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  • há 5 dias
Adoção: mães compartilham como se prepararam para a chegada dos filhos

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00:00Você sabia que, de acordo com os dados do Conselho Nacional de Justiça, existem cerca de 5.242
00:13crianças e adolescentes que estão prontos e disponíveis para adoção? Ao mesmo tempo,
00:18mais de 33 mil pretendentes que estão habilitados para adotar. É engraçado porque existe um
00:24desequilíbrio nessa conta, esses números não batem. Normalmente, o desejo daquelas pessoas que
00:30estão habilitados para adoção, são pessoas que procuram por meninas brancas, com menos de 2 anos,
00:36geralmente que não possuem irmãos, e essas são as características mais procuradas entre essas
00:42pessoas que estão na lista de adoção. Pensando nesses dados, pensando nessa diferença, nesses
00:47números que tantas vezes não batem, que hoje a gente tem um papo muito legal sobre adoção no Brasil,
00:52e como a adoção acontece para tantas famílias e pode acontecer para você. A gente trouxe duas
00:57convidadas maravilhosas, eu vou começar apresentando uma delas hoje aqui, vou trazer para vocês.
01:01Eu estou com a Maíra, ela é mãe de dois bebês breves, vai explicar isso para a gente também,
01:06e é mãe via adoção da Maria, uma menininha linda. Além disso, ela é doutoranda em psicologia e é
01:13psicóloga na Unesp e também é pesquisadora no campo de saúde mental e parentalidade,
01:18co-idealizadora do Instituto Doulas de Adoção Brasil. E é com ela que a gente vai conversar hoje,
01:24além de uma outra convidada, que depois a minha amiga Lu vai apresentar também. Maíra,
01:27muito obrigada pela sua presença aqui, a gente está super feliz, acho que tenho certeza que o papo
01:31de hoje vai ser muito rico.
01:32Muito obrigada, Breza, eu que agradeço, uma alegria estar aqui com vocês hoje.
01:35Imagina, a alegria toda nossa. Lu, por favor, faça as honras da nossa outra convidada.
01:39Sim, estamos aqui, eu adoro, e até é bom a gente explicar um pouco, a gente está aqui com a Ana Cunha,
01:44primeiramente, é o nome dela, essa graça de pessoa, que ela é mãe, ela é doula de adoção.
01:50E aí, quando eu falei, vamos explicar um pouco, até falar sobre doulagem também, acho que aqui na volta
01:54a gente nunca falou sobre doulagem, doulagem que fala, né?
01:57E aí, tem a doula mais tradicional, enfim, né, que é pro parto, e a doula de adoção, que é assim,
02:04um trabalho muito lindo, que a Ana Cunha faz, ela é casada há 18 anos, ela teve uma perda gestacional
02:10na oitava semana, né, descobriu que ela e o marido tinham problemas ali, dificuldades na fertilidade,
02:16e tiveram depois disso ainda, a primeira filha, que hoje tem 11 anos, né, como é o nome dela?
02:22Não tem o nome dela aqui.
02:23Beatriz.
02:24A Beatriz, e depois a segunda filhinha, que chegou via adoção, que é a...
02:28É a Amandoca, Amanda.
02:29Ai, delícia! Muito bem-vinda, obrigada.
02:32Muito obrigada, Lu, obrigada, tô honrada com o convite.
02:35Vai ser um papo muito legal, e eu vou só deixar também uma informação,
02:38que eu acho que eu não tinha trazido também aqui no Na Volta, que eu sou filha adotiva também.
02:42Então, é uma conversa que, pra mim, pessoalmente, me atravessa, me toca muito,
02:46e muito bacana saber que hoje, né, a gente tem um cenário em que as pessoas se preparam mais,
02:52tem mais informação, na época em que eu fui adotada, era muito comum a adoção à brasileira,
02:56como se falava, né, enfim, e você se preparar, não só pra receber a criança com enxoval,
03:02mas emocionalmente, tudo, né, que precisa ter ali, né, a criança ou o jovem, enfim.
03:08Vamos nessa?
03:09Vamos! O papo de hoje vai ser maravilhoso.
03:11Maíra, quero começar com você, quero que a Ana me conte depois também,
03:14como que a adoção chegou na sua vida, como que foi essa experiência, enfim,
03:17como que a Maria chegou pra você?
03:18Eu costumo falar que eu me tornei mãe antes da chegada da Maria, né,
03:23porque quando, em 2011, eu e meu companheiro André, que a gente tá juntos há quase 20 anos,
03:27a gente decidiu que a gente queria aumentar a família,
03:29a gente foi pra via biológica, tida como natural,
03:33mas aí a gente viveu uma primeira gestação, então foi uma alegria,
03:37essa primeira gestação, depois de um ano de tentativas, né,
03:40as tentantes que estão tentando, né, engravidar,
03:43e aí eu tive uma perda também, com oito semanas,
03:47e aí isso foi muito difícil, eu entrei num processo de luto bem intenso,
03:52na época eu já estudava, inclusive, a questão da psicologia do luto,
03:55do luto perinatal, que eu trabalho com isso até hoje, depois eu posso contar,
03:59e aí um ano depois eu engravidei novamente e vivi uma nova perda.
04:03E aí depois disso eu falei, não quero passar por isso de novo, né,
04:07essa questão de vivenciar as perdas sem um diagnóstico definido,
04:10é muito difícil pra nós mulheres, com toda essa tecnologia que existe,
04:14e a gente não consegue descobrir porquê que a gente perde,
04:17porquê que a gente, às vezes, não engravida.
04:20Hoje tem muitos recursos, mas mesmo assim é um processo emocionalmente muito difícil.
04:25Nesse momento eu conheci uma família que recebeu um filho pela adoção,
04:29e me abriu muitas portas, muitas janelas,
04:33consegui ver, né, um sol entrando na nossa vida, na nossa casa,
04:38e eu falei, nossa, a adoção é possível.
04:39E aí eu comecei a estudar, em 2015 a gente se habilitou,
04:43eu e meu companheiro, em 2016 a gente fez todo o processo,
04:46que a gente vai contar um pouquinho aqui como funciona,
04:49no Sistema Nacional de Adoção, na época era CNA, Cadastro Nacional de Adoção,
04:53mas a gente fez esse cadastro e em 2018 chegou a Maria.
04:57Então eu falo que, né, eu me tornei mãe dos meus bebês breves,
05:01que é o Bernardo e a Alice, antes da chegada da Maria, né.
05:05Então a chegada da Maria me presentificou com o cuidado, né,
05:10que a gente deseja ser pai e mãe pra cuidar de outra pessoa, né.
05:13E aí a Maria me trouxe esse presente do cuidado, né.
05:16E assim eu me tornei mãe pela via da adoção, né, da Maria,
05:20que hoje tá com sete anos.
05:21Ai, que demais. E você, Ana, conta pra gente.
05:24Então, o meu processo foi um pouquinho diferente, né,
05:27eu não tinha muito essa...
05:31A gente mais jovem, assim, né, não tem muito o hábito de ficar refletindo, pensando,
05:35pelo menos na minha época, né, não era como hoje, né,
05:38que as pessoas tomam mais tempo refletindo sobre as suas questões, os seus desejos, né.
05:43Então assim, ah, bom, vou ser mãe, não vou ser mãe, não era uma coisa que me atravessava tanto assim,
05:47fui seguindo o caminho, né.
05:50E aí quando a gente, de fato, começou a pensar em ter filhos, né,
05:54a gente teve esse acontecimento, né, essa perda gestacional.
05:58E aí a gente se deparou, bom, como vamos seguir daqui pra frente e tal, né.
06:02E a adoção sempre foi uma ideia, assim, que trazia uma coisa boa pra gente
06:09quando a gente pensava sobre isso, assim.
06:10Ainda confesso que trazendo alguns desses padrões que a gente acaba repetindo, né,
06:17sem muita reflexão, mas era uma coisa simpática, vamos dizer assim, né.
06:21Eu lembro que teve uma, quando eu era mais jovem, o meu pai, ele não teve oportunidade de estudar, né,
06:28e ele foi fazer a faculdade dos sonhos dele quando ele já era mais velho, né,
06:30já tinha, sei lá, cinquenta e poucos anos.
06:33E ele não tinha muitas manhas de escrita, então ele me pediu pra ajudá-lo, né,
06:37apoiá-lo com a escrita do TCC, de conclusão de curso da faculdade dele, né.
06:41E ele escolheu o tema da adoção, então eu já novinha, assim, vinte e poucos anos,
06:46eu tava apoiando ele nessa escrita, então foi quando eu conheci mais,
06:49aí quando eu e meu marido, a gente se conheceu, a gente também trocou essa ideia sobre isso
06:53e foi deixando.
06:54E quando esse acontecimento veio, né, da perda, a gente pensou,
06:58bom, o desejo de filho se materializou aqui, né, a gente tá sentindo vontade de ser pai e mãe.
07:05Vamos procurar, então, uma possibilidade, né, pra isso.
07:08E a gente foi atrás de todos os trânsitos, depois a gente pode falar mais sobre isso.
07:11E aí, então, a gente entrou, fez o cadastro e a Amandoka chegou.
07:17Neste meio tempo, né, de fila, a gente acabou engravidando, assim, né, sem muita explicação, né.
07:25Então, a Bia veio primeiro, né, exclusivamente biológica e depois a Amandoka chegou.
07:30Que legal, Ana. Fala pra gente quantos anos que a Amanda chegou pra você?
07:33A Amanda tinha oito meses quando chegou pra gente.
07:36Pititica!
07:36E a Maria nove, né, a Maria nove meses.
07:39Mas foi um grande susto, não sei como foi pra você, Ana.
07:41Pra mim foi um grande susto, porque o nosso perfil era de criança até seis anos.
07:46Isso, é.
07:46E aí, a gente tava se preparando, eu mesma tava me preparando pra um menininho,
07:49pra eu brincar, levar no clube, jogar futebol, assim, trocar ideia.
07:53As nossas idealizações, né.
07:54É, que faz parte.
07:56E entra nisso que foi a abertura do episódio, né,
07:58de que a gente tem um contingente muito grande de crianças maiores,
08:01que estão disponíveis pra adoção.
08:02Mas a grande procura é por bebê, por meninas que não têm irmãos.
08:06E aí, chegou pra você, exatamente, você que tava aberta pra, né, outras opções,
08:09chegou exatamente um bebezinho.
08:11É, Bres, quando a gente estuda, quando a gente mergulha pra entender esse universo da adoção das crianças
08:16que existem e que estão disponíveis pra adoção,
08:18porque tem todo um trâmite jurídico e legal pra essas crianças estarem disponíveis pra adoção.
08:22Então, não é qualquer criança que tá acolhida, seja em acolhimento institucional ou familiar,
08:26que está disponível pra adoção.
08:28Por isso que, inclusive, a gente não recomenda que as pessoas vão até um abrigo, por exemplo,
08:32um acolhimento institucional, pra adotar com esse objetivo.
08:35Porque tem muitas crianças que estão ali como medida de proteção, de cuidado,
08:38e que estão visitando suas famílias, estão recebendo visita das suas primeiras famílias,
08:43das suas famílias de origem.
08:44Então, esse número, ele é muito menor.
08:46Tem mais de 30 mil crianças acolhidas no Brasil hoje.
08:48E esse número que você trouxe de 5 mil crianças disponíveis pra adoção, né?
08:53Porque tem todo esse processo legal.
08:55Então, quando a gente começa a estudar, a gente amplia esse nosso ideal de esperar um bebê,
09:01uma criança, e que é muito alimentado pelo imagético midiático, né?
09:06Da novela, que vai aparecer um cestinho na nossa porta, e que a adoção não é mais isso.
09:11Se isso acontecer com alguém que tá ouvindo a gente, é uma adoção ilegal.
09:14E não deve dar prosseguimento.
09:17É importante que procure uma vara da infância e juventude,
09:20porque essa criança vai ser entregue pra pessoa ali da fila, do cadastro,
09:25que tá preparada pra adoção.
09:26Então, quando a Maria chegou aos 9 meses, foi um...
09:29Eu vivi um processo de luto, inclusive, né?
09:31Foi aí que eu me dei conta que eu tava vivendo, inclusive, um porpério emocional,
09:35não só de adaptação da chegada de uma criança,
09:38que qualquer chegada de uma criança envolve uma adaptação física, emocional e social,
09:42mas eu me dei conta desse processo interno mesmo, emocional, muito profundo.
09:47De falar, nossa, eu esperava que eu ia cuidar de um jeito e eu vou ter que cuidar de outro.
09:52Claro que é um aprendizado, a gente nunca sabe cuidar daquela criança com aquela necessidade.
09:56Então, eu aprendi a ser mãe da Maria com a chegada dela e com todo esse processo de luto,
10:02das idealizações e de ajustar.
10:05E isso leva tempo, né?
10:07Hoje, eu estudo o porpério emocional na adoção e isso leva pelo menos um ano.
10:10Assim como o porpério biológico, que leva de dois a três anos,
10:13na adoção também a gente tem pelo menos um primeiro ano
10:16em que a gente precisa se ajustar internamente com essa identidade aí,
10:20que agora eu sou mãe da Maria, né?
10:22Agora eu sou mãe da Bia, da Amanda, da Bia, e agora mãe de duas, né?
10:28No meu caso, né?
10:29Depois de dois bebês que eu perdi.
10:32Então, nossa, como que eu integro também isso internamente, assim?
10:35E foi um luto.
10:36É importante a gente falar, porque não é, não toca sininho,
10:40não tem romantização, não tem um amor à primeira vista, não tem.
10:43No começo, você fala, nossa, tá, essa é a criança real,
10:47que é muito diferente da criança que eu imaginei todos esses anos na espera.
10:51Então, agora, como que eu aciono os recursos que eu tenho
10:54e como que eu aprendo outros?
10:55Aciono outros recursos pra cuidar dela da melhor forma, né?
10:59As práticas parentais, o cuidado respeitoso de uma criança de até um ano, né?
11:03A gente tem esse processo de troca de fralda, de conversa.
11:06A criança não conversa falando, mas ela conversa no choro, no olhar, nos gestos.
11:11Então, a gente teve que aprender a conversar ali, eu e ela, né?
11:16Na nossa família.
11:17E a Maria também veio de uma cidade do interior de São Paulo.
11:20Então, tem toda essa ambientação de clima de São Paulo,
11:23de morar num apartamento, né?
11:25Dessa nova, dessa mudança.
11:28Então, é um processo de adaptação grande pra criança, mas grande pra nós também.
11:32Porque é importante que a gente idealize essa criança que vai chegar,
11:35mas é importante que a gente deixe morrer essa idealização.
11:38Faça esse luto disso.
11:39Pra gente se abrir e estar disponível com responsabilidade
11:43pra criança que chega.
11:45Então, eu falo que a adoção é responsabilidade.
11:47É a gente, enquanto adultos, dessa relação, falar
11:50eu vou ser responsável por essa criança agora,
11:52pro melhor, pro pleno desenvolvimento dela, né?
11:56Em cada fase da vida que ela tá, né?
11:58E pra abrir mão também das nossas próprias idealizações, né?
12:01Porque é engraçado, porque muitas vezes a gente pensa na adoção
12:04e inicialmente no processo, vão me colocar à disposição, né?
12:08Pra receber essa criança.
12:10Mas muitas vezes a gente faz a idealização dessa criança que vai vir, né?
12:12Exato.
12:13Eu quero que ela seja assim, que ela faça isso, que ela faça aquilo.
12:15Então, por exemplo, você pode falar, tudo bem por mim
12:17se for uma criança mais velha, mas eu gostaria que tivesse tal traço.
12:20Eu gostaria que fosse um pouquinho parecida comigo.
12:22Eu gostaria…
12:23Eu acho que muitas vezes a gente acaba projetando isso também, né?
12:25É uma entrega total, né?
12:27É uma entrega total.
12:28E a gente vai elaborando esse luto ao longo da convivência com a criança, assim.
12:32Então, é um processo que precisa de cuidado, assim.
12:35Sim, Ana, eu queria saber como foi pra você a adaptação.
12:38Porque ainda tinha a sua filha.
12:39A Bia, né?
12:40A Bia, então foi uma adaptação familiar mais ampla, assim, né?
12:44Exatamente, exatamente.
12:44Então, essa questão, né?
12:47Quando a mandoca chegou…
12:49Eu vou fazer só um recortezinho antes, assim, que eu acho interessante de contar.
12:54Que é quando vocês falam, né?
12:55Da responsabilidade, né?
12:57E dessa disponibilidade que a gente tem que estar ali
13:00quando a gente se propõe a aparentar, né?
13:03Eu lembro do dia, né?
13:05Uma das memórias mais vívidas, assim, que eu tenho
13:07do dia que a gente trouxe a mandoca pra casa, né?
13:09E eu lembro de eu sentar, assim, no carro, ter colocado ela na cadeirinha, olhar pra trás
13:14e essa coisa do sininho, né?
13:16Que a gente fica procurando e que não tinha.
13:17E eu olhava, assim, ela olhando pra mim, assustada.
13:20Eu olhando assustada pra ela também.
13:22E eu falava assim, gente, mas o que eu tô fazendo mesmo?
13:25Como é que é isso?
13:26E aí, eu lembro de ter conversado comigo mesma e falava assim,
13:31confia no que você fez.
13:33Confia no desejo que você estabeleceu no seu processo.
13:37Se colocamos disponível e como adulto responsável, né?
13:40As coisas vão acontecer, né?
13:42E aí, quando a Amanda começa a fazer parte da nossa convivência, né?
13:46A Bia já estando lá, ela tinha a casa só pra ela,
13:50os brinquedos só pra ela, a atenção só pra ela.
13:53Então, assim, até que ela pudesse entender que ela ia ter que partilhar tudo isso,
13:59foi um processo.
14:00A gente foi elaborando junto com ela, né?
14:03Eu lembro de uma vez que ela até perguntou assim pra gente,
14:06mas mamãe, ela vai ficar?
14:08Ela não vai embora?
14:10Veio pra ficar?
14:11Sim, filhinha, veio pra ficar.
14:13Então, assim, são elaborações de uma...
14:15A Bia tinha quase três quando a Amanda chegou, né?
14:18Então, são elaborações de uma criança muito pequenininha também, né?
14:21E disputa de espaço, disputa de brinquedo,
14:24mas que você vai, ao mesmo tempo em que você percebe
14:26essa relação sendo nutrida e criada com os adultos,
14:33você consegue ver acontecendo ali entre as crianças, né?
14:35Então, eu vejo, a gente poderia ver, podia quase que tocar
14:39essa relação das duas se construindo e se consolidando.
14:44Com todos os desafios da chegada de qualquer irmão, né?
14:48Dessa coisa da disputa de atenção e tudo mais.
14:50É isso que eu ia falar, porque é muito comum qualquer criança
14:53ter ciúmes do irmão que chega.
14:54Eu acho que a única diferença é que a criança consegue materializar um pouco mais
14:58através da gestação, ver a barriga da mãe crescendo, ver as coisas chegando.
15:02Então, pra ela, não que vá ser fácil, mas já tem um pré ali.
15:07Então, por isso a importância até da doulagem, do trabalho da família,
15:09já ir preparando essa criança que vai receber o irmão do tipo, né?
15:12Você traz um ponto importante que, por exemplo, a equipe que nos acompanha,
15:17porque o meu processo é muito antigo, também a gente não tinha o SNA ainda e tudo mais,
15:21não tínhamos as doulas, né? Que depois a gente vai falar um pouquinho mais.
15:25Mas a equipe que cuidou do nosso processo, eles foram muito cuidadosos nisso, né?
15:29Então, eles foram nos orientando quando a Bia, a partir de quando a Bia poderia participar, né?
15:34Então, assim, em casa ali com a gente, a gente teve sempre essa conversa, né?
15:38Ela tava sempre a par de tudo que tava acontecendo e ia entendendo com a maturidade
15:42que uma criança de dois, três anos é capaz, né?
15:45Mas, depois, ao longo do processo, então, tipo assim, a primeira visita,
15:50eles pediram pra que ela não fosse, pra que a gente tivesse um momento,
15:53nós com a Amanda, pra que, né, pudesse estar toda a atenção voltada pra isso.
15:57E aos pouquinhos a Bia foi entrando, né?
16:00Até que, né, ela foi participando de algumas visitas no acolhimento,
16:03até que depois, em casa, tudo foi se desenrolando, né?
16:06Mas esse cuidado é muito importante desse preparo e dessa gradualidade
16:11nesse processo de aproximação.
16:13E falando do gap, voltando até um pouco, né?
16:17Hoje, a gente pode considerar que as pessoas estão mais abertas,
16:23o que que ainda é uma barreira, uma crença limitante, um mito, enfim?
16:28O que vocês acham que ainda dificulta as famílias a olharem pras crianças mais velhas,
16:33pros jovens, como uma possibilidade de parentalidade?
16:37A gente tem tempo?
16:40Não, eu acho que o cenário mudou muito nos últimos 10 anos,
16:43tanto que antes a gente, a expectativa era, a gente falava que a adoção de crianças maiores,
16:47ou antigamente, como adoção tardia, eram crianças a partir de 2 anos.
16:51Hoje, 10 anos depois, a gente tá falando de crianças com mais de 8, 8, 9 anos.
16:56Então, por exemplo, existem pretendentes pra crianças até 8 anos.
17:01Tem perfis difíceis de colocação de crianças, são com grupos grandes de irmãos, né?
17:08Crianças com alguma deficiência diagnosticada, né?
17:13E maiores que 8 anos.
17:15Então, acho que esse cenário vem mudando muito, né?
17:18É um trabalho também intenso dos grupos de apoio à adoção dos últimos 20 anos,
17:22de preparar as famílias e de colocar as famílias em roda pra conversar
17:25e pra ouvir histórias e pra se conscientizar sobre isso.
17:28Tem esse trabalho da sociedade civil com os grupos de apoio à adoção,
17:32que são mais de 200 no Brasil todo.
17:34Mas tem um processo de conscientização também sobre o que significa adoção.
17:39Porque antes era assim, aí vou lá, eu quero ser pai e mãe por motivos diversos.
17:44E sempre o foco na família lá atrás, né?
17:46Exato.
17:47A gente queria arrumar uma criança pra essa família, né?
17:50Pra atender o desejo desse adulto.
17:51Exato, gente.
17:51Eu quero ser pai e mãe, então vou lá e tem tanta criança.
17:54Só que ainda hoje a gente ouve, né?
17:56Não.
17:56Tem tanta criança disponível pra adoção, por que eu tô aqui esperando tanto tempo?
18:00Né?
18:00Porque não é pra garantir filhos pra nós, adultos.
18:03É pra garantir famílias para essas crianças que está no ECA, na Constituição Federal,
18:09né?
18:09Artigo 227, que a criança tem direito à convivência social, comunitária, familiar.
18:14E toda a sociedade é responsável pelo pleno desenvolvimento dessa criança.
18:19E a adoção, ela não é política pública.
18:21A adoção, ela é uma medida excepcional em último caso em que essa criança não pode
18:27ser, ter o seu desenvolvimento, ser criada, se desenvolver na sua primeira família, na
18:32sua família biológica ou na sua família extensa biológica.
18:35Então, a adoção, ela vem como última medida.
18:37Só que quando a gente tá desse lado, querendo ser pai e mãe, né?
18:40Pra nós é a primeira e a principal, né?
18:43E a gente espera que o nosso desejo esteja atendido.
18:46Então, acho que tem um amadurecimento enquanto sociedade, nesses últimos 10 anos, da gente
18:51entender, então, para que está a serviço da adoção, está a serviço das crianças
18:54e adolescentes.
18:55E como eu me preparo pra atender essas crianças que existem e que eu posso coexistir o meu
19:01desejo nesse processo, mas que eu preciso me preparar pra isso, pra atender essas questões.
19:07Mesmo porque as crianças que estão disponíveis pra adoção, elas também têm questões das
19:11suas histórias.
19:12Assim como nós temos nossas histórias de lutos e perdas, né?
19:15Ou esperas, angústias emocionais.
19:19As crianças também.
19:20As crianças também têm as suas questões.
19:21E quando elas chegam nas famílias, elas precisam também ser acolhidas nessas suas
19:25questões, né?
19:26Tem até uma coisa...
19:27Pode falar, pode falar.
19:28O que eu acho que é interessante nessa provocação que a Lu traz pra gente é que a adoção, ela
19:35coloca, assim, pra gente pensar em muitas interseccionalidades, né?
19:40Ela traz várias questões sociais que a gente tá se debatendo hoje, né?
19:45Então, questões de raça, de classe, de gênero.
19:48Ela escancara essas coisas.
19:49E aí, essas interseccionalidades fazem com que esse debate fique mais difícil, mais
19:55desconfortável, cheio de ruídos.
19:57E a gente precisa se disponibilizar.
20:00Se a gente quer, de fato, né?
20:03Desenvolver parentalidade, ser pai e mãe, a gente precisa estar aberto a se colocar
20:07nesse debate, sabe?
20:08A sustentar esses desconfortos, esses incômodos, esses ruídos.
20:12Falar dessas questões pra que a gente possa, de fato, ir dissolvendo esses nós, esses
20:18grumos, né?
20:20E a gente conseguir avançar.
20:21Então, muitos dos mitos, dos preconceitos que a gente vê dentro da adoção vem, é
20:26histórico.
20:27Vem de toda essa reprodução social que a gente vem fazendo ao longo das gerações.
20:31É até uma das perguntas que eu queria fazer pra vocês.
20:35Quando a gente pensa em adoção, pelo menos assim, eu me lembro de dois mitos imediatos.
20:39O segundo, eu deixo pra daqui a pouco, na próxima pergunta.
20:42Mas uma das primeiras é, nossa, mas adotar no Brasil é tão burocrático?
20:47É tão difícil?
20:48É uma lista tão gigantesca?
20:50Que se eu me colocar agora à disposição, eu vou receber uma criança daqui 10 anos.
20:54Isso é verdade?
20:55De fato, é tão burocrático como esse discurso, né?
20:59Que há tantos anos diz que é tão burocrático.
21:00De fato, é verdade?
21:02Quando a gente pensa em burocrático, a gente também tem uma crença sobre o que é burocrático.
21:05Que é demoroso.
21:07Que é demorado.
21:08É, mas a gente tem no Brasil o melhor processo, né?
21:11Assim, juridicamente, é um processo que ele tem que ser desafiador.
21:16E ele tem que ter muitas etapas.
21:17Quando a gente pensa em burocrático, acho que a gente pensa num processo complexo.
21:21Porque a gente tá falando de proteção às crianças e adolescentes.
21:23Não é simplesmente tirar uma criança daqui e colocar ali.
21:27Né?
21:27A gente não tá falando sobre...
21:28Não é uma pecinha, né?
21:29Isso, né?
21:30Sobre um objeto.
21:31Muitas famílias até falam, nossa, dá uma sensação que a gente tá escolhendo um objeto.
21:34Quando a gente...
21:34Na prateleira, quando a gente vai preencher o cadastro.
21:37Mas é, o que você dá conta?
21:38O que você dá conta no seu desejo?
21:40O que você dá conta na sua rotina?
21:41O que você dá conta na sua dinâmica?
21:43O que você dá conta nos seus recursos financeiros, sociais?
21:47Né?
21:47Porque existem muitas formas de ser família.
21:50Se é uma adoção interracial, como que eu me preparo antes pra essas questões de raça?
21:56Como que eu me preparo antes pra minha criança, inclusive, não sofrer preconceitos na minha família.
22:01Na minha família extensa.
22:02Como que eu escolho escola?
22:04Né?
22:05A escola que ela vai estudar.
22:06Como que eu trago representatividade pra criança?
22:10Né?
22:10Essa criança indígena, essa criança negra.
22:12Como que a gente vivencia isso enquanto mães brancas?
22:15Né?
22:15Que tem o sonho da maternidade.
22:17E aí tem uma discussão muito grande na hebreza, assim, quem pode ser mãe?
22:21Quando a Ana traz essa questão de gênero, de interseccionalidade de gênero, raça e classe,
22:26a gente vê hoje ainda a adoção.
22:28E isso é muito incômodo pra muitas pessoas que ainda estão com essa cortina.
22:32E a gente propõe no Dola de Adoção esse descortinar, né?
22:35Descer essa cortina dessas questões que são doloridas pra nós enquanto sociedade brasileira, né?
22:41Que viveu a colonização forçada, a escravização e processos muito dolorosos que até hoje reverberam nisso, né?
22:48Eu, como mulher branca, eu quero uma criança agora.
22:50E por que o judiciário tá demorando pra me dar uma criança?
22:53Tem tanta criança aí esperando e disponível, mas não é sobre isso.
22:57Né?
22:57É sobre um processo que precisa ser respeitado, né?
23:00Sobre um processo que, primeiro, essa criança vai ter garantido todos os seus direitos na sua família biológica,
23:07pra, então, a gente pensar num processo de proteção dessa criança pra adoção.
23:12Mas, mesmo se a gente falasse, nossa, a gente zerou a fila.
23:15Todas as crianças estavam disponíveis, todos os pretendentes foram atendidos.
23:19A adoção não deixaria de acontecer.
23:21E não é ser contra a adoção aqui, muito pelo contrário.
23:23Nós somos famílias adotivas, né?
23:25E a gente conversa muito sobre isso, eu e Ana, né?
23:28Nossa, como seria se essa desigualdade social, que é o pano de fundo das famílias perderem os seus filhos?
23:35Quem são as famílias que perdem seus filhos?
23:37Quem são as mães que perdem seus filhos e que esses filhos são adotados?
23:41Quando a gente vai olhar até a história, né, das nossas filhas, que é segredo de justiça,
23:45mas que a gente entra em contato com essa desigualdade social,
23:47é dolorido pra nós, enquanto mães, saber que o Estado falhou com essas famílias
23:52e que, por conta disso, eu sou mãe dessa criança hoje.
23:55E eu fico muito preocupada.
23:56Hoje, minha filha tem sete anos.
23:59Não sei, daqui a dez anos, quando ela assistia essa entrevista, né?
24:01Esse podcast, eu assistia nossas entrevistas,
24:04mas que ela sinta que a gente tentou reparar esses direitos dela que foram violados.
24:09Sim.
24:10Por mais que ela tenha sido adotada por uma família que é amorosa, respeitosa,
24:14e que a gente fala sobre o direito adotivo, a biografia adotiva,
24:17e que a gente trabalha cuidando que as famílias tenham essa consciência,
24:20eu sei que muitos direitos da primeira família dela, da família de origem, foram violados.
24:24Sim.
24:25E é muito dolorido pra nós, enquanto mães, quando a gente tem essa consciência.
24:29E a gente tenta levar essa consciência pras famílias.
24:32E de que é burocrático, precisa ser.
24:34Mas é burocrático porque a gente tem muitos ritos e processos
24:38que precisam ser respeitados de acordo com os direitos das crianças e adolescentes.
24:42E a adoção tá pra isso.
24:43Tá pra cuidar delas, não pra gente.
24:45Eu gosto de pensar, assim, que é a gente mudar o olhar sobre a palavra burocracia, né?
24:50Não é olhar como amoroso, quer pautar o meu desejo, quer dizer o que eu posso...
24:56É olhar pra palavra burocracia pensando em cuidado, né?
25:01Em garantir o direito das crianças.
25:03Eu acho que é só você mudar um pouco essa...
25:05Etapas que preservam a dignidade dessa criança, que a respeitam.
25:08Porque, né, são processos muito, muito intensos, né?
25:11Muito profundos, que mexem com todo mundo, né?
25:15E a gente entende todos os lados.
25:16Mas eu acho que é importante isso.
25:17A gente, enquanto adulto, fazer esse exercício, né?
25:20A gente tem mais capacidade, mais ferramenta emocional pra pensar isso, né?
25:24Mais repertório.
25:25Então, vamos tentar mudar um pouco, né?
25:27Olhar burocrático.
25:28Putz, é burocrático?
25:29É.
25:30Um pouco, sim.
25:31Mas precisa ser.
25:32Por conta do cuidado.
25:33Não porque é amoroso, só porque quero ser amoroso, né?
25:36Sim.
25:36Um pouco por aí.
25:38Eu quero fazer um parênteses.
25:40História pessoal, assim, né?
25:42Você falando dessa questão, da prateleira.
25:44E, cara, há 40...
25:45Eu vou fazer 40 anos, gente.
25:46Falei, pronto, falei.
25:48Fazer 40 anos.
25:49Com essa carinha de 29.
25:50Eu queria esse elogio, desculpa, não é brincadeira, não é por isso.
25:53Mas é pra dizer que há 40 anos atrás, quando eu fui adotada, olha só, meu pai, né?
25:57Eu fui adotada por uma família branca.
25:59E aí, a minha mãe biológica era uma mulher branca.
26:03A minha mãe adotiva só teve contato com a mãe, não teve contato com o pai.
26:07Ela dizia que esse pai, enfim, era um gringo, que se relacionou só uma vez com ele, né?
26:10E aí, quando eu cheguei na minha casa, a minha avó que foi no hospital, porque minha mãe já tinha contato com a minha mãe biológica, cuidou dela nos últimos meses de gestação e tudo mais.
26:20E aí, quando a minha avó foi me buscar na maternidade e eu cheguei em casa, a minha mãe ficou em choque.
26:26Porque, justamente, porque chegou uma criança negra e ela não tava preparada pra isso.
26:30É quase que eu não estava preparada pra ser uma criança de 9 meses.
26:34Ela não tava preparada.
26:35Ela, inclusive, minha família tava de mudança pro interior.
26:38Então, ela falou, ah, vou chegar lá com a minha família, com o meu filho maior, com a minha filha de colo.
26:42Ninguém vai questionar, ter preconceito, qualquer coisa.
26:45Então, quando chegou, ela...
26:47E essa história, minha mãe mesmo me contou.
26:49E aí, meu pai tava...
26:51Parece que ele tava na empresa, tava numa reunião.
26:52Ela ligou pra ele e falou, amor, ela chegou, né, coisa mais linda, mas ela é pretinha.
26:58Olha essa frase como é forte, né, mas ela é pretinha.
27:02E ele falou assim, tá, mas, né, porque ele percebeu que ela tava em choque e falou, o que você quer fazer?
27:08Quer devolver pra prateleira?
27:10Ele falou, ironicamente, né, com muitas aspas.
27:13Aí, ela disse que se emocionou, começou a chorar, falou, não, ela é nossa, é nossa filha.
27:18E aí, assim, começou a minha história, né, na minha família.
27:20E que consciência, 40 anos atrás, o meu pai teve dessa percepção que, putz, a gente tá em choque, é um luto.
27:29Não é o que a gente idealizou, o que a gente pensou.
27:32Vamos enfrentar preconceitos da família estendida, da escola, de tudo mais.
27:38Então, acho que gerou um pânicozinho ali neles, né?
27:40Mas que incrível, né, eu admiro muito, assim, esse jogo de cintura e essa inteligência emocional ali na hora do que meu pai, naquele momento, teve mais do que minha mãe.
27:50Pra poder falar, hello, não é uma prateleira, não é um mercado, né?
27:55Não devolve, né?
27:56Não tem, entendeu?
27:57Você não trata com essa devolução, né?
27:59É, não é um produto, né?
28:01Que loucura, que forte, né?
28:03Nossa, total, Lu.
28:05Quando, quando, desculpa, eu te cortei.
28:07Imagina.
28:07É, mas assim, isso que você traz me lembra muito a sensação que eu tive, porque a gente, né, se tornou uma família interracial quando a Amanda chega, né?
28:15E eu lembro exatamente disso, assim, sabe?
28:19Ela me convocou, assim, sabe?
28:21Não é convitinho fofo, ela me convocou.
28:23Ela falou assim, você vai ser minha mãe.
28:26E você precisa saber se é minha mãe.
28:28Você precisa se preparar.
28:29Então, aí que você começa, de fato, é...
28:32Eu falei, pô, eu preciso mergulhar.
28:34Então, eu fui estudar, eu fui buscar curso, eu fui buscar letramento.
28:37Pra que eu pudesse ser um anteparo pra proteger essa criança, né?
28:42Reconhecer, validar, porque a parentalidade é sobre isso, né?
28:45A gente validar os sentimentos dos nossos filhos.
28:48E se eu não busco um letramento racial, pra...
28:50Eu não vou sentir na minha pele nunca como isso é.
28:53Mas eu reconheço, eu acolho, eu valido e a gente lida juntos, né?
28:59Então, assim, eu senti muito essa convocação.
29:03Você precisa, você precisa fazer isso, né?
29:06E um pouco do nosso trabalho, enquanto doula, é isso.
29:09É trazer essa consciência pra sua família.
29:11Chamar as famílias nessa convocação mesmo.
29:13Vamos olhar pra essas questões e todas as outras interseccionalidades que vão atravessar a adoção.
29:19E eu acho maravilhoso essa oportunidade que a gente tem enquanto sociedade.
29:22A partir da maternidade, né?
29:24A partir da parentalidade, a gente poder se haver com coisas que a gente, muitas vezes, negligenciou.
29:30Total.
29:31E viveu numa bolha, assim.
29:32Sim.
29:33E que é muito, né?
29:35Assim, absurdo, inclusive.
29:37A gente não se haver com a branquitude.
29:39Não se haver com as questões de raça.
29:41E parar pra pensar quando preenche um papel e fala...
29:44Nossa, eu preciso escolher se eu aceito uma criança negra, indígena, amarela, branca ou somente branca.
29:50E se eu vou colocar ali somente branca, também eu me haver com isso, né?
29:53A Maria é uma criança parda.
29:55E ela fala...
29:56Mãe, eu não sou da mesma cor que você.
29:57Você sabe que eu sou mais pretinha, né?
29:59Meu cabelo é enrolado, mas...
30:00Então ela...
30:02Teve uma história que a avó deu uma roupa de branca de neve pra ela.
30:05E ela falou assim...
30:06Vó, mas você sabe que eu não sou branca de neve, né?
30:08Eu sou preta de neve, né?
30:09Ai, que amor.
30:10Então, assim...
30:11Pequenininha, três anos.
30:12Eu lembro dessa cena como se fosse hoje.
30:14Ela andando no shopping já com a roupa.
30:15Porque ela já quis sair da loja com a roupa.
30:17E ela...
30:17Ai, Maria, você tá linda de branca de neve.
30:19Ela, avó, você sabe, né?
30:21Sou pretinha de neve.
30:23Mãe, quanto vai lançar o filme da preta de neve?
30:25Porque lançou da pequena sereia preta que ela ama, né?
30:28Então essa representatividade...
30:29É muito importante.
30:29Ela é muito importante.
30:31Então a gente fala que além do letramento na adoção,
30:34que a gente precisa fazer, a gente precisa fazer um letramento racial.
30:36A gente precisa estudar sobre a branquitude,
30:39estudar sobre a interseccionalidade de classe.
30:43A gente precisa estudar sobre os nossos privilégios.
30:45E já que a gente tem essa consciência, por que não, né?
30:49Transmitir pra outras pessoas.
30:50Foi a partir daí que a gente começou a pensar como trazer mais pessoas
30:55pra ajudar a gente nisso, né?
30:57Quando a gente olha os números, mais de 30 mil pessoas na fila pra adoção,
31:02como que a gente traz essa consciência pra sociedade?
31:05Não só pra quem você quer ser pai e mãe por adoção,
31:08mas pro amiguinho, pai e mãe amiguinho da escola,
31:11pros professores, né?
31:13Pra as outras mães, pro grupo ali de mães, né?
31:16Quando a Maria chegou, eu sempre trabalhei com psicologia perinatal, né?
31:21Nos últimos 15 anos, e eu frequentava grupos de mães, só mães brancas,
31:25com bebês que não chupavam chupeta, que não mamavam na mamadeira,
31:28aleitamento exclusivo, parto natural.
31:31E aí chega eu, que não ia ter um parto natural,
31:35não ia ter um parto vaginal, não ia ter um parto domiciliar,
31:38muito provavelmente eu não ia amamentar,
31:39porque a amamentação também na adoção, ela também tem muitas questões,
31:43é desafiadora e acontece muito raramente.
31:46E aí eu me vi nesse grupo de mães, na Zona Leste de São Paulo, né?
31:51Nesse perfil, e eu falei, opa, também quero alguém que olhe pra minha maternidade.
31:56Minha maternidade está à margem, mas como que eu coloco a minha maternidade no centro?
32:00E aí foi aí que eu falei, eu quero uma doula.
32:02Porque eu formava doulas como psicóloga até hoje,
32:05eu participo do Instituto Poder do Partejar, da Comadre,
32:08que eu dou aula pra doulas.
32:10E eu falei, tá, cadê a doula que entende de adoção?
32:12Que não entende só de parto? Que não entende só de vínculo?
32:16Que não vai me julgar por minha filha estar na mamadeira e não no peito?
32:22Cadê essa doula?
32:25E aí eu encontrei uma entrevista da Mari Muradas,
32:28que é minha sócia no projeto.
32:29Ela já veio aqui na volta, na outra versão.
32:31Maravilhosa.
32:32Do estúdio.
32:34Aí eu encontrei uma entrevista da Mari Muradas,
32:36com um título super preconceituoso, inclusive, falando
32:38minha vida era triste, encontrei felicidade na adoção.
32:41Só que ela contava, ela odeia essa entrevista,
32:44desculpa, Mari, até te falar dela.
32:45Mas foi essa entrevista que eu,
32:47que ela falou que ela atuava como doula de adoção nos Estados Unidos.
32:51Principalmente fazendo a transição da família do bebê,
32:54da família biológica pra família adotiva.
32:56Então ela doulava o parto, como doula de parto.
32:59Só que ela também doulava a família adotiva ali no pele a pé,
33:01e no acompanhamento, na vinculação, nesse puerpério.
33:05Então ela já era uma pessoa que já tinha percebido que tinha o puerpério.
33:08E aí eu procurei a Mari, falei,
33:10Mari, eu tô na fila da adoção, eu quero uma doula.
33:13Você, né, doulou famílias e estados.
33:15Não, mas eu doulei de outro jeito.
33:17Enfim, me explicou.
33:18Falei, ah, não importa.
33:19Eu quero alguém que quando meu filho ou minha filha chegar,
33:21vai me entender, vai me acolher.
33:23Vou poder falar também, putz, tô com medo.
33:25Putz, não era isso que eu esperava.
33:27Que difícil, a família tá com preconceito, falando isso e aquilo.
33:31Porque a família sempre era assim, mas vai chegar bebê, né?
33:34Antes, quando a gente tá na fila, que a gente escuta.
33:37Mas vai chegar pequeno, porque aí você pode moldar, né?
33:40Que ainda tem esse imaginário social.
33:41Como é que pode o povo abrir a boca pra falar isso, gente?
33:432000 e...
33:44E aí, eu ficava muito incomodada com isso.
33:47Porque meu imaginário ia ser uma criança grande, assim.
33:50E até foi um pouco frustrante chegar um bebê e você falar
33:52Putz, tô alimentando essa coisa.
33:54É, é, é, é.
33:55Dá um pouco de raiva.
33:56Imagina.
33:57Maria, te amo.
33:58Mas, né, você fala, ai, né.
34:00Mas é isso, né.
34:01Nossa história.
34:03E aí, eu procurei a Mari.
34:04A Mari me enrolou por dois anos.
34:06Não sei se ela contou isso aqui, mas ela me enrolou por dois anos.
34:08E eu na fila da adoção.
34:09Nisso, a Maria chegou.
34:10E aí, eu falei, ó, agora você vai ter que me dou lá.
34:12Filha, filha, chegou, né?
34:13O pessoal lá das doulas de parto não manjam nada de adoção.
34:17Quando eu ia falar de adoção nas rodas, eu que tinha que ensinar.
34:20Nossa.
34:20Eu que ensinava, ó, o cadastro é assim, funciona assim.
34:23Ah, eu conheço fulano que adotou.
34:25E aí, vinham os preconceitos, os mitos.
34:28E aí, ela falou, tá.
34:30Ela também tava puérpera.
34:31O Tom tinha acabado de nascer.
34:32Ela também tinha perdido um bebê antes.
34:34E a gente tava se falando um pouco nas redes sociais sobre isso.
34:37E ela aceitou conversar comigo, né.
34:39Ela aceitou.
34:40Ela me acolheu.
34:41Ela falou, mas você sabe que você tá no puerpério, né.
34:42Eu falei, eu tô no puerpério?
34:45Sério?
34:45Ela falou, é.
34:46Eu já vi isso acontecer lá nos Estados Unidos.
34:48Porque eu tava, ao mesmo tempo, que muito criativa.
34:50Muito alegre em luto.
34:52Ao mesmo tempo, né…
34:53Ambivalente, né.
34:54Ambivalente.
34:55Assim, muito feliz, mas muito assustada.
34:56Com muito medo.
34:57Muito cansada, óbvio.
34:59Chegar um bebê ali de 11 quilos.
35:01Eu tive até um malé no braço.
35:03Porque eu ficava…
35:04Aí eu fui atrás de uma mochilinha.
35:06Pra poder fazer as coisas.
35:07Eu tive licença maternidade.
35:09Então, eu fiquei três meses exclusiva no cuidado com ela.
35:12E meu marido foi continuar a vida normal.
35:14Como se nada tivesse acontecido.
35:15Fazendo boxe até oito horas da noite.
35:17E aí, deu uma hora que eu falei pra ele.
35:19Hello, né.
35:20Tô aqui o dia inteiro, né.
35:21Porque eu tô de licença.
35:23Que eu tenho que cuidar sozinha.
35:24E eu falo que a ficha dele caiu um pouco depois.
35:27Mas a nossa, enquanto mãe, no exclusivo, no cuidado.
35:30Que a gente sabe que hoje as mães são as que mais ficam no cuidado, né.
35:34Integral das crianças.
35:36Foi muito difícil.
35:37E a Mari me acolheu.
35:39A Mari me ajudou a dar um nome.
35:41Aí eu comecei a pesquisar mais.
35:42Fora do Brasil tem estudos com famílias adotivas.
35:45Ou famílias homoafetivas que não gestaram.
35:48Mães que não gestaram.
35:49E que mostra que tem alteração de ocitocina.
35:52Né.
35:52Na chegada da criança.
35:53A partir do exame de sangue.
35:54E até exame neurológico muda as redes neurais.
35:58Muda o funcionamento do cérebro.
35:59Muda sono.
36:00Muda alimentação.
36:01Muda a relação social.
36:03A relação com a gente mesmo, né.
36:04Como que eu me identifico agora.
36:06Como esse ser social.
36:08Que deseja ser mãe.
36:09E que quer ser uma boa mãe.
36:10Mas que também tem esse cabo de guerra emocional.
36:13Entre, tá, mas e agora?
36:14Você não vai mais vir trabalhar?
36:15Você não tá mais disponível em todos os horários?
36:18À noite, né.
36:19Não tô.
36:20Tô no cuidado, né.
36:21Tô no cuidado integral.
36:22É um privilégio também poder fazer essa escolha.
36:26E não precisar terceirizar também.
36:28Não também fazer outras pessoas largarem seus filhos pra cuidar dos nossos filhos, né.
36:32Então, é um processo social muito importante.
36:35E aí foi aí que a gente criou o doulas de adoção.
36:37Porque eu falei, Mari, só nós duas não vamos dar conta.
36:40Quando a gente viu esses números.
36:41A gente falou, tem muita gente na fila da adoção.
36:43Se a gente contar pra alguém.
36:44E se alguém quiser doulagem, só nós duas.
36:46A gente não vai dar conta.
36:48Porque aí a gente formatou essa doulagem de parto com a doulagem de adoção americana.
36:54Pro modelo da adoção aqui no Brasil.
36:56Entendendo que a gente precisa falar de classe, de raça, de gênero, de privilégio branco.
37:01A gente precisa falar por que a adoção ainda acontece.
37:04Falar dos grupos de apoio.
37:05Então, juntar tudo isso, né.
37:07E aí a gente juntou tudo isso nas madrugadas puérperas.
37:11Com dois bebês.
37:12Madrugadas ativas, madrugadas on.
37:14Porque o puerperio é isso.
37:15O puerperio é muita alteração emocional.
37:17Mas ele também é muito criativo.
37:19Sim.
37:20É um momento que a gente tem uma janela de aprendizado muito maravilhosa.
37:23Só que a gente precisa ser acolhida.
37:25A gente precisa ter uma rede de apoio pra isso.
37:26Senão a gente não consegue sair do lugar.
37:28Sim.
37:29E aí a gente criou o doulas de adoção.
37:31A gente criou o instituto pra formar outras doulas de adoção.
37:34Foi a nossa primeira ação.
37:37Foi fazer uma roda pra escutar filhos adotivos.
37:40De falar, gente, a gente tá querendo cuidar das famílias.
37:43Pra famílias cuidarem melhor dos seus filhos.
37:45Faz sentido.
37:46Né.
37:46A Mari também tem um privilégio na história dela.
37:49Que a mãe dela é filha adotiva.
37:51Então a Mari também sempre lidou com a adoção de um jeito muito bonito.
37:54E eu falava, Mari, eu quero que minha filha entenda e olhe pra adoção como você olha.
37:59Né.
38:00Que a gente possa formar as famílias pras famílias perpetuarem isso com seus filhos.
38:04Então o instituto nasceu em 2019.
38:06Um pouquinho depois que a Maria chegou, em 2018.
38:09A gente tá aí há seis anos.
38:11São mais de cem doulas formadas no Brasil.
38:13Inclusive a Ana, né?
38:13Inclusive a Ana que veio com a gente.
38:16Que aceitou a convocação, esse convite.
38:19Que também é dolorido.
38:20É a gente se entrar em contato com as questões doloridas que a gente não olha.
38:24A gente tem doulas hoje em Portugal, no Chile, na Austrália.
38:28Né.
38:28Pessoas que também estão olhando pro cenário cultural.
38:30Porque também precisa de uma adaptação.
38:32E a gente tá acolhendo as famílias.
38:34Essa semana a Mari…
38:35Uma família que a Mari tá doulando há quatro anos.
38:38Recebeu a ligação, né.
38:39Então é o momento que a gente espera.
38:41Mas que a gente fala, agora o trabalho vai…
38:42É, agora é que começa.
38:44Agora é que começa.
38:45Agora é que começa.
38:45Porque agora é o processo de vinculação, é o processo de…
38:50E aí eu também fui estudar.
38:51Eu fui fazer um mestrado.
38:52Que eu falei, então tá.
38:53Se ninguém aqui no Brasil fala desse tal de puerpério na adoção com as mães que não gestam.
38:58Eu quero entrevistar as mães pra saber o que elas estão vivenciando.
39:01E aí eu entrevistei mães.
39:02Eu pesquisei sobre a saúde emocional das mães no primeiro ano da adoção.
39:06Principalmente em relação à ansiedade, estresse e depressão.
39:08E eu encontrei que o mesmo nível das mães com depressão pós-parto, por exemplo, a gente tem na adoção.
39:13Então existem mães com depressão pós-adoção, com um fator de ansiedade e estresse muito grande.
39:18Porque na adoção tem esse… Não tem como a preparação da gestação.
39:23A nossa preparação é diferente, mas não tem esses marcos.
39:26Então, de repente, você se vê como uma criança.
39:29Você tem o processo de aproximação, mas de repente.
39:32De repente, você recebe a ligação e você fala, tudo mudou, nada mais será como antes.
39:35E nada parecido com aquele cenário hollywoodiano.
39:38Não.
39:38O que você falou, os sinos batem.
39:40Aquela criança chega com estranhamento.
39:42A criança chega, você tá no meio de uma viagem de trabalho.
39:45Você tá, sei lá, sua empresa faliu.
39:47Né?
39:47Você tá desempregado.
39:48Às vezes se divorciando, né?
39:49Se divorciando.
39:50Às vezes você, como um casal, entrou no processo de adoção.
39:53Não é mais um projeto da conjugalidade.
39:56Aí você tem que se haver com isso.
39:58Precisa ajustar muita coisa, né?
39:59É um cenário.
40:00E aí eu descobri que o perpério na adoção realmente existe.
40:03Tem mães que estão, então, com alterações emocionais de depressão, de estresse e de ansiedade.
40:08E que isso impacta no vínculo.
40:10Hoje eu tô pesquisando no doutorado como que isso impacta no vínculo.
40:13Como que isso impacta no vínculo que você vai criar com um filho, né?
40:17E pra evitar as desistências.
40:19Pra evitar as rupturas.
40:20Pra evitar a devolução.
40:22E mulheres muito invisibilizadas.
40:24Mulheres que não são vistas, né?
40:26E essas mulheres, elas…
40:29Quantas outras histórias inspiram, né?
40:30Quantas outras mulheres vocês não educaram mesmo, assim?
40:33Vocês não mostraram a realidade, abriram portas pra oportunidades, né?
40:38E como que a gente sai da romantização, gente?
40:40Vamos parar de romantizar a adoção, né?
40:42Porque tem desafios.
40:43E quando uma mãe por adoção fala
40:44Tá difícil, tá pesado, né?
40:47Tô cansada.
40:48Pensei, nossa, pensei em devolver, pensei em desistir.
40:51Não necessariamente ela vai devolver ou vai desistir.
40:53Mas é porque ela precisa de ajuda, precisa de acolhimento.
40:55Gente, a mãe biológica às vezes pensa em devolver.
40:58É, sabe?
40:58Mas a gente não sabe pra onde, né?
41:01Mas que a gente pensa, a gente pensa.
41:02Mas a mãe biológica tem um acolhimento mais…
41:05Eu sei onde procurar essa ajuda.
41:06Mas as famílias adotivas às vezes não sabem.
41:09Porque tem muito julgamento.
41:10Tem muitas…
41:11Mas você que foi lá e quis, né?
41:12Você que foi lá e se cadastrou.
41:14Então agora aguente, né?
41:15Mas você que quis, né?
41:17Assim, não foi?
41:17Não engravidou?
41:18Sendo que a gente sabe que mais de 60% das gestações biológicas
41:21são não planejadas também.
41:23Então a gente também sabe que tem muita gente que não imaginava engravidar.
41:27Contou, né?
41:28E que isso também, essa ambivalência emocional, ela é importante.
41:31Eu falo que a romantização, ela tem que ir até um pedacinho ali, né?
41:34Mas aí ela tem que parar e falar, opa, só o amor não basta.
41:38Só eu…
41:38Ai, porque tem muita gente que fala, ai, mas eu já espero, meu filho, eu já amo.
41:42Não, você ama a sua idealização, o seu projeto.
41:44Você não ama a criança.
41:45Porque não tem um nome, não tem uma história, não tem as vivências.
41:49Quando ela chegar, você vai construir esse amor.
41:51E esse amor é construído.
41:52Então esse mito do amor parental, de que, né, a gente vai tocar sininho, eu já vou amar.
41:57É um mito.
41:58E na adoção é um mito também.
41:59Porque a gente vai amar nos cuidados diários.
42:02A gente vai amar trocando a fralda, levando pra escola, conversando.
42:05Ouvindo o choro, acordando de madrugada.
42:08Brincando de bola, fazendo tarefa junto.
42:10Eu queria até…
42:11Eu ia puxar pra gente…
42:13É, pra gente encerrar.
42:14Eu ia, a gente não acredita, gente.
42:17Eu queria puxar, assim, pra gente encerrar.
42:19Em poucas palavras, Lu, não sei se você também quiser complementar.
42:22Em poucas palavras, assim, se você tivesse que dar um recadinho pras famílias que pensam em adoção.
42:27Ou que, sabe assim, nossa, quando eu penso nessa versão hollywoodiana, eu gosto, me parece simpática.
42:32Como você tinha comentado.
42:33É, assim, resumidamente, o que você diria?
42:36Um recadinho pra essas famílias.
42:37Eu gosto, eu gosto, assim, de conversar.
42:40E é uma coisa que eu falo muito pras minhas famílias, né?
42:42Nos meus atendimentos.
42:43Eu gosto muito de pensar na disponibilidade.
42:47É a palavra, assim, que eu mais gosto de trabalhar em cima e colocar as famílias pra pensar sobre isso.
42:54Porque a parentalidade, ela vai demandar, né?
42:58Ela vai te colocar frente às suas questões, né?
43:02Ela vai despertar, eu costumo dizer.
43:04Ela desperta o seu melhor e, às vezes, o seu pior.
43:07Às vezes, você se assusta com alguns pensamentos que vêm.
43:10E como a Mari tava falando antes, né?
43:12É importante a gente ter esse espaço seguro pra que a gente possa dizer disso, né?
43:16Pra que a gente possa abrir esse espaço emocional.
43:19Dissolver essas questões, né?
43:20Ou, pelo menos, tentar se colocar no caminho.
43:23E aí, você ir conseguindo, né?
43:26Dar conta disso tudo, né?
43:29Respirar, né?
43:30Então, eu gosto muito de pensar sobre a disponibilidade.
43:33A gente tá ali disponível pra criança.
43:36Com muita flexibilidade também.
43:38É outra palavra que eu gosto muito quando eu penso na parentalidade.
43:42E aí, falando do nosso recorte aqui, né?
43:43Na parentalidade adotiva.
43:45Da gente tá flexível também a essas...
43:47As ambivalências que vão aparecer, né?
43:49Aos percalços que vão aparecer.
43:52Porque daí a gente consegue, de fato, tá ali pelas nossas crianças, né?
43:56Cuidando dessas crianças.
43:58Eu acho que é um pouco por aí.
43:59Perfeito.
43:59E eu diria que quem pensa em adoção, pra ouvir as famílias adotivas, estudar, ler, participar.
44:06A gente tem rodas de conversa, em que as pessoas...
44:08Porque às vezes eu não quero ser uma...
44:09Né?
44:10Eu não quero adotar, eu não quero ser mãe por adoção.
44:12Mas eu convivo.
44:13Ou eu posso conviver com famílias adotivas.
44:15E como eu não perpetuo preconceitos e mitos.
44:17Mas eu perpetuo uma consciência, um letramento adotivo.
44:20Pra isso, até que a gente vai lançar um livro na semana que vem.
44:22Ai, vamos falar dos livros.
44:24A gente vai lançar um livro que é o Parentalidade e Filiação Adotiva.
44:27Um Olhar da Dola de Adoção.
44:28Um livro pra pais e profissionais.
44:30O lançamento vai ser no dia 8 de maio.
44:33Então, ó.
44:34Você que tá ouvindo a gente agora, já tá disponível.
44:36Já tá disponível.
44:37A gente já tá no futuro, entendeu?
44:39A gente já tá disponível, já tá vendendo esse livro.
44:42Já foi lançado em primeira mão, né?
44:44Ai, que lindo.
44:45É um livro, então, que tem esse olhar das Dolas de Adoção pras muitas questões.
44:49Então, pra quem é pai, ou, né, independente da via de parentalidade.
44:53Pra profissionais que atuam com famílias.
44:55Esse livro vai ajudar a trazer esses contornos, a esse mergulho em alguns temas importantes.
45:01E fica o convite pra, né, esse caminho, essa jornada ser contínua.
45:06Eu acho que é sobre caminho.
45:07Eu acho que, assim, a gente pensa, às vezes, né, puxa, eu vou me preparar, né.
45:11Não é...
45:11Claro, a gente vai estudando e você vai construindo um repertório.
45:16Mas é muito mais essa disponibilidade de se colocar encaminhada.
45:19Tem o livro também da Ana.
45:22Ah, e tem o meu também, né, o meu livro aqui, gente.
45:24Mostra aqui, ó, pra essa câmera.
45:25Esse livro aqui, ele é resultado do meu...
45:28Da minha escrita, na formação como doula, né.
45:32Eu discuti aqui adoção interracial e outras questões que atravessam a adoção, né.
45:37Então, trazendo aqui uma linguagem, né, pra criança.
45:41Mas que a família possa, né, junto da leitura.
45:43E também pensar...
45:45Ah, tem isso aqui, acho que não sei sobre isso aqui, vou pesquisar, né.
45:48Então, assim, é pra acolher as crianças, mas também fazer essa convocação pras famílias.
45:53Que linda, que linda essa capa.
45:54As ilustrações estão incríveis.
45:55A Duque, uma menina muito amada.
45:57A Suzane é maravilhosa.
45:58A ilustradora é maravilhosa.
46:00São duas mães que adotam uma criança preta.
46:02Exatamente.
46:02É uma história linda.
46:03Recomendo.
46:03Muito legal essa capa.
46:05Parabéns, meninas, pelo trabalho de vocês, né.
46:08Obrigada.
46:09Como doulas, pelo trabalho como mães.
46:11Porque é o trabalho, né, é o trabalho sem mãe.
46:13É um trabalho não remunerado.
46:14É o maior trabalho de todos.
46:15A gente tenta dar visibilidade.
46:17Porque muitas vezes é invisível.
46:19E muito obrigada.
46:20Obrigada a vocês.
46:21Aprendemos um canto, né.
46:22Não, que baita papo.
46:23E assim, daria pra várias edições, né.
46:25Vamos marcar outras edições.
46:26Contempla a gente.
46:27Porque é um papo muito rico.
46:28Tem muitos no mesmo.
46:29Um dobramento.
46:29Demais.
46:30Demais mesmo.
46:31Que importante a gente poder falar sobre adoção aqui.
46:33Eu agradeço, a gente agradece.
46:35Porque a gente ainda vai muito no caminho da maternidade normativa, né, biológica, né.
46:41Então, a gente poder falar da maternidade adotiva, ter esse espaço, eu agradeço muito mesmo.
46:47Demais.
46:47Como mãe da Maria, mas como, né, todas as famílias que a gente acompanha.
46:51Com certeza.
46:52Muito obrigada, né, meninas.
46:53Foi uma honra mesmo, viu.
46:55Toda nossa.
46:56É isso, Lu.
46:56Muito obrigada.
46:57Mais um programa maravilhoso.
46:58A gente agradece.
46:59Você que tá aí acompanhando a gente em casa.
47:02Corre lá no Instagram.
47:03Coloque arroba.
47:03Na volta a gente pode.
47:04Segue a gente.
47:05Manda pra tia, pra vizinha, pro papagaio, pras amigas.
47:07Pros amigos também, porque os homens precisam estar nessa conversa.
47:11Eles precisam ser inseridos nessa conversa.
47:13E é isso.
47:13A gente agradece.
47:14Fica com a gente que logo tem mais.
47:16Beijo.
47:16Tchau.
47:17Tchau, gente.
47:17Tchau.
47:18Tchau.
47:18E aí
47:18Tchau.
47:40Tchau.
47:41Tchau.
47:41Legenda por Fábio Jr Laboratório Fantasma

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