Roberto Motta criticou a postura do governo Lula (PT-SP) diante do escândalo no INSS. Segundo ele, o Planalto demonstra mais preocupação com o impacto eleitoral do caso do que com a devolução dos valores desviados.
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00:00Agora, Mota, essa sua colocação e a sua reflexão feita há pouco em relação ao cálculo que possivelmente tenha sido feito há passado um tempo, talvez uma outra notícia acabe ganhando protagonismo e o tal do desconto no INSS, nos benefícios, isso acaba ficando menor, entra no esquecimento e o impacto vai ser muito menor.
00:25Talvez, de fato, alguns façam esse cálculo, mas você não entende que nós estamos relativamente próximos do período eleitoral, que é preciso tomar conta de uma fatia importante da população e, apesar de não ser obrigada a votar, pode votar, inclusive se manifesta e tem parlamentares que historicamente sempre se dedicaram a esse público.
00:47Eu me lembro do deputado Arnaldo Faria de Sá, que a vida toda trabalhou para os aposentados, inclusive com um escritório político que dava algum tipo de assessoramento, enfim, faleceu, acho que o sobrinho dele, Fábio Faria de Sá, faz o mesmo trabalho.
01:03Você não acha que é temerário, Mota, adotar essa estratégia de vamos empurrar com a barriga, se der deu, se não der, não deu, talvez os sindicatos sejam mais importantes?
01:13Eu acho que é uma estratégia perigosa, Canhato.
01:21Eu tenho certeza que, sob esse aspecto particular, o governo deve estar preocupado com as implicações eleitorais do escândalo.
01:32Só isso. Então, o esforço, me parece, não é para remediar o problema ou eliminar o problema, é simplesmente para lidar com as potenciais repercussões eleitorais do episódio.
01:48Por quê? Às vezes a gente se pergunta, será que só eu é que consigo ver o caminho para isso?
01:55É lógico que não sou só eu, não só somos nós. Muita gente entende perfeitamente qual é a solução para isso.
02:02É assustadoramente simples. A pessoa falou que aquele desconto não foi autorizado, cancela os descontos, devolve imediatamente o dinheiro.
02:15Acabou. Não tem o que pensar. Não tem o que discutir.
02:19Imagine uma situação em que você tem, vamos supor que você é dono de um banco, e aí os seus clientes começam a ligar para o 0800 do banco e dizer,
02:32olha, fizeram um desconto indevido na minha conta, eu não autorizei isso.
02:38Imagine que você tem 9 milhões de clientes dizendo isso para você.
02:43Eu não autorizei esse desconto.
02:44Então, você, o que você faz para manter a credibilidade do seu banco para não perder clientes?
02:51Você imediatamente manda devolver o dinheiro todo.
02:54E depois você vai conversar com o responsável pelo desconto.
02:58Isso é óbvio. É óbvio também que se 98% das pessoas que sofreram descontos estão dizendo que não autorizaram,
03:09esse desconto tem que acabar amanhã, a prática tem que acabar amanhã.
03:15Esse sistema que permite que isso seja feito tem que ser aposentado, jogado no lixo.
03:21Mas nada disso foi feito.
03:23O que se fez foi criar um mecanismo para que o aposentado, aquele aposentado, aquele beneficiário, que conseguisse fazer isso.
03:31Porque muita gente tem dificuldade.
03:33O sujeito tem que baixar um aplicativo, entrar no meu INSS, procurar lá os meios onde foram feitos os descontos,
03:40depois colocar a reclamação.
03:44E a gente ouviu ontem, eu li aqui uma carta de um nosso espectador, ele disse que eu fiz tudo isso.
03:50E agora o INSS me disse que vai enviar a reclamação para a associação e esperar a resposta.
03:55Quanto tempo isso vai levar? Que processo maluco é esse?
03:59Quantos milhões de servidores do INSS vão ficar dedicados a essa tarefa?
04:03De pegar a reclamação, pegar a resposta da associação, comparar as assinaturas, verificar se isso foi feito ou não.
04:11É óbvio que esse sistema está completamente equivocado.
04:15Por que ele não foi, que não se acabou com isso já?
04:20Por que as providências não foram tomadas para encerrar definitivamente?
04:24A única resposta possível é que na avaliação dos responsáveis é mais importante ficar bem com as associações e com os sindicatos do que com os aposentados.
04:36Porque os aposentados não votam ou os aposentados vão se esquecer disso.
04:41Amanhã depois a gente implaca uma narrativa dizendo que a culpa foi do Bolsonaro, do Temer, do Pedro Álvares Cabral.
04:49As pessoas esquecem, o brasileiro esquece as coisas.
04:52Essa é a aposta que eles estão fazendo.
04:56Agora a gente precisa esperar para ver se essa aposta vai ser bem sucedida ou não.
