Almir Garnier nega ter oferecido tropas ao suposto golpe; Dora Kramer e Kobayashi analisam

Jovem Pan News

10/06/2025

Em depoimento ao STF, o almirante Almir Garnier negou ter colocado tropas à disposição de uma suposta tentativa de golpe. Ele admitiu, porém, que discutiu o cenário político com Jair Bolsonaro (PL). Dora Kramer e Nelson Kobayashi analisam o impacto das declarações e o avanço das investigações.

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00:00...que os ataques aos poderes foram provocados ou causados por uma falha grave na segurança, acompanhe.

00:08E realmente, ministro, houve uma falha grave no cumprimento desse protocolo.

00:12Eu, é por isso que eu digo ao senhor, eu fui surpreendido com isso no domingo, né,

00:16quando eu fui surpreendido, quando eu vi o que estava acontecendo aqui no domingo,

00:20eu tive informações, pedaços de informações, porque eu estava num parque na Disney,

00:25e liguei diversas vezes para o comandante da PM para perguntar para ele o que estava acontecendo,

00:29onde é que houve a falha, mas ele estava no meio da confusão,

00:33ele praticamente não me atendeu ali naquele momento, eu falei rapidamente com ele,

00:38liguei para o governador, liguei para o procurador-geral de justiça do DF,

00:41fiquei desesperado, liguei para todo mundo, porque eu realmente,

00:44do jeito que eu deixei as coisas em Brasília, é inimaginável que acontecesse o que aconteceu no 8 de janeiro, ministro.

00:51A grande verdade é essa.

00:53Bom, além da fala dos ministros da Justiça durante o depoimento no STF,

00:58o ex-chefe da Marinha, Almir Garnier, confirmou ter participado de uma reunião com Jair Bolsonaro,

01:04mas negou ter colocado tropas à disposição para apoiar um suposto golpe.

01:09A reportagem é de Bruno Pinheiro.

01:12No segundo dia de depoimentos no Supremo Tribunal Federal,

01:15o ex-comandante da Marinha Almirante Almir Garnier Santos confirmou sua participação em reuniões

01:21realizadas no Palácio da Alvorada em dezembro de 2022.

01:25Em uma dessas reuniões, ocorrida no dia 7 de dezembro,

01:29Almir Garnier afirmou que foram debatidas medidas relacionadas à garantia da lei da ordem.

01:35Havia vários assuntos, né, dentre os quais o principal era a preocupação que o presidente tinha

01:43e também era nossa, das inúmeras pessoas que estavam, digamos assim, insatisfeitas

01:53e se posicionavam no Brasil todo, normalmente em frente aos quartéis do Exército.

02:01E aquilo poderia trazer alguma dificuldade para a segurança pública,

02:07não se sabia muito bem para onde ia aquele movimento.

02:11E dentre os assuntos tratados, esse eu acho que ocupou uma boa parte do tempo.

02:17Esse encontro é mencionado na denúncia do Procurador-Geral da República

02:21que alega que, na mesma data, o então presidente Jair Bolsonaro discutiu

02:26uma minuta de decreto com os comandantes do Exército e da Marinha,

02:30além do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que poderia ter implicações golpistas.

02:36Ao ser questionado, Almir Garnier negou ter recebido qualquer documento

02:41que pudesse ser classificado como uma minuta golpista.

02:45Eu não vi minuta, ministro. Eu vi uma apresentação na tela de um computador.

02:50Havia um telão onde algumas informações eram apresentadas na tela.

02:58Eu não recebi... Quando o senhor fala minuta, eu penso em papel, em um documento que lhe é entregue.

03:05Eu não recebi esse tipo de documento.

03:08Além disso, Garnier negou a alegação de que teria colocado as tropas sobre seu comando

03:13à disposição de Bolsonaro para uma possível ruptura democrática.

03:18Acusação levantada pelo ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Batista Júnior,

03:24durante a investigação.

03:26Senhor ministro, como eu lhe disse há pouco, não houve deliberações,

03:33nem o presidente não abriu a palavra para nós.

03:36Ele fez as considerações dele, expressou o que pareciam para mim mais preocupações

03:42e análise de possibilidades do que propriamente uma ideia

03:51ou uma intenção de conduzir alguma coisa em uma certa direção.

03:56O militar também confirmou a sua presença em uma nova reunião realizada uma semana depois,

04:02no dia 14 de dezembro de 2022, que contou com a participação do então presidente Jair Bolsonaro,

04:09do ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.

04:16Mais uma vez, ele negou ter visto qualquer documento que pudesse ser considerado uma minuta do golpe.

04:23Bom, Dora, nessa fala final do ex-chefe da Marinha, a gente acompanhou ele dizendo

04:28que eram ideias, talvez discussões, mas nada se executou

04:33e é o que ele ressaltou como inúmeros outros réus que prestaram depoimento nessa terça-feira. Dora?

04:39É justamente por isso que está se falando em tentativa.

04:43Os crimes imputados são por tentativa e não de execução,

04:48porque como já se disse várias vezes, se tivesse executado,

04:51talvez a gente não estivesse aqui, ou melhor, certamente não estaríamos aqui falando sobre isso.

04:57Agora, vejo uma contradição, né?

04:59Porque quando o almirante fala que, olha, a gente tinha preocupação e aí poderia ser decretado uma GLO,

05:10ora, mas eles todos diziam a todo tempo que as manifestações eram pacíficas.

05:14Se eram pacíficas, não havia risco de conturbação.

05:18E sobre esse documento, todos eles diziam que minuta do golpe

05:22foi o apelido, digamos assim, que aquele documento recebeu na imprensa.

05:28Tanto o documento achado na casa do Anderson Torres,

05:31quanto o apresentado nessa reunião a que todos aludem e concordam.

05:36que houve um PowerPoint, uma exibição, e ninguém, claro que ninguém vai chamar de minuta do golpe.

05:42Agora, falam que havia considerando.

05:45Todos eles usam esse termo.

05:47Considerando sobre o quê?

05:50Aí ninguém diz, aí ninguém esclarece.

05:53E se não esclarece sobre o que era,

05:55boa coisa é que não devia ser, tá certo?

05:59Porque era o considerando, me pareceu ali,

06:02a respeito de hipóteses das tais possibilidades

06:06às quais aludiu o ex-presidente Jair Bolsonaro no interrogatório dele.

06:12Possibilidades pra serem tomadas, hipóteses pra serem postas em práticas

06:17contra o resultado das eleições?

06:20Repito, o nome de...

06:22Isso aí só tem um nome, porque contra o resultado de eleição legítima

06:26não há nada que se possa fazer dentro da lei.

06:28É, a grande discussão, Kobayashi, é juridicamente, a partir de agora,

06:32se eles correm realmente o risco de serem condenados

06:35por causa dessas hipóteses, como a Dora tá falando.

06:40Justamente, Thiago, esse vai ser o grande ponto jurídico de debate aí.

06:43Se houve ou não houve início de atos executórios, né?

06:47São quatro fases no caminho do crime, né?

06:51Que a cogitação, a ideia, o pensamento, os atos preparatórios

06:55que poderiam se adequar, por exemplo, a essa minuta, a esse texto,

06:58a essa apresentação para as pessoas, a essas reuniões,

07:02e o início dos atos executórios.

07:04Seria a terceira fase que é necessária, uma fase necessária,

07:07para que haja a tentativa.

07:09O que seria o início dos atos executórios?

07:11A assinatura desse documento, o início de todo o plano

07:15que foi ali tramado, enfim.

07:18Juridicamente, a defesa certamente vai dizer

07:21que não se entrou nessa terceira fase de início de atos executórios,

07:26que configura a tentativa, né?

07:28A tentativa é nessa terceira fase.

07:30Para se consumar os crimes que são consumados,

07:33seria justamente a quarta fase.

07:35Mas para ter a tentativa tem que ter esse início de atos de execução

07:38e que seja frustrado por circunstâncias alheias

07:42à vontade dessas pessoas todas.

07:44A desistência, por exemplo, já não configuraria uma tentativa.

07:48É preciso que se encerre com circunstâncias alheias

07:51à vontade desses agentes todos, no caso dos réus.

07:54E isso vai ser, certamente, o grande ponto de debate jurídico

07:58agora entre a acusação e entre a defesa.

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