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Reentrada da Kosmos 482 e o Programa Espacial que foi ao Inferno
Olhar Digital
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09/05/2025
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00:00
E ela está chegando!
00:03
Uma espaçonave soviética, lançada há mais de 50 anos, deve voltar à Terra nesta madrugada.
00:11
Trata-se do módulo Cosmos 482, lançado para uma missão a Vênus em 1972.
00:19
Devido a um problema nos motores, o equipamento ficou preso na órbita do nosso planeta desde então.
00:27
E aí você pode se perguntar, mas ela pode cair no Brasil? É perigoso?
00:34
Bom, as previsões que passamos ontem aqui no programa não mudaram.
00:39
A queda está prevista para madrugada, por volta das 3 horas e 30 minutos pelo horário de Brasília.
00:46
O Brasil está na possível zona de impacto, como você vê agora aí na sua tela.
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Mas, como vocês também podem ver, ela é bastante abrangente.
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Ainda não dá para confirmar onde a Cosmos 482 vai cair.
01:02
Isso deve ficar mais claro nas próximas horas.
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Com relação aos riscos, a reentrada é considerada mais segura do que a de foguetes, por exemplo.
01:13
Autoridades monitoram, mas não devemos ter nenhum transtorno.
01:17
E chegou a hora de mergulhar um pouco mais nessa história incrível, na coluna Olhar e Espacial de hoje, com ele, Marcelo Zurita.
01:27
Vamos juntos!
01:28
Olá, pessoal! Saudações astronômicas!
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Nas próximas horas, um visitante inusitado deve atingir nossa atmosfera, deixando um rastro de luz no céu e talvez um belo artefato em solo.
01:49
Dessa vez, não será um meteoro qualquer e nem uma nave alienígena cruzando os nossos céus,
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e sim uma nave bem terráquea, lançada há mais de meio século, que estará voltando para a Terra.
01:59
Trata-se da sonda soviética Cosmos 482, que deixou nosso planeta em 1972 e deveria ter ido até Vênus, o planeta mais infernal do Sistema Solar.
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Só que o foguete que deveria colocá-lo a caminho de Vênus teve problemas,
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e a Cosmos 482 acabou presa à órbita da Terra como um fantasma metálico silencioso e esquecido,
02:20
que agora retorna para uma única, breve e espetacular apresentação final.
02:26
Mas o que torna essa reentrada especialmente interessante e até histórica é que a Cosmos 482 não é um satélite ou um lixo espacial qualquer.
02:34
Estamos falando de um artefato projetado para penetrar a atmosfera venusiana,
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atravessando nuvens ácidas, resistindo às temperaturas escaldantes e à pressão esmagadora do planeta.
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O casco da Cosmos 482 foi feito para enfrentar o inferno de Vênus,
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o que nos faz pensar que atravessar a atmosfera terrestre vai lhe parecer como um passeio pelo paraíso.
02:57
Por isso, ela deve sobreviver à reentrada e chegar ao solo praticamente intacta,
03:02
um final épico para a história fascinante dessas sondas que desafiaram os limites da engenharia
03:07
e visitaram o inferno no alvorecer da era espacial, a Era das Missões Venera.
03:13
Naquela época, enquanto os Estados Unidos miravam a Lua e Marte com suas missões Ranger, Surveyor e Marina,
03:20
os soviéticos decidiram explorar o planeta mais próximo e enigmático, Vênus.
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Um planeta do tamanho da Terra, mas que esconde debaixo de densas nuvens um mundo misterioso,
03:30
despertando a curiosidade de uma humanidade que começava a se aventurar nas águas rasas do imenso oceano cósmico.
03:37
O que haveria sob aquelas nuvens? Seria um pântano tropical, um deserto escaldante ou um oceano de lava?
03:45
Era preciso ir lá para descobrir. E o jeito soviético de fazer isso era lançar uma missão atrás da outra,
03:52
aprendendo com as falhas e aperfeiçoando as sondas até atingir os seus objetivos.
03:56
Em 1961, enquanto por aqui começávamos a produzir um Fusca 100% nacional,
04:03
do outro lado do mundo os soviéticos lançaram suas primeiras missões a Vênus.
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A Proto-Venera falhou ao tentar deixar a órbita da Terra e a Venera 1 chegou a sobrevoar Vênus,
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mas perdeu comunicação devido a um superaquecimento e não conseguiu transmitir seus dados de volta para a base.
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Mesmo com a falha, a Venera 1 foi a primeira espaçonave construída pelo homem a sobrevoar outro planeta.
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Nos anos seguintes, foram outras seis tentativas que não conseguiram alcançar o destino,
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até que em 1966, a Venera 2 repetiu o sobrevoo e a falha de comunicação da Venera 1.
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Logo em seguida, a Venera 3 se tornou a primeira a penetrar a atmosfera de outro planeta,
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atingindo o solo de Vênus em 1º de março daquele ano.
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Embora também tenha perdido a comunicação ao entrar na atmosfera venusiana,
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a Venera 3 marcou um ponto de inflexão na história da exploração de Vênus.
04:56
Mas somente em 1967, com o sucesso da Venera 4,
05:02
os soviéticos tiveram uma ideia da dimensão dos desafios que estavam enfrentando.
05:06
A sonda conseguiu fazer a primeira entrada atmosférica bem-sucedida em Vênus,
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transmitindo dados que surpreenderam a todos.
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À medida que penetrava a atmosfera venusiana,
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seus sensores detectavam um aumento substancial na temperatura e na pressão,
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até perder a comunicação a 26 quilômetros de altitude,
05:25
sob uma temperatura de 262 graus e uma pressão equivalente a 22 atmosferas terrestres.
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Vênera 4 parecia ter sido cozida em uma grande panela de pressão do tamanho de um planeta.
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Em 1969, outras duas missões tiveram mais sucesso.
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Com suas cápsulas reforçadas e paraquedas ajustadas à pressão,
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as Veneras 5 e 6 resistiram por quase uma hora, flutuando na atmosfera venusiana
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e enviando para a Terra os dados que foram fundamentais para o sucesso do próximo grande passo,
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pousar em Vênus.
05:59
E foi assim, após muitos fracassos, que vieram os triunfos.
06:03
A Venera 7 se tornou, em 1970, a primeira sonda a pousar em outro planeta
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e transmitir dados de sua superfície.
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Por conta de uma falha no paraquedas, o pouso foi mais intenso do que o planejado,
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e a sonda acabou caindo de lado.
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Cerca de 20 minutos depois do pouso, as comunicações foram interrompidas,
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provavelmente porque a cápsula foi esmagada pela enorme pressão na superfície,
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equivalente a 90 atmosferas terrestres.
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Além disso, a temperatura por lá beira os 460 graus,
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o que é mais quente do que Cuiabá no verão.
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Em 1972 e 75, as Veneras 8 e 9 conseguiram um pouso mais bem-sucedido
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e com isso transmitiram mais dados para a Terra,
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incluindo as primeiras fotos tiradas diretamente da superfície de Vênus.
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O céu amarelado e o solo coberto de rochas fragmentadas
06:57
nos mostrava, finalmente, como o inferno deve se parecer.
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A partir de então, todas as missões soviéticas a Vênus foram bem-sucedidas
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até a Venera 16 e suas sucessoras Vega 1 e 2.
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Juntas, elas enviaram informações valiosíssimas sobre a atmosfera,
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a geologia e a história do planeta.
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Mas foi justamente entre a Venera 8 e 9,
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na última missão mal-sucedida do programa Venera,
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que começa a história que deve se encerrar nas próximas horas.
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A Cosmos 482, que agora retorna à Terra,
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era irmã gêmea da Venera 8.
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As duas foram lançadas com poucos dias de diferença em março de 1972.
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Mas um desligamento prematuro do foguete que levaria a sonda a Vênus
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impediu a Cosmos 482 de alcançar a órbita de transferência.
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Com isso, ela não conseguiu escapar da gravidade terrestre
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e ficou presa em órbita da Terra.
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Parte dela reentrou na nossa atmosfera alguns dias depois,
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mas o módulo de descida,
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aquela cápsula blindada feita para resistir ao inferno venusiano,
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permaneceu intacto, solitário,
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girando ao redor da Terra por 53 anos.
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E agora é hora de voltar para casa.
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Nas últimas semanas, sua órbita vem decaindo rapidamente
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e a sua reentrada é esperada para as próximas horas.
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Curiosamente, imagens recentes sugerem que seu paraquedas
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pode ter se aberto parcialmente,
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o que não deve interferir muito no destino final da Cosmos 482.
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O paraquedas deve ser rapidamente consumido pelo calor da reentrada,
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enquanto a cápsula voltará intacta.
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E como uma cápsula do tempo,
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mostrará as memórias da época em que a humanidade
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ousou se lançar no espaço e desafiar os limites da engenharia
08:44
para visitar o planeta mais extremo do Sistema Solar.
08:49
Bons céus a todos e até a próxima!
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