Mulher denuncia caso de injúria racial em ônibus do transporte público

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Transcript

00:00Eu tava pegando um ônibus do Terminal Nordeste pra ir pro Terminal Oeste

00:04e eu sentei numa cadeira, do meu lado não tinha ninguém, na minha frente não tinha ninguém

00:10e na minha diagonal tinha uma senhora, uma senhora branca, do olho azul, do cabelo branco

00:14eu até cheguei a olhar pra ela e pensei, nossa, ela é bonita, né?

00:18Só reparei nela mesmo e fiquei mexendo no celular

00:21e em determinado ponto o ônibus parou, ela levantou, me entregou um bilhete e desceu do ônibus

00:27não falou nada, só entregou e saiu

00:29e no bilhete tava escrito

00:31antes de descer, limpe o banco pra que outra pessoa não sente-se suje

00:38e aí no primeiro momento que eu li, eu não entendi porque a minha calça não estava suja

00:44o banco não estava sujo, não tinha nada ao meu redor que estivesse sujo e nenhuma outra pessoa

00:49mas tudo bem, eu joguei o bilhete fora, tirei foto e mandei pras minhas amigas

00:53e aí as minhas amigas me questionaram, nossa, será que não foi um caso de racismo?

00:57porque se não tinha nada sujo, só tinha você no banco?

01:00provavelmente ela estava falando de você

01:02eu falei, nossa, realmente?

01:04aí me deu um baque porque isso nunca tinha acontecido comigo

01:07porque a minha pele não é tão retinta

01:09então por isso que no primeiro momento eu não pensei num caso de racismo

01:13mas aí eu cheguei em casa, conversei com meu irmão

01:18e eu fui orientada aí pra polícia, pra abrir um BO, pra tentar buscar imagens dessa senhora

01:25pra fazer alguma coisa sobre essa situação pra não passar em branco

01:29e eu fui na polícia, perto da Big Pão ali, conversei com uma das policiais

01:34ela super me ouviu, compreendeu a situação e falou pra eu ir até a 15ª

01:41pra eu conseguir abrir o BO, pra eles solicitarem as imagens

01:45e antes disso eu até passei no terminal, conversei ali na guarita com a mulher

01:50e ela falou que ali eles não tinham a imagem, que deveria ser pedido pra polícia mesmo

01:55daí eu falei, tudo bem, eu saí com meu patinete daqui da região, perto da Big Pão, da Unipar

02:01até a 15ª, perto do Cirunardi

02:05quando eu cheguei no local, eu fui entrar e eu fui olhar pra ver se precisava de alguma senha

02:11e a primeira coisa que eu escuto é o policial da recepção falando

02:15deixa esse troço lá fora

02:16tá bom, eu deixei o meu patinete, né, o meu meio de transporte lá fora

02:22voltei e falei, precisa pegar alguma senha?

02:26aí ele, não, o que que foi?

02:29aí eu falei, eu queria fazer uma denúncia

02:30aí ele, ah, então denuncie

02:32e nisso as mulheres que estavam ao lado dele deram risada

02:37o tom dele foi um tom de deboche, né

02:40e elas deram risada e eu, tá bom, eu já estava abalada com toda a situação

02:45por ter que estar indo atrás disso, coisa que eu não queria ter feito

02:48mas eu fiz, né, pra não acontecer novamente com outras pessoas

02:52e nisso eu expliquei pra ele o que aconteceu no ônibus

03:00eu falei do bilhete

03:01e ele falou que ele não podia fazer nada

03:05que isso era, que eu deveria ter sido, ter pegado em flagrante

03:10que isso era uma agulha no meio de um palheiro

03:13que ele não poderia fazer nada disso

03:15elas deram mais algumas risadas no meio dessa situação

03:20eu peguei e saí, porque, né, vou fazer o que então?

03:23saí, fiquei abalada, liguei pro meu irmão, chorei

03:26e eu voltei

03:28ah, na verdade, antes de sair, ele falou

03:31olha, a policial que falou pra você vir aqui

03:34estava te sacaneando

03:35porque não tem nada que a gente possa fazer

03:37beleza, eu saí

03:39e quando eu retornei, eu fui pedir o nome dele

03:41falei, viu, você pode me informar o seu nome?

03:44aí ele, pra quê?

03:46eu falei, ah, eu vou voltar lá na policial que mandou eu vir até aqui

03:50pra entender a situação, o que eu posso fazer, né

03:53ele, não, eu não vou passar, não

03:54e nisso a mulher do lado

03:56pegou e falou assim, olha

03:58você se considera negra?

04:01aí eu fiquei em choque com a pergunta

04:03não falei nada

04:04e ela falou, como que você tá registrada?

04:09aí eu falei, ah, mas é que eu preciso tá registrada

04:11nisso eles me cortaram

04:13ele falou, olha, eu não vou passar meu nome

04:15se você quiser, você fala pra moça lá

04:17da delegacia, vira até mim

04:19que eu passo meu nome pra ela

04:21eu falei, ah, então você não pode me passar seu nome

04:23não, aí eu, por que não?

04:25porque eu não quero, certo?

04:27aí eu falei, certo então

04:28então dá licença

04:30eu peguei isso aí

04:31um adendo

04:32quando eu voltei pra pedir o nome dele

04:34a mulher que estava ao lado dele ainda falou

04:37olha lá, voltou

04:38como assim, se estivesse de saco cheio

04:40por eu voltar pra encher o saco novamente

04:44então assim, foi um descaso

04:46eu me senti humilhada

04:48porque alguém que vai fazer uma denúncia

04:49o mínimo que se espera é um acolhimento

04:51é dar informação sobre o que pode ser feito ou não

04:56não me humilhar e falar pra

04:58que não pode ser feito nada sobre isso

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