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Pesquisadora da Embrapa Soja e vencedora do Prêmio Mundial da Alimentação, o "Nobel da Agricultura", Mariangela Hungria fala dos impactos do desperdício de alimentos no Brasil e de que maneira a produção nacional pode ser suficiente para distribuição interna, garantindo o equilíbrio social.

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Transcrição
00:00Como é que nós chegamos ao ponto de que isso passou a ser uma pesquisa aplicada no campo?
00:06Como é que foi a sair do laboratório e começar a fazer esses primeiros testes na lavoura?
00:11Surgiu também de desafio. Por quê?
00:16Porque eu comecei minha carreira na Embrapa, fui contratada pela minha mentora científica,
00:23uma mulher brilhante, maravilhosa, a doutora Joana Doberain,
00:26que foi uma mulher, inclusive foi candidata a prêmio Nobel também,
00:33e era lá na Embrapa Agrobiologia no Rio de Janeiro.
00:37Mas ela gostava muito de ciência básica também e era apaixonada por fixação em gramíneas.
00:45E eu aprendi muito lá e depois eu fui também, eu fui para lá para fazer meu doutorado,
00:52depois eu passei três anos fora fazendo pós-doutorado.
00:55Daí surgiu um problema pessoal meu, porque eu fui para Londrina, onde é o centro de soja, lá no Paraná.
01:05Fui por motivo familiar, porque eu tinha duas filhas e estava com problema de escola e de saúde da minha filha mais nova,
01:13que eu tenho uma filha com necessidades especiais.
01:16E daí eu tive que mudar para Londrina, onde era o centro de soja.
01:20Antes eu trabalhava com o feijão.
01:22E chegando lá, então, aquela coisa, o desafio.
01:26Eu recebi um laboratório vazio, não tinha nada, desesperador.
01:31Mas, por outro lado, foi a chance de começar meu grupo, começar meu laboratório
01:38e colocar as minhas ideias totalmente minhas, sem ter que pedir a benção para ninguém.
01:47E qual era a minha ideia?
01:48Eu via, assim, que no Brasil e no mundo, era muito assim,
01:52ah, os biológicos têm seu papel, mas ali só na agricultura familiar, na agricultura orgânica, uma coisa pequena.
02:00E eu falava, não, olha, no Brasil, assim, no que eu vejo, eu quero, assim, os biológicos para ter máximo de produtividade,
02:10para atender o super grande agricultor, porque se eu atender o grande, eu vou atender o médio,
02:15eu vou atender o pequeno, eu vou atender todo mundo, eu vou dar uma outra cara para esses biológicos.
02:20Ou seja, não se pensava em escala, era só uma coisa caseira.
02:23Não, era uma coisa, tipo, uma coisa muito pequena, muito acadêmica.
02:26Eu falei, não, eu quero uma outra visão, eu quero uma coisa, assim, muito larga escala.
02:32E eu acho que esse que foi o diferencial.
02:35Daí comecei a trabalhar muito, ali no Paraná estava praticamente zero o uso de biológicos.
02:41Comecei a trabalhar, trabalhar para ter essa visão do macro, sabe?
02:45Para provar que ele podia ter sempre top de produção usando biológico.
02:51Então foi uma visão totalmente diferente e começou a expandir isso.
02:56E daí o que aconteceu?
02:57Comprovamos na soja, sempre com muito esforço, hoje tem mais de...
03:01Ninguém tem a robustez de resultados que nós temos, sabe?
03:06São aí mais de 500 ensaios com soja.
03:10E daí é muito interessante o retorno que os agricultores dão.
03:15Porque, por exemplo, daí muitos ensaios com soja, comprovando em todas as situações,
03:19em todas as regiões do Brasil, que funcionava, que tinha topo de rendimento,
03:24colocava nitrogênio, que estava abaixo de colocar nitrogênio fertilizante.
03:29Daí veio o agricultor feliz e falou assim, não, deu tão certo, mas eu não cultivo só soja,
03:34cultivo milho, trigo.
03:36O que você tem?
03:37Eu falo, não tenho nada, mas deixa que eu vou achar.
03:39Então achamos outras bactérias.
03:40Porque o que é interessante, assim, dos biológicos?
03:45O biológico é uma coisa que desenvolveu na natureza.
03:49Então, na natureza, cada micro-organismo foi procurando a planta que se adaptava melhor a ele, entendeu?
03:58Por isso que ele é tão perfeito em relação ao químico.
04:01O químico, você coloca lá, a eficiência de uso é baixa, tudo, porque ele não é da natureza.
04:07Então a gente vai na natureza e acha qual é naquela planta, aquele micro-organismo que vai dar mais certo.
04:14E daí a gente faz o melhoramento daquilo para ser o melhor, para ser o top.
04:20Daí fui, procuramos no milho, no trigo, encontramos o top, daí deu certo.
04:26E o agricultor daí veio, começou a usar, hoje está muito usado no milho e no trigo.
04:32Daí ele até falou assim, não, olha, mas, nossa, deu tão certo que depois eu plantei soja, colhi mais soja.
04:39Daí eu vi que esse do milho e do trigo também ajudava em soja.
04:43Daí a gente viu colocando os dois, dobrava os benefícios da soja.
04:48E assim foi indo.
04:49Tanto que eu brinco assim, que hoje está muito na moda falar que a gente deve ter ciência cidadã, ciência participativa.
04:58Eu falo, nossa, eu faço isso há 30 anos com os agricultores, nem sabia que estava na moda, né?
05:04Mas é muito, traz uma satisfação enorme para a gente, sabe?
05:10Esse retorno que o agricultor dá e depois eu dou retorno para ele também.
05:14Isso é muito, muito bom.
05:17Agora, como é o transporte de bactérias?
05:20Porque o malhão e bactérias, como você bem disse, a gente encontra no solo, no meio ambiente.
05:24Mas como é que transporta essas bactérias para o plantador de soja, ou de milho, ou de trigo?
05:31Então, elas estão lá no meio ambiente, mas elas estão no solo, né?
05:36A gente retira do solo, faz o melhoramento e tudo.
05:39Mas o que acontece?
05:40Tem, olha, uma colherinha de chá de solo que você pega,
05:48ela tem mais de um bilhão de bactérias e centenas de milhares de metros de ifas de fungo.
05:56Daí você fala, nossa, mas por que eu preciso pôr bactéria?
05:59Porque tem tanta bactéria ali.
06:02Só que o que acontece?
06:04Graças a Deus, elas estão todas, vamos dizer assim, dormindo lá.
06:08Porque se elas estivessem vivas, a gente não ia ter nada, elas iam ter comido tudo.
06:12Então, é um ciclo, assim, que as bactérias ficam dormindo
06:17e quando você dá um estímulo para elas, elas acordam,
06:22dependendo do estímulo que você dá.
06:24Então, se você colhe e coloca restos culturais,
06:29aquelas que vão decompor restos culturais, assim, mais fáceis de decompor,
06:34elas acordam, decompõem.
06:36Se você vier até com os alunos, a gente faz esses estudos, sabe, para mostrar,
06:40elas sobem, daí elas caem.
06:42Daí aquelas que decompõem as coisas mais difíceis, que nem lignina,
06:47daí elas sobem e caem.
06:49E a mesma coisa, essas bactérias que a gente isolou,
06:53que fazem a fixação do nitrogênio, elas estão no solo,
06:56mas elas estão lá dormindo.
06:58Quando você coloca uma semente de soja, por exemplo,
07:01a semente começa a germinar,
07:03daí ela vai enviar os sinais moleculares,
07:06vai falar assim, olha, eu estou aqui, a bactéria vai acordar,
07:09vai falar, nossa, ela está lá, vai ter que caminhar,
07:12mas ela precisa ter água para caminhar até a semente,
07:15daí começa a germinar, daí elas trocam mais sinais moleculares,
07:19daí vai começar o processo.
07:21E ela vai contribuir.
07:22Todas essas que estão no solo, elas vão contribuir.
07:25Mas as culturas estão cada vez mais curtas,
07:28e você tem que maximizar a contribuição biológica.
07:31Então, o que a gente faz?
07:33Essas que a gente selecionou,
07:35então, essas que a gente chama bactérias elite,
07:38então, a gente faz uma formulação especial,
07:41são formulações assim,
07:42onde a gente tem um trilhão de bactérias,
07:46às vezes, por mililitro do produto,
07:50e mistura na semente na hora do plantio.
07:53E daí, como ela está assim,
07:54fisiologicamente pronta para começar,
07:57ela não está dormindo,
07:58ela está acordadinha,
08:00ela já vai começar a agir.
08:01E essa é a diferença de usar os biológicos,
08:04já começa a agir na hora que você já usa na semente,
08:08na hora que você põe no solo,
08:10e ela vai dar um diferencial na produção.
08:14Depois, aquelas que estão no solo,
08:16vão contribuir.
08:17Mas essa contribuição que ela dá,
08:19te dá um grande aumento no rendimento das culturas.
08:22Então, nós temos uma agricultura,
08:24hoje, tropical avançada,
08:25a biologia contribuindo muito
08:28para reduzir essa parte dos nitrogênios químicos,
08:33principalmente,
08:33que é uma coisa que nós temos de importar,
08:35por exemplo,
08:35o Brasil se torna até mais independente
08:37na sua grande produção.
08:39E do tempo que você entrou na faculdade até hoje,
08:41o Brasil deixou de importar comida
08:42e passa hoje a se exportar comida
08:44e alimentar um bilhão de pessoas no mundo.
08:47Agora, apesar desse retrato muito positivo,
08:52o Brasil ainda tem muito desperdício de alimento,
08:57o Brasil tem perda de alimento
09:00nesse transporte do campo,
09:02da lavoura para a cidade,
09:04para o supermercado.
09:05O que nós podemos fazer,
09:08já que essa preocupação sempre foi com alimento,
09:10para combater esse desperdício
09:13e essa perda de alimentos
09:15que nós chamamos da porteira da fazenda
09:18até o supermercado?
09:20E não é só isso.
09:21Você sabe, eu gosto muito de aprender
09:24e eu me surpreendi há uns três anos
09:28com o seguinte,
09:30eu sou membro da diretoria
09:33da Academia Brasileira de Ciências
09:35e naturalmente, lá quando começou o mandato,
09:38assim, agrônoma,
09:40ah, você vai para o grupo de trabalho
09:43de segurança alimentar, né?
09:45Porque todo mundo associa,
09:47e eu também associava, né?
09:48Ah, alimento, então eu produzi alimentos e pronto.
09:52Daí eu falei, não, tá tudo bem.
09:54Daí eu fui estudar, né?
09:56Segurança alimentar, fui falar,
09:57ah, produção.
09:59E foi muito, foram meses ali
10:01de muito aprendizado, sabe?
10:04Porque daí eu pude ver que,
10:06na verdade, a produção de alimentos
10:08é só 30, 40% ali
10:11desse problema que a gente tem
10:13de segurança alimentar e nutricional.
10:15Como você falou,
10:17a gente produz hoje
10:18para alimentar um bilhão de pessoas
10:21e na época que estava fazendo esse estudo,
10:24a gente estava no final da pandemia,
10:26saiu o dado muito triste
10:29de que tinha 33 milhões de pessoas
10:31com insegurança alimentar grave no Brasil.
10:35Hoje já diminuiu,
10:36mas eu acredito que esteja por volta,
10:38ainda tenha mais de 10 milhões.
10:41Então, como que pode a gente produzir
10:43para um bilhão e ter 10 milhões de pessoas?
10:45O que é insegurança alimentar grave?
10:48É aquela pessoa que acorda de manhã
10:51e não sabe se vai ter uma refeição, entendeu?
10:54Então, como resolver esse problema?
10:58Então, não é só a produção de alimentos.
11:01É tudo...
11:02E a ciência pode ajudar muito.
11:04Eu até trouxe para você o livro,
11:07depois eu quero que você mostre ali.
11:10Ele está...
11:10Ele é disponível de graça
11:13no site da Academia Brasileira de Ciências
11:16e foi muito interessante,
11:18que mostra como a ciência hoje brasileira
11:20está preparada para enfrentar
11:23e está capacitada para enfrentar esse problema,
11:26que vai desde o levantamento de dados,
11:29que você tem que saber
11:29onde é que estão essas pessoas, né?
11:32Para você, daí, fazer as políticas públicas
11:35para aplicar essas pessoas
11:38e tirar essas pessoas da fome.
11:40Você tem que ter a economia,
11:43porque você fala assim,
11:44qual é a cesta básica que eu tenho que...
11:47E que ter quanto que vale, né?
11:48Não é assim que você acorda e fala,
11:50ah, vou dar 300 reais.
11:51Não, você tem que fazer estudo econômico
11:53para saber qual é o valor mínimo
11:55que uma família precisa ter
11:57para se alimentar.
11:59Você tem que saber justamente...
12:02Essa parte é uma parte impressionante.
12:05Como que a gente vai diminuir
12:06perdas e desperdícios?
12:08Por exemplo, se perde muito
12:10nas colheitas, nos transportes
12:13e se desperdiça muito
12:15nos ceasas, nos supermercados,
12:18nas próprias casas,
12:20frutas, por exemplo,
12:22a gente tem uma...
12:22Perda de desperdício chega a 70%.
12:25Nossa!
12:26E a gente, em ciência, por exemplo,
12:29a gente tem várias alternativas
12:31hoje que está mostrando
12:32como processar alimentos,
12:35aproveitar, fazer sucos,
12:36tudo isso diminuindo,
12:38que não perca o valor nutricional.
12:40até a parte de educação,
12:43porque a gente quer construir
12:44uma nova geração mais saudável.
12:48Então, a gente tem que dar educação
12:50de autocuidado,
12:52de aprendizado sobre o que comer.
12:55A gente já vê mudanças hoje,
12:56nessa nova geração
12:59que já diminui os ultraprocessados,
13:04os refrigerantes e tudo,
13:05chegando até essa parte tão importante
13:09da comunicação,
13:10porque, afinal,
13:13a gente pode ter um conjunto
13:15muito sólido de informações,
13:18todas corretas,
13:20mas como você vai fazer o público
13:24acreditar nas informações corretas
13:27e não numa informação errada
13:29que vai, né?
13:30Então, eu até falo assim,
13:33se eu fosse uma...
13:35se eu tivesse acesso
13:37a financiamento de pesquisa,
13:40uma das áreas que eu mais investiria hoje,
13:42que eu acho, assim,
13:43mais crítica de investimento
13:45em pesquisa, em ciência,
13:48é justamente a área da comunicação.
13:49Então...

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