"Na nossa época, ser convocada nem passava na televisão", relembra Magali Fernandes

Terra Brasil

Transcript

00:00Como era ser mulher no futebol lá em 1980, né?

00:03E como é ser mulher hoje, né?

00:05A gente acabou de ver aí uma convocação ao vivo,

00:08um monte de gente assistindo ali,

00:10o Arthur Elias falando o nome, um monte de jogadoras,

00:13mas e em 80, 81, 82, 87? Como que era?

00:16Tem uma grande diferença, Magali?

00:18Ah, sim, né? A gente...

00:21Na época, a convocação, ela saía por e-mail, né?

00:26Vinha para o clube por e-mail e o clube convocava a atleta,

00:31falava, ó, você foi convocada.

00:33Era uma alegria, né?

00:34Porque ir para a seleção brasileira é o sonho de todo mundo,

00:39é a conquista de um trabalho que você faz, né?

00:43De um sonho que todo mundo tem.

00:46E é totalmente diferente de hoje, né?

00:49Porque hoje você passa, abre a Globo,

00:52dando a convocação da seleção brasileira,

00:56a menina com as suas famílias, podendo ver todo mundo.

00:59Quer dizer, é uma sensação muito forte, né?

01:03Está na mídia, na TV, né?

01:05Que nem a gente jogava na época,

01:06pô, quando que um dia a gente vai passar na Globo,

01:09a gente vai jogar e nós vamos passar o jogo na Globo.

01:13Quer dizer, a gente se contentava,

01:16e já era muito contente quando a gente passava na TV Cultura,

01:20na Rede Vida, que era a rede de televisão do futebol feminino,

01:24que a Secretaria Coisava e a Federação mesmo colocou,

01:28era a rede de vida.

01:29Depois foi aparecendo, né?

01:31Porque era muito difícil, ninguém queria transmitir o futebol feminino.

01:35Eu acho que aí foi um pecado,

01:38porque a nossa época tinha muito talento,

01:42tecnicamente, era muita craque,

01:45era um futebol muito bonito, entendeu?

01:47Assim, que as meninas tinham, por ser mulher,

01:50falar mulher jogar igual o Zico.

01:53Roseli, ela era considerada o Pelé do futebol feminino,

01:56ela ficava brava,

01:57porque ela não tinha muita noção do que era Pelé, entendeu?

02:02Ela fazia uma...

02:03Acho que ela associava muito assim, por causa da cor,

02:06porque não sei o quê.

02:07Ela acho que não tinha ideia,

02:09porque ela era muito novinha.

02:10A gente falava, é, essa é a filha do Pelé.

02:12Eu não sou filha do Pelé,

02:13eu sou filha da Dona Maria, não sei o quê.

02:15Falei, pô, mas para, não é isso que a gente está falando, entendeu?

02:19Então, a gente tinha associação,

02:21que nem comigo, eles associavam eu com o Rivelino,

02:25porque o Rivelino batia, chutava muito forte.

02:28Então, nossa, o Rivelino era meu ídolo,

02:31o Rivelino, Pelé, Zico, entendeu?

02:34O Éder, que batia a falta, ia lá para fora do estádio.

02:37A gente tinha muitos ídolos no masculino, né?

02:40Então, era muito legal.

02:42Então, mas a diferença não tem comparação.

02:45Hoje, a mídia é muito forte em cima delas, né?

02:48Se a gente tivesse essa mídia na época,

02:51o Brasil, a mídia e toda essa estrutura

02:56que estão colocando no futebol feminino hoje,

02:59em seleção, né?

03:01Em alguns clubes, não são todos,

03:04é uma minoria de quatro, entendeu?

03:07Clubes que têm esse poder de ter o futebol feminino,

03:11porque o resto não tem.

03:12O resto é tudo como está antigamente.

03:15Recebe para se manter,

03:17fica se matando para ter o time ali, entendeu?

03:20Para poder participar de um campeonato paulista,

03:23de um brasileiro, entendeu?

03:26Então, eu acho assim que é bem diferente, né?

03:30É muito diferente.

03:31Eu acho que as meninas, elas tinham que absorver bastante

03:35e aproveitar muito essa oportunidade que está tendo de mídia.

03:39Sim.

03:39Eu acho que não é aproveitado.

03:42Eu acho que não é muito assim,

03:44não valoriza muito aquilo.

03:46Nós valorizamos, entendeu?

03:48Porque a gente ralou para estar onde estava.

03:51E a gente buscava através de jogar

03:55para receber retornos.

03:58Elas não, elas não precisam fazer muito

04:00para estar tudo na mão dela.

04:01E aí

Categoria

Transcrição

Recomendado