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  • 07/06/2025
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#JovemPan

Categoria

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Diversão
Transcrição
00:00Sejam bem-vindos!
00:02Hoje a gente estreia um espaço novo na Jovem Pan.
00:05E eu já vou avisando, não é um lugar para conversinha ensaiada,
00:08para fazer média e definitivamente não é um lugar
00:11para quem tem medo de falar o que pensa.
00:14O In-Off nasce para isso,
00:16para a gente falar de carreira, de bastidor,
00:18de queda, de sucesso e de polêmica.
00:22E sim, para mexer onde muita gente prefere nem encostar.
00:26Eu sou Mari Cantarelli e te convido a entrar comigo
00:28nesse primeiro episódio,
00:30para descobrir o que artistas, atletas, influencers, políticos
00:34e todo tipo de figura pública têm a dizer
00:36quando as luzes da cena principal se apagam.
00:39Esse é o In-Off.
00:40Cadê a eutanásia na minha possibilidade?
00:43A morte assistida?
00:44Seus fãs não estão revoltados com a finitude da sepultura?
00:50O que os fãs pensam é problema deles.
00:53Maravilhoso!
00:54Metal é barulho, não é música.
00:58É, o metal é barulho, mas é uma forma de música.
01:11A apresentadora que vos fala teve que estudar para a conversa de hoje.
01:17Mas foi diferente, foi muito transformador.
01:19Eu não sei se eu entendi certo,
01:21mas o que eu achava que era um estilo musical pesado,
01:24melancólico e até desnecessariamente brutal,
01:28de repente se mostrou mais que só um monte de grito.
01:31Se mostrou um protesto, uma espécie de missa às avessas.
01:36Enquanto o mundo mais do que nunca convida a gente a sorrir no Instagram
01:40protagonizando vidas que a gente não tem,
01:43o metal há tantas décadas responde com distorção.
01:46Eu chamava de sombrio, mas talvez seja só honesto.
01:51Porque o metal não finge.
01:52Ele sangra, ele cospe, ele rasga o silêncio com um berro que não quer consolo.
01:58Ele quer presença.
02:00É triste?
02:01É, às vezes.
02:03Mas é lúcido, é forte, é livre.
02:06E deve ser por isso que ele ainda pulsa 40 anos depois.
02:09Hoje eu recebo um homem que atravessou tudo isso.
02:13Andréas Kisser, um dos maiores músicos do Brasil e do mundo.
02:17Guitarrista do Sepultura.
02:19Um prazer te receber aqui.
02:21O prazer é meu, obrigado pelo convite.
02:23E acho que é a primeira vez que eu venho aqui nessa casa, assim,
02:27pra fazer uma entrevista e tô feliz.
02:29Jovem Pan faz parte da minha história do futebol.
02:32Que legal, muito bom.
02:33Começa me contando a sua história.
02:35Qual é a sua história com a Jovem Pan?
02:36Não, eu ouvia rádio, né?
02:38Eu sou fanático pelo futebol.
02:40Sou São Paulino.
02:42E naquela década de 80, né?
02:4380, 81, 82, principalmente, eu ouvi muito o José Silvério, né?
02:48A equipe do Milton Neves aqui, da galera.
02:51E sou fanático, né?
02:53Por futebol.
02:54E não só aqui no Brasil, mas quando o Sepultura começou a viajar e tudo,
02:58eu sempre, quando posso, vou assistir jogos na Europa, nos Estados Unidos.
03:03Eu também fui pra duas Copas do Mundo, né?
03:05Eu vi em 94, eu tava lá com a minha família, os amigos, a banda, né?
03:09Pra ver o Brasil campeão do mundo.
03:11E é uma paixão nacional, né?
03:13O futebol realmente é uma coisa fantástica, que em qualquer parte do mundo que você vai,
03:19ele é conhecido e o Brasil tem essa identidade com futebol, né?
03:21É fantástico.
03:22Agora, a música também.
03:24Eu vou começar, obviamente...
03:24Música também, sem dúvida.
03:25Eu vou começar falando de heavy metal, porque eu comentei um pouco na nossa abertura
03:30que eu tive que estudar, entender um pouco o que é o heavy metal
03:33e eu fiquei positivamente surpresa.
03:35Eu não tinha ideia da profundidade que o movimento heavy metal,
03:42e da história que é contada, das narrativas, da profundidade,
03:46do grau de crítica social, política, que tá por trás do heavy metal.
03:53E eu queria entender aonde isso te toca.
03:55Por que o heavy metal pra você?
03:57Você começou porque você gostava do estilo, né?
04:00Eu curto ouvir esse tipo de som,
04:02ou vem de um lugar mais profundo, de um preenchimento diferente?
04:05Eu acho que dos dois, né?
04:06Na minha casa sempre teve música, minha mãe tocava um pouco de acordeon.
04:11Eu comecei a tocar violão, por causa do violão da minha avó.
04:15Minha avó veio da Eslovênia, depois da Segunda Guerra Mundial.
04:17Vieram pro Brasil, começaram uma vida nova.
04:20Ela trouxe o violão com algumas músicas que ela cantava.
04:23Então, desde que eu nasci, eu via minha avó tocando, né?
04:26Ela sabia quatro, cinco músicas folclóricas ali, né?
04:29Da região.
04:30E com o violão dela que eu comecei a tocar música, né?
04:34O meu objetivo era tocar Star Way to Heaven.
04:36Do Led Zeppelin.
04:37Maravilhoso.
04:38Quem nunca passou?
04:38Que era um objetivo impossível na época, né?
04:40Eu passei por isso de violão também.
04:42Eu sou péssima pra tocar violão, mas eu já passei.
04:45Exatamente.
04:45Aquela da Pestana é que muita gente desiste ali, né?
04:47Isso, é ali que começa.
04:49Você vai ver se vai ter calinho aqui ou não vai ter.
04:51Star Way to Heaven já começa ali.
04:53Mas, enfim, eu tive minhas primeiras aulas com uma vizinha da minha avó,
04:58que chamava a professora Denise.
05:00Ela me ensinou os acordes principais, os mi maior, ré, enfim.
05:04E eu aprendi, a primeira música que eu aprendi foi a Planeta Água, do Guilherme Arantes, né?
05:09Olha só.
05:09Comecei com a música popular brasileira.
05:12Eu saía da aula, ia pra minha avó com o violão dela, e ela era a minha primeira cobaia, né?
05:17De ouvir as coisas que eu aprendi e tudo.
05:19E ela foi a minha primeira que realmente me estimulou.
05:22A minha avó tinha um espírito artístico grande.
05:24A minha mãe também pintava, né?
05:26Década de 70, ela fazia exposições de pintura e tudo.
05:29Então, a arte sempre teve muito presente em casa, né?
05:32E o rock veio muito pelo Kiss e o Queen, né?
05:35O Queen veio pro Brasil em 81, o Kiss em 83, que foi um show que eu consegui ir.
05:39Em 81, minha mãe não deixou eu, que era muito novo.
05:41Enfim, fiquei bem frustrado naquela época.
05:44Mas ver o Kiss realmente mudou a minha vida, né?
05:46De ver aquilo de perto, no estádio do Morumbi, no estádio do meu time, né?
05:50Ver aquilo de perto, sentir aquela labareda do fogo, pintura.
05:55Eles tinham um tanque, né? De guerra, assim, que a bateria ficava em cima.
06:00Ou seja, você acha que é essa coisa mais da performance?
06:03Performance, de sentir aquilo ao vivo, sabe?
06:05Aquilo foi maravilhoso.
06:06E logo depois veio o Rock in Rio, né?
06:08Em 85, eu e minhas irmãs, meu pai levou eu e minhas irmãs pra assistir.
06:13Ozzy Osbourne, Whitesnake, Iron Maiden, né?
06:16O ACDC, Scorpions.
06:18Todas essas bandas, assim, que me fizeram seguir esse caminho, né?
06:21São os meus ídolos.
06:22E o Rock in Rio realmente abriu as portas da América do Sul
06:25num período de democracia, redemocratização do país, né?
06:31Aquela coisa do Tancredo Neves.
06:33Foi um momento muito especial, pra minha idade também, né?
06:36De adolescente, crescendo nesse clima de liberdade.
06:39Rock and Roll, você viu Paralamas, apareceu através do Rock in Rio,
06:43Kid Abelha, toda aquela cena do rock nacional, né?
06:47Que explodiu a partir dali, né?
06:49Da democracia, liberdade de expressão e etc.
06:53E acho que eu participei muito disso e o Sepultura nasceu ali também, né?
06:56Em Belo Horizonte, com os Irmãos Cavaleira, o Paulo Xisto,
07:00que começaram essa banda, né?
07:02Junto com o Jairo Guedes também.
07:04E eu entrei na banda em 87, já fazendo banda de heavy metal
07:08com amigos de escola em São Paulo.
07:10Mas os meus amigos, eles não estavam muito assim,
07:13afim de seguir essa carreira, né?
07:16Eu acho que a família fazia uma pressão pra trabalhar na fábrica do pai,
07:20enfim, tinha umas coisas, um outro futuro, né?
07:22E o músico, assim, nunca foi considerado,
07:24naquela época principalmente, não era considerado nem profissão, né?
07:27Muito preconceito, né?
07:29E eu acho que o metal também não é um estilo...
07:31Quer dizer, é engraçado, porque...
07:33E aí você me corrige se eu estiver errada.
07:35É um estilo muito popular.
07:36Mais popular do mundo.
07:37Mas não toca na rádio, sei lá, né?
07:40Ainda bem.
07:43Porque, assim, o que toca na rádio,
07:45com todo o respeito aos meios de comunicação,
07:48tem sempre um...
07:50Não é a música em si, né?
07:52O heavy metal não tá preocupado em fazer música de três minutos,
07:55que não tem solo de guitarra,
07:56que tem que repetir o refrão e etc.
07:59Aquela coisa muito comercial, plastificada, dentro de uma caixa.
08:04O heavy metal faz música de 12 minutos,
08:06faz álbum, não fica fazendo single.
08:09O fã de heavy metal gosta de comprar o produto oficial,
08:12não quer ficar comprando pirata por causa do hit que tá na rádio
08:15ou no topo das paradas, né?
08:19Esse tipo de coisa.
08:20Heavy metal é muito alheio a isso.
08:22Porque, primeiramente, ele não é compreendido, né?
08:25Muita gente tem preconceito de ver aquela coisa da camisa preta,
08:28tatuagem,
08:29que tem o mosh pit, onde a galera fica ali rodando
08:31e dançando a nossa maneira, né?
08:34Curtindo o show.
08:35Mas o heavy metal é muito família.
08:37O heavy metal passa de pai pra filho, realmente,
08:39de tradição, de vinil, de camiseta, que é muito importante.
08:43O heavy metal dá muita importância à capa do disco,
08:46à arte, ao artista que faz a capa.
08:48Com o heavy metal eu aprendi sobre história,
08:51sobre religião,
08:52sobre física,
08:55sobre ciência,
08:56sobre tudo.
08:57Sobre a morte, né?
08:58O heavy metal sempre falou da morte de uma maneira muito tranquila
09:01e de uma maneira direta, sem medo, né?
09:03Tranquila?
09:04Você acha tranquila?
09:05Tranquila, sim.
09:05Ou você acha que é mais honesta do que tranquila?
09:08É, tudo bem.
09:09Honesta, mais honesta que tranquila, sem dúvida.
09:11Sem ter medo, né?
09:12Porque tem uma certa...
09:13Assim, eu acho um estilo muito corajoso.
09:16Ele tem...
09:16No fim, eu fiquei achando que tem até a ver com um pouco da proposta do nosso programa.
09:20Porque é de tentar arrancar um pouco, de uma forma mais visceral,
09:24o que você quer falar.
09:26Sim.
09:26O que você tem pra falar, sem nenhum filtro, sem nenhum tipo de melindre?
09:32Exato.
09:33Não tem que ficar pisando muito em ovos.
09:35Então, se eu quiser berrar, eu vou berrar.
09:37Se eu quiser solar, eu vou solar.
09:39E aí, acho que tem uma...
09:41É liberdade.
09:42Eu acho que o heavy metal é liberdade de você ter o cabelo comprido.
09:45Você vê o vocalista Rob Halford, que é o vocalista do Judas Priest,
09:49homossexual, que, alguns anos atrás, veio publicamente declarar a sua homossexualidade.
09:57E você não viu ninguém cancelando ele.
09:59Ou queimando o disco, ou boicotando o show.
10:02Nada disso.
10:03Uma banda que chama Life of Agony, em Nova York, também o vocalista chamado Kit Kapuro,
10:08ele também trocou de gênero, né?
10:10Hoje, ele é mulher.
10:12Eu não lembro o nome agora que ele escolheu, mas mudou.
10:14Tá na mesma banda, com os mesmos fãs.
10:16Muita banda de mulher dentro do heavy metal, que tá crescendo cada vez mais essa inclusão, sabe?
10:23O Dereck, sendo vocalista negro no Sepultura, que a gente colocou ele em 97,
10:27que não tinha muito ainda esse discurso de inclusão e de cota e etc.
10:32Porque o heavy metal, ele nunca viu problema nisso.
10:35Pelo contrário.
10:36Eu acho que...
10:37Por exemplo, a influência que o Sepultura trouxe da música brasileira,
10:41da percussão, da viola caipira,
10:43o Metallica colocando a influência da música country americana no heavy metal,
10:47bandas da Escandinávia e de outros países que botam da cultura local dentro do heavy metal,
10:53que faz o heavy metal se expandir,
10:54ser um estilo que é quase como uma MPB, como um rock, né?
10:59Que se adapta a várias tendências, a vários estilos diferentes, né?
11:04E, pô, o Sepultura já foi pra 80 países, né?
11:07No mundo inteiro.
11:08Alguns desses países, eu vi você comentando isso em outras entrevistas,
11:12vocês tiveram shows cancelados.
11:14É, no Egito, no Líbano.
11:15Intervenções no Líbano.
11:17Porque o próprio governo não aceita, né, esse tipo de expressão artística.
11:22E vi você falando muito do Irã, que é um dos públicos mais aficionados, né?
11:27É, tem muito fã, realmente.
11:29Como é que chega num lugar onde não pode chegar?
11:32Como é que chega?
11:33Essa é a grande pergunta.
11:34Porque a música, ela não tem fronteira.
11:37Ela, aqui no Brasil mesmo, a gente recebia na década de 70, 80, né?
11:42Quando o heavy metal começou, bem no começo da década de 80,
11:46a gente tinha aí a Woodstock Discos, né?
11:48Que é do grande Valsir Shalas, que trouxe,
11:51ele trazia uma, duas cópias de discos,
11:53e a gente ia lá fazer uma vaquinha pra comprar um disco
11:55e fazer cópia em fita cassete pra todo mundo, né?
11:58Então, não era uma coisa muito fácil de você chegar.
12:01Por isso mesmo, tinha uma magia, né?
12:03De quando a gente conseguia algo oficial,
12:06de vocês ouvirem uma banda pela primeira vez e tudo.
12:09Isso que estimulou, pelo menos a minha,
12:11os meus amigos de banda, a ter banda, né?
12:14Agora, você comentou que, numa entrevista,
12:17que já faz um tempo, porque era uma entrevista que eu assisti,
12:20que você deu logo após a pandemia,
12:22e que eu achei muito interessante você ter dito,
12:25a gente conversou isso rapidamente nos bastidores aqui,
12:28mas aqui a gente traz o bastidor pra você ouvir,
12:32que a pandemia te mostrou que você podia ter rotina,
12:36que era uma coisa que você não estava acostumado a ter,
12:38ou era uma rotina tão caótica, né?
12:41Que não tinha cara de rotina,
12:43mas que também você se descobriu pai, filho, esposo,
12:48outros papéis, que normalmente eu acho que os homens,
12:51eles já estão tão identificados com o trabalho, né?
12:55Com a vida profissional, que é comum, independente de tudo,
13:01é comum até pro homem ter menos espaço em outras áreas da vida,
13:05ele se desenvolve menos, talvez, como pai, como outras coisas,
13:09porque ele é muito identificado com o trabalho.
13:12E aí você falou, eu me descobri, né?
13:14Um pouco mais na pandemia, porque foi forçado a ter uma rotina,
13:16e ser pai, e ser...
13:18E foi uma coisa também...
13:19O que você viu no espelho?
13:20Quem que você conheceu, né?
13:23Além do...
13:23Depois de parar de beber, que você falou que foi uma descoberta.
13:26O parar de beber foi no dia 1º de março de 2020, né?
13:28Alguns dias antes da pandemia acontecer,
13:31a gente estava se preparando pra ir pros Estados Unidos numa turnê,
13:34o disco Quadra tinha acabado de sair,
13:37já tinha feito divulgação,
13:38a turnê estava pronta,
13:40e dois dias antes da gente viajar, o mundo fechou, né?
13:43Ah, daqui três meses volta,
13:44e depois daqui três meses volta.
13:45E a gente se readaptou, reinventou a banda, né?
13:49Ficamos em casa,
13:50fizemos um evento que chamava Sepul Quarta,
13:52toda quarta-feira a gente tinha contato com o fã,
13:54a gente tinha um Q&A, né?
13:56Pergunta e resposta,
13:57e a gente fazia uma performance da música do Sepultura em casa mesmo,
14:01montava um clipe, né?
14:02E fazia isso, né?
14:04Isso salvou a banda, né?
14:05De tanto...
14:07De continuar trabalhando,
14:08principalmente mentalmente, né?
14:10De manter ocupado,
14:11e a cada quarta-feira era um trabalho fazer aquilo e tudo.
14:14Saiu um disco, inclusive, disso, né?
14:16Com todas as performances que a gente fez.
14:18E depois veio o diagnóstico de câncer da Patrícia,
14:21em janeiro de 2021.
14:23Todo o processo,
14:24eu agradeci demais estar em casa, meu.
14:25A pandemia foi fundamental
14:26pra eu passar esse processo do lado dela, sabe?
14:28De todo o processo de quimioterapia,
14:31as cirurgias que foram brutais,
14:33e o processo todo de dor e de foco.
14:37Foi um processo muito doloroso,
14:39mas muito lindo também, sabe?
14:43De eu estar do lado dela
14:45num dos momentos mais difíceis da nossa vida, né?
14:48Em 2022, já comecei a voltar a tocar e etc.
14:51E ela deu uma piorada,
14:53e eu tive que sair da torneia do Sepultura
14:55pra voltar, pra ficar os últimos momentos com ela.
14:58E...
14:58Quanto tempo durou essa...
15:00Foi um ano e meio,
15:01desde o diagnóstico até o falecimento, né?
15:03E a gente estava aí em pandemia,
15:05tudo fechado.
15:06Em 2021, daquele...
15:07Fechado da maneira brasileira, né?
15:08Fechado, abria, fechava, abria, fechava.
15:10Tipo, ia e vinha e não sei o quê, e...
15:13Mas a gente...
15:14Eu tive esse processo de ficar com ela, né?
15:16E com os meus filhos e com a...
15:18E me redescobri também, sem o álcool, né?
15:21De passar por um processo mais brutal da minha vida.
15:24Se eu tivesse o álcool como opção,
15:26teria sido um horror, né?
15:28Que eu não estaria encarando nada.
15:32Eu teria só amortecendo situações
15:34onde eu ia perder a oportunidade
15:36de aprender algo, sabe?
15:38De viver, de não ter medo da morte,
15:40de não ter medo da situação,
15:41de não se sentir uma vítima,
15:43mas agradecer que tudo acontece por um motivo, sabe?
15:46Tudo acontece pra que você possa realmente evoluir.
15:50Se a vida tem algum sentido,
15:51é um processo evolutivo,
15:52é um processo de educação,
15:54processo de autoconhecimento, né?
15:56E quando você olha pra dentro,
15:58você realmente inspira o universo,
16:00você inspira as pessoas ao lado.
16:01Sem uma retórica política
16:03ou tentar convencer ninguém.
16:04Cada um vai mudar de dentro pra fora, né?
16:07E é uma experiência que aconteceu comigo,
16:10de mudar hábitos,
16:12de mudar conceitos
16:13e passar por esse processo,
16:15encarar a morte de frente.
16:16E aí, você me corrija se eu estiver errada,
16:19você foi o primeiro a dar o passo ali,
16:21de abrir a conversa sobre a finitude,
16:24inclusive, dessa história brilhante
16:27que vocês fizeram com Sepultura.
16:28Sem dúvida.
16:29E você acha que isso interferiu nesse processo?
16:31Sem dúvida, sem dúvida.
16:32E de uma maneira muito positiva, sabe?
16:36A morte da Patrícia,
16:37se eu já admirava a minha esposa na vida,
16:40na morte, puta, eu não tenho nem adjetivo.
16:42Ela foi uma pessoa gigante, meu, sabe?
16:44Que não se apegou a nenhuma superstição.
16:46Ela não tinha nenhuma máscara.
16:48Até o último momento,
16:49ela foi ela,
16:50preocupada com os outros.
16:51Oh, não esquece de pagar a conta, tal,
16:52não sei o quê.
16:53Ia e vinha, não sei o quê.
16:54E eu lá, assim, totalmente despreparado
16:57como cidadão brasileiro
16:58para falar com o hospital,
16:59para falar com o médico,
17:01aprender um monte de coisa
17:02sobre o cuidado paliativo,
17:03saber que nem 10% dos hospitais brasileiros
17:06tinha equipe de paliativo.
17:07Aquilo me causou uma revolta, mano.
17:09Por que eu não posso falar de eutanásia?
17:11Cadê a eutanásia na minha possibilidade?
17:14A morte assistida, né?
17:16Recentemente, a gente teve o Antônio Cícero,
17:18que teve que sair do Brasil
17:19para exercer um direito de escolha.
17:21Um direito de morrer com dignidade.
17:22Um direito de escolha com dignidade.
17:23Por que o brasileiro tem que sair do país
17:25para fazer isso?
17:26Nós temos totais condições tecnológicas
17:29e intelectuais para fazer isso aqui.
17:32As pessoas têm muito medo de, sabe,
17:34de desmontar certos estereótipos
17:36que elas mesmas se colocam.
17:37E de falar sobre o assunto.
17:39Você sabe que eu mesma sou uma pessoa...
17:41Eu sempre evitei...
17:42A minha mãe é engenheira
17:43e é formada também em Direito
17:44e essa sempre foi uma conversa.
17:46Ela fez o...
17:47Quando ela fez o segundo curso de Direito,
17:49que eu também me formei em Direito,
17:50além de publicidade,
17:51ela fez um trabalho sobre o direito
17:53de morrer com dignidade.
17:54Era sobre eutanásia.
17:56E eu evitava muito falar sobre esse assunto com ela.
18:00Sempre foi um assunto doído,
18:01porque a gente não quer encarar a morte de frente.
18:05E eu acho que estudando você,
18:07a sua história e te ouvindo,
18:08eu acho também que a gente vai mudando um pouco
18:11a perspectiva e a gente estava conversando
18:13no camarim um pouco sobre isso.
18:14Porque falar de morte também é falar de vida
18:16em algum sentido, de renascer.
18:18Sem dúvida.
18:19E eu vou querer entender o final desse ciclo do Sepultura
18:23e esse renascimento que você está vivendo.
18:25Sem dúvida.
18:26Eu acho que é um privilégio, sabe,
18:28de poder terminar uma carreira de 41 anos,
18:31vão ser 42, né, até o final de 2026,
18:34que a gente pretende fazer essa turnê.
18:37De uma maneira consciente, em paz com a gente mesmo.
18:39A gente não está brigando.
18:41A gente se ama e se respeita como amigos dentro da banda.
18:44A equipe do Sepultura é muito bem conectada.
18:46Tem muita banda que sai em turnê aí,
18:50os caras não se falam, né, se odeiam.
18:52Inclusive, e estão para pagar conta, enfim.
18:56Eu acho que já passei por esse processo algumas vezes.
18:59É terrível você estar longe da família,
19:01longe do seu país e ainda lá brigando
19:03e se sentindo miserável na turnê.
19:07E, pô, para mim, eu acho que eu respeito a cada um.
19:12Eu lembro sempre, na garagem, sonhando em ser um músico.
19:16E eu sempre sou muito agradecido de ter esse privilégio
19:18de tocar e conhecer meus ídolos e fazer aquilo que eu amo, né.
19:23Então é isso, acho que agradecido sempre.
19:27Eu queria que você me contasse um pouco mais dessa turnê que vocês estão fazendo,
19:31que começou em 2024, passa por 2025 e deve ir até 2026.
19:36Isso.
19:36Mas que é uma despedida.
19:38Exato.
19:39É uma despedida, um farewell tour, né, como falam no exterior.
19:44E uma turnê de celebração.
19:47Tem sido espetacular, momentos incríveis.
19:50A gente está gravando também toda essa turnê para lançar um disco ao vivo, né,
19:54que vão ser 40 músicas em 40 cidades diferentes pelo mundo.
19:58Então a gente está gravando todos os shows.
20:00Depois a gente vai organizar tudo isso e vai lançar em vinil,
20:04num lance muito especial, com muita foto e tudo,
20:07para realmente celebrar essa despedida.
20:11E a gente vai parar, se vai ser por algum tempo, se vai ser para sempre.
20:14Isso é relevante agora, sabe?
20:16Também não estou muito certo do que eu vou fazer depois.
20:18Existem várias possibilidades.
20:20Aliás, eu já tenho algumas coisas paralelas ao Sepultura,
20:23como o programa de rádio que eu tenho com o Johan, meu filho,
20:25Pegadas de Andréas Kisser, na 89FM.
20:28Eu também tenho o De La Tierra, que é um grupo latino,
20:31que eu faço metal em português e espanhol.
20:33Enfim, e espaço para o Mãe Trícia, né,
20:36que eu criei em relação ao assunto morte.
20:40E o Patifest, né?
20:41Conta um pouquinho o que é o Mãe Trícia.
20:42Depois de tudo aquilo que eu passei com a Patícia,
20:44eu criei o movimento Mãe Trícia,
20:46que é uma página no Instagram, na verdade,
20:48mas que quer estimular o assunto morte, né?
20:51Para a gente falar em sociedade, para falar entre família e tudo,
20:54e discutir esses assuntos que são um tabu, né?
20:57Que ainda tem muito preconceito.
20:59E organizar o Patifest também, né?
21:01O Patifest é um festival que homenageia a Patícia também.
21:04E toda arrecadação vai para a favela compassiva,
21:07que leva o cuidado paliativo nas favelas da Rocinha e do Vidigal, no Rio de Janeiro,
21:11e aqui em Heliópolis, em São Paulo também, né?
21:13Maravilhoso.
21:14Você não ficou revoltado em nenhum momento com tudo que aconteceu com a Pat?
21:19Não, porque se eu ficasse revoltado, isso não ia ajudar em nada.
21:23Os seus fãs não estão revoltados com a finitude da sepultura?
21:28O que os fãs pensam é o problema deles.
21:32Maravilhoso!
21:33Esse é o espírito do em-off.
21:36É isso mesmo?
21:37É, porque assim, como é que você vai juntar um grupo que represente os fãs do Sepultura?
21:43Como que você define isso?
21:45Né?
21:46É tão diverso?
21:46E também o artista não pode ficar preso no que um ou outro vai pensar.
21:50Você tem que ser livre para se expressar.
21:52E quem se conectar com aquilo de uma maneira que goste ou até que odeie,
21:58ele está ótimo.
21:59A arte, ela tem que cutucar mesmo, né?
22:01Eu vou aproveitar que você falou isso para chamar um quadro
22:04que é a verdadeira tradução simultânea.
22:07Eu vou te trazer uma frase
22:08que você disse no passado que eu quero que você reavalie
22:12ou então reafirme.
22:14Oh, God!
22:15E ela tem tudo a ver com o que a gente acabou de falar, que é o seguinte,
22:18abre aspas,
22:19com todo respeito, mas eu quero que o fã se foda.
22:22Como é que você vai fazer arte e música pensando no fã?
22:26Exatamente isso.
22:28Acho que cada palavra aí eu reafirmo,
22:31porque imagina um Pablo Picasso pintando um quadro
22:35e pedindo permissão para alguém falar
22:37o que você acha dessa mulher que eu pintei?
22:40Aí o cara vai olhar assim,
22:41isso não é uma mulher.
22:42Deixa os haters odiarem.
22:43Pô, a função deles é essa.
22:46Eu vou aproveitar então mais um gancho
22:48para chamar o nosso quadro
22:49Toma que o Hate é Teu.
22:51Nesse quadro, Andrés, é o seguinte,
22:54eu vou trazer alguns comentários de redes sociais
22:56que chegaram até os seus canais oficiais
22:59e eu queria que você respondesse
23:01de uma maneira bem nua e crua.
23:04Tem um aí, vai tocar com a Ivete?
23:07Você já tocou, né?
23:08Toquei.
23:09Maravilhoso.
23:09Uma honra.
23:10Sensacional.
23:11Maravilhoso.
23:11Sensacional.
23:12A Ivete Sangalo é um fenômeno.
23:14Mito, maravilhosa.
23:15Incrível.
23:16Bom, o primeiro Hate é o seguinte, abre aspas,
23:18o Sepultura morreu quando o Max saiu.
23:22Cara, assim, para ele deve ter morrido e está ok.
23:27Eu acho que é o que ele pensa, está ótimo.
23:29Eu acho que é, expresse sua opinião, sabe?
23:33Para mim não me importa, verdade, a opinião dele, entendeu?
23:36Porque eu faço o que eu faço, né?
23:39Para mim não morreu, porque a minha vida é essa, né?
23:42E mesmo quando o Sepultura acabar...
23:44Para você foi vida, né?
23:45É.
23:45A minha vida é essa, eu me dediquei, me dedico até hoje.
23:50E mesmo o Sepultura parando, o Sepultura não vai acabar.
23:53A gente tem muita coisa acontecendo no nome Sepultura
23:56que não seja turnê e tocar e fazer disco, né?
23:59Agora eu vou ler o Hate número dois.
24:02Ok.
24:02Que é, abre aspas,
24:05Metal é barulho, não é música.
24:09É, metal é barulho, mas é...
24:12Uma forma de música.
24:14Assim, o barulho, a música já é barulho, né?
24:17É um barulho harmonizado.
24:18A gente tem certos conceitos e, né?
24:22A possibilidade de ouvido que a gente tem,
24:25de frequências de grave e agudo,
24:28dentro desse mundo, né?
24:29Limitado, dentro das nossas referências,
24:32qualquer coisa pode ser arte.
24:35Tem alguma coisa que te irrita, assim,
24:37no jeito de fazer música de hoje em dia,
24:39ou de rede social,
24:41de como hoje é a interação entre público
24:44e banda, e musicista, e músicos, e etc?
24:50Acho que isso não me irrita nada, assim,
24:53mesmo porque eu não dou muita atenção a isso, sabe?
24:56Ao que estão fazendo, sei lá.
24:59Eu nunca fui um caçador de novidades.
25:02Eu deixo a música chegar naturalmente.
25:04Aliás, eu gosto de ter influência musical fora da música, né?
25:07Ler livro, ou sentar e ver uma paisagem,
25:10enfim, escutar um som natural, sabe?
25:13Eu não gosto de ficar com o headphone toda hora, assim.
25:16Tem gente que, né?
25:17Tá no avião, tá na van, tá no hotel,
25:19tá sempre com o headphone, assim.
25:20Cara, eu gosto de escutar o ambiente.
25:23Andréas, pra gente fechar aqui o nosso papo,
25:27você que falou que não tá caçando novidades,
25:29eu queria entender de você o que que fica, né,
25:32depois que tudo isso passa,
25:33de tanta coisa que aconteceu aí nos últimos anos,
25:36e esse seu momento de encerramento,
25:39ainda que seja, né, uma fase longa,
25:42que vocês estejam fazendo isso com muito respeito,
25:44com muita calma, com muita...
25:46Mas, assim, o que que...
25:47Quando acaba, quando as luzes do palco apagam, né,
25:51quando termina, o que que vem?
25:54O que que sobra?
25:55The Remains.
25:56The Remains, boa.
25:57Estamos Beneath The Remains.
26:00Beneath The Remains, o que que tem?
26:02Ah, não sei, é...
26:03Não sei se é uma sobra, acho que é um todo,
26:06não tem sobra.
26:07É 100%, sabe, é viver a arte.
26:12A arte é fundamental pra unir as pessoas.
26:15O heavy metal, ele é o estilo mais democrático que tem,
26:18mais inclusivo que tem,
26:20mais popular que tem no mundo.
26:22Você tá me dizendo, é, eu não termino consumido,
26:25eu termino inteiro.
26:26Exato, inteiro.
26:28Completo.
26:28Não tem sobra, tem um todo.
26:31Ou é tudo, ou é nada, né,
26:33você tem que se colocar na situação
26:35e ver como um privilégio coisas que acontecem na vida
26:38e não tentar ficar evitando
26:41certas coisas, principalmente assuntos polêmicos, né,
26:46e, sei lá, assim, viver um passo de cada vez, né,
26:52eu acho que investir em você, saúde, mental, terapia, exercício,
26:57nutrição, sabe, ver o que você tá comendo.
26:59Hoje em dia tem muito veneno, né, muito lixo pra gente comer
27:03e há possibilidades, né, de a gente voltar a ter uma alimentação um pouco mais saudável.
27:07Enfim, em vários aspectos, né, leitura, amizades.
27:12O que você tá lendo de bom pra indicar?
27:15Putz, eu tô lendo algumas coisas.
27:17Eu tô muito interessado nessa coisa da consciência como sendo uma coisa universal, né,
27:23a consciência das plantas, tudo que é vivo tem consciência.
27:26Não é uma coisa que nasce do cérebro, né,
27:28não é um privilégio humano, vamos dizer assim, né.
27:31Então isso tem me interessado muito sobre...
27:36E os assuntos morte também, é uma coisa que eu leio muito.
27:39Tô lendo muito o Sêneca agora, né,
27:41que fala isso já mil anos atrás, sei lá quanto tempo,
27:44que fala sobre a morte, ele escreve várias situações, né,
27:48cartas pra mães e pessoas falando sempre desse assunto de suicídio,
27:53de um monte de coisa, né, que é muito interessante também.
27:56E, cara, ele tem um livro do Rick Rubin também, né,
28:00que é um produtor fantástico, que é um livro espetacular pra qualquer artista.
28:05Não somente músicos, mas é um livro onde ele é muito mais profundo
28:09do que as tecnicalidades e estilos, né.
28:12Ele vê a arte como uma expressão humana realmente.
28:16E é espetacular.
28:17Andréas, obrigada.
28:19Eu tenho vontade de ficar aqui pra sempre, conversando três horas.
28:24Sempre não, sempre não.
28:25Não, não, sempre acaba.
28:27Então vou falar de novo.
28:28Andréas, eu tenho vontade de ficar aqui por três horas.
28:30Vamos deixar um espaço bem delimitado também pra gente não...
28:34Mas conversando com você, porque assim, é tanta coisa que a gente tem pra falar
28:38e é tão bom te ouvir, é tão inspirador.
28:40Então obrigada, obrigada por ter topado esse papo.
28:43Eu que agradeço o espaço aqui, parabéns aí pela iniciativa e...
28:48Eu agradeço muito ter sido convidado e a conversa foi muito boa.
28:52A próxima a gente faz uma de três aí, tranquilo.
28:54Fechado, ó, queremos um podcast do In Off, que é a continuação, hein.
28:58É isso aí.
28:59É isso aí, obrigada, Andréas.
29:01Obrigada, obrigada, obrigada.
29:03Valeu.
29:03E pra você que nos assiste, obrigada por acompanhar esse primeiro episódio.
29:08Na semana que vem a gente tem mais carreira, mais história, mais bastidor, mais polêmica,
29:13porque aqui a gente não tem medo de colocar no ar o que os nossos convidados só contam
29:17In Off.
29:18Até a próxima.
29:18A opinião dos nossos comentaristas não reflete necessariamente a opinião do Grupo Jovem Pan de Comunicação.
29:38Realização Jovem Pan News
29:40Realização Jovem Pan News

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