:48ele disse,
01:20:48não vou tentar a reeleição
01:20:49porque eu não paguei
01:20:50a casa ainda,
01:20:51a hipoteca,
01:20:52e não tenho dinheiro
01:20:53para a reeleição
01:20:54e acabou aí
01:20:55a carreira política dele.
01:20:57Isso me ensinou
01:20:58a não entrar
01:21:00na política efetivamente,
01:21:01porque a política
01:21:01do jeito que está aí
01:21:02no Brasil hoje,
01:21:04é quase impossível
01:21:05você escapar,
01:21:06se você não for
01:21:06uma celebridade,
01:21:09você escapar
01:21:10do dinheiro ilícito.
01:21:12Claro.
01:21:12Bom,
01:21:14então,
01:21:14resta aí
01:21:15essa sua palavra
01:21:16pública,
01:21:17sempre ajudando
01:21:18a esclarecer,
01:21:20a informar
01:21:21as pessoas,
01:21:22a sociedade,
01:21:23precisa reagir,
01:21:24não é,
01:21:25doutor?
01:21:25Sim,
01:21:26estamos saindo
01:21:28da letra de paz.
01:21:30Pois é,
01:21:30porque está muito,
01:21:32é claro,
01:21:32tem todos os limites
01:21:33aí da questão da pandemia,
01:21:34etc e tal,
01:21:35mas é preciso reagir
01:21:36para a gente não ver
01:21:37todo esse trabalho
01:21:38jogado no lixo aí
01:21:39e a vitória
01:21:40dos corruptos,
01:21:41não é isso?
01:21:41Sim,
01:21:43eu acredito
01:21:43que a vitória
01:21:44será da mudança,
01:21:47mas ela vai demorar
01:21:48de 15 a 30 anos ainda,
01:21:52porque nenhum lugar
01:21:54do mundo
01:21:54ela foi rápida,
01:21:55então nós temos
01:21:56que ter paciência.
01:21:57Apesar de todos
01:21:58os passos para trás,
01:22:00nós temos que acreditar
01:22:00que ainda conseguimos
01:22:01dar mais para a frente.
01:22:04Tá certo.
01:22:05Bom,
01:22:05doutor Carlos Fernando Santos Lima,
01:22:06muito obrigado aí
01:22:07pela entrevista esclarecedora,
01:22:10pelo seu tempo,
01:22:11senhor que agora
01:22:12está advogando,
01:22:13aposentou
01:22:14da procuradoria,
01:22:17teve essa carreira
01:22:19bastante intensa,
01:22:20desde o Banestado,
01:22:21encerrando
01:22:22com chave de ouro
01:22:23com a Lava Jato
01:22:24e hoje é colunista
01:22:25também da revista
01:22:26Cruzoé.
01:22:26Então,
01:22:27muito obrigado
01:22:27mais uma vez
01:22:28e bom artigo,
01:22:30que o senhor ainda
01:22:30tem que escrever.
01:22:32Obrigado pelo convite,
01:22:33sempre às ordens.
01:22:34Tchau.
01:22:35Tchau.
01:22:36Tchau.
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