Vendedor ambulante é impedido de trabalhar em calçada pública e relata perseguição
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NotíciasTranscrição
00:00Primeiramente, eu não vou chamar o nome de ninguém, de nenhuma empresa.
00:04Eu sofri uma perseguição por conta de uma grande loja de departamentos aqui em Cascavel,
00:12onde eu fui impedido de fazer algo que é digno meu, que é de trabalhar, conquistar os meus deveres.
00:18Eu moro aqui três anos em Cascavel, sou residente de Cascavel, natural de Cafona de Paraná.
00:23Desde então, eu moro aqui, trabalho aqui, estou me firmando na Oeste, em pedagogia,
00:28e simplesmente eu vendo paçoquinhas, essas paçoquinhas que eu fiz com muito amor,
00:33eu elaboro com muita franqueza, muito carinho.
00:36Eu as vendo não somente para me manter vivo, para garantir a minha sobrevivência,
00:42mas ao mesmo tempo, eu vendo para juntar dinheiro e pagar a minha formatura.
00:47Então, dessa forma, eu fui impedido não somente por essa grande loja de departamentos aqui em Cascavel,
00:51mas também diretamente por parte da prefeitura,
00:56onde me impede, através de burocracias, de impedir,
01:01onde eu até mesmo risquei a autorização para vender até a prefeitura,
01:07fui retirar os papéis cabíveis, onde poderia vender,
01:13e onde até mesmo o profissional citou que,
01:15através desses papéis, eu já estaria garantido e apto para realizar as vendas.
01:20Você conseguiu uma autorização para a venda desses produtos.
01:25E conta para a gente onde que você foi impedido de vender.
01:31Eu não vou estar podendo notificar especificamente o local,
01:35mas foi em uma calçada pública,
01:37onde sabemos que na calçada todos têm o direito de ir e vir,
01:40de acordo com o Código Civil, no artigo 90,
01:43então todos têm o direito de exercer atividade na calçada pública,
01:48e eu fui impedido de trabalhar e de garantir essa dignidade de sobreviver,
01:54de garantir o meu futuro, o meu sonho,
01:56e fui impelido por parte tanto desse grande departamento logístico
02:00e por parte do pessoal da prefeitura,
02:04onde eu fui atrás, retirei esses documentos aqui,
02:07onde garantiam a minha venda como vendedor ambulante,
02:10apenas para exercer essa atividade,
02:12para poder juntar dinheiro e pagar a minha formatura.
02:14Fui atrás disso e, no fim das contas, eu acabei ainda sendo humilhado.
02:18Havia dias já que a determinada empresa
02:21foi atrás da prefeitura,
02:23buscou, claro, totalmente os seus direitos,
02:26de tentar reivindicar o direito de eu vender num espaço público,
02:31alegando, então, que aquele espaço, aquele perímetro,
02:34era de total responsabilidade da empresa,
02:36onde, na verdade, como a empresa também paga o imposto,
02:40onde eles alegam que era a calçada,
02:43também eu pago esse imposto onde eu estava vendendo,
02:46onde eu estava exercendo meu trabalho,
02:47dignidade para sobreviver e pagar minha formatura.
02:50E isso vinha acontecendo com algumas represárias,
02:55por parte da empresa.
02:56Os seguranças da loja te...
02:59Os seguranças e alguns entes da loja,
03:02de maior cargo, vieram toda vez me intimidar,
03:06pedindo os papéis que eu mostrassem a eles,
03:09sendo que esses papéis não competem.
03:11Eu mostraram a eles, mas sim a órgãos apenas públicos,
03:14órgãos fiscais, como, por exemplo, os fiscais da prefeitura
03:17e outros órgãos públicos, e não a eles.
03:21Então, era uma forma de tentar repreender
03:24e não deixar com que eu vendesse,
03:25tanto que nenhuma outra pessoa também era autorizada a vender ali.
03:28Ao passar ali também, ela era sempre repreendida.
03:33E esses acontecimentos vinham acontecendo,
03:35e no começo do ano eu vim, busquei meu direito.
03:37Então, todos os dias que eu ia vender,
03:39eu fui sofrendo com esse fato, com esse acontecido.
03:44Até que então, eles notificaram a prefeitura,
03:46veio o fiscal, realizou uma notificação que o fiscal fez.
03:49Ela é uma notificação que estabelece que
03:53eu preciso de um outro tipo de alvará
03:55para vender fixamente no local.
03:57Isso foi um dia que o fiscal veio.
04:01No outro dia, eu peço assim,
04:04há tantos vendedores aqui no Cascavel,
04:06há tantas outras preocupações,
04:08por que que os fiscais, todos os dias,
04:10eles iriam me procurar para impedir de algo que eu...
04:14Não é um crime trabalhar.
04:16Não é um crime que eu estou cometendo.
04:18É um crime eu vender essas paçocas?
04:20É um crime eu participar do meu trabalho?
04:22É um crime eu fazer algo que vai garantir o meu sonho,
04:25o meu futuro?
04:25Então, eu penso assim,
04:28através dessa notificação,
04:30eu não fui procurar, logicamente,
04:33o responsável para estar realizando esse tipo de alvará,
04:36que é um alvará fixo.
04:38No outro dia, o mesmo fiscal compareceu ao estabelecimento
04:40e com um tom um pouco mais alterado,
04:43também defendendo veementemente que aquele espaço
04:46era de propriedade da loja,
04:47alegando também que, se eu continuasse ali,
04:52chamaria a guarda municipal para que tomasse as medidas cabíveis.
04:56Eu penso assim,
04:57a guarda municipal não destina apenas à segurança urbana
05:00e a outros detenimentos públicos?
05:03Por que que eles iriam me preocupar com o trabalhador,
05:04com o jovem universitário como eu,
05:06que está impedindo eu de trabalhar?
05:08Então, eu penso isso como uma perseguição,
05:11é uma forma de desabafo meu,
05:12tanto que eu publiquei um vídeo nas redes sociais
05:14desabafando dessa forma.
05:17E eu fico feliz, ao mesmo tempo triste,
05:19que alcançou muitas pessoas
05:21que também entenderam e se conectaram com a minha história,
05:25porque não sou eu apenas que passa isso todos os dias,
05:29não é só aqui no município de Cascavel,
05:30existem outros municípios também que acontecem esse mesmo fato,
05:34a nível nacional também.
05:36Então, a gente acaba sendo impedido de fazer o básico,
05:38que é sobreviver,
05:39por eu ser pobre, estudante, acadêmico,
05:42estudo em universidade pública,
05:43e eu estou batalhando por um sonho,
05:45e sobrevivência também,
05:47pago aluguel, pago luz, pago água,
05:50e estou sendo impedido e repelido de fazer esse ato.
05:54Então, você espera que isso não aconteça com outras pessoas?
05:57Não somente que não aconteça mais,
06:00mas que exija respeito,
06:01é que quando a próxima pessoa ou os fiscais viram um trabalhador,
06:05não possa vir apenas ali uma pessoa que está cometendo um crime,
06:08ali há uma pessoa que está trabalhando, batalhando,
06:11ninguém sabe no nosso dia a dia,
06:13como a gente acorda,
06:14como que a gente vai enfrentar as pessoas,
06:16a gente não enfrenta só os não,
06:17os não é algo tão básico para a gente que a gente é acostumado,
06:21recebemos, na maioria das vezes, acusações, informações,
06:24pelos simples fatos de estar na rua,
06:26a gente enfrenta sol quente,
06:27a gente enfrenta frio,
06:29a gente enfrenta diversas situações climáticas,
06:31situações ambientais,
06:33ou talvez a sociedade que nos difama,
06:36mas a gente suporta tudo isso,
06:38porque a gente quer realizar o nosso sonho,
06:40o nosso objetivo,
06:42e não é algo que eu vou fazer para sempre,
06:43isso não é algo que eu vou estar o tempo todo realizando,
06:46eu também pretendo exercer o meu ofício,
06:48quanto ao meu curso,
06:49eu pretendo ser professor,
06:52mas é um momento difícil que eu estou passando,
06:54de desrespeito mesmo,
06:55e também eu estou oferecendo a minha pessoa como porta-voz
06:59para outros vendedores aqui na cidade de Cascavel.