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Transcrição
00:01Eu não quero fazer desse discurso uma longarista de agradecimentos e também não desejo falar de onde vim, da minha infância.
00:10Eu não tive uma história de superações. Sempre fui privilegiado, com uma família que me proporcionou educação e afeto.
00:18Eu sempre tive almoços de domingo, natal, ano novo, páscoa, viagens de férias para a praia, abrigo e segurança.
00:26Tudo que uma criança pode ter para crescer e se tornar um adulto feliz.
00:31Sempre tive um porto seguro.
00:34Mas quem sabe eu possa apenas lembrar de uma pequena história, mas já então, quando eu era um jovem adulto.
00:43Com 22 anos de idade, recém formado na FURB, em Blumenau, com pouca experiência e muita insegurança,
00:49mudei-me para Florianópolis, para ser secretário jurídico do saudoso desembargador Álvaro Vandelli,
00:56pessoa cuja humanidade me constituiu e permanece em mim.
01:00Mas as dificuldades eram muitas.
01:02Como disse, eu tinha 22 anos e eu não sabia das coisas da vida.
01:07Então, telefonei para casa, para Porto União, minha linda terra natal,
01:12Pujante Cidade do Norte do Estado, palco histórico da Guerra do Contestado
01:17e cujos acontecimentos são tão incríveis quanto a Macondo de Gabriel Garcia Marques.
01:24O telefone tocou e minha mãe atendeu, com seu sotaque característico de filha de alemães Stuttgart de Munique.
01:32Falei para ela que não estava aguentando, que retornaria para casa e lá seguiria meu caminho.
01:38Minha mãe, do alto de sua autoridade, respondeu,
01:41Você não voltará. Ficará e enfrentará tudo.
01:45A vida é assim. E foi você que escolheu essa estrada.
01:49Pare de se lamentar. Fique e enfrente.
01:53Desliguei o telefone e, resignado, fiquei e enfrentei.
01:57O que eu quero dizer é que, se hoje eu estou aqui, é porque muitos, muitos mesmo,
02:03meus falecidos pais, meus irmãos, cunhados, sobrinhos, minha família toda, meus amigos, queridos amigos,
02:09minha competente equipe de assessores, todos vocês me carregaram, ainda me carregam,
02:14vocês me aceitaram nas suas vidas.
02:17Então, meu muito obrigado.
02:20E já que retomei o caminho dos agradecimentos, a vida é feita de agradecimentos,
02:24aqui desejo fazer mais um a você, Lucas Fazolo, meu noivo, meu amor,
02:30você é o brilho e a beleza de meus dias, é a felicidade que me embala,
02:34é a prova de que não somos amados porque somos bons.
02:37A verdade é que somos bons porque somos amados.
02:40E que sorte foi te encontrar.
02:43E agora sim...
02:44E agora sim, deixando de lado os agradecimentos, nesta etapa,
02:57quero falar de um passado recente.
03:00E sobre isso matutei bastante se eu falaria ou não.
03:04E eu resolvi que sim, que tenho o dever de falar.
03:07O Brasil se redescobriu com a Constituição de 88.
03:13Mas, parafraseando Walter Salles, diretor do premiado filme Ainda Estou Aqui,
03:19que trouxe a história do sequestro e assassinato de Rubens Paiva pela ditadura militar
03:23e os reflexos que esse hediondo crime trouxe para sua família,
03:29nós temos flertado novamente com o fascismo.
03:31Há valentões por todos os cantos, querendo governar o mundo e, por consequência, a justiça.
03:38Pessoas que não aceitam projetos de vida coletiva, com melhor distribuição de renda,
03:43com direitos iguais, pessoas machistas, racistas, colonialistas,
03:47pessoas preconceituosas, homofóbicas e recalcadas.
03:51Pessoas que disseminam ódio e idolatram a guerra, a ditadura militar,
03:55que desejam retroceder ao pré-iluminismo.
03:57E, por isso, é que devemos sempre estar alertas e sempre ocupar os espaços em prol da democracia.
04:05E, nesse ponto, como disse Walter Benjamin,
04:08é importante contar a história sobre a perspectiva dos vencidos,
04:12pois senão os vencedores continuarão vencendo.
04:15Pois bem, contarei a história de alguém que foi vencido.
04:19Para que os valores morais, a dignidade e honradez que ele sempre defendeu
04:23fortaleçam-se como pilares sociais e cívicos e, quem sabe, um dia vençam.
04:30Era uma vez um juiz de direito que trabalhava com aprisionados.
04:35Ele executava suas penas, penas de miseráveis, maltrapilhos e maltratados.
04:40Seres humanos condenados por crimes, mas que, antes de tudo,
04:44tinham sido condenados pela pobreza e injustiça social.
04:49O juiz, desde o início, se dispôs a fazer diferente.
04:53Ele decidiu que aplicaria a lei, seus fundamentos, suas constitucionalidades
04:57e que se pautaria nos direitos humanos.
04:59Começou a rever posicionamentos jurídicos, a filtrar as normas pelos pactos e tratados internacionais,
05:05sustentar posições das cortes superiores,
05:07que apontavam o estado de coisas inconstitucional do sistema prisional do país.
05:12Entretanto, logo o juiz percebeu que somente isso não era suficiente.
05:16Pelo contrário, exigir o respeito aos direitos fundamentais encontrava resistências e podia trazer ainda mais dor.
05:24Não foram poucos os que começaram a lhe atirar pedras, chamando-o de defensor de bandidos.
05:30O estigma que carimbava a testa de todo o preso logo passou a carimbar também a sua testa.
05:35Aqueles, eticamente pouco elevados, não se contentavam em discordar dos julgamentos.
05:41Eles queriam mais, eles queriam eliminar o indesejado juiz.
05:45Não lhe faltariam injúrias, mentiras e ameaças.
05:48E o que ele fez foi além.
05:50A desistência não lhe pertencia.
05:53Não havia escolha.
05:54O caminho dos direitos humanos era irrenunciável.
05:56Guardou suas dores, suas abertas feridas, suas angústias, botou tudo no bolso e foi cuidar das dores, feridas e angústias dos outros.
06:08As inspeções das unidades prisionais tornaram-se mais frequentes, semanais, às vezes diárias.
06:15Nessas inspeções, que ele preferia chamar de visitas, a entrada da prisão não se resumia aos setores administrativos.
06:23Ele fazia questão de conversar com os trabalhadores do sistema, desde aqueles da saúde, da educação, até os de segurança e controle.
06:31E, principalmente, ele transitava entre os miseráveis, maltrapilhos e maltratados detentos.
06:36Ouvia suas dúvidas, suas queixas, suas esperanças.
06:39Os detentos, que já acreditavam na justiça que o juiz representava, começaram também a acreditar na sua humanidade.
06:48Aquele sujeito de terno e gravata, que tinha o poder de os julgar, olhava para eles, perguntava como estavam,
06:53questionava sobre suas famílias, sua saúde, respondia às suas dúvidas.
06:58Ele os respeitava, respeitava em sua humanidade.
07:02Então veio a pandemia, que, além de colocar o mundo de joelhos no Brasil,
07:07aliou-se a um governo que negava a ciência e que, ao destruir a saúde pública, tentava destruir a frágil democracia.
07:16E ele, juiz da execução penal, viu-se diante de mais um desafio, talvez o mais terrível de toda a sua vida.
07:23O desafio de evitar que o vírus rebaixasse a humanidade dos presos, os tornasse não humanos.
07:31Foram anos de tormenta e tempestades.
07:33Mas ele seguiu, com a cabeça erguida, espinhereta, a força de quem sabe que está do lado certo da história.
07:41E um dia, a calmaria chegou.
07:44Não a do sistema, cujos presos permaneciam sofrendo com a superlotação, falta de trabalho, educação e saúde,
07:51mas daqueles que não tinham lealdade aos princípios que compõem o caráter.
07:56Esses pararam de o atacar, sossegaram, por assim dizer.
08:00O juiz reputou aquele armistício à sua própria persistência.
08:05Também atribuiu o fato aos novos ventos republicanos que, como revolução reivindicadora,
08:11restabeleciam os pilares da república.
08:15Mas ele estava enganado, não havia armistício.
08:18Depois de muitos anos de carreira, chegaram o momento de ascender ao tribunal, como desembargador substituto.
08:24Após ponderar e refletir, tomou a decisão.
08:28A hora era aquela.
08:29Era preciso abrir caminho aos mais novos.
08:31A renovação era necessária.
08:33Inscreveu-se como candidato.
08:36Sendo mais antigo, ainda que a votação viesse a considerar o merecimento no exercício das funções,
08:42não tinha dúvidas que galgaria o posto.
08:44E começou a preparar a todos sobre sua saída da vara de execuções penais.
08:48Conversou com os mais diversos setores, desde advogados, policiais penais, policiais militares, policiais civis,
08:56conselheiros do conselho do carcerário, defensores públicos, promotores de justiça, servidores, colegas,
09:02até chegar principalmente nos presos.
09:04Sua saída das funções não poderia ser de surpresa.
09:08Isso geraria balos estruturais.
09:10Segurança pública se fazia com confiança pública.
09:13E era importante deixar tudo bem transparente, bem pontuado.
09:18Eis que na data marcada, o juiz não foi aceito.
09:22Por uma apertada maioria de votos, ele não foi considerado merecedor.
09:27Os motivos, esses não foram declarados.
09:31A recusa foi seca, insípida, mas era evidente que se devia a sua postura ética e humanista.
09:38Nova tempestade o atingiu.
09:40Ele sentiu vergonha.
09:41Vergonha perante sua equipe, seus assessores, que tanto nutriam os sentimentos românticos sobre a justiça.
09:50Vergonha por ficar abalado por algo que não se comparava à tristeza e ao sofrimento da insegurança alimentar de milhões de brasileiros.
09:58Vergonha por não ter previsto com mais concretude que aquele golpe extremamente injusto...
10:02Vergonha por não ter previsto que aquele golpe extremamente injusto...
10:32Vergonha por erramada por um atingeis, que acabou de buttonir.
10:36Vergonha por não ter previsto que aquele golpe extremamente inconsfasto...
10:39A sistema que swoją achou, seisede as controla elevator e atingia para o objetivo internalmente de um atingeisini.
10:42Grande Dav Serra.
10:42Queria achá, garoto, peçao a garantia que aquele golpe que tá emprestada em対 definição.
10:44Vale A grande cafe.
10:46Oh, cara da visão?
10:46Aqui neste andar, eagerleistão.
10:47Vamos relatively concise route.
10:50Eis, cara.
10:51Eviduo melhor a gente entender que é uma área mais apta sobre um atingeis.
10:53Legenda Adriana Zanotto
11:23Legenda Adriana Zanotto
11:53Legenda Adriana Zanotto

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