Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • anteontem
O cientista Carlos Nobre compara os potenciais econômicos da Amazônia em dois modelos de exploração: preservação e desmatamento.

Assista à íntegra: https://youtu.be/t3Ob1WGxwnw

Cadastre-se para receber nossa newsletter:
https://bit.ly/2Gl9AdL​

Confira mais notícias em nosso site:
https://www.oantagonista.com​

Acompanhe nossas redes sociais:
https://www.fb.com/oantagonista​
https://www.twitter.com/o_antagonista​
https://www.instagram.com/o_antagonista
https://www.tiktok.com/@oantagonista_oficial

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Bom, para quem não conhece o professor Carlos Nobre, ele, tirando o Dom Pedro II, ele é o segundo membro brasileiro da Royal Society, fundado em Londres, que é uma prestigiada sociedade científica.
00:14Professor, eu só poderia contar um pouquinho dessa sua participação lá, da sua nomeação. De fato, é um privilégio, e aí um privilégio nosso, de todos nós brasileiros, de ter uma pessoa como o senhor, um representante brasileiro nesta sociedade tão prestigiada, científica tão prestigiada.
00:37Sem dúvida, a Royal Society é uma sociedade, é a mais antiga do mundo, foi fundada em 1630, e o Brasil teve e tem inúmeros grandes cientistas.
00:53É um pouco surpreendente que eu fui o primeiro cientista nomeado, eleito, para ser um membro estrangeiro, porque o Dom Pedro II, ele era da categoria de imperadores-reis, a Royal Society, além de cientistas, eles têm também membros que são do mundo...
01:16Da realeza.
01:17Da realeza, né? Então, é uma surpresa, o Brasil já teve inúmeros grandes, grandes, grandes cientistas.
01:25Mas, de qualquer modo, essa eleição, eu acho que teve muito a ver com a preocupação mundial com a Amazônia.
01:33Eu tenho dedicado minha vida profissional muito à Amazônia, o meu primeiro emprego foi lá atrás, em 1976, lá no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
01:43e eu dediquei muito na minha carreira científica a estudos amazônicos, e muito do que eu tenho muito chamado a atenção do risco que a Amazônia corre,
01:56nós chamamos o risco de passar do ponto de novo retorno, em inglês, tipping point, e a Amazônia está na beira desse precipício,
02:03eu tenho chamado muito a atenção e buscado também soluções.
02:08Eu acho que a minha eleição foi um reconhecimento da preocupação dos cientistas de todo o mundo com o futuro da Amazônia.
02:19Então, foi muito para chamar a atenção para o mundo que nós temos que fazer algo para salvar a Amazônia,
02:25e os cientistas, não só eu, mas o mundo dos cientistas, nós trabalhamos com a Amazônia,
02:31e estamos mostrando cada vez mais o risco que a Amazônia corre.
02:35Então, eu entendo que foi muito o reconhecimento da Royal Society do trabalho que a comunidade científica,
02:44que eu tenho, de certo modo, liderado muito desses experimentos na Amazônia, faz para buscar soluções para a Amazônia.
02:50Isso vem também num contexto político, não só nacional, como internacional, de muito, talvez, de um desrespeito à produção científica,
03:01em relação à Amazônia e à própria opinião da ciência.
03:08Nós tivemos aí um governo agora, que se encerrou, que praticamente desmontou todo o sistema de preservação, de fiscalização.
03:17Agora, ao mesmo tempo, a gente retoma esse debate numa outra perspectiva até mundial,
03:28de entendimento do que seria a melhor forma, quando a gente fala de preservação.
03:33A gente viu nesse debate político também, a gente acompanha em diversos fóruns,
03:40muito se fala em economia verde, muito se fala em quanto a Amazônia pode gerar dividendos para o Brasil.
03:52Quer dizer, como é que está, como é que é isso?
03:56É difícil para o nosso espectador materializar, quando a gente fala de economia do carbono, etc.
04:02Mas é muito difícil você materializar essa economia verde associando produção, preservação a desenvolvimento econômico.
04:15Ou você tem uma visão romântica de se manter intocável a floresta,
04:23ou você tem uma visão absolutamente pragmática de se derrubar a floresta,
04:27de se extrair o que for possível dela, de transformar isso em pasto e ampliar as áreas cultiváveis,
04:36que é uma das maiores pressões de todo o bioma do agronegócio.
04:45O senhor poderia explicar um pouquinho, tentar trazer, aproximar essa realidade para o nosso espectador, professor?
04:54O senhor, sem dúvida, é importante verificar o seguinte,
05:00esse modelo que explodiu muito nos últimos anos do governo anterior,
05:05governo federal anterior,
05:07era um modelo que, de fato, ele vem dos anos 70.
05:13Na ditadura militar, se criou esse conceito de que a floresta, as árvores não valem nada,
05:21elas são impedimentos ao chamado desenvolvimento.
05:27Se levou milhões de brasileiros, tirando a floresta, criando muitas estradas,
05:34doação de áreas para centenas de milhares de pequenos agricultores,
05:38doação de área gigantesca para grandes fazendas pecuárias,
05:43no sentido até do que você falou, a floresta não vale nada,
05:46tira a floresta, substitui por pastagens para a pecuária,
05:49substitui por alguma cultura agrícola, como soja,
05:53substitui, vai explorar o potencial de mineração de grandes hidrelétricas
05:59para exportar eletricidade para outras partes do Brasil.
06:02Então, esse é o modelo que vem lá de trás.
06:05Então, esse modelo já tem 50 anos.
06:08Aí, vamos olhar.
06:10Levaram milhões e milhões de brasileiros para a Amazônia,
06:14criou o desenvolvimento? Não.
06:16A Amazônia é um dos lugares mais pobres do Brasil.
06:19O índice de desenvolvimento da Amazônia, dos municípios da Amazônia,
06:22são paupérrimos.
06:24Praticamente, mais de 80% da população amazônica é pobre.
06:29Grande parte desses que migraram para a Amazônia,
06:33e dos filhos e netos que ficaram na Amazônia,
06:35continuam pobres.
06:37Então, esse é um modelo que não tem nenhuma prova
06:39de que, de fato, trouxe um desenvolvimento socioeconômico.
06:43Então, esse é o primeiro ponto.
06:45Aí, vamos olhar em comparação.
06:49Inclusive, na Amazônia, existem cooperativas
06:52que produzem produtos florestais,
06:58em sistemas agroflorestais,
07:01que foram desses migrantes que foram lá atrás para a Amazônia.
07:06Os pais, os avós foram.
07:08E, há 20 anos, eles começaram, 25 anos,
07:11eles começaram a abandonar a pecuária,
07:14cana-de-açúcar e outras culturas,
07:16e passaram a desenvolver sistemas agroflorestais.
07:20Há cooperativas de sistemas agroflorestais na Amazônia,
07:23que são todos produtos da Amazônia,
07:25da imensa biodiversidade da Amazônia,
07:27a maior biodiversidade do mundo.
07:30Eles começaram a produzir os produtos.
07:32A gente conhece aqui fora da Amazônia muito
07:34o açaí, o cacau, o poaçu,
07:39alguns produtos,
07:40mas eles produzem dezenas e dezenas de produtos.
07:43Todas essas populações das cooperativas de sistemas agroflorestais
07:47melhoraram muito a sua qualidade de vida.
07:51Eles eram pequenos agricultores,
07:53paupérgicos, pobres,
07:55classe E do IBGE.
07:57Todos migraram,
08:00muitos já chegaram na classe C,
08:03a maioria,
08:04e muitos já atingiram a classe média.
08:07Então, essa é uma amostra já,
08:09ainda que o número de cooperativas
08:11seja modesto,
08:12perto do tamanho da Amazônia,
08:14cooperativas de sistemas agroflorestais,
08:17mas isso já mostra
08:18o enorme potencial
08:20do que nós chamamos
08:22de uma bioeconomia de floresta em pé.
08:25Uma cooperativa que se chama CAMTA,
08:27na cidade de Toméaçu,
08:28sul de Belém,
08:30ela produz mais de 120 produtos,
08:3264 diferentes espécies
08:34da floresta amazônica,
08:36ela melhorou demais
08:37a vida de milhares de pessoas
08:39e mostra um gigantesco potencial.
08:43Então, essas já são provas iniciais
08:47de que o potencial
08:48de você ter produtos da floresta,
08:54trazer esses produtos
08:55para os mercados regionais,
08:57nacionais,
08:58internacionais,
08:58o açaí já traz
09:00mais de um bilhão de dólares
09:02por ano
09:02para a economia da Amazônia brasileira,
09:04o açaí já passou até a madeira,
09:07e a madeira,
09:0880% da madeira
09:10extraída da Amazônia,
09:11é tudo ilegal,
09:12é tudo ilegal,
09:13é roubo de madeira.
09:13Então, o açaí e outros produtos
09:17podem, daqui a pouco,
09:19se continuarmos nessa bioeconomia,
09:21eles vão passar a pecuária, inclusive.
09:24A produtividade da pecuária na Amazônia
09:26é baixíssima.
09:27Em todo o Brasil,
09:29a pecuária tem uma baixíssima produtividade,
09:321,3 cabeças de gado por hectare,
09:351,6 milhões de quilômetros quadrados,
09:38quase,
09:38de áreas de pecuária.
09:40No discurso de pós-presidente Lula,
09:42ele já mencionou,
09:43300 mil quilômetros quadrados
09:45de faixagem de baixíssima,
09:48degradada,
09:48de baixíssima produtividade.
09:50Isso tudo pode ser restaurado,
09:52pode ser criado sistemas agroflorestais,
09:54pode ter uma agricultura
09:56muito mais sustentável.
09:58O presidente, no seu discurso,
09:59também chamou
10:00agricultura regenerativa.
10:02Então, esse é um potencial
10:03que o Brasil tem
10:04e é um potencial
10:05que a Amazônia tem.
10:06Por isso,
10:08que é correto
10:09essa postura
10:10do novo governo,
10:11do presidente Lula,
10:12da ministra Marina Silva
10:14do Meio Ambiente,
10:15do ministro,
10:17do vice-presidente Alckmin,
10:19que é ministro
10:19de Indústria,
10:21Comércio e Revisos,
10:22no seu discurso
10:23de dois dias atrás,
10:25ele também falou
10:25do potencial
10:26da industrialização,
10:28da sociobiodiversidade
10:30brasileira,
10:31que é essa economia,
10:32essa bioeconomia
10:33de floresta em pé.
10:34Isso tem um enorme potencial,
10:36mantém a floresta,
10:38mantém os serviços
10:39ecossistêmicos,
10:39mantém o carbono,
10:41combate a emergência climática
10:42e, não só isso,
10:44enorme potencial
10:46de beneficiar
10:47socialmente
10:48e economicamente
10:49todas as populações
10:50amazônicas
10:51e a economia
10:52dos países amazônicos.
10:53Então,
10:54não existe mais
10:55uma necessidade
10:56de continuar
10:56com aquele modelo
10:57de uma agricultura,
10:59de uma pecuária
11:00de baixíssima produtividade
11:01e que foi
11:04o principal vetor,
11:05quase 90%
11:06do primeiro desmatamento
11:08da Amazônia
11:08para a expansão
11:09de fazendas pecuárias
11:10num valor cultural
11:13de uma parte
11:16dos pecuaristas
11:18e agricultores brasileiros
11:19de expansão
11:20permanente
11:21do tamanho,
11:22que eram grandes fazendas
11:23de pecuária,
11:25mas não é
11:25absolutamente
11:26mais necessário.
11:27A economia
11:28de floresta em pé
11:29tem um potencial
11:30econômico
11:31muito maior
11:32do que acabar
11:33com a floresta.
11:38E aí
11:39Obrigado.

Recomendado