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  • 10/06/2025
Ana Fontes, Laís Bodanzky e o protagonismo feminino: 'não tem como separar a mulher da profissão'

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Transcrição
00:00Estratégicamente, direto do evento Tempo de Mulher, e agora a gente recebe aqui Ana Fontes, fundadora e CEO da Rede Mulher Empreendedora.
00:08Ana, obrigada, mais uma vez a gente está juntas, né?
00:10Feliz demais.
00:12Muito bom, e a gente tem a honra de receber também a cineasta Laís Bodansky.
00:16Laís, sua primeira vez no evento, Laís?
00:19Primeira vez.
00:19É uma festa, é um encontro de CEOs, mas de mulheres em diversas fases de sua carreira, querendo ouvir histórias inspiradoras, né?
00:28De mulheres que chegaram lá, e a gente estava falando aqui antes, mas o que é esse lá, né?
00:34Mas Ana trouxe na sua fala um pouquinho de dados que também revelam que muitas mulheres ainda estão à margem desse chegar lá que a gente quer chegar, né?
00:44Que estão muito distantes, né?
00:47Compartilha um pouco com a gente o que você trouxe na sua fala em termos de números, né?
00:51Para a gente mostrar um pouco dessa realidade, Ana.
00:54Eu trouxe alguns dados que são duros, são difíceis de a gente compartilhar, mas que são importantes para a gente entender a realidade de mulheres e meninas no Brasil, né?
01:03O Brasil é um país onde as mulheres, especialmente as meninas, são as que mais sofrem violência sexual.
01:10É um dado muito triste, onde as mulheres acabam não tendo acesso a oportunidades.
01:17Os espaços de poder, apesar de a gente ver num evento como esse uma quantidade absurda de mulheres que estão ocupando, mas elas ainda são minoria.
01:26Só você pensar no espaço político, elas são só 15%.
01:29Nos espaços do setor privado, elas são 20%.
01:33No judiciário, elas são de 10% a 12%, ou seja, a gente tem muito ainda o que fazer.
01:39E o Brasil tem algumas estatísticas, obviamente não dá para falar todas, que são muito duras, né?
01:44O Brasil é o país de número 6 no mundo, ocupa o sexto lugar em casamentos infantis.
01:51Que é um dado horroroso, ou seja, de meninas que casam até 17 anos.
01:56Isso só os dados do que é formalizado.
01:58Imagina o que não é formalizado, o volume que tem.
02:01As mulheres ganham 25% menos, além de não estarem nos espaços de poder, não terem acesso a capital.
02:08E a minha fala foi uma chamada para a gente olhar para esses dados, olhar para essas informações.
02:15A gente tem solução para cada uma dessas coisas.
02:18E a gente precisa, nós como mulheres, nos unirmos cada vez mais para buscar esse caminho da solução.
02:24Eu não consigo imaginar uma sociedade para as minhas filhas, que têm 17, 22 anos.
02:30Eu ainda não consigo enxergar que elas vão viver numa sociedade mais justa e mais inclusiva.
02:36Então, acho que é importante a gente trazer essas informações.
02:38Eu sei que são dados que, às vezes, as pessoas ficam muito chocadas.
02:41Mas eu falo, é importante a gente trazer, mostrar.
02:44Porque a gente precisa mostrar esse Brasil que é invisibilizado
02:47para poder contar essas histórias e falar dessas situações.
02:51Posso completar?
02:52Por favor.
02:53Tem um filme em cartaz agora, da Mariana Brenan, que se chama Manas,
02:59e conta exatamente essa história, na Ilha do Marajó.
03:04O filme é belíssimo.
03:05A história é triste, sem dúvida nenhuma, mas importantíssima, porque é um alerta.
03:10É uma história que está acontecendo agora, nesse momento, em algum canto do nosso país.
03:15E conta a história exatamente de meninas, ainda na sua infância, indo para a adolescência
03:23e sendo assediadas das piores formas, dentro de casa.
03:29Então, o filme é um alerta e é uma obra de arte.
03:32E está em cartaz dos cinemas no Brasil inteiro.
03:35E é superimportante mesmo ter as obras de arte mostrando essas situações.
03:39Porque, se a gente não traz o assunto à tona, a gente não consegue mudar,
03:43se as pessoas não sabem.
03:45Talvez só a arte para poder impactar as pessoas, porque ela condensa ali,
03:50porque ela traz a carga dramática.
03:51Porque, se no dia a dia essas histórias se repetem, e a gente dá aqui no jornalismo,
03:54eu sou jornalista, banaliza.
03:56As pessoas não se importam.
03:58Infelizmente, a verdade é.
03:59O cinema, a arte, o teatro, eles têm, né, Laís, essa força de tocar as pessoas.
04:06E provocar uma reflexão.
04:08A arte é entretenimento?
04:10O cinema é entretenimento?
04:12É, mas não só entretenimento.
04:14Ele também é informação, é alerta, é capaz de mudar a vida de uma pessoa.
04:19Eu acredito.
04:19Um filme mudou a minha vida?
04:21Sim, é verdade.
04:21Um filme pode mudar a vida da pessoa em vários aspectos.
04:25E um filme como Humanas, que trata exatamente desse tema, é um grande alerta, porque isso
04:32pode estar acontecendo, e tanto faz a classe social, tanto faz em que região do país você
04:39está, esse assédio, né, assim, às meninas, ele é cruel, né, e elas não têm ferramenta
04:46para se defender.
04:48Às vezes, a ferramenta que elas vão utilizar, às vezes, também são cruéis, e é isso que
04:52o filme mostra.
04:53É interessante, porque, assim, quando a gente fala de violência contra as mulheres, por
04:57exemplo, um dado que eu trouxe do feminicídio, que a cada seis horas no Brasil uma mulher
05:01é assassinada simplesmente por ser mulher.
05:03e a idade onde elas são assassinadas é uma das coisas mais tristes, não que seja
05:10melhor ou pior, mas é dos 25 aos 40 anos.
05:14No auge da vida, elas são assassinadas, e não são só elas que são assassinadas,
05:20as famílias vão junto, né, porque os filhos ficam, porque elas são assassinadas pelos
05:24companheiros.
05:25Os filhos ficam sem os pais e sem a mãe, e numa situação absolutamente difícil.
05:30Então, é importante, né, usar o cinema, usar a arte para mostrar essas histórias que,
05:37na maioria das vezes, acabam analisando, né?
05:40Sem dúvidas.
05:41E aí, entrando agora um pouco no protagonismo feminino dentro desse, né, da carreira, do
05:46mundo profissional, para a Laís, né, que foi uma das primeiras mulheres que, pelo menos,
05:51a gente lembra, assim, que se destacou, que trouxe uma história que trouxe Bicho de Sete
05:55Cabeças e depois toda uma obra, né, outras obras.
05:59Laís, como que foi para você, nesse universo tão masculino, né, não só dirigir, mas
06:05as equipes também, geralmente, né, são bem masculinas, assim, você enfrentou em algum
06:12momento, ou em diversos momentos, essa barreira, assim, do gênero?
06:17Sim, muito interessante, que eu demorei para perceber que eu tinha enfrentado essa barreira.
06:21Eu só fui perceber com, acho que, com o movimento, esse novo movimento feminista,
06:27em 2016, 2017, um pouco antes, a partir, acho que, de 2015, acho que a sociedade, as mulheres
06:35começaram a se organizar, a levantar dados, a inventar palavras para que você...
06:42A gente não tinha nem nome para determinadas situações, né, falar o que era, não tinha
06:47vocabulário, não tinha visão, compreensão.
06:50Então, eu só fui entender depois, que sim, eu não sei como que eu consegui, mas eu acho
06:55que pela ingenuidade, talvez, meio cara de pau, porque talvez, ali naquele momento, se eu
07:02soubesse, era... eu talvez me assustasse.
07:05Eu acho que eu fui... teve um lado ingênuo que foi positivo, assim, eu queria fazer, eu
07:11gostava, eu fui lá e fiz.
07:14Maravilhoso.
07:14E é, e aí, trazendo um exemplo que a gente viu, assistiu há poucos dias, né, da nossa
07:19ministra do meio ambiente, passando por tamanha violência e constrangimento, e aí eu trago
07:25aqui para a nossa reflexão a fala do senador que quis separar, ele diz, né, eu quero separar
07:31a ministra da mulher, porque a mulher merece respeito e uma coisa, assim, louca, né, louca
07:37e a gente coloca louca, mas, na verdade, é muito mais grave que isso, assim, é irresponsável,
07:42é criminosa, exatamente, né.
07:45Vocês acreditam que, de alguma forma, é possível a gente separar a mulher da profissional
07:50que nós somos, ou o contexto tenta separar isso da gente, né?
07:55O contexto tenta colocar as mulheres em determinados lugares, em determinadas caixinhas, né, no
08:00contexto social, e aí a gente fala que isso é como uma construção social, as mulheres
08:04foram criadas para sentar de perninha fechada, falar num tom de voz mais baixo e ser legal
08:10com as outras pessoas e buscar esse reconhecimento.
08:13Quando a gente vê mulheres, né, quando a sociedade vê mulheres em espaço de poder,
08:17e isso é uma coisa que não é só masculina, isso é uma construção social, então você
08:21vai ver muitas mulheres machistas e situações como essa que a gente viu com a ministra Marina.
08:26Há um estranhamento das pessoas em ver as mulheres nesses espaços, então, por isso
08:33que é importante que a gente tenha mulheres em espaços de poder, mas não uma, nem duas,
08:38a gente precisa ter um número significativo, porque senão, essas poucas mulheres vão sofrer,
08:46infelizmente, sempre esse tipo de violência.
08:48Porque imagina ele como homem, a mulher está respondendo para ele, né, é aquela coisa
08:55bem, estilo bem machista, você, é, ponha-se no seu lugar.
08:59É, o funcionador falou, coloque-se no seu lugar.
09:01Coloque-se no seu lugar, não, nós somos mulheres, somos ministras, somos mães, e isso
09:06não é indissociado, você não vai dissociar.
09:09É, a gente fala da importância da diversidade, um país como o Brasil, principalmente, que
09:20tem uma diversidade imensa e uma sociedade que tem praticamente metade homem e metade mulher,
09:27os espaços de poder, o nosso objetivo é simplesmente reproduzir esse equilíbrio, né, não é outra
09:34coisa, não é a mais, é apenas reproduzir o equilíbrio, não tem como separar o ser
09:40mulher com a sua profissão, você leva a tua emoção, você leva seu ponto de vista
09:46para esses espaços, sim, da fala de poder.
09:50Agora, o que me espanta, e que eu acho que é o grande alerta do que aconteceu com a ministra
09:54Marina Silva, é a narrativa, né, então, assim, o que que fica registrado na história?
10:01Quando vem o senador e ele faz a narrativa, você isso, você aquilo, fica registrado a
10:06narrativa dele, o que que ela fez, e isso eu acho que foi genial, com essa tomada de
10:11consciência, de ela pegou a narrativa para ela, a narrativa não é essa que o senador
10:17está dizendo, a narrativa é outra, e ela trouxe fatos, dados e confrontou, então, nesse
10:23sentido, ela foi uma vencedora.
10:25Eu faço um comparativo com a história do cinema, a primeira diretora do cinema foi
10:33uma mulher que foi apagada dos livros de história, ou seja, apagada da narrativa, né, que é a
10:40Alice Gui Blanchet, é uma francesa, ela foi a primeira cineasta e ela, ainda em vida, viu
10:46o nome dela ser apagado, né, e eu fiz faculdade de cinema, trabalhei com cinema, só fui conhecer
10:53o nome dela, saber a obra dela, né, a partir desse momento, 2015, 2016, que é quando
11:00justamente as mulheres começaram a reconstruir a narrativa, olhar para trás e falar, peraí,
11:07não é possível, será que não tinha nenhuma mulher?
11:08Tinha sim, ela só não foi colocada nos livros de história, então revisitar os documentos,
11:14olhar para trás e olhar para a história que está sendo narrada hoje é o papel da
11:19mulher, e a mulher no espaço de poder não adianta só ter o poder e só ser mulher, mas
11:25ela tem que estar atenta no coletivo, né, assim, e fazer a nova narrativa.
11:32Então, e tantas mulheres assim como essa cineasta que você citou são apagadas da história em
11:37várias outras carreiras, né, mulheres na tecnologia, mulheres na ciência.
11:42Outro dia eu estava vendo, fizeram uma propaganda de um carro tirando as coisas que foram inventadas
11:49por mulheres, elas inventaram o para-brisa, elas inventaram o GPS, como é que a gente
11:54viveria hoje?
11:55Então, muitas mulheres foram apagadas.
11:57E acho que uma coisa que você falou, Laís, que é super bacana, a Marina é uma mulher
12:01extremamente preparada, ela tomou a narrativa para ela, mas não necessariamente as mulheres
12:09conseguem fazer isso, porque às vezes os ambientes são tão hostis que você fica naquela situação,
12:16gente, o que que eu falo?
12:17E ela não só tomou a narrativa para ela, como pegou as coisas dela e falou, peraí,
12:22se eu não tô, se eu vim aqui para falar o que eu tinha para falar e se eu não tô sendo
12:26respeitada, nem como mulher, nem como ministra, eu me retiro.
12:31Achei aquela atitude dela fortíssima e bem importante.
12:37Demais.
12:38Que prazer, gente, falar sobre narrativa.
12:41Eu acho que para amarrar, assim, né, a gente fala de narrativa, a gente pensa em protagonismo,
12:45né, também, né, como as mulheres, né, alguma dica que vocês dão pela luta de vocês,
12:50você no empreendedorismo, você nas artes, né, de como que as mulheres podem assumir
12:55esse protagonismo, né, esse protagonismo na sua própria narrativa de vida, né, nos
13:00seus sonhos, nos seus objetivos e não retroceder.
13:04Eu acredito muito na força e no poder da irmandade feminina.
13:08Eu acho que mulheres são mais fortes quando elas estão perto de outras mulheres.
13:12Então você estar junto e você apoiar uma outra mulher, pra mim é super importante.
13:18Eu inúmeras vezes estive em reuniões onde nós, mulheres, éramos minoria e quando
13:23uma outra mulher estava falando, eu sentia as piadinhas dos homens no entorno.
13:29E o que eu fazia era reforçar o que aquela mulher estava ali falando.
13:33Eu olhava pra ela, eu pedia silêncio pros outros e reforçava e mostrava pra ela que eu
13:40estava ali por ela.
13:41Então eu acho que a nossa força está nessa irmandade feminina.
13:45Não acho que a gente consegue de forma diferente se a gente, de fato, não se manter unidas
13:50e juntas.
13:52Mas, olha, é interessante porque essa é uma das palavras novas, que é a sororidade.
13:59Justamente.
14:00Na minha juventude não existia essa palavra e não existia o sentimento de sororidade.
14:05Isso é uma construção.
14:06Então, eu me sinto muito feliz de ser mulher hoje e eu acho que eu tive a sorte de estar
14:15nessa vida adulta com essa nova postura da mulher na sociedade.
14:22Não é que é mais fácil porque é duro, os números dizem que é duro.
14:26Mas eu tenho essa sensação do...
14:29Eu não estou sozinha, eu estou acompanhada e eu posso acompanhar também outra mulher.
14:34Isso é muito mais confortável.
14:36Eu gosto de falar também que não é uma guerra contra os homens.
14:40Não é uma guerra contra os homens.
14:42Buscar o protagonismo, buscar a oportunidade é, na verdade, dar o direito das mulheres
14:47um direito que elas têm.
14:48Só que não tem acesso, né?
14:51O machismo mata mulheres todos os dias.
14:53O feminismo não mata ninguém.
14:55Então, é isso.
14:57Então vamos em frente com o nosso feminismo, com os nossos sonhos e objetivos, né?
15:01Muito obrigada, meninas.
15:03Vamos aproveitar o evento Tempo de Mulher.
15:05Obrigada, continuem seguindo estrategicamente.
15:07Obrigada.
15:07Obrigada.
15:08Obrigada.
15:09Obrigada.
15:10Obrigada.
15:11Obrigada.

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