- anteontem
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00:00Olá, sejam todos muito bem-vindos ao nosso Terra Viva Entrevista, o programa que traz uma abordagem diferente,
00:18que promove uma segunda opinião sobre os fatos que estão inseridos no universo agropecuário, claro, dentro e fora da porteira, né Pedro?
00:28Exatamente, Flá. E olha, dentro e fora da porteira e também ao redor do mundo, porque o que está por trás da nova disputa entre potências globais?
00:38Como as decisões tomadas em Pequim, em Washington, em Moscou, podem mudar o rumo do agro-brasileiro?
00:46É o que vamos falar hoje, vamos atravessar fronteiras, entender por que o campo também virou palco da geopolítica mundial.
00:53Então, a gente tem o grande prazer de receber aqui nos nossos estúdios o Marcos Vinícius de Freitas, que é professor visitante da Universidade da China.
01:04Professor, seja muito bem-vindo, viu, ao nosso Terra Viva Entrevista, é uma alegria poder ter sua presença aqui hoje.
01:10Bem-vindo, professor. Obrigado, prazer conversar com vocês sempre.
01:13A gente que agradece muito e começamos falando, né, o senhor tem escrito aí bastante sobre a nova ordem mundial e o papel dos BRICS, né, nesse cenário.
01:23Na prática, o que essa reconfiguração significa para o nosso agro-brasileiro?
01:29Então, é uma pergunta bem interessante, porque se você pensar, o mundo como nós conhecemos foi desenhado a partir da Segunda Guerra Mundial.
01:37E reflete um momento da história.
01:40Você teve os Estados Unidos e os países que compunham ali a Aliança Norte-Americana, que escreveram esta nova realidade.
01:48Só que, naquela época, o mundo tinha menos países, não havia tantos países na África, a questão da autodeterminação dos povos ainda não existia.
01:58Então, o que nós vimos aí é que o mundo foi configurado de um jeito e é como se houvessem tirado uma foto e ninguém quer mexer nessa foto.
02:07O problema é que o mundo mudou.
02:08E, hoje em dia, na mesa de negociação, você precisa ter novos participantes.
02:14E essa é a função, por exemplo, do BRICS, que vem com esta dinâmica, claro que é alicerçado no crescimento da China,
02:22que é a grande mola propulsora disso tudo,
02:24para dar uma nova viabilidade na construção de um esquema de maior solidariedade global,
02:36mas, principalmente, na questão de governabilidade.
02:40Não é só meia dúzia administrar isso.
02:43Agora, o que significa isso?
02:45Bem, a ideia é de que, nos últimos 70 anos, nós tivemos aí uma ordem global que cresceu economicamente.
02:52Só que cresceu criando várias disparidades no contexto global.
02:58E o que o sul global fala, porque a gente fala sul global, mas era a mesma coisa que a gente repetia no passado.
03:05Países de desenvolvimento, países subdesenvolvidos, países emergentes.
03:09Vai mudando a nomenclatura e nada muda.
03:11A diferença é que, desta vez, este sul global quer ter uma voz mais ativa,
03:17determinando os rumos da economia global e determinando os rumos da economia mundial.
03:22Facilitando o comércio.
03:23Veja só, hoje em dia, se o Brasil quer exportar para qualquer país,
03:26ele precisa arranjar alguém que tenha dólares para comprar.
03:31Qualquer país que vai importar um produto, e a gente utilizando o dólar como moeda internacional,
03:37tem que ter dólares.
03:38E dólar você só consegue de três maneiras.
03:40Ou você exporta, ou você toma emprestado, ou você recebe investimentos.
03:45Então, veja só, o que acontece no mercado e no mundo, se nós tivermos mais opções de moedas,
03:51mais opções de negociações.
03:53Isso abre uma fronteira enorme para o crescimento, tanto do campo, como da manufatura,
03:58dos vários setores da sociedade.
04:00Então, esta que é uma das distinções.
04:02A gente vai adaptando à ordem global conforme esta nova necessidade de ascensão de novos países.
04:10Aí que entra, né, professor, a questão dos BRICS, né?
04:12Essa expansão desse grupo, conseguindo angariar ainda mais países.
04:19O bloco passa a ter um peso ainda maior nessa questão do comércio global.
04:24E como é que o senhor acredita que o Brasil aproveita esse momento
04:27para conseguir ganhar esse protagonismo de voz e também de fornecedor,
04:33principalmente olhando na questão do agro?
04:35Olha, veja só, nós temos muita gente que aposta contra o BRICS.
04:38E você tem muitos analistas céticos, mais eurocêntricos, norte-americanos,
04:45ou coisa parecida, que tem aí uma visão negativa com relação ao BRICS.
04:50E por que é importante o BRICS nesse processo todo?
04:53Justamente por uma razão, se você pensar nessa situação toda.
04:57É uma porta de acesso à construção de uma nova realidade global.
05:02O que significa?
05:04O Brasil participa nas reuniões do G7,
05:06mas o Brasil nunca vai ser um protagonista no G7.
05:09O Brasil é protagonista no BRICS.
05:11Embora muita gente seja contrária à expansão do BRICS,
05:15isso não implica numa diminuição ou numa diluição do poder do Brasil.
05:19Porque nós somos um dos mesmos fundadores,
05:21nós estamos entre os cinco fundadores.
05:23E veja que interessante, a economia chinesa não vai parar de crescer.
05:27Por mais que se tenha o objetivo de conter,
05:29a China não vai parar de crescer,
05:31como nós, como os norte-americanos gostariam de fazer,
05:33às vezes, através de alguns processos.
05:35Isso significa o seguinte,
05:37se a China chegar em 2049 com uma renda per capita de 20 a 25 mil dólares,
05:42imagina a quantidade de coisas que os chineses não vão precisar
05:46para a sua autossustentabilidade,
05:49ou para a sua sustentabilidade.
05:51Eles vão precisar comer mais,
05:53eles vão precisar comer mais carne,
05:54eles vão precisar de mais minérios,
05:56eles vão precisar de mais indústria em outros locais do mundo.
06:01Porque a China também não vai ter a capacidade de produzir tudo aquilo que eles vão necessitar.
06:05E veja, o Brasil senta na mesa de negociação com a China e impede igualdade.
06:10Isso nunca aconteceria nem com os Estados Unidos, nem com a União Europeia.
06:13Então, essa é uma grande mudança que favorece o Brasil
06:17e favorece também um governo que tem o interesse de levar o agronegócio para o mundo
06:22de uma maneira mais ativa.
06:24Ainda nesse sentido, nos seus artigos,
06:27o senhor menciona que o mundo caminha para um modelo multipolar,
06:32com menos dependência dos Estados Unidos, também da Europa.
06:37Essa transição abre espaço para o agro brasileiro conquistar novos mercados?
06:42O Brasil também precisa ser, podemos dizer assim,
06:46um pouco mais agressivo para vender os seus produtos, mudar um pouco a imagem?
06:50Não pouco agressivo, né? Precisa ser muito agressivo, não é?
06:55Porque se você pensar, olha só,
06:57mesmo que a Europa e os Estados Unidos cresçam economicamente,
07:01nós estamos falando aí de um crescimento pequeno.
07:06Você vai crescer 2%, 3% nos Estados Unidos,
07:09a Europa não cresce já há bastante tempo,
07:11principalmente em razão da guerra na Ucrânia.
07:14E onde é que está o crescimento no mundo hoje em dia?
07:16Na Ásia.
07:18Na China, está na Índia.
07:20Está na Indonésia, que virou membro do BRICS agora.
07:24Está na Malásia.
07:26O mundo está crescendo na Ásia.
07:27E nós observamos isso a olhos vivos, né?
07:31Está lá.
07:32Nós é só olhar a realidade global.
07:35A Europa empobreceu nos últimos anos.
07:37Os Estados Unidos estão endividados.
07:39Eu sempre falo, né?
07:41Como é que você consegue dizer que está crescendo economicamente
07:44devendo um ano e meio do seu salário?
07:47Você deve um ano e meio, você tem dívida assim,
07:50quem não cobre, e ainda você diz, não, estou crescendo economicamente.
07:53Então, porque existe esse castelo de cartas que foi construído
07:56de uma maneira muito inteligente pelos Estados Unidos,
07:59no sentido de criar uma dependência global do país.
08:02Mas, o que isso significa?
08:04Mesmo esta situação está se provando e se comprovando insustentável no longo prazo.
08:11É por essa razão que nós observamos com grande alegria
08:13esta transição do mundo para a Ásia,
08:16que é onde você vai crescer.
08:17Por quê?
08:17Temos mais população,
08:19temos mais ânimo no processo de crescimento.
08:23E depois, o que vai acontecer?
08:24Depois que tiver o século asiático,
08:26nós vamos passar para outros lugares.
08:28Talvez o século africano.
08:29Então, a gente tem que começar a pensar essas questões no longo prazo.
08:34Isso afeta, com certeza, qualquer empresário brasileiro.
08:37Nesse sentido, a China ainda é nosso principal parceiro comercial,
08:41muito mais que um cliente.
08:43Mas o Brasil também precisa olhar, estrategicamente, outras potências.
08:48Como é que o senhor enxerga essa questão,
08:51principalmente em relação ao Brasil e à relação China nos próximos anos?
08:56A gente tende a fortalecer.
08:58Como é que fica nesse sentido do agronegócio?
09:00Porque existia muito aquela questão da China
09:02tentar uma autossuficiência produtiva,
09:05mas em função da questão geográfica,
09:07seria praticamente inviável você conseguir investir
09:10numa produção a campo como tem aqui no Brasil.
09:12Ou seja, o Brasil continua sendo um celeiro para aquele país.
09:15Como é que fica daqui para frente?
09:17Porque, para a gente, é uma incógnita muito grande.
09:20Pedro, eu vou te dar uma má notícia nesse sentido.
09:24Na última reunião que você tem de planejamento da China,
09:28a China já declara que tem a capacidade de alimentar 1,6 bilhão de pessoas.
09:36Então, é uma coisa meio equivocada nossa a gente dizer que o Brasil alimenta a China.
09:41E a gente ouve isso com uma...
09:43Eu falei, o Brasil pode alimentar muito mais a China nesse processo,
09:47mas não é que a China dependa exclusivamente do Brasil para se alimentar.
09:51Isso é uma coisa que a gente vê neste processo, às vezes, sendo repetido,
09:55e não é a grande realidade,
09:57porque o governo chinês conseguiu algumas coisas até que nós poderíamos reproduzir.
10:01Hoje em dia, o campo que produzia 300 quilos de arroz por acre,
10:05hoje produz mil quilos.
10:07Então, você vê este processo da China de reduzir sua dependência.
10:11Mas a parceria com o Brasil é uma parceria de longo prazo.
10:15E o Brasil tem na mesa o agronegócio como a grande oferta de relação comercial
10:22de longo prazo dos dois países.
10:25Então, é nesse sentido que a gente vê a parceria crescendo e justamente se fortalecendo.
10:31Porque, não tenha dúvida, nós somos concorrentes diretos dos Estados Unidos
10:36naquilo que nós fornecemos para a China.
10:38E se o governo americano, e se o Trump quisesse, numa negociação,
10:43colocar o Brasil de lado, não tenha dúvida de que isso poderia acontecer.
10:47Porque nós somos, nos cinco itens que os Estados Unidos vendem diretamente para a China,
10:52o Brasil concorre em três.
10:54Então, não há dúvida de que nós temos aí um problema de concorrente.
10:59Nós concorremos com um mercado diferenciado
11:02que tem uma logística melhor, que tem um processo de exportação melhor
11:07e que nós deveríamos correr para, justamente, tomarmos todas as medidas
11:12para sermos ainda mais eficientes no processo de concorrência.
11:17Por essa razão, que a estrada, uma autoestrada daqui até o Pacífico,
11:21é uma das coisas melhores que poderia acontecer no sentido de nós acelerarmos o processo.
11:27É isso que é a grande questão.
11:28A gente tem que olhar para o mundo e ver onde estão as potencialidades.
11:33Os Estados Unidos somos concorrentes.
11:34Europeus, nunca.
11:35É uma coisa que a gente sempre fala no Acordo Mercosul.
11:39É muito difícil dos europeus terceirizarem a sua agricultura.
11:43Passaram por guerra, por fome.
11:45Ninguém vai terceirizar pensando que em dois segundos
11:47você pode impedir o comércio nesse processo todo.
11:50Agora, uma coisa que os chineses falam,
11:52que é importante da gente levar em consideração,
11:55é, em primeiro lugar, uma esquizofrenia brasileira, às vezes,
12:00de nós termos um campo que é muito dependente da China,
12:05mas que politicamente apoia setores que são contrários à China.
12:11Então, esta incongruência é uma esquizofrenia brasileira,
12:15porque o impede que a gente aumente o laço comercial com a China no longo prazo.
12:20Outra coisa que nós sempre podemos fazer, olhando aí,
12:23é justamente buscarmos agregar valor no Brasil de produtos agrícolas.
12:31Eu sempre comento, ao invés de a gente mandar a laranja,
12:33vamos mandar a geleia de laranja,
12:35porque com isso eu já tenho todo um segmento industrial em cima disso.
12:38Me frustra ver que o suco de abacaxi na China vende a Ucrânia,
12:44que está em guerra.
12:46Que está em guerra.
12:47E até hoje eu tomo o suco de abacaxi, que veio da Ucrânia,
12:51que está em guerra.
12:52Nunca perderam isso.
12:54Então, estas são coisas que a gente precisa pensar
12:56de uma maneira mais inteligente nesse processo todo.
13:00E outra coisa que eu sempre comento é que o Brasil também,
13:03e aqui a gente poderia fazer uma parceria com a China,
13:06a grande parte do comércio internacional agrícola
13:08não fica o dinheiro no Brasil, fica nas trading companies.
13:12E a gente precisava ter uma trading company brasileira
13:14que fosse pelo mundo.
13:16E não fazer uma parceria com a China,
13:18justamente no sentido de um investimento sino-brasileiro,
13:22para comprar produtos no Brasil, vender para a China,
13:24e o dinheiro ficar em casa.
13:25Muito mais do que a gente ficar nesses processos
13:28de terceirização de riqueza.
13:30Sem dúvidas, o Brasil precisa diversificar a sua pauta exportadora.
13:35Professor, agora a gente vai para um rápido intervalo.
13:38Daqui a pouco a gente volta trazendo mais informações
13:41sobre essa relação Brasil-China e todas as questões também
13:45que envolvem o agronegócio no mundo, né Pedro?
13:47Exatamente, Flá.
13:49A gente volta em instantes aqui, trazendo outras informações,
13:51a viagem pelo mundo, em um raio-x detalhado
13:54de como funcionam os negócios fora da porteira.
13:56Daqui a pouquinho, continue com a gente.
13:58Terra Viva, há 20 anos cultivando o melhor do Brasil.
14:01Estamos de volta com o nosso Terra Viva Entrevista.
14:27E hoje a gente tem o grande prazer de receber aqui,
14:31nos nossos estúdios, o professor Marcos Vinícius de Freitas,
14:35que é professor visitante da Universidade de Relações Exteriores da China.
14:40Exatamente, Flá, ele sempre atende a nossos pedidos,
14:44fala lá direto da China com a gente, nos nossos telejornais.
14:47E dessa vez, está aqui no Brasil, a gente pediu para ele marcar uma visita
14:51e, gentilmente, atender o nosso convite.
14:54Está aqui nos nossos estúdios, trazendo para a gente um raio-x
14:56como é que está essa nova configuração geopolítica, esses mercados.
15:01Por falar nisso, professor, olha só, muitos acreditam que o Mercosul perdeu a força.
15:07Mas com as tensões globais, alianças regionais, como é que isso volta numa estratégia?
15:12Como é que o Mercosul ainda pode ser uma ponte do lago brasileiro
15:16para acessar mercados, mesmo tendo entraves ainda,
15:20principalmente com nossos países vizinhos?
15:21Temos aqui Milet também, que vira e mexe e dá uma ameaçada.
15:25Como é que o senhor enxerga isso?
15:27Eu comento já há alguns anos que o grande erro do Mercosul
15:31foi querer reproduzir no Brasil e na América do Sul
15:34aquilo que observou na Europa.
15:38Tentou fazer uma imagem, um reflexo da União Europeia.
15:41E qual é o problema disso?
15:42O problema é que nós criamos um mercado comum
15:46sem as instituições do mercado comum.
15:49Se você me perguntar qual é a coisa mais característica
15:52que nós temos no Mercosul hoje em dia, é a placa do carro.
15:56Que a gente consegue pensar assim, nossa, qual foi a grande mudança que foi feita.
16:01Mas nós tivemos um Mercosul importante no acordo de veículos,
16:06que foi relevante no processo todo.
16:10E um dos objetivos na ocasião também era ampliar o mercado sul-americano
16:13e, de alguma forma, termos acesso ao mercado, à produção na Argentina,
16:20que tem um mercado culturalmente, educacionalmente, mais sofisticado que o Brasil.
16:27E até hoje essa é a realidade.
16:29Agora, o Mercosul se perdeu nesse processo porque, e aqui é um erro nosso,
16:35e aqui é o grande medo que pode acontecer com o BRICS,
16:38nós politizamos tudo e colocamos ideologia em tudo.
16:43E aí nós perdemos justamente o barco nesse processo.
16:47Então, o que o Brasil precisava fazer?
16:49E eu sempre comento isso, a gente tinha que dar um passo atrás,
16:52transformar o Mercosul numa área de livre comércio.
16:55O que isso significa?
16:56Hoje em dia, quando o Brasil vai negociar um acordo de livre comércio,
16:59o Brasil não negocia sozinho.
17:02Ele precisa que a Argentina,
17:04a Uruguai e Paraguai estejam de acordo.
17:06O Uruguai ficou muito furioso, alguns anos atrás,
17:10porque queria negociar um acordo de livre comércio com a China,
17:12que para o Uruguai seria uma das melhores coisas que poderia acontecer.
17:16Já porque você começa a vislumbrar que o mercado brasileiro
17:19não vai dar as oportunidades que o Uruguai necessita.
17:22E a Argentina, naquela situação complexa, sempre de eterna dívida.
17:28Então, minha sugestão tem sido, dê um passo atrás.
17:32Claro que nenhum presidente da República no Brasil vai querer dizer isso.
17:35a Purê, a Maraí ou coisa parecida, de tomar esta decisão.
17:39O Milena pode fazer isso qualquer dia com a Argentina,
17:41porque, digamos que ele fala estas coisas,
17:46mas talvez não tenha ali a capacidade política de fazer isso.
17:51Mas essa é uma grande realidade.
17:52O que isso faria com que...
17:54O que isso implicaria?
17:55A possibilidade do Brasil, sozinho,
17:58negociar acordos de livre comércio com vários países do mundo,
18:02sem a necessidade de carregar a Argentina, Paraguai e Uruguai.
18:07Aí o pessoal vai me dizer, mas olha, se nós estivermos juntos,
18:10nós negociamos mais.
18:11Veja, o mercado argentino, acho que é menor do que o de São Paulo.
18:16O do Uruguai, o do Paraguai, nem se fala.
18:18Então, eu creio que nós utilizamos o Mercosul para nos desculparmos,
18:24muitas vezes, de não tomar as medidas que deveríamos,
18:27porque a gente fala que é culpa dos argentinos.
18:29Os argentinos fazem a mesma coisa nesse processo todo.
18:33E aí o comércio começa a definhar.
18:36E aqui começa a prejudicar o campo.
18:39Porque o que o campo brasileiro precisa
18:41é de um Ministério de Relações Exteriores,
18:44o Ministério de Indústria e Comércio,
18:46que seja proativo no mercado internacional.
18:50Não vendendo para que as grandes trading companies
18:55ganhem dinheiro no Brasil,
18:56mas que o campo brasileiro tenha esta pujança de produção
19:02e também tomar as medidas que são necessárias
19:06para que a gente tenha a competitividade logística.
19:09Aí o que você precisa pensar?
19:11É aquela coisa de longo prazo,
19:12que no Brasil ninguém faz,
19:14na América do Sul,
19:16na América Latina a gente não faz,
19:17nem nos Estados Unidos.
19:18Vamos pensar, projetar o Brasil daqui a 10 anos.
19:20Nós queremos ser o celeiro do mundo?
19:22Perfeito, queremos.
19:23O que a gente precisa fazer?
19:24Precisa reduzir impostos,
19:26precisa aumentar a logística,
19:27a gente precisa separar da Argentina e do Paraguai,
19:31vamos atrás de comércio
19:32e transforma os diplomatas brasileiros
19:35em verdadeiros representantes comerciais do Brasil.
19:38Isso é uma coisa fundamental.
19:39não é a gente deixar um pouco dos paetês
19:42e entender que o Brasil precisa vender,
19:46o Brasil precisa crescer economicamente.
19:49Os chineses dizem sempre,
19:51construa estrada e fique rico,
19:52ou seja, a base de toda a infraestrutura,
19:54depois é vontade de crescer economicamente.
19:58Como dizia Deng Xiaoping,
19:59ser rico é glorioso.
20:01Isso foi um grande líder comunista que afirmou.
20:04Sensacional.
20:06E o senhor tem defendido que o Brasil precisa sair
20:08dessa posição de exportador, de commodities
20:11e assumir esse papel de formulador global.
20:16Como que isso se aplica ao agronegócio
20:18e justamente nosso maior ativo externo?
20:22Veja, quando a gente fala disso,
20:24de você ser um formulador,
20:27existe uma coisa de você participar das decisões,
20:30você estar dentro da sala de reuniões
20:32e você estar do lado de fora
20:35esperando que as decisões sejam tomadas.
20:39O Brasil, durante muito tempo,
20:40e até hoje é na questão do G7,
20:43é um país que fica do lado de fora
20:44esperando que saia da reunião do G7
20:47as decisões que vão ser tomadas.
20:49Aí o presidente vai dizer,
20:50não, mas hoje em dia o que importa é o G20,
20:53mas o G7 ainda é relevante,
20:55não é nesse processo todo.
20:56Então, você deixar de ser o que toma,
21:00o que executa as decisões,
21:04mas ser um daqueles que formula as decisões.
21:07Isso é importante,
21:08porque um dos grandes problemas que o Brasil enfrenta
21:11é um problema enorme de autoimagem.
21:16O Brasil é um país que gosta de se sabotar.
21:19Ele gosta de se sabotar, gosta de falar mal dele,
21:22acha que a melhor solução do país
21:24é o aeroporto de Congonhas.
21:26Não, Congonhas não,
21:27porque não é internacional de Guarulhos.
21:30O brasileiro tem esta necessidade
21:33de se autodilapidar.
21:36Isso é péssimo.
21:37Se você chegar na China e perguntar,
21:40a coisa mais importante para o chinês
21:41é valorizar o seu país.
21:43E eles falam para você,
21:44você é de onde?
21:45Eu sou do Brasil.
21:46Aí o brasileiro já começa a falar,
21:47não, meu país isso.
21:48Mas você tem que gostar do seu país?
21:50Pode ser ruim, mas é o seu país.
21:52Você nasceu lá e tem que resolver os problemas
21:54que existem neste processo.
21:56Então, isso passa por uma questão
21:57de mudança de imagem.
21:59E quando a gente fala de agregar valor no campo,
22:01significa justamente isso.
22:03Vamos olhar todas as indústrias
22:05que nós podemos fornecer produtos básicos
22:08neste momento
22:09para trazer o investimento chinês
22:12nessas indústrias
22:13e a partir daí começarmos a crescer economicamente.
22:16Por quê?
22:17Setores que exportam
22:18têm melhor remuneração,
22:20está comprovado isso
22:22e dão
22:24e agregam valor.
22:26Veja,
22:27por que o Trump quer trazer empresas
22:28para os Estados Unidos?
22:30Porque
22:30quando você deixa a manufatura
22:34fora do seu país,
22:36você perde a capacidade de inovação
22:38que tem no chão da fábrica.
22:40uma coisa é desenhar o iPhone lá,
22:43tudo certo,
22:44outra coisa é eu no chão da fábrica
22:46descobrir métodos
22:47e metodologias
22:49que façam com que
22:50o meu processo econômico,
22:52o meu processo de produção
22:53seja melhorado.
22:54E veja que vantagem
22:55que nós podemos ter aqui
22:56se a gente produz aqui,
22:59agrega valor aqui,
23:01exporta.
23:01E não precisa,
23:02eu sempre falo isso,
23:03fala para as empresas chinesas
23:05produzirem no Brasil
23:06já a comida chinesa,
23:07com gosto chinês,
23:08adaptado para o chinês,
23:10botar, enlatar
23:11e mandar no navio
23:12o mais rápido possível.
23:13Agora,
23:14tem três coisas
23:15que a gente precisa levar
23:15em consideração
23:16quando se lida com a China.
23:19Na China,
23:20o capitalismo é baseado
23:21em três coisas.
23:23Preço baixo,
23:25escala
23:26e longo prazo.
23:30Esse é
23:31o trinômio chinês.
23:33Margem pequena,
23:35escala
23:35e longo prazo.
23:37Essa é a grande dificuldade
23:38que você tem que explicar
23:40para o capitalista brasileiro,
23:42que às vezes está querendo
23:43uma margem muito alta,
23:45curtíssimo prazo
23:46e não quer escala.
23:48Então,
23:48aí não funciona
23:49com o modelo chinês.
23:51Existe um problema cultural
23:53aí,
23:54com influências,
23:55inclusive,
23:55muito norte-americanas,
23:57de um mundo idealizado,
23:59mas
23:59nossa realidade
24:00é bem diferente.
24:02Mas o Brasil
24:02precisa,
24:03de fato,
24:03sair desse primário
24:05e apresentar
24:06uma reindustrialização
24:07mais efetiva.
24:09Como o senhor disse,
24:10olhando para os mercados,
24:11a gente faz isso
24:12tanto com o mercado
24:12do Oriente Médio,
24:15por exemplo,
24:15o agro fazendo isso
24:16com o halal,
24:17um corte sagrado.
24:18O Brasil segue
24:18como um líder nisso.
24:20E a gente consegue
24:21levar essa produção
24:22não só nisso,
24:23mas olhando também
24:24outros mercados
24:24como cosméticos,
24:26mas aderir
24:26a esses mercados
24:27acho muito importante.
24:29Agora,
24:29num ponto
24:30que eu queria trazer,
24:31já otimizando
24:32o nosso tempinho
24:34aqui no Terra Viva
24:35Entrevista,
24:36é a questão
24:36dos conflitos,
24:37professor.
24:38Como as tensões
24:39lá no Oriente Médio,
24:40como é que o mar
24:41no sul da China
24:42também que tem,
24:44fugiu agora
24:45o nome do estreito,
24:46mas que é uma importante
24:47forma de escoar
24:48a produção,
24:49de chegar à China também,
24:50como é que isso afeta
24:51a segurança logística,
24:52a segurança alimentar,
24:54pontos que são importantes
24:57que estão em zonas
24:58de conflito
24:58que a qualquer momento
24:59muda a página do mundo
25:01e volta a ter um conflito
25:02numa escalada absurda.
25:04Como é que o senhor
25:04enxerga nesse sentido?
25:06O conflito
25:07não interessa
25:07para ninguém.
25:11Se questionou muito
25:12agora na questão
25:13do Irã,
25:13se houvesse uma ação
25:15no estreito de Hormuz,
25:16eu já dizia na ocasião
25:17que não aconteceria
25:18nada ali
25:18porque seria prejudicial
25:20para os iranianos.
25:22Nós vemos
25:22uma tentativa ali
25:24norte-americana
25:27com relação
25:27à questão
25:29do estreito
25:29de Taiwan,
25:30dizendo que Taiwan
25:32tem que ser independente,
25:33esse tipo de coisa,
25:34e isso,
25:35de alguma maneira,
25:36poderia desestabilizar
25:37a situação chinesa.
25:39A grande verdade
25:40é a seguinte,
25:41os chineses
25:42não querem guerra
25:42por uma única razão,
25:45e aqui é importante
25:45a gente enfatizar,
25:47porque em 2049
25:48a China quer chegar
25:49a uma renda per capita
25:50de 20 a 25 mil dólares,
25:53o que para nós
25:54seria espetacular.
25:57Não vamos esquecer,
25:58eu sempre gosto
25:59de afirmar,
26:00todo mundo se lembra
26:01quando comprava
26:02o produto Xing Ling,
26:03e os chineses
26:05ganharam muito dinheiro
26:07vendendo o produto Xing Ling.
26:09Você vender commodity
26:11não é problema algum,
26:12mas saiba transformar isso,
26:14a transição de uma commodity
26:16numa indústria
26:17em algo disruptivo,
26:18como o presidente
26:19Xi Jinping fala sempre,
26:20todo o país tem que descobrir
26:21a sua indústria disruptiva.
26:23Então, nós temos
26:24um cenário global
26:25que é conflitivo,
26:28que pode gerar insegurança,
26:30mas a grande impressão
26:31que nós temos,
26:32e aqui é uma grande
26:33mensagem importante
26:34do BRICS,
26:35como a gente já viu,
26:36este compromisso
26:37com a paz mundial.
26:39Todo mundo vai dizer,
26:39mas e a questão da Rússia?
26:41Bem, a Rússia agiu,
26:42não podemos esquecer,
26:43por provocação da OTAN.
26:45Então, existe uma série
26:47de coisas e inverdades
26:48que a gente vai construindo,
26:49mas para o mundo
26:50não interessa a guerra
26:51neste momento de crescimento.
26:53Para nós,
26:54interessa uma China em paz
26:55que continue crescendo,
26:58que continue comprando
26:59a soja brasileira,
27:01que passe a comprar arroz
27:02e que no futuro
27:03a gente venda suco
27:05ao invés de ser os ucranianos
27:07que estão vendendo para eles.
27:08Com certeza,
27:09precisamos avançar nisso,
27:10né, Flá?
27:11Exatamente.
27:12Professor, infelizmente
27:13o nosso tempo acabou
27:14aqui do nosso
27:14Terra Viva Entrevista.
27:16A gente quer agradecer
27:16muito a sua participação
27:18aqui hoje e, claro,
27:19parabenizar por esse trabalho
27:20também que você realiza
27:21na Universidade de Relações
27:23Exteriores da China
27:24e, claro,
27:25promovendo, né,
27:26o nosso agronegócio brasileiro.
27:28Exatamente, professor.
27:29Obrigado pela sua participação.
27:31É uma honra
27:31recebê-lo aqui
27:32pessoalmente, né?
27:34E, olha,
27:35sempre que estiver no Brasil,
27:37estamos de portas abertas
27:38aqui no Terra Viva,
27:39né,
27:39nosso grupo
27:40para ouvir o senhor
27:41que a gente teve uma aula
27:42aqui de comércio global
27:43e de China também.
27:44Muito obrigado.
27:45Não, eu que agradeço.
27:47O meu problema é que
27:47eu falo demais.
27:48Imagina, a gente está
27:49disposto a ouvir também.
27:50Tranquilo.
27:51Muito obrigado mais uma vez.
27:52Eu que agradeço.
27:53Obrigada.
27:54E o nosso Terra Viva
27:55Entrevista fica por aqui.
27:57Se você quiser rever
27:58esse e outros programas
28:01e ficar por dentro
28:02das notícias do agro,
28:03é só procurar o canal
28:05Terra Viva no YouTube
28:06e também seguir lá
28:08nas redes sociais, né, Pedro?
28:09Exatamente.
28:10Arroba o canal Terra Viva
28:11e, claro,
28:11busque aí na sua loja
28:12de aplicativos
28:13o nosso New Coplay
28:14e tenha esses
28:15e outros programas
28:17e outras informações
28:18na palma da sua mão.
28:19Muito obrigado
28:20pela sua companhia,
28:20pela sua audiência.
28:21Até o nosso próximo encontro.
28:23Até mais.
28:23Terra Viva,
28:2420 anos cultivando
28:26o melhor do Brasil.
28:27E aí
28:32E aí
28:33E aí
28:33E aí
28:34E aí
28:38Legenda Adriana Zanotto
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