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  • 23/05/2025
Especialistas destacam que, embora o apego a bonecos hiper-realistas seja comum, é preciso atenção quando há confusão entre fantasia e realidade. Em casos extremos, isso pode indicar necessidade de suporte psicológico.
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Transcrição
00:00A discussão sobre ele não para. Bonecas hiperrealistas que imitam uma criança real.
00:07Os bebês reborn podem servir de apoio emocional para quem está passando por um luto, um trauma ou um estresse, por exemplo.
00:17O assunto, gente, não é novo, mas recentemente explodiu nas redes sociais e inclusive virou tema político.
00:25Projetos de lei são apresentados para punir mães que, porventura, levem os bebês reborn para atendimento em postos ou busquem a fila preferencial.
00:38Ocorre que essas informações que ganharam muita reverberação ou são muito pontuais ou são fake news.
00:46É um assunto polêmico que requer uma análise mais ampla. Por isso, o TN hoje entrevista a psiquiatra Letícia Mameri e a psicanalista Vera Colnago.
00:59Você também pode participar da nossa discussão mandando mensagem para o 99792 2530.
01:06Boa tarde para vocês. Obrigado pela participação.
01:09Boa tarde.
01:10Obrigada pelo convite.
01:11Doutora Vera, primeiro eu queria fazer a pergunta para a senhora. Vamos ser um pouco mais diretos nessa discussão.
01:18Se vocês quiserem também falar à vontade, fiquem à vontade aqui.
01:22A senhora acredita que a relação com os bebês reborn pode refletir questões emocionais profundas, como solidão ou dificuldades de vínculo afetivo?
01:32Sim, com certeza. Mas eu acho que essa discussão merece uma amplitude de reflexão.
01:38Muitas vezes a gente tem que tomar um certo cuidado de não fazer uma leitura tomando como um efeito de massa, que é o que está acontecendo agora.
01:48Quer dizer, na nossa leitura, na psicanálise, a gente entende que é um fenômeno cultural, é um sintoma cultural, um sintoma social.
01:57A partir dessa massificação, a gente está observando uma quantidade enorme de mães ou de pais que estão ali adotando suas bonecas como filhos.
02:09Então, para além do que está posto, eu acho que a gente precisa ter um cuidado na avaliação, de não cair no julgamento, porque a gente tem escutado isso, as pessoas condenando essas mães ou esses pais.
02:22A gente precisa ler do que isso está falando em relação ao mundo contemporâneo e algumas pessoas se enlaçando a esse novo objeto, que é a boneca, que é um bebê, mas que não é um bebê, é uma boneca.
02:37Porque uma das questões que eu quero trazer já para a gente refletir é que a gente assiste no mundo contemporâneo uma dificuldade muito grande do ser humano lidar com as perdas, com as faltas, com as frustrações, com as falhas, com as diferenças, daí as intolerâncias, com as diferenças.
02:58Então, você lidar com um bebê real, ele convoca tanto um pai quanto uma mãe de lidarem com essas dificuldades, né?
03:09A criança está chorando, você não sabe o que é, ou ela está gritando com você, ela está discordando de você e muitas vezes a gente fica sem saber como conduzir.
03:19Então, diante desse encontro com essa dificuldade que é lidar com o ser humano, as pessoas muitas vezes se escoram de uma forma defensiva em torno de uma boneca que ela não reclama, ela não chora, ela não fala.
03:36Ou seja, não tem um sujeito ali. Acho que essa questão é fundamental.
03:39A boneca, ela pode, ah, é igual a um ser humano, entre aspas, né? Porque ela pode rir, mas ela não tem subjetividade.
03:49Então, se ela não tem subjetividade, ela não tem singularidade.
03:52Então, ela não convoca essa mãe ou esse pai a estarem no encontro real, com a vida real.
03:58Então, é uma construção, é um objeto que ajuda a sustentar uma ficção, uma fantasia, né?
04:04Que fica numa relação muito imaginária, imaginarizada.
04:07E o perigo disso é que você não tenha oportunidade de que esses pais possam pensar no que que levou eles, por exemplo, a buscarem um objeto como esse,
04:19a de não se interrogarem quais são suas dificuldades reais para buscar uma ajuda de um profissional, quer seja de um psicanalista, de um psicólogo, mesmo de uma psiquiatra, né?
04:29Então, assim, você não tem a oportunidade, porque é como se essa boneca tamponasse, digamos assim, a essa dificuldade, ela mascara.
04:39Porque, ah, eu estou tendo meu filho, eu estou tendo minha filha.
04:42Você não está tendo um filho ou uma filha, você está tendo uma boneca.
04:45Mas, assim, muitas vezes, essa pessoa está com dificuldades, né?
04:50Ninguém cria uma...
04:53Não é só uma brincadeira.
04:53Não, não é uma brincadeira.
04:55Se alguém cria esse modo de se relacionar, porque ela está falando de um sintoma, de uma dificuldade dela de lidar com essas situações que eu acabei de falar.
05:03Então, a gente está ouvindo aqui, né, um perfil psicológico.
05:08Eu queria convidar a doutora Letícia, psiquiatra, para falar da sua visão como uma médica psiquiatra, não é?
05:16Como que essa questão pode afetar a saúde mental dessa pessoa para um transtorno psiquiátrico, por exemplo?
05:24Então, na verdade, a gente precisa entender, porque cada caso é um caso.
05:29Isso aí já pode ser um sintoma.
05:34A forma dela expressar essa relação com o objeto já pode ser um sintoma de uma doença psiquiátrica.
05:43Então, a psiquiatria, ela é uma área muito complexa, onde eu falo sempre que quem dá o diagnóstico é o próprio paciente, é o que ele fala com a gente.
05:54Ele conta para a gente e a gente pega o conhecimento técnico, faz a correlação e faz a hipótese.
06:02A gente não tem um exame, eu não tenho como fazer um exame que vai dar o resultado de um diagnóstico psiquiátrico.
06:08Então, ele é impactado pelas características individuais de paciente por paciente.
06:15Então, cada um vai ter uma justificativa, digamos assim.
06:22A gente vai ter vários casos onde não tem doença psiquiátrica envolvida.
06:26Você vai ter casos onde isso já é manifestação de uma doença psiquiátrica.
06:31Nós temos vários casos, acredito eu, que são para chamar a atenção da própria mídia.
06:37Então, eu estava vendo uma notícia que a mãe queria que desse uma vacina, mas queria que alguém tirasse a foto
06:47para que ela pudesse na mesma hora postar na rede social.
06:51Então, isso não era nem para ela, isso era uma coisa para ter clique.
06:56Eu tenho duas filhas, de 11 anos.
06:59Elas são as que estão mais por dentro desse fenômeno, porque elas ficam me contando os vídeos que elas viram.
07:05Mas aí, cada vídeo, que é o que a gente fala com elas, eu e o meu marido, cada vídeo que você assiste,
07:11você dá audiência para que venha mais um.
07:14E aí, um fenômeno que, às vezes, não é dessa magnitude, ele passa a ganhar uma proporção muito grande
07:24e a gente passa a ter uma ideia de que talvez isso esteja acontecendo uma proporção maior até.
07:30A questão é que, mesmo que aconteça em pouca proporção, a gente está vendo o dano que isso está causando,
07:39não só para as próprias pessoas que não estão tendo oportunidade de se ver, como a doutora Vera falou,
07:45mas para o coletivo.
07:46É uma fila de SUS que é impactado.
07:49Eu fico com medo, muito medo, do jeito que a sociedade está caminhando,
07:55da gente começar a ter violência nas ruas contra pessoas que estão com o bebê.
08:02Eu olho isso e penso...
08:05A primeira coisa é numa pessoa gravemente enferma, da parte psicológica, psiquiátrica,
08:12com aquele boneco, onde ela não sabe muito bem dividir na cabeça dela o que é realidade,
08:18o que é fantasia, tendo ainda que passar por uma situação de violência na rua.
08:26Pois é. A jornalista Ana Paula Padrão publicou um vídeo nas redes sociais
08:31fazendo uma reflexão sobre o fato de ser mulher, fazendo outras comparações.
08:36Vamos ouvir, por favor.
08:37Num dia eu nunca tinha ouvido falar de bebê reborn e no outro eu só ouço falar de bebê reborn.
08:44Assim como eu nunca tinha ouvido falar de esposas troféu e de repente é só esposa troféu.
08:48Esses fenômenos chegam até mim e provavelmente chegam até você
08:51como se essas fossem as tendências para o futuro das mulheres.
08:56Oi?
08:56Eu não estou nem aí se uma mulher adulta quer brincar de boneca.
09:00A não ser, é claro, que ela exija uma vaga do SUS para essa boneca,
09:04mas aí essa mulher já está apresentando uma patologia que precisa de tratamento.
09:08Também não estou nem aí se ela quer virar um troféu para o marido exibir socialmente.
09:12Mas isso, gente, não representa as mulheres porque nós não somos estúpidas a esse ponto,
09:19nem infantis a esse ponto.
09:21O mercado global de bebês reborn foi de 1 bilhão e 200 milhões de dólares em 2023
09:27e a projeção para esse ano é de que chegue a 1 bilhão e 800 milhões de dólares.
09:31É desprezível?
09:32Não, mas é pequeno, é nichado.
09:34É comparável, por exemplo, ao mercado de brinquedos educativos de madeira
09:39ou de cosméticos 100% vegano.
09:41Mas se eu me dei ao trabalho de pesquisar sobre o tamanho desse mercado
09:45e concluir que é um nicho,
09:46há quem interessa ficar nos representando, a todas nós, mulheres,
09:51como um bando de idiotas infantilizadas que agora só se interessa
09:55pela fantasia dos livros de colorir ursinhos e de recém-nascidos de plástico.
10:00Pois é, aí assim, eu discordo completamente do que ela fala
10:05porque ela faz um julgamento sem ter clareza do que está falando
10:10tanto em termos de fenômeno social, do que nós precisamos,
10:14enquanto profissionais de saúde mental,
10:16lermos a partir desse sintoma do que está falando de uma época.
10:21do porquê que essas mães estão precisando, esses pais,
10:24se envolverem com crianças bonecas, né?
10:27Assim, entre elas, não é crianças, bonecas, né?
10:29Bonecas barra crianças, né?
10:31Então, assim, é um julgamento.
10:33Ela fala que as pessoas são imbecis, que são isso, são aquilo.
10:36Quer dizer, na verdade, a gente tem que ter muito cuidado
10:38e justamente para não cair nisso que você acabou de falar,
10:41dessa, né, e a doutora Letícia falou muito bem,
10:45dos riscos de gerar na sociedade uma agressividade,
10:49uma violência contra essas mães ou esses pais
10:53que estão em situações de dificuldades, né?
10:56Assim, a gente não pode, a partir de um fenômeno como esse,
10:59julgar as pessoas.
11:01A gente tem que ter cuidado com isso.
11:03Isso é muito importante, porque a tendência nossa,
11:04humana, em geral, é condenar, é julgar, não é isso?
11:09Então, a gente não leva em conta que o outro tem dificuldades.
11:12São dificuldades psíquicas, emocionais, da historicidade de cada um
11:17que comparecem nesse fenômeno.
11:20Quer dizer, o fenômeno, por si só, ele oferece...
11:22Aí tem a questão que é interessante a gente fazer um cruzamento
11:25do que se dá em termos de fenômeno cultural,
11:28do que a gente está falando e por que algumas pessoas se enlaçam.
11:31Porque a doutora Letícia falou bem, é o caso a caso.
11:34Não é todo mundo que se enlaça, nem todo mundo está na mesma posição.
11:37Tem uns que têm uma questão, talvez, de uma brincadeira mesmo,
11:42de uma coisa mais leve.
11:43Outros fazem um lançamento a partir de dificuldades graves.
11:48É possível identificar isso, familiares, identificar essa questão?
11:52Porque tem muita gente perguntando aqui.
11:54Isso não é... muita gente mandando, mas não é um transtorno.
11:58As pessoas tendem a ter essa noção de uma mulher mais velha
12:02brincando com uma criança que não é de verdade.
12:05As pessoas têm essa questão assim.
12:07Ah, e entra numa outra discussão importante.
12:09A gente tem uma tendência a querer estigmatizar, né?
12:13Classificar.
12:14Você tem uma doença, é igual agora, é, né?
12:16A doutora Letícia pode falar até melhor que eu, né?
12:18Porque ela é psiquiatra.
12:19Mas assim, a criança hoje tem uma agitação,
12:22aí as pessoas e a própria família falam
12:24não, esse menino tem DDH, ele precisa ser medicado, né?
12:28Sem antes ter um cuidado de verificar
12:30se essa criança realmente precisa da medicalização.
12:33porque assim, às vezes, muitas vezes, é isso que eu falei no início da minha abordagem,
12:38é que muitas vezes tem uma dificuldade que é contemporânea
12:41de lidar com situações difíceis.
12:44Então, as pessoas querem calar o outro.
12:46Calar como?
12:47Criando um rótulo.
12:48Ah, a pessoa tem um transtorno.
12:50Mas pode ser que sim, pode ser que não.
12:52É o caso a caso, tem que analisar cada situação.
12:54Agora, o que há uma convocação social
12:57para que você possa encontrar objetos
13:00que você se afaste, se defenda do encontro real com a vida,
13:04isso acontece.
13:05E é uma leitura que nós da Psicanálise fazemos,
13:08o campo da filosofia, da sociologia,
13:10é que há no mundo essa coisa de muita objetificação,
13:14muita marginalização, a rede social,
13:16você tem que estar sempre bela, bonita, maravilhosa,
13:19seus filhos têm que ser bem-sucedidos,
13:21têm que falar não sei quantas línguas,
13:22e tem que ser uma...
13:23É tudo muito uma cobrança social
13:27de que você tem que ser muito bom, muito perfeito,
13:30muito idealizado.
13:32E aí, na hora que você tem uma boneca dessa,
13:34você não tem...
13:35É uma boneca idealizada.
13:37Você não vai se deparar com as dificuldades do ser humano
13:40na relação com o filho, por exemplo.
13:42Entendi.
13:43Agora, para saber se há um transtorno ou não,
13:45aí tem que levar no consultório,
13:48aí a gente vai avaliar,
13:49porque a gente precisa entender
13:51se aquilo ali é patológico,
13:55se é um transtorno que uma intervenção de terapia dá conta,
14:00se já tem um quadro psicótico,
14:02porque tem casos que vão ter quadros psicóticos associados
14:05que a gente vai ter que fazer,
14:06além da terapia,
14:08o antipsicótico, o tratamento.
14:10Então, é muito complexo.
14:12A gente precisa pedir, muitas vezes,
14:15bateria de exames para descartar outras causas orgânicas.
14:19São atendimentos que a gente precisa ter o apoio da família.
14:23Então, é importante que a família esteja junto para o médico conversar com esse familiar.
14:28Então, se a família tem dúvida, eu sempre falo assim,
14:30a família tem dúvida, leva para um profissional habilitado avaliar.
14:34Porque se a gente tem dificuldade, em algumas vezes, de identificar,
14:39imagina a família, é uma situação difícil.
14:42Então, doutora Vera, o que a senhora diria?
14:44Porque muita gente diz assim,
14:45ah, é normal as mulheres brincarem com essas crianças,
14:49assim como os homens têm coleção de bolas.
14:51Como é que a psicanálise vê essa questão?
14:54É, na verdade, assim, não tem problema você ter objetos que você,
14:58digamos assim, objetos transicionais, que a gente chama, né?
15:01Não é uma criança, é uma boneca,
15:03ou é a bola que também traz uma satisfação.
15:07Não tem problema.
15:08A questão é quando isso começa a ficar excessivo.
15:11Quando passa do limite, ou seja, está sinalizando que isso é um sintoma.
15:15Um sintoma psíquico que precisa ser investigado.
15:18tanto como, acho que a doutora Letícia acabou de falar, né?
15:21De poder verificar se é uma situação que é transitória,
15:25que é uma brincadeira, né?
15:27E aí a família precisa observar isso.
15:29Porque é outro ponto importante,
15:31que muitas vezes as pessoas têm dificuldades também,
15:34além de julgarem logo,
15:36mas por outro lado, uma dificuldade de poder verificar
15:38que aquele seu familiar está com um problema mais sério, psiquiátrico.
15:43O que é passar do limite, então?
15:45Então, para mim, como psiquiatra,
15:48eu sempre me atento a sofrimento e disfunção.
15:53Então, se está tendo sofrimento para a pessoa ou para terceiros,
15:57ou aquilo ali está disfuncional,
16:00ela para de viver,
16:01ela sai completamente da vivência da vida real
16:04e passa a viver num mundo paralelo.
16:07Ela não consegue trabalhar,
16:09ou ela não consegue se relacionar com outras pessoas
16:11por causa dessa questão.
16:13Então, assim, está disfuncional ou está gerando sofrimento,
16:17para mim, é sinal de que precisa ter uma intervenção.
16:20Disfuncional, por exemplo,
16:21falar assim, nossa, meu filho não comeu ainda,
16:22eu tenho que correr para casa para dar de mamar ao meu filho,
16:25que é um bebê ribota.
16:26É isso aí, completamente disfuncional.
16:28É, eu vou até menos do que isso.
16:31A pessoa deixa de interagir no meio social,
16:35porque ela precisa voltar para casa,
16:37porque ela só quer interagir com aquele ambiente ali,
16:41aquela criança, aquele objeto.
16:44Às vezes, coisas simples, teoricamente.
16:48E sempre a comparação é como era antes.
16:51Então, é a pessoa, a comparação da pessoa com ela mesma.
16:54Então, o familiar.
16:56Como que eu vou saber se isso está disfuncional ou não está disfuncional?
16:59Como que aquele seu familiar era?
17:00Dormia desse jeito, comia desse jeito,
17:04se relacionava com as pessoas desse jeito,
17:05trabalhava desse jeito.
17:07O que começou a mudar a ponto de alterar o funcionamento normal
17:11daquele indivíduo é o que é disfuncional.
17:16Então, tem disfunção e tem sofrimento,
17:22é passível de uma intervenção.
17:25Não tem disfunção, não tem sofrimento,
17:27está dentro, ela tem um quartinho ali onde ela tem a coleção de boneca,
17:31onde...
17:32Gente, quem somos nós para julgar o que a pessoa faz ali,
17:36o que ela tem, se aquilo ali é uma coleção, se não é?
17:39Porque não está impactando na vida de ninguém,
17:42negativamente, nem na vida daquela própria pessoa.
17:45É, a gente está vendo aqui uma discussão super profícua,
17:50super boa, não é?
17:52Do que a gente não vê nas redes sociais.
17:54E eu queria finalizar com a pergunta,
17:56é porque a gente já vê muitos políticos se aproveitando disso,
18:01também, como a senhora trouxe, para aparecer, criar leis,
18:05e que já se provaram que é fake news.
18:07Levar uma criança para lá, ou é o mínimo do mínimo,
18:11ou é a fake news.
18:13O que se passa na cabeça também de uma sociedade,
18:15doutora Vera, que vê essa situação e não enxerga,
18:19da forma que a gente está discutindo aqui?
18:21É, na verdade, o ser humano, nós somos todos sujeitos alienados.
18:28O que é isso?
18:29A gente vive situações que a gente não se dá conta.
18:32Por isso que, na psicanálise, a gente prima,
18:35prioriza tanto a reflexão e o questionamento,
18:38que é a oportunidade que você tem de ler para além do fato.
18:42Então, por exemplo, a gente tende, como eu falei inicialmente,
18:46a já cair no julgamento e numa massificação de leitura.
18:49Então, há uma complexidade em torno disso.
18:52Eu acho que é mais uma manifestação sintomática,
18:55que a gente tem lido sobre isso, entendido que é assim,
18:59de um fenômeno que suspende a nossa dor de existir.
19:03No sentido de quê? De enfrentar a vida real.
19:06Então, é mais uma forma. Existem várias formas.
19:09Assim, vez por outra, surge uma questão
19:11que vem a surgir como uma tentativa de tamponar nosso sofrimento.
19:16E aí a gente não se dá conta naquele momento.
19:18A gente não percebe.
19:20Nós temos essa posição como humanos.
19:24E aí, às vezes, você está num filho biológico
19:26e você está excessivamente cuidando daquele filho biológico.
19:30Você está se excedendo.
19:32Você está passando da conta e você não percebe.
19:35Às vezes, quem está em torno percebe.
19:37A escola percebe.
19:38Aquela mãe ou aquele pai, às vezes, não percebe.
19:40Ou que está abandonando demais aquele filho
19:42ou está nessa posição.
19:43Então, esse processo é do humano.
19:46E aí, como vocês estão oportunizando,
19:49a gente está aqui falando,
19:51por isso que eu acho que a gente faz questão de vir.
19:53Porque é a oportunidade de a gente trazer uma reflexão para a sociedade.
19:57Para as pessoas, para aquele que tem bebê,
19:59ribônio, aquele que não tem, aquele familiar,
20:02ou aquele que conhece alguém,
20:04ou que possa vir a conhecer,
20:06para ter oportunidade de pensar
20:07do que isso está falando do nosso tempo.
20:10O que as redes sociais trazem hoje
20:13que fica numa coisa viciante?
20:15Isso é igual vício.
20:16Se você ficar excessivamente com um filho biológico,
20:20bonitinho,
20:21se você ficar excessivamente com uma boneca,
20:24se você ficar...
20:25Essa compulsão é a mesma coisa de uma droga,
20:29de um álcool,
20:30que você fica ali naquela coisa excessiva.
20:32O excesso,
20:33eu acho que foi bem pontuado aqui,
20:35pela doutora Letícia,
20:37é isso que interessa.
20:39É quando há uma coisa que chama a atenção.
20:41E aí a gente pode despertar,
20:44sair da alienação
20:45e poder enxergar,
20:46epa, tem alguma coisa aí
20:48que precisa ser refletida.
20:50Gente, olha,
20:51já se passaram mais de 20 minutos.
20:53A gente falou, né?
20:55Eu falei que ia ser muito tempo,
20:56mas não é.
20:57Doutora Letícia,
20:58uma mensagem final rapidinho aí,
21:00sobre esse assunto,
21:02já que a doutora Vera finalizou aqui.
21:03A gente precisa sempre lembrar
21:05da individualidade do ser humano
21:08e lembrar que as pessoas,
21:11muitas vezes,
21:11elas expressam o sofrimento
21:14que elas têm dentro delas.
21:16Então, não vale a pena
21:18a gente atuar julgando,
21:21apontando.
21:21A gente nunca sabe
21:22quando vamos ser nós naquela posição.
21:25Então, o ideal é que a gente acolha,
21:29ouça, tenha um olhar apurado
21:31e, na dúvida,
21:34encaminha para um especialista.
21:36Ah, eu acho que tem um problema,
21:38acho que tem um transtorno,
21:39acho que tem uma doença.
21:40Tá, mas você não é o especialista
21:42para avaliar isso.
21:43Então, encaminha para um especialista
21:45e vamos tentar juntos, né, Vera,
21:48caminhar nessa sociedade
21:49que está desafiadora
21:51para todos nós.
21:52Com certeza.
21:53Gente, olha,
21:54eu queria agradecer
21:55muito a participação
21:56doutora Vera Conago,
21:58psicanalista,
21:59doutora Letícia Mameri,
22:01psiquiatra.
22:03Muito obrigado mais uma vez.
22:05A gente enriqueceu
22:05o nosso debate hoje
22:06para a nossa audiência.
22:08Obrigada pela oportunidade.
22:09Obrigada a todos.
22:10Obrigada.
22:11Até a próxima.
22:11Até a próxima.
22:11Tchau, tchau.
22:12Tchau, tchau.
22:13Tchau, tchau.
22:14Tchau, tchau.
22:15Tchau, tchau.
22:15Tchau, tchau.
22:15Tchau, tchau.
22:15Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
22:16Tchau, tchau.
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