Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • anteontem
A bacia da Foz do Amazonas, localizada na Margem Equatorial brasileira, é hoje a principal aposta da indústria de óleo e gás para garantir o futuro energético do país e impulsionar o desenvolvimento da região Norte. Em entrevista ao Grupo Liberal, o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, defende a continuidade das perfurações exploratórias e afirma que, se confirmada a presença de petróleo comercialmente viável, o impacto na economia amazônica será transformador - com geração de empregos, atração de investimentos e aumento da arrecadação, sem abrir mão da segurança ambiental.

Repórter: Jéssica Nascimento
Imagem: Carmem Helena
Edição: Bia Rodrigues (supervisão: Tarso Sarraf)

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Olá, seguidores de Oliberal, eu sou a repórter Jéssica Nascimento e hoje nós estamos aqui com o Roberto Ardengue,
00:06presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás.
00:08Roberto, muito obrigada por ter aceitado o convite, seja bem-vindo ao nosso estúdio, seja bem-vindo ao veículo.
00:15Olá, Jéssica, muito obrigado, é um prazer estar com vocês hoje.
00:18Excelente.
00:19Presidente, qual a importância atual do setor de óleo e gás para a economia brasileira
00:24e como esse impacto se desdobra especificamente na região norte e no Pará?
00:29Jéssica, o setor de óleo e gás é uma das locomotivas do desenvolvimento brasileiro.
00:34O Brasil, em 1970, quando houve a crise do petróleo, ele importava 90% do petróleo que consumia
00:41e hoje o Brasil exporta 1,5 milhões de barris de petróleo.
00:46Nós somos o nono maior exportador mundial de petróleo.
00:49Isso graças a um projeto de desenvolvimento que foi liderado pela Petrobras,
00:55mas também a chegada de novas empresas a partir de 1998, quando nós mudamos a construção do Brasil
01:01e permitimos também a presença de outras empresas além da Petrobras para fazer atividade exploratória no Brasil
01:07e é um caso de enorme sucesso.
01:10Não só a gente descobriu muito petróleo, como desenvolveu uma engenharia nacional em cima desse petróleo.
01:16O Brasil hoje é líder mundial, por exemplo, em exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas.
01:24Então, isso é um sucesso enorme do conhecimento brasileiro
01:28e hoje a gente representa cerca de 12% do PIB industrial do Brasil.
01:32Pagamos todos os anos 280 bilhões de reais de impostos e geramos 400 mil empregos.
01:40Aqui na região norte, esse setor é muito importante porque existe inclusive a ocorrência de petróleo e gás aqui na região.
01:48Nós temos bacias como a bacia do Solimões, bacia do Amazonas e também agora uma nova perspectiva
01:56que é a bacia da Foz do Amazonas, localizada lá no norte do Brasil, na frente do estado do Amapá,
02:03mas que vai, se for confirmado, claro, se a gente puder continuar o processo de perfuração de um poço exploratório
02:11e tiver uma acumulação de petróleo e gás lá, será realmente um motivo de enorme desenvolvimento para a região norte.
02:21Excelente. A margem equatorial tem sido apontada como uma das grandes apostas
02:26para o futuro da exploração de petróleo no Brasil. Qual o real potencial dessa região
02:31e o que ela pode representar para a Amazônia?
02:34Então, a margem equatorial, junto com outras bacias, o Brasil, felizmente, tem várias bacias sedimentares
02:40onde há perspectivas positivas da ocorrência de acumulação de petróleo e gás.
02:46Eu posso citar aqui, por exemplo, a bacia do Parecis, na região do Mato Grosso,
02:50eu posso citar a bacia de Pelotas, lá no Rio Grande do Sul, a bacia do Espírito Santo, na frente do Espírito Santo,
02:58a bacia de Camamu Almada, a bacia do Pará Maranhão, que faz parte da margem equatorial,
03:05e especialmente a Foz do Amazonas.
03:07Hoje, a Foz do Amazonas é uma grande aposta da indústria.
03:10A Agência Nacional do Petróleo, semana passada, fez um leilão de áreas lá na Foz do Amazonas,
03:19para que seja feita a prospecção, e 80% dos recursos que foram pagos nesse leilão
03:27foram para áreas da Foz do Amazonas.
03:30Mas nós temos que fazer o trabalho exploratório.
03:32O que é o trabalho exploratório?
03:33É fazer a perfuração, porque você só descobre realmente se tem petróleo
03:37quando você fura um poço e identifica que não só que existe petróleo,
03:41mas que aquele petróleo é comercialmente viável.
03:44Isso quer dizer que tem uma acumulação e que as características geológicas daquele reservatório
03:49são boas para você fazer a retirada daquele hidrocarboneto,
03:53seja petróleo, seja gás.
03:54Então, é isso que a gente defende muito, porque realmente, se for confirmada
03:59a possibilidade da ocorrência dessa acumulação grande de petróleo,
04:04será muito importante para o desenvolvimento aqui da economia regional.
04:07Excelente.
04:08O Pará será a sede da COP30.
04:11Isso naturalmente traz luz para o debate ambiental.
04:14Como o setor de óleo e gás pode se integrar a esse processo,
04:17mostrando compromisso com a transição energética e sustentabilidade?
04:22Então, Jéssica, o petróleo ainda vai ser muito importante como energético
04:27nas próximas décadas.
04:29O petróleo não vai abandonar, não vai deixar de ser um vetor importante
04:34na geração de energia no mundo inteiro.
04:36Você veja que hoje, 80% da energia do mundo, estou falando de energia primária,
04:42ou seja, aquela que é produzida de modo primário, é de hidrocarboneto,
04:46seja petróleo, seja gás, seja do carvão.
04:49O Brasil não tem carvão, infelizmente, porque o carvão emite muito,
04:52então não existe o uso de carvão como fonte de energia no Brasil, praticamente,
04:59mas o petróleo e o gás sim.
05:02E nós já temos uma matriz energética muito limpa no Brasil,
05:04nossa matriz energética é muito renovável,
05:08então o petróleo vai continuar cumprindo um papel,
05:12talvez não mais como um mero gerador de energia,
05:15mas, por exemplo, no uso, por exemplo, na petroquímica.
05:18Todos os produtos, quando você senta numa sala,
05:22seja a sala da sua casa, seja no escritório,
05:2585% das coisas que estão em volta de você
05:27usaram petróleo na sua composição,
05:30ou foram trazidos até aquele local pelo petróleo.
05:34Então é um modelo de desenvolvimento
05:36que foi desenvolvido ao longo de 200, 250 anos,
05:40e que a gente não vai conseguir mudar do dia para noite.
05:43Então o que a gente vai levar para a COP30 é essa mensagem,
05:46a mensagem que nós temos que produzir e continuar ainda necessitando de petróleo,
05:52seja para a petroquímica, seja para a produção, por exemplo, dos fertilizantes.
05:56O petróleo é indispensável para a produção da amônia e da ureia,
06:00que são dois fertilizantes fundamentais para o nosso setor agropecuário,
06:05mas com essa preocupação ambiental.
06:07Essa preocupação ambiental é, primeiro, uma preocupação
06:10no sentido de fazer uma operação muito segura.
06:14Então, por exemplo, hoje no Brasil,
06:16o Brasil produz hoje 4 milhões de barris de petróleo.
06:20Desses 4 milhões, 3 milhões são produzidos no que a gente chama do pré-sal,
06:24que é uma reserva que fica na frente do Rio de Janeiro e de São Paulo.
06:28Ora, na frente do Rio de Janeiro e de São Paulo existem praias,
06:33existe Búzios, existe Guarujá,
06:36existe a Costa Verde ali na Baía de Angra dos Reis,
06:42existe a Ilha de Ilha Bela em São Paulo,
06:45lugares muito sensíveis ambientalmente.
06:48E todos os dias, a meia-noite de hoje,
06:50nós teremos tirado daquela região ali 3 milhões de barris de petróleo,
06:54sem cair um pingo de petróleo no oceano.
06:57Então, a gente tem muita segurança.
06:59A indústria brasileira e as empresas que trabalham nesse setor,
07:03elas têm muita confiança no que elas fazem.
07:05Então, esse é o primeiro elemento.
07:06O segundo é que hoje existe tecnologia pra você reduzir a emissão de CO2
07:12nesse barril que você vai produzir.
07:14Tem uma série de técnicas que são usadas hoje pelas empresas brasileiras,
07:19com destaque para a Petrobras,
07:20que reduzem a emissão de CO2.
07:23Então, a gente consegue hoje produzir um barril de petróleo
07:25com uma emissão que é um terço da média mundial.
07:30Ou seja, é um petróleo, vamos chamar assim,
07:32um petróleo baixo teor de CO2.
07:36Para que a gente possa vender esse mercado no mercado internacional também
07:40com competitividade.
07:41Então, essa é a mensagem e é isso que a gente vai fazer.
07:44E é isso que, inclusive, a gente veio fazer aqui em Belém.
07:48Amanhã temos um evento lá na Fiepa,
07:49onde discutiremos essa questão da transição energética
07:53e com esse objetivo de apresentar à sociedade aqui do Pará e do Norte do Brasil
08:01essas ideias e essa oportunidade que existe para todos os estados.
08:06Excelente.
08:07Aproveitando esse assunto, o gancho,
08:09quais são as ações concretas que o IBP,
08:12o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás,
08:13e o setor vêm adotando para conciliar a exploração de recursos fósseis
08:19com preservação ambiental, especialmente em áreas sensíveis na Amazônia?
08:22Então, o Brasil, na verdade,
08:26quando você pensa na exploração de petróleo e gás natural na Amazônia,
08:30nós já temos um exemplo que é muito claro.
08:32É o campo de Urucu,
08:34que a Petrobras, desde 1982,
08:38produz gás e condensado,
08:40que é um tipo de petróleo bem leve,
08:41naquela região de Urucu,
08:44sem maiores impactos ambientais.
08:47Ou seja, é uma atividade realizada de maneira segura.
08:50Então, nós já temos experiência de produzir petróleo na região amazônica,
08:55sem impactos ambientais.
09:00Essa região que a gente chama da Foz do Amazonas,
09:03é uma região que fica no mar,
09:05ela não fica no Amazonas,
09:06não fica dentro da floresta.
09:08Nós estamos falando da Foz do Rio Amazonas,
09:10ou seja, já em alto mar.
09:12Então, o impacto sobre a floresta é praticamente inexistente,
09:17porque você não tem nenhuma atividade perto de nenhuma reserva florestal.
09:22Nós estamos falando de um campo
09:23que está a 180 quilômetros da costa do Amapá.
09:28E a gente tem muita certeza e muita confiança
09:32de que essa atividade vai ser feita de maneira muito segura,
09:36com uma preocupação operacional e ambiental muito grande,
09:39e que nós vamos conseguir fazer a produção de petróleo.
09:43Se tiver, claro, uma ocorrência importante de petróleo lá,
09:46o que nós estamos pedindo no momento
09:47é a mera autorização para perfurar um poço.
09:51Entendi.
09:51Para identificar, para a gente saber o que tem no subsolo brasileiro.
09:54Mas, então, assim, pelo que eu estou entendendo,
09:56vocês não têm certeza de que há petróleo na margem equatorial.
09:59Não, você nunca tem certeza até você furar o poço.
10:02Entendi.
10:02Mesmo que você tenha os mapas, que você faça o que a gente chama sísmica,
10:07que você estude o subsolo daquela região,
10:10você olha ali e tem algumas imagens, algumas indicações que pode ter.
10:14Mas você só tem certeza da ocorrência de petróleo,
10:17ou de qualquer também bem mineral,
10:20quando você faz uma perfuração e encontra aquela acumulação.
10:25Então, é isso que nós estamos hoje pleiteando.
10:31A Petrobras está liderando esse movimento
10:33de pedir autorização ao Ibamba
10:36para que a gente possa fazer esse poço exploratório.
10:40E, quem sabe, se tudo estiver certo
10:43e se a teoria, se a prática confirmar a teoria,
10:46teremos petróleo lá.
10:47A gente está no campo das ideias ainda.
10:48Nós ainda estamos no campo das hipóteses.
10:50Então, a exploração de petróleo na margem equatorial aqui na Amazônia
10:53não está definida, não é uma certeza.
10:55É porque, quando a gente vê as notícias,
10:58parece que já está lá e que vai ocorrer a exploração.
11:02Não, a gente tem que ter esse cuidado,
11:04porque nesse setor de óleo e gás,
11:07ou no setor de mineração em geral,
11:09você precisa fazer a última etapa, que é a perfuração.
11:13É essa aí que confirmará tudo o que você fez anteriormente
11:17em termos de estudos.
11:19Existe, claro, você tem uma ideia que pode existir.
11:22Por quê?
11:22Porque do lado da fronteira do Brasil, ali na Goiânia,
11:26já foi descoberta uma reserva importante.
11:28Lá tem 6 bilhões de barris descobertos.
11:31No Suriname, que também é um país ali da região das Goiânias,
11:36já foi descoberta também grandes acumulações de gás.
11:38Então, nós já temos dois casos de sucesso.
11:40E aí a pergunta é, por que não também do lado brasileiro?
11:43Então, é legítimo pensar que a gente tem a petróleo lá.
11:46Mas temos que furar.
11:48Exatamente.
11:49Como o senhor avalia o papel da indústria de óleo e gás
11:52na geração de empregos e na capacitação técnica
11:56da população local da região norte?
11:58Há planos inéditos ou programas específicos para isso?
12:01Essa é uma boa pergunta, porque o setor de óleo e gás,
12:04ele é um setor que tem alta empregabilidade.
12:08E aqui eu vou contar uma história que eu sempre conto,
12:11que é lá do Rio de Janeiro, onde se produz hoje,
12:14grande parte do petróleo brasileiro é produzido na região do pré-sal,
12:18na Bacia de Santos, na Bacia de Campos,
12:21e localizados na frente do Rio de Janeiro, basicamente,
12:24também um pouco no Espírito Santo e um pouco em São Paulo.
12:28O centro dessa produção hoje no Brasil, lá no Rio de Janeiro,
12:31é a cidade de Macaé.
12:33E em Macaé existe um porto que é muito utilizado
12:37pelas empresas de petróleo para embarcarem
12:40os seus funcionários até as plataformas.
12:43É um vai e vem constante de gente, vai e volta,
12:46porque você tem que estar sempre mudando a escala,
12:49substituindo as equipes que estão lá embarcadas.
12:52Então, é um porto que praticamente opera 24 horas por dia.
12:55Uma senhora resolveu botar uma carroça de pipoca
12:58na entrada desse local, porque ela viu aquele movimento
13:01de gente entrando e saindo, colocou lá o seu carrinho de pipoca
13:04e um dia passou um engenheiro da Petrobras,
13:09que era a empresa que estava operando aquele campo naquele momento,
13:12olhou aquela barraca de pipoca,
13:14aquele carrinho de pipoca,
13:16comprou dois saquinhos e embarcou, foi lá embarcar.
13:20Voltou na semana seguinte,
13:22pediu dez saquinhos de pipoca e embarcou.
13:26Na outra semana ele trouxe um saco muito grande,
13:29comprou toda a pipoca da senhora e levou.
13:31Bom, o que isso queria dizer?
13:35Esse engenheiro, uma plataforma de petróleo,
13:39ela precisa todos os dias praticamente fazer o que a gente chama
13:42do teste de dispersão.
13:44O que é isso?
13:44Você joga no mar algum produto
13:46para ver para onde estão indo as correntes,
13:49para onde aquele produto está sendo levado,
13:51porque em caso de um derramamento,
13:53você sabe qual vai ser o comportamento daquele petróleo
13:57que poderá ser derramado ali.
13:59Ele vai para o sul, vai para o norte, vai para o leste, vai para o oeste.
14:02Então a gente chama isso de teste de dispersão.
14:05E se gastava muito dinheiro comprando produtos altamente sofisticados
14:11que vinham até do exterior para fazer esse teste de dispersão.
14:14Entendi.
14:15E o engenheiro teve a ideia de usar pipoca.
14:18Essa senhora hoje, ela parou de vender o seu carrinho de pipoca,
14:23ela abriu uma empresa de pipoca industrial,
14:25ela tem hoje cerca de 27 funcionários
14:28e ela produz essa pipoca para o uso das empresas de petróleo.
14:33Então até uma pipoqueira,
14:34uma pessoa que tem um pequeno carrinho de pipoca,
14:39pode ser empregado nessa indústria,
14:42porque ela usa realmente todos os tipos de produtos da indústria.
14:45Ela usa a área hoteleira,
14:47ela usa a parte de alimentação,
14:49a parte de transporte e por aí vai.
14:51Então essa é a dinâmica da indústria de oligás.
14:53É uma indústria que tem uma preocupação social e ambiental muito grande
14:58e também alta empregabilidade.
15:00Muito, muito interessante.
15:01Assim, você não tem nenhum dado da região norte?
15:04Ainda não, porque como eu disse,
15:05como a gente ainda tem que, nós temos que descobrir,
15:08temos que entender também que tipo,
15:10se tiver petróleo, que tipo de petróleo é?
15:12É mais petróleo ou mais gás?
15:15Ele está a que profundidade?
15:17Ele está em que características?
15:18Agora, é claro que a perspectiva,
15:21se você pegar o exemplo dos outros estados do Brasil,
15:26aí eu pego a Bahia, eu pego o Espírito Santo,
15:30o Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Alagoas,
15:35Ceará, onde há essa atividade,
15:38eu posso te garantir que é uma atividade que tem alta empregabilidade
15:42e demanda também, claro, um tipo de profissional também com treinamento.
15:49Não é um profissional, quando você chega num nível de uma perfuração,
15:53uma atividade mais sofisticada,
15:55é claro que a gente precisa de um profissional qualificado.
15:58E aí a qualificação da mão de obra é muito importante
16:01para você ter realmente um profissional que esteja capaz de embarcar,
16:06ir até uma plataforma dessa,
16:07ficar lá 14, 20 dias embarcado,
16:10realizando um trabalho importantíssimo,
16:12que é a perfuração ou a produção de petróleo e gás
16:17com essa pegada de preocupação operacional e ambiental.
16:22Sem dúvida.
16:23Presidente, o cenário internacional afeta diretamente o mercado interno.
16:27A recente escalada de tensões no Oriente Médio,
16:30especialmente a guerra entre Irã e Israel,
16:32tem potencial de impacto no preço dos combustíveis.
16:35Como isso pode afetar de forma prática o consumidor paraense?
16:40Isso é muito importante,
16:41porque eu acho que o que está acontecendo hoje no Oriente Médio,
16:45nesses últimos dias,
16:47esses movimentos geopolíticos, esses conflitos,
16:50ressaltam muito primeiro a importância de que os países
16:53têm de manter um certo grau de segurança energética.
16:59O petróleo é um produto muito importante,
17:02ele é usado, como eu mencionei aqui,
17:05em uma quantidade enorme de produtos.
17:11E o país estaria mais seguro
17:16se tiver uma quantidade importante de petróleo,
17:21pelo menos para o seu abastecimento,
17:23que é o caso do Brasil.
17:24O Brasil é o que a gente chama exportador líquido de petróleo,
17:28ou seja, nós temos hoje petróleo que atende a nossa demanda.
17:33Só que isso é uma realidade que pode mudar nos próximos anos
17:38se a gente não descobrir novas reservas,
17:40porque há um estudo da empresa brasileira
17:43de planejamento energético, a EPE,
17:46que indica que se o Brasil não descobrir novas reservas de petróleo,
17:50como é o caso, por exemplo, da margem equatorial,
17:52da bacia de Pelotas e outros locais do Brasil.
17:56Em 2033, 34, nós inverteremos nossa posição de,
18:02em vez de produtor e exportador de petróleo,
18:05importador de petróleo.
18:07E isso aí fica muito grave,
18:09porque aí você fica submetido a essas questões internacionais,
18:13quando você tem que trazer petróleo de fora
18:15para abastecer o seu mercado e produzir a gasolina, o diesel,
18:18o querosene de aviação, o GLP, o gás de cozinha,
18:23você tem essa fragilidade econômica.
18:25Então, o Brasil hoje tem essa situação de conforto
18:31com relação a essa crise,
18:32e isso é muito importante.
18:35Agora a gente não pode ficar deitado em berço esplêndido,
18:38nós temos que continuar essa atividade exploratória
18:43para garantir que nos próximos anos a gente não seja afetado.
18:47Se a gente tiver essa segurança de produzir petróleo no Brasil,
18:52a gente será menos afetado por essas situações,
18:55inclusive aqui no estado do Pará.
18:57Com o aumento do preço dos combustíveis,
18:59com a pressão autista toda.
19:03Então, se você depende de um produto importado
19:07e esse produto fica mais caro,
19:09você acaba tendo que transferir esse preço
19:12para o seu mercado interno,
19:14e aí o consumidor acaba pagando por esse produto.
19:19Pagando o preço final, literalmente.
19:21Com certeza.
19:22Presidente, há uma crescente pressão
19:24por investimentos em fontes renováveis.
19:27Como o senhor enxerga a coexistência entre petróleo,
19:29gás e energias renováveis na matriz energética brasileira
19:33nos próximos anos?
19:34Exato.
19:34Os desafios das energias renováveis são gigantescos,
19:39porque as energias renováveis são muito importantes,
19:44mas elas têm que garantir que elas vão entregar a energia
19:48para o consumidor com a mesma eficiência
19:52e com a mesma competitividade do petróleo.
19:57Porque a gente não pode pensar em um processo de transição energética
20:01na qual você vai encarecer a energia para o consumidor final
20:04três, quatro, cinco vezes.
20:06Isso não é aceitável para o consumidor.
20:09O consumidor quer uma energia renovável,
20:11mas ele também quer uma energia barata.
20:13Ele quer uma energia que entregue o que se propõe,
20:17mas ele quer uma energia também que não odere muito
20:19o consumo das famílias.
20:21Então, e esse desafio da competitividade das energias renováveis
20:26é um desafio também de tecnologia.
20:28Como é que você pode produzir melhor um biocombustível?
20:32Como é que você pode aumentar a eficiência de um parque eólico ou solar?
20:36Como é que você pode desenvolver, por exemplo,
20:38uma planta de hidrogênio de maneira competitiva?
20:42E aí o setor de óleo e gás pode contribuir muito,
20:45porque nós temos muito conhecimento.
20:47O setor de óleo e gás, por exemplo, trabalha com hidrogênio
20:51há mais de 200 anos, porque toda a refinaria de petróleo
20:55tem uma unidade de produção de hidrogênio.
20:57Só que é o hidrogênio marrom, é o hidrogênio que é produzido
21:00a partir do petróleo ou de algum derivado do petróleo.
21:04Mas a manipulação do hidrogênio, o transporte, a armazenagem
21:08é uma ciência muito dominada pela indústria de óleo e gás.
21:13Então essa é a primeira contribuição que a gente pode dar.
21:15Os biocombustíveis, que eu mencionei,
21:18uma refinaria pode ser transformada em uma biorefinaria.
21:22E, portanto, em vez de processar petróleo,
21:24ela também poderia começar a processar biomassa,
21:29óleo vegetal, sebo bovino e algum outro produto
21:33que também pode gerar um diesel verde,
21:37uma gasolina também renovável,
21:40oferecendo também esse produto ao consumidor.
21:42Então é mais uma contribuição que o setor de óleo e gás pode fazer.
21:45E aí eu posso citar vários exemplos.
21:49Então o setor de óleo e gás está muito comprometido com esse processo de...
21:54A gente não fala tanto de transição energética,
21:56a gente fala de evolução energética,
21:58porque as energias evoluem ao longo do tempo.
22:03Então por isso que a gente refuta muito essa ideia
22:05de que os combustíveis fósseis vão acabar
22:08a médio e curto prazo.
22:12Isso não vai acontecer na prática.
22:13Eles vão continuar tendo o seu papel e outras energias vão pouco a pouco surgindo
22:18e ocupando o seu espaço.
22:19É um processo como se fosse você...
22:21De empilhamento de soluções energéticas.
22:24Por exemplo, o mundo ainda consome muito carvão.
22:28Você vê que países como a China e como a Índia,
22:32quase 50% da energia gerada nesses países é de carvão.
22:37Então quando você vê, por exemplo, um carro elétrico chinês andando na China,
22:43pode ser que aquele carro tenha sido de noite colocado numa tomada
22:46cuja energia veio do carvão.
22:48Então o que adianta ele ser elétrico?
22:51Ele está andando nas ruas da China com essa coisa de sustentabilidade
22:56quando de noite ele está na verdade pegando energia de uma rede
23:00que foi usado, foi dado carvão.
23:03Então são esses...
23:03É, eu não tinha pensado nisso.
23:04Esse é o debate interessante que se faz, né?
23:06Sim.
23:07Porque essa questão da mobilidade dos carros, né?
23:11Esse não é o caso do Brasil, claro,
23:13porque nós não temos praticamente carvão na nossa matriz energética.
23:16Mas países que têm carvão na nossa matriz energética,
23:18muitas vezes a matriz de mobilidade, ou seja, os carros elétricos, etc.,
23:24eles muitas vezes são meros carros que estão sendo movidos a carvão, né?
23:29Por conta disso.
23:31Mas também ele deixa de emitir o CO2, né?
23:33É, mas o carvão lá emitiu, né?
23:36O carvão que gerou a energia lá, que veio pela rede, né?
23:39E veio pelo fio e chegou até a casa do cliente, ele emitiu lá.
23:43E o carvão emite 2,5 vezes mais do que o petróleo.
23:50Que o petróleo.
23:52É, tem essa questão, uma questão para a gente analisar.
23:55Analisar, é.
23:55Então tem que ter muito cuidado quando você debate esse processo.
23:58Porque, por exemplo, eu penso em comprar um carro elétrico.
23:59Então.
24:00Por quê?
24:01Se você fosse chinesa, talvez você deveria pensar duas vezes.
24:04Para não emitir CO2, obviamente.
24:06Deixar de emitir CO2 para a atmosfera.
24:07Mas por causa de não gastar com gasolina mesmo.
24:10É isso.
24:10Metanol.
24:10É isso.
24:11Para não depender dos combustíveis.
24:13Porque tem aumento de preço, tem aumento de diminuição de preço.
24:16Então sempre o consumidor fica refém dessa oscilação de preço.
24:18E aquilo que eu te disse, né?
24:20Eu acho que o petróleo vai ser cada vez mais saída da matriz de mobilidade.
24:24Ou seja, servir como combustível para carro, para caminhões.
24:28E sendo mais usado para fins mais nobres, né?
24:31Como é o caso da petroquímica.
24:32Como é o caso da produção de fertilizantes, né?
24:34Então ele vai ter o seu nicho, né?
24:37No mercado de energia e no mercado industrial mundial.
24:41E é por isso que a gente quer continuar esse trabalho no Brasil.
24:45Oferecendo esse produto que ainda vai continuar tão importante para o mundo, né?
24:49Excelente.
24:49Presidente, para finalizar.
24:51Quais são as expectativas do IBP, do Instituto Brasil de Petróleo e Gás.
24:55Em relação à participação da região norte.
24:57no planejamento energético nacional.
25:00É muito importante porque a região norte tem essa possibilidade
25:04da presença de hidrocarbonetos e de acumulações importantes, né?
25:09E a nossa presença aqui em Belém para esse evento amanhã na Fiepa
25:14é exatamente para isso, né?
25:16Da gente poder mostrar, né?
25:18Quais são as principais tendências mundiais desse mercado.
25:22Para onde a indústria de óleo e gás está caminhando, né?
25:25Quais são as oportunidades que podem ser criadas aqui no estado do Amapá
25:29e na região norte do Brasil em termos de geração de emprego, geração de renda, né?
25:34Quais são as disciplinas ou as profissões que serão mais utilizadas, né?
25:40Isso tudo é a mensagem que a gente vai trazer.
25:42Uma mensagem também de muita confiança nessa indústria, né?
25:46E como eu disse, é uma indústria que o Brasil tem liderança mundial, né?
25:51Você ser líder mundial em produção de petróleo em águas profundas não é pouca coisa, né?
25:58Isso aí é resultado de um trabalho muito grande, como eu disse,
26:01liderado pela Petrobras e com a chegada das demais empresas brasileiras e estrangeiras
26:07para esse negócio aumentou ainda mais, né?
26:10E nós temos hoje uma indústria que ela pode ser, inclusive,
26:14oferecer esse produto para exportação, né?
26:17Para a gente, por exemplo, oferecer o nosso trabalho para a Guiânia,
26:22para o Suriname, para outros países que estão também procurando petróleo
26:27e a gente tem hoje conhecimento, tem empresas e tem tecnologias para isso.
26:33Excelente!
26:34Essa foi a nossa entrevista com Roberto Ardengue,
26:36presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás.
26:39Roberto, muito obrigada mais uma vez por ter aceitado o nosso convite,
26:42pela colaboração, pelo seu tempo.
26:44Muito obrigado, prazer estar com vocês.
26:46Tchau, tchau!

Recomendado

2:06