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  • 26/06/2025
“Vivo o luto todos os dias”, diz Nadja Haddad sobre morte do filho

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Transcrição
00:00Agora, você comentou da pele, né?
00:03Foi uma das coisas que mais me assustou.
00:06Eles tinham muitas...
00:08Pareciam escoriações, né?
00:10Porque não tá formado ainda.
00:11E não é uma pele, é algo gelatinoso.
00:14No caso dos meus meninos, então, eles não estavam formados.
00:17Então, de fato, pareciam duas lagartixinhas.
00:21Eu falava, ai, meu Deus, minhas lagartixinhas.
00:23Porque não tem pelo, não tem nada.
00:26Eu falei, meu Deus, eles vão ter orelha torta?
00:28Até eu entender...
00:29Calma, eles estão ainda em formação.
00:31Que a orelha era deitada.
00:34Parecia que eles tinham muitas feridas.
00:36Qualquer coisinha que você...
00:38A gente encostava naquela micromão, a gente sentia a pele grudar.
00:41Então, não tá formado.
00:43Então, realmente, é muito assustador.
00:45O trabalho da equipe de UTI NEL, das enfermeiras, das técnicas...
00:50Olha, é algo muito surreal.
00:53Como é que consegue pegar uma veia, um acesso ali?
00:55Tem que ter uma sensibilidade, né?
00:57Imagina.
00:58O José, ele nasceu com 650 gramas e o Antônio com 580.
01:03E o José, os dois pegaram uma bactéria e foi a bactéria que acabou provocando algumas intercorrências que levou o Antônio embora.
01:10O José chegou a 380 gramas.
01:12Então, sim, talvez seja o peso...
01:16Aliás, o pescópio é mais pesado.
01:19Então, é muito assustador.
01:20Muito.
01:21E as pessoas acabam agindo com descrença.
01:24Não vai aguentar.
01:25E eu queria até, se você me permite, entrar nesse assunto também.
01:29Como que foi pra você, o Antônio lutou por 16 dias, né?
01:34E você ali acompanhando.
01:36E, infelizmente, acabou nos deixando.
01:39Mas aí você fica dividida, né?
01:41Você não consegue nem viver o luto 100%, mas você precisa estar ali lutando 100% porque tem o José que precisava muito de você.
01:47Como é que fica a cabeça nessa hora?
01:50A fé foi o que te sustentou mesmo nesse momento?
01:54Como é que você conseguiu encontrar a força pra continuar lutando pelo José e não se abalar?
01:59Ou se abalou, talvez, também, né?
02:01Não.
02:01Eu me abalo todos os dias, assim.
02:03Eu acho que eu sofro em doses homeopáticas porque eu não pude viver esse luto, né?
02:08Eu fiquei entre o luto e a luta, o luto e a esperança.
02:11Então, no dia do falecimento do Antônio, ele faleceu no meu colo.
02:16E eu tive que entender que eu tava entregando de volta o meu filho a Deus.
02:22E que aquela era a história dele.
02:24E que, dali em diante, eu viveria os piores dias da minha vida, mas que eu não podia fraquejar.
02:30Porque tinha um outro serzinho precisando da minha força.
02:34E eu não poderia ser egoísta de me render ao luto e à dor se o José precisava de mim.
02:39Então, eu não pude viver esse luto.
02:42Eu vivo hoje muitos momentos de luto, né?
02:46E de culpa, muitas vezes.
02:48Como que eu tô feliz se eu perdi um filho?
02:51A gente se culpa.
02:53Mas aí a gente tem que lembrar.
02:55Eu tô feliz porque Deus permitiu que meu outro filho estivesse aqui saudável, sobreviveu, ele tá bem.
03:03Então, ok.
03:05É a minha história e a história deles.
03:07Mas eu lembro muito que no dia que eu fui, o Antônio faleceu e eu fui ver o José, foi horrível.
03:16Entrar naquela UTI, olhar a incubadora do Antônio vazia e a do José, com ele no estado em que estava, com 380 gramas e eu podendo perder aquele meu outro filho também.
03:27Eu me humilhei, eu clamei, pedi muito, muito a Deus.
03:34Chorei muito com Deus.
03:36Em momento nenhum eu me revoltei.
03:38Porque todo mundo tem um propósito, uma história.
03:41Mas eu clamei muito e também recorria todo tipo de gente pra pedir oração pelos meus bebês, tanto pela partida do Antônio, quanto pela luta do José.
03:52Mas esse luto eu vivo todos os dias.
03:55Eu costumo dizer que eu entendi isso.
03:57Tem dias que eu só sobrevivo.

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