- 21/05/2025
O ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Baptista Junior, confirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que participou de uma reunião com Jair Bolsonaro (PL) sobre uma minuta para anular as eleições de 2022. Segundo ele, o general Freire Gomes, então comandante do Exército, ameaçou prender Bolsonaro se o plano seguisse adiante.
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NotíciasTranscrição
00:00O ex-comandante da Aeronáutica, Batista Júnior, confirmou durante a audiência no Supremo Tribunal Federal
00:04que teve uma reunião com Jair Bolsonaro sobre a minuta de golpe e que o general Freire Gomes ameaçou, sim, prender o ex-presidente.
00:12A audiência aconteceu um dia depois da corte tornar réus dez militares acusados de envolvimento na trama golpista.
00:18Vamos com o Bruno Pinheiro.
00:20E, Bruno, qual seria o tom dessa, entre aspas, voz de prisão que Batista Júnior viu Freire Gomes dar ao presidente da República
00:28caso ele tocasse em frente ali àquele plano?
00:31Conte os bastidores e tudo o que foi dito pra gente, meu amigo. Bem-vindo.
00:36E se, de fato, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro insistisse numa ruptura de Estado,
00:41um documento que foi elaborado, inclusive, e colocado sobre esta mesa numa reunião.
00:46Ótima tarde a você, Evandro, e a quem nos acompanha em uma longa oitiva com várias explicações que são contundentes.
00:52Na verdade, reafirmando uma revelação ao depoimento da Polícia Federal,
00:57o ex-comandante da FAB disse que o ex-presidente, então, chamou os militares para uma conversa lá na residência oficial
01:04que nenhum civil esteve nesta reunião e que somente esses militares.
01:09E que não tinha uma unanimidade entre os militares a se colocarem à disposição
01:13que eles sempre estavam discutindo algo que tivesse um embasamento jurídico
01:19e que tivesse a garantia da lei, da ordem.
01:22Mas isso em um caso de uma emergência para o Estado, para o município,
01:27já que, inclusive, as rodovias estavam interditadas.
01:30Mas que, em um certo momento, ficou claro que essa discussão não era somente para uma GLO,
01:37como eles tinham conhecimento dentro da Constituição, utilizando as Forças Armadas,
01:42que era uma ruptura de Estado para impedir a chegada do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
01:48E que, aí, o seguinte, uma reunião foi convocada para divulgar aquele relatório sobre as urnas,
01:54sobre uma comissão especial.
01:56O ex-presidente foi informado que não havia nada de incorreto nas urnas eletrônicas,
02:03a não ser algumas sugestões de aperfeiçoamento.
02:06E que, aí, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro adiou a divulgação desse relatório
02:11e que estava muito chateado com esta informação sobre o resultado desse levantamento,
02:17desse relatório referente às urnas eletrônicas.
02:20Os comandantes, os mais antigos, assinaram, Evandro, este documento
02:24e subiram nas redes sociais, nos sites oficiais das suas instituições.
02:29E, aí, veio essa repercussão.
02:30Só para a gente entender um pouco mais este contexto.
02:33Aí, foi convocada uma reunião no Ministério da Defesa com o Ministro da Defesa.
02:38Os comandantes começaram a chegar nessa reunião e, sobre essa mesa,
02:42estava dentro de uma sacola o documento, o que seria a minuta do golpe de Estado.
02:48O comandante da FAB disse que fez uma pergunta ao comandante-geral
02:52se aquilo, se aquele documento era para uma ruptura.
02:56Ele disse que sim, começou a dar explicações.
02:59Logo, ele se retirou dessa reunião, não voltou e não sabe o que mais aconteceu.
03:04Só para a gente encerrar, uma outra parte que chamou a atenção
03:07foi uma cerimônia no ITA que estava lá o comandante da FAB e o general Augusto Heleno.
03:13O comandante disse que recebeu vários xingamentos, ataques e continua recebendo
03:17alguns que vêm do general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI,
03:22que durante essa formatura no ITA, o filho de Augusto Heleno estava se formando
03:27e que, no meio da cerimônia, Augusto Heleno chega no comandante da FAB
03:31e solicita uma carona para a capital federal no avião da FAB,
03:36alegando que o ex-presidente, naquela noite, havia chamado para uma reunião
03:40no final de semana de última hora.
03:42O comandante da FAB alegou que seria muito estranho, naquele clima,
03:46após as eleições que estávamos enfrentando, Jair Bolsonaro,
03:50chamar Heleno para uma reunião de última hora para se discutir.
03:53Ainda assim, Heleno veio no mesmo avião, mas ele não sabe o que aconteceu
03:57naquele encontro na residência oficial.
04:00Então, reuniões aconteciam sempre no Alvorada, não tinha nenhum civil,
04:05somente os militares e sempre discutindo a garantia da lei da ordem,
04:09tanto embasamento jurídico e também uma ruptura de Estado,
04:13que foi quando o ex-comandante acabou afirmando para o ex-presidente
04:17que se ele insistisse nessa discussão, ele iria anunciar a voz de prisão.
04:21Ele também relatou que o ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid,
04:27nunca esteve em nenhuma dessas reuniões.
04:30Evandro.
04:31Obrigado pelas informações, viu, Bruno Pinheiro?
04:33Um abraço para você, a gente vai se falando nessa edição do 3 em 1.
04:36O Fábio Piperno, o comandante da FAB, da Força Aérea,
04:41também trouxe alguns detalhes interessantes sobre os bastidores dessas conversas.
04:44Ao ser questionado sobre essa voz de prisão,
04:47ele menciona que o tom adotado por Feri Gromes não foi um tom de
04:51olha, você vai ser preso.
04:53Não, ele orientou o ex-presidente da República, segundo o Batista Júnior.
04:58Se o senhor seguir com esse plano, provavelmente a gente tenha que prendê-lo
05:02porque o senhor estaria fugindo das quatro linhas da Constituição.
05:07Tem uma outra questão interessante também que ele menciona
05:09sobre ataques que ele teria passado a receber
05:12depois de se negar a seguir com o plano que havia sido proposto ali.
05:17E, segundo as investigações, o general Braganeto teria sido responsável
05:22por montar um grupo de militares que eram aliados desse plano
05:26para que eles conduzissem ataques nas redes sociais contra Batista Júnior
05:31e contra também integrantes da família dele,
05:34o que ele considerou, de fato, muito desagradável, no mínimo,
05:38chamando Batista Júnior de melancia.
05:41Por quê? Verde por fora, vermelho por dentro.
05:45Como é que se avalia todas essas questões e, principalmente,
05:48esses detalhes sórdidos que são confirmados neste depoimento de Batista Júnior,
05:54diferentemente do que aconteceu com Freire Gomes,
05:56que tentou dar um tom mais moderado entre o que ele falou na primeira versão
06:00e o que contou agora aos ministros?
06:02Piperno.
06:03São, sim, detalhes sórdidos, sem dúvida nenhuma,
06:05e é óbvio que as defesas vão tentar explorar ao máximo algumas possíveis contradições
06:12que elas julgam acontecer, terem ocorrido.
06:16Agora, não há nenhuma dúvida de que havia, sim, uma trama golpista
06:25e uma trama liderada pelo presidente da República
06:29e contou também com a participação do seu candidato a vice, um outro general.
06:34Muito bem.
06:36Isso, posto, não há como negar que nós não estamos tratando aqui
06:42de governantes militares que sejam democratas,
06:48que sejam leais ao Estado Democrático de Direito.
06:52Não, nós estamos tratando de militares, de um ex-presidente da República,
06:59pessoas que tentaram uma manobra, chamam elas de constitucional ou não,
07:05para não entregar o poder para o outro, para quem venceu as eleições.
07:09E o Brasil, até hoje, não inventou nenhuma regra,
07:13não criou nenhuma regra constitucional para impedir que um vencedor,
07:18um legítimo ganhador de uma eleição para presidente, tome posse.
07:22O Brasil ainda não criou isso.
07:24Tomara que não caia nessa tentação.
07:26Mas aí, de tudo isso que a gente ouviu ontem e hoje,
07:30pelo menos uma certeza a gente tem,
07:32que nós temos pelo menos um militar, um ex-chefe militar que é um mentiroso.
07:39Veja, porque são o ministro...
07:42E você não está dizendo quem?
07:44O ministro do Exército, ele recuou.
07:45Ele tinha feito declarações que ele suavizou no depoimento.
07:51Ele não negou integralmente, mas digamos que ele suavizou.
07:55O brigadeiro Batista Júnior, ele fala com todas as letras que não.
08:01Olha, isso foi dito.
08:03E ele descreve minuciosamente como foi essa abordagem.
08:08Então, eu volto a insistir no seguinte ponto.
08:10O principal líder da direita brasileira pode ser chamado de qualquer coisa.
08:17Ele tem lá os seus defensores, milhões deles, por sinal.
08:21Os seus apoiadores, inclusive, enxergam que não há ainda argumentação legal
08:28para que ele seja definido, de fato, como um golpista.
08:31Mas, pelo menos, de uma coisa ele não pode jamais ser chamado, de um democrata.
08:37Fala, Sagré.
08:39Eu estou pensando sobre o que foi falado pelo Batista Júnior,
08:45que complementa a questão dessa inúmera quantidade de possibilidades que estão na denúncia,
08:52em que provavelmente, talvez, poderia, haveria, quem sabe.
08:57O próprio Batista Júnior mencionou que, se não tivesse essa conversa em que Freire
09:04indicou a possibilidade de prisão do ex-presidente,
09:08provavelmente, teria acontecido, sim, uma manifestação concreta de golpe de Estado.
09:14Quando alguém fala que provavelmente teria acontecido,
09:17eu passo da presunção de que, se provavelmente teria acontecido, não aconteceu.
09:21Não tem muitas opções.
09:23Ou aconteceu, ou não aconteceu.
09:25Provavelmente teria acontecido, e que não aconteceu.
09:27Se não, estaríamos falando de outra forma.
09:30E aí vem uma questão que, de respeito ao mau perdedor,
09:34na política, está cheio.
09:37E, muito provavelmente, nessa situação,
09:40o presidente Bolsonaro, na época, descrente da idoneidade das urnas,
09:44estaria dizendo, ou estaria pensando,
09:46não, não estou gostando desse resultado,
09:48o que eu posso fazer para reverter o resultado?
09:50chama todas as pessoas, alguém, ou vários, indicam, não é por esse caminho,
09:55não continuou nesse caminho, ao ponto que nomeia comandantes das Forças Armadas
10:02do governo seguinte, durante seu governo, a pedido de quem seria o ministro da Defesa, Múcio.
10:07Então, ninguém vai fazer um golpe de Estado com comandantes que não conhece.
10:11Mas aí vem essa situação em que,
10:15eticamente, moralmente, tem, claro,
10:19toda a questão de oposição a qualquer tentativa não democrática de se manter no poder.
10:26Mas aí vem a questão da justiça.
10:29Da mesma maneira que, em casos de corrupção,
10:31sempre os corruptos indicam que ela oferece invenção da imprensa e um monte de coisas,
10:35mas, nesse caso, parece estar acontecendo a mesma coisa,
10:39com uma gravidade institucional que, sinceramente, não gosto.
10:43Mas tem que ser avaliado pela questão do que poderia ter sido ou do que aconteceu.
10:48E vou dar um exemplo e com isso eu concluo.
10:50Nós, eu, junto, nós quatro, eu estou querendo fazer um ilícito.
10:55Evandro, você me acompanha?
10:57Não.
10:58E se você continuar com isso, eu vou te denunciar.
11:00Então, opa, peraí, não tenho o apoio dos meus colegas,
11:04eu vou abortar essa minha tentativa.
11:06Nessa abortar essa tentativa, e eu não sei a resposta sobre a pergunta que faço,
11:11é se tem alguma questão legal ou judicial que possa ser atribuída a mim
11:16em função dessa especulação.
11:18E isso eu não sei.
11:20O que foi, Gany?
11:20Não, não, não, eu tenho a resposta, eu já me consultei com jurídico, com juristas.
11:25Com jurídico?
11:26Não, com jurídico.
11:26Já consultei com o meu jurídico já?
11:27Tá, diga.
11:28E, na verdade, se você aborta a tentativa, não é um crime.
11:34Por alguma razão, seja porque você desistiu por livre e espontânea vontade,
11:39seja porque você não tem os recursos para efetivar o crime,
11:44mas de alguma maneira, por forças alheias, o que quer que seja, Evandro,
11:48se você desistiu de tentar aquele crime, portanto, não é o crime,
11:54que é o que aconteceu.
11:55É, então, ele consultou ali, é uma das versões,
11:59ele consultou os comandantes da aeronáutica, do exército, e eles não embarcaram.
12:04Ok, então, parou aí.
12:06Houve a cogitação, mas não deram um passo à lei.
12:09Não tentaram.
12:10Se não tentaram, portanto, não houve crime.
12:13Ô, Zé Maria Trindade, você costuma dizer, né,
12:15que na interpretação da lei que nós temos hoje aqui no país,
12:19o fato de você cogitar, planejar, mesmo que você não execute,
12:23já entraria nesse processo e é isso que o Supremo Tribunal Federal tem feito
12:28ao julgar Jair Bolsonaro e aqueles que estão no seu entorno, não é?
12:31Bem-vindo.
12:32É, no jargão jurídico se diz o seguinte,
12:35esse é um crime de tentativa, né, é um crime, é muito claro lá,
12:40disso, a tentativa já é um crime, um crime tentado, como se diz no jargão jurídico.
12:45Isso porque quando há a efetivação do crime, que é o golpe, pronto,
12:50acabou o processo, como diz lá em Minas, né, Inês é morta.
12:55Então, a história é a seguinte,
12:57essa linha divisória do que fala o Alan Gani, com muita precisão,
13:04sobre organizar e a tentativa é que mora a diferença.
13:08Eu conversei com o deputado Hildon Rocha, que esteve com o José Sarney.
13:14E o Sarney é muito claro, não houve golpe e não houve tentativa de golpe.
13:20José Sarney está lúcido e tem uma larga experiência política
13:24e conviveu com várias fases da democracia e da não-democracia no Brasil.
13:30Então, é aí que mora a grande diferença.
13:33A tentativa, só a tentativa, chamado crime tentado, já seria crime.
13:38Ah, o golpe já seria do outro lado, né, aí não teria retorno.
13:44É aí que mora essa divisão.
13:46Não há novidade no depoimento do Batista Júnior, comandante, grande comandante,
13:51e o Freire Júnior, o Freire Gomes, foi um grande comandante do Exército, um líder.
13:57O Freire Gomes liderou o Congresso, o Exército, em momentos decisivos, decisivos.
14:03E ele sempre disse, as Forças Armadas estão apoiando o presidente Jair Bolsonaro,
14:10na época, então, presidente.
14:1180%, ele falou 70% e ia falar general, 80% isso, 80%.
14:17Agora, que defende um golpe, que defende uma quebra constitucional, existem, sim, 20%.
14:24Eram as contas dos generais.
14:26Mas isso não era unanimidade.
14:29Alguns queriam.
14:31Por indignação, por, vamos dizer, entendimento interno dele, pessoal de cada um,
14:38de que o Brasil iria entrar numa dificuldade muito grande,
14:41num governo de esquerda, num governo petista,
14:44por várias razões, pensaram, e aí, nós vamos deixar?
14:48Essa era a grande pergunta.
14:49Essa reunião no Palácio da Alvorada realmente aconteceu e houve mesmo essa conversa.
14:56De um jeito muito tranquilo, o comandante do Exército falou,
14:59olha, se encaminhar para esse lado, eu seria obrigado a prendê-lo.
15:06Sei de outro diálogo com o grande comandante, que não está aí nos autos,
15:11que o diálogo foi até diferente.
15:14Que perguntaram para o comandante, se eu mandar prender o ministro Alexandre de Moraes?
15:19Aí falou assim, eu vou lá e prendo o Alexandre de Moraes.
15:24O presidente do Senado reclama, reage, eu vou lá e prendo o presidente do Senado.
15:30Aí vem o presidente da Câmara, reage, eu vou lá e prendo.
15:33Onde é que vai parar?
15:35Isso não tem fim.
15:36Então, houve essa conversa e tudo isso indica que eram conversas,
15:41que eram avaliações.
15:43E o que estava em jogo?
15:44Estado de sítio, Estado de defesa e GLO.
15:48Porque havia, havia a possibilidade de uma reação da sociedade ao governo do ex-presidente Lula.
15:56É isso.
15:56Então, não tem nenhuma novidade.
15:59Tudo isso aí já está nos autos.
16:01E o comandante Batista Júnior está ressentido,
16:03porque realmente, ele e a família foram muito atacados.
16:07Pois é, e disseram também que foram muito intimidados por todo esse entorno,
16:10que, de alguma maneira, queria levar em frente esse plano que ele diz ter a intensa participação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
16:18Organização, participação, idealização e objetivo.
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