Avançar para o leitorAvançar para o conteúdo principalAvançar para o rodapé
  • ontem
Manuel Luís Goucha

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Ora, viva! Eu gosto, volta e meia, de partilhar consigo estas memórias de vida
00:04e hoje elas partem deste livro, Lojas Históricas da Cidade de Coimbra,
00:09um livro da autoria de Ana Filipe Aponte e da Sara Reis.
00:12As autoras tiveram a gentileza de me enviar o livro, muito obrigado a elas,
00:16mas eu fazia atenções de o comparar, até porque me ligam razões de afeto à Cidade de Coimbra
00:21e depois gosto muito, gosto muito de comércio tradicional
00:25e de saber das histórias que estão por detrás destas lojas que já são históricas.
00:31As razões afetivas que me ligam a Coimbra, já sabeis, portanto, eu sou lisboeta,
00:35mas dos 3 aos 17 anos vivi em Coimbra.
00:39Quanto ao comércio tradicional, eu sou fã do comércio tradicional,
00:43seja em que parte do país for, solamente é que muitas destas lojas
00:46tenham entretanto fechado, porque asfixiadas pelas grandes superfícies,
00:52porque não conseguiram cumprir os novos alugueres, as novas rendas ou por outra razão qualquer.
00:59De qualquer das maneiras, em relação a este livro, é um livro muito interessante
01:03que partilha connosco histórias de vida, até porque a maior parte destas lojas
01:09são negócios familiares que passam de geração em geração.
01:12Ainda não li o livro todo, até porque tenho dois outros livros em mãos.
01:16Este é um livro que também para mim vai funcionar como ferramenta de trabalho,
01:19sempre que for necessário, mas fui à procura aqui de lojas,
01:23lojas que tenham a ver, não diretamente, mas sim diretamente,
01:26e por via da minha mãe comigo.
01:27E começo pela Casa Arménio, não podia deixar de falar nesta casa.
01:31A Casa Arménio deve o seu nome ao seu proprietário, o Sr. Arménio,
01:35que entretanto faleceu.
01:36E quem fica a tomar conta do negócio é a sua mulher, a Maria José,
01:42conhecida por Zeca, por quem quer bem.
01:44Pois a minha mãe era aqui que comprava muito da sua roupa mais íntima,
01:49e também pijamas e meias, etc, etc.
01:52Mas muito para além da sua relação de cliente com os proprietários da casa,
01:57o casal, estabeleceu-se aqui desde sempre uma relação de verdadeira amizade.
02:01Aliás, a minha mãe ficou muito abalada com a morte do Sr. Arménio.
02:05Nas suas voltas diárias, logo pela manhã, quando ela saía de casa
02:09e ia dar a sua voltinha à baixa ou abaixinha da cidade de Coimbra,
02:13passava-se pela Casa Arménio para dar dois dedos de conversa
02:17à Maria José, à Zeca.
02:19E todas as noites, isto é muito interessante,
02:21tal era a amizade que unia a minha mãe a este casal,
02:24e muito particularmente depois do falecimento do Sr. Arménio
02:27à Maria José, à sua mulher,
02:29todas as noites havia um telefonema de larguíssimos minutos,
02:32se tivesse a minha mãe em Coimbra ou aqui a passar temporadas em Sintra,
02:36na nossa casa, havia um telefonema entre as duas.
02:39Mas ficavam largos minutos a conversar sobre, não sei, sobre a vida, certamente.
02:45Portanto, Casa Arménio, beijinho, Zeca.
02:48Depois, encontrei aqui também a história de um outro negócio,
02:52o negócio da Urivesaria Costa.
02:53Cá está.
02:54A Urivesaria Costa ficava mesmo ao lado do prédio
02:58onde a minha mãe trabalhou durante décadas,
03:00enquanto manicura, pedicura, como sabeis.
03:03A minha mãe também tirou um curso aqui em Lisboa de Calista,
03:06mas não exerceu essa função durante muito tempo.
03:10O Salão Azul, o cabeleireiro, que ficava ao lado da Urivesaria Costa,
03:13era o salão mais chique, era o cabeleireiro mais chique da cidade de Coimbra,
03:17e assim foi durante décadas.
03:19A minha mãe trabalhava à comissão,
03:21portanto, tinha um salário baixo e depois trabalhava à comissão,
03:24e por isso havia meses em que ela teria um salário muito confortável.
03:28Com o dinheiro que ela conseguia juntar, ela investia em ouro
03:32e comprava justamente as suas joias, o seu ouro,
03:35aqui na Urivesaria Costa, e assim foi durante toda a vida.
03:38Ela pertence a uma geração em que se investia muito em libras de ouro.
03:44Há uma altura em que a minha mãe decide vender todas as joias e todo o ouro
03:48para, com o dinheiro, poder distribuí-lo pelos seus netos.
03:51Assim fez, mas guardou algumas libras.
03:54Guardou quatro libras.
03:55Deu-me uma, deu outra ao Rui, e certamente terá dado também uma ao meu irmão,
04:01o Carlos, e à sua nora, a Isabel.
04:03Eu pedi ao Rui que me desse a sua libra e com elas fiz botões de punho.
04:08Cá está.
04:09Portanto, estes são os botões de punho com libras de ouro
04:12que a minha mãe tinha e que nos deu.
04:15É uma libra com a efigie do rei Jorge V,
04:18o avô de Isabel II de Inglaterra.
04:22Eu uso-os, muitas vezes, em ocasiões televisivas especiais,
04:26em programas de estreia ou até mesmo numa ou noutra festa,
04:30e sinto que, para além de todas as memórias,
04:33ainda carrego mais esta memória da minha mãe
04:35que me liga num momento tão especial.
04:38Depois, curiosamente, encontrei há dois dias,
04:43até para este propósito, ao fazer arrumações,
04:46encontrei uma caixinha justamente da Orivesaria Costa.
04:50Eu não sei se, por acaso, estas libras, sim, cabiam na caixinha.
04:55Portanto, possivelmente, foi assim que elas nos chegaram.
04:57Foi nesta caixinha.
04:58Se porventura é conibricense ou se vive na cidade de Coimbra,
05:03não deixe de comprar este livro.
05:05Lojas históricas de Coimbra,
05:07lojas que nós não podemos deixar que morram.